Artur Semedo
“Não me zango com
este futebol medíocre”
Centrais
Pág. 4 e 6
TEMA DA SEMANA 2 Savana 28-04-2017
São as mais barulhentas
eleições de sempre na
história da Confederação
das Associações Econó-
micas de Moçambique (CTA). O
actual Conselho Directivo (CD),
de que Agostinho Vuma actualmente
faz parte, é que escolheu a
Comissão Eleitoral (CE), a mesma
que, na última segunda-feira,
chumbou a candidatura de Quessanias
Matsombe. Os apoiantes
de Matsombe acusam Vuma de
manipular o processo, o que é negado
pelo actual vice-presidente
da organização em declarações ao
SAVANA.
Desde que foi anunciado o processo
eleitoral para a sucessão de Rogério
Manuel na presidência da CTA,
iniciou-se uma forte campanha de
assassinato de carácter contra o único
adversário de Vuma. Em textos
que se confundem com expedientes
de natureza propagandística, servidos
nas redes sociais e em alguma
imprensa, Quessanias Matsombe
chegou a ser catalogado como “burlador”
e “mentiroso” e, como tal, o
candidato que não merece ser presidente
da CTA.
O que parecia uma luta de jornais e
redes sociais terminou com a reprovação
da candidatura de Quessanias
pela CE da CTA por alegada falta
de requisitos, vícios e tentativas de
fraude.
“É considerada e aprovada para as
eleições da CTA, previstas para o
próximo dia 4 de Maio, a lista única
da Federação Moçambicana de
Empreiteiros (suporte de Vuma)”,
disse, em conferência de imprensa,
esta segunda-feira, Pedro Baltazar,
presidente da CE.
Pedro Baltazar explicou que, após
receber as candidaturas dos respectivos
mandatários a 19 de Abril, os
mesmos foram analisados. Fez notar
que, neste dia (19 de Abril), Kekobad
Patel, mandatário de Quessanias
Matsombe, não apresentou
nenhuma carta de suporte. Alegou,
Patel, segundo Baltazar, que possuía
todas as cartas, porém havia se
esquecido. Patel entregou as cartas
requeridas no dia seguinte.
Segundo Baltazar, como manda o
regulamento, os dois mandatários
foram integrados na CE para a aná-
lise dos documentos. Explicou que
das 10 cartas de suporte de candidatura
de Matsombe, que representa a
Federação Moçambicana de Turismo
e Hotelaria (FEMOTUR), apenas
duas foram validadas e aceites.
Oito restantes cartas foram rejeitadas,
por, segundo Baltazar, apresentarem
irregularidades.
O CE argumentou que três das cartas
invalidadas pertenciam ao mesmo
associado, com cabeçalhos, datas
e assinaturas diferentes, emanadas
por três órgãos da mesma pessoa
colectiva.
“É uma clara intenção premeditada,
deliberada e intencional de tentatiEleições
mais barulhentas de sempre na casa dos empresários
va de fraude, na convicção de que
os membros da Comissão Eleitoral
não iriam julgar relevante a prática
desta ilicitude”, frisou Baltazar.
Pedro Baltazar disse igualmente
que os documentos de Agostinho
Vuma também continham irregularidades.
Das 24 cartas somente
oito foram validadas, as 16 restantes
estavam em situação irregular. Victor
Miguel, mandatário de Vuma,
regularizou e procedeu à entrega de
três cartas, em substituição das que
foram anuladas. Ao todo, de acordo
com Baltazar, a candidatura de
Vuma ficou com 11 cartas válidas.
Pedro Baltazar precisou ainda que a
candidatura de Matsombe ficou suportada
apenas com sete cartas, não
reunindo o número de 10 exigidas.
O outro lado da história
De acordo com o Regulamento
Eleitoral da CTA, a CE é nomeada
pelo CD, o qual, conforme o disposto
no artigo 29º dos estatutos da
CTA, é composto por um presidente
e quatro vice-presidentes.
Entretanto, a equipa do candidato
Quessanias Matsombe diz não haver
evidências de ter sido, formalmente,
convocada uma sessão do
CD para a nomeação da CE.
“O que se sabe é que, na ausência
dos vice-presidentes Rogério Samo
Gudo e Rui Monteiro, o presidente
da CTA (Rogério Manuel) e os
vice-presidentes Agostinho Vuma e
Prakash Prehelad, reuniram e escolheram,
a dedo, as pessoas que deviam
fazer parte da Comissão Eleitoral”,
apurou a equipa que suporta
a candidatura de Matsombe.
Mas o entendimento da candidatura
de Quessanias Matsombe é que,
sendo o vice-presidente, Agostinho
Vuma, pessoa directamente interessada
na corrida à presidência
da CTA, não poderia participar da
deliberação sobre a nomeação dos
membros da CE por evidente con-
flito de interesse.
