Eureka por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (55)
Bom dia, Presidente. Semana finda não lhe escrevi. Preferi dedicar-lhe o poema “Invictus” para o seu deleite e reflexão. Esta é a quinquagésima quinta carta que lhe escrevo, todavia, sinto que estou a fazer o trabalho de Sísifo. Aliás, o senhor deve ter a mesma percepção quando visita instituições públicas. Deixa recomendações, contudo, nada acontece.
Hoje, Presidente, gostava de lhe falar sobre a nossa economia. É que o Ministério da Economia e Finanças diz que a economia nacional está a registar bons sinais de recuperação. Fazendo balanço do desempenho económico do primeiro trimestre de 2017, este pelouro, para alicerçar o tal desenvolvimento, baseia-se, dentre vários, no facto de a moeda nacional estar a registar uma recuperação na sua cotação face ao dólar norte-americano e a colecta de vinte por cento da meta anual de impostos situada em mais de 180 mil milhões de meticais, motivada pela trégua sem prazo.
Sinceramente, eu penso que a graduação dos óculos com que o seu Governo olha para o País está fraca, distorcida. Ou seja, esta graduação não está ajustada aos reais problemas nacionais. Como é que a economia nacional pode estar a registar bons sinais de recuperação se a dívida continua, o défice orçamental continua, o défice da balança de pagamentos continua, a inflação continua muito alta, os preços dos produtos alimentares continuam a subir?
Que eu saiba, Presidente, as empresas continuam a fechar, o desemprego regista uma subida galopante, mais da metade da população moçambicana continua a viver em extremas condições de pobreza, falta-lhe o básico: falo do pão que a estes dias virou uma raridade para bolsos menos afortunados.
A realidade dói, Presidente, mas deve ser dita. Moçambique é um país mendigo onde mais da metade da sua população activa é desempregada. Os poucos que trabalham são transportados em carrinhas de caixa aberta, como se de gado se tratasse. O desenvolvimento, meu Presidente, não pode ser um jargão; deve reflectir-se no quotidiano do povo.
Afinal, que desenvolvimento é esse que o seu Governo vê? Está a falar do fim das hostilidades, a livre circulação de pessoas e bens? Pode até ser, mas até que ponto, em termos económicos, isto pode ser considerado uma melhoria?
E os puxa-sacos de sempre também repetem o mesmo jargão. Ou seja, ficam-se pela repetição dos lugares-comuns do discurso da indústria do desenvolvimento sem sequer olhar o que acontece na casa vizinha. Festejam falsos heróis cuja agenda é obscura. Este é um País doente cujo paracetamol não lhe faz nenhum efeito.
E o Presidente está longe de ser o farol da integridade. Como pode ser farol da integridade enquanto permite que ministros, como o senhor Carlos Mesquita, continuem a exercer os seus cargos enquanto roubam e assaltam o erário público?
Enquanto houver políticas de protecção a camaradas filiados ao partido no poder, o País jamais conhecerá algum desenvolvimento. E é isto que preocupa o povo moçambicano. Há pouco soubemos que alguns terrenos na Catembe, porque a ponte se vislumbra, foram abocanhados por camaradas. E o povo?
O Laurindos? Quando é que vai ter direito ao file mignon? O País, em conclusão, regista desenvolvimento, sim. Mas só para a súcia dos camaradas!
Dn – 02.06.2017
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