Admitindo que Vuma não se fez
presente dessa reunião ou lhe foi
vedado o direito a voto favorável,
por conflitos de interesse, a equipa,
que inclui o advogado José Caldeira,
refere que, então, a constituição da
CE violou o n° 3 do Artigo 31, que
preconiza que o CD só pode deliberar
estando presente a maioria dos
seus membros.
“É nosso entender que a Comissão
Eleitoral foi constituída de forma
irregular e com o único propósito
de prejudicar a nossa candidatura,
pois não faz sentido que uma pessoa
candidata a um cargo seja ela
própria a participar da eleição dos
membros da Comissão Eleitoral,
quando, agora se sabe, que os membros
daquela sessão não o apoiam”,
refere um comunicado de imprensa
da equipa de Matsombe.
Numa conferência de imprensa, na
tarde desta quarta-feira, Quessanias
Matsombe denunciou ilegalidade
na prorrogação, pela CE, de 11 para
17 de Abril, do prazo para apresentação
de reclamações e para a regularização
de quotas, cujo pagamento
constitui um dos requisitos para
concorrer à presidência da CTA.
“Este acto não passa de uma usurpação
de poderes, uma vez que
a Comissão Eleitoral tem como
mandato dirigir e supervisionar o
processo eleitoral, de acordo com o
regulamento e nos termos do calendário
eleitoral fixado e nunca alterar
as datas para a apresentação de candidaturas,
fixação dos cadernos eleitorais
ou apresentação de reclama-
ções”, disse o candidato reprovado.
Explicou que, na hora, o mandatário
da sua candidatura, Kekobad Patel,
chamou atenção ao presidente da
CE, Pedro Baltazar, para o cumprimento
da circular emitida pelo
presidente de mesa da Assembleia
Geral da CTA, mas o presidente da
CE insistiu na necessidade de tais
alterações.
Para Quessanias, a prorrogação do
prazo pela CE, para a apresenta-
ção das reclamações e consequente
pagamento de quotas, não somente
constitui usurpação de poderes,
como também é ilegal.
Suportes recusados
Com as eleições já prorrogadas para
o dia 20, o mandatário submeteu a
candidatura no dia 19, tendo como
suporte a FEMOTUR, em representação
das 11 associações membros
que, a 12 de Dezembro do ano
passado, deliberaram, em Assembleia
Geral, apoiar a candidatura
agora reprovada.
Embora a FEMOTUR represente
11 associações, a CE exigiu a Kekobad
Patel que, na sessão seguinte,
trouxesse cartas de suporte às candidaturas.
Foi assim que, no dia 20, Patel submeteu
10 cartas de suporte, mas a
CE aceitou apenas dois e rejeitou
as restantes oito alegadamente por
serem cópias.
Na conferência de imprensa desta
semana, o candidato reprovado
anotou que, ao recusar as oito cartas
recebidas por scan, de associações
provinciais, a CE violou o n°2, do
Artigo 24, da Lei das Transacções
Electrónicas, aprovado pela Lei n°
3/2017, de 9 de Janeiro (que entrou
em vigor a 9 de Abril), segundo o
qual “toda a informação apresentada
sob a forma de mensagem electrónica
goza de forma probatória”.
Enquanto isso, a 21 de Abril, o
mandatário solicitou a validação de
uma dentre três cartas de suporte
da Associação dos Empreiteiros da
Província de Sofala (AECCOPS).
A equipa de Matsombe diz que
apresentou três cartas da mesma
associação, mas assinadas por
pessoas distintas, em virtude de a
AECCOPS ser membro da Federação
Moçambicana de Empreiteiros
(FME), dirigida pelo candidato
Agostinho Vuma. Assim, com as
três versões, se estava a tomar todas
as precauções para afastar qualquer
pretexto que levasse à reprovação de
apenas uma carta, sabendo-se que a
FME é que suporta a candidatura
de Vuma. Foi assim deixado ao critério
da CE a escolha, dentre as três,
do exemplar que lhe parecesse mais
aceitável.
Mesmo assim, a CE chumbou a
candidatura e, para Matsombe, perante
tamanha falta de imparcialidade,
o presidente da Comissão, Pedro
Baltazar, referindo-se a este
caso, fez insinuações de tentatiMáfia
na CTA?
Da esquerda à direita: Kekobad Patel, Quessanias Matsombe e José Caldeira, na conferência de imprensa em que
denunciaram irregularidades nas eleições da CTA
Agostinho Vuma
TEMA DA SEMANA Savana 28-04-2017 3
vas de fraude, falsificação, entre outras
acusações contra o mandatário
Kekobad Patel.
Matsombe anota que, na mesma
sessão, o seu mandatário apresentou
mais quatro cartas de poio, vindas
da Associação Comercial de Cabo
Delgado, da “ACTIVA”, da Associa-
ção Comercial e Industrial da Zambézia
e da “ASTRA” de Nampula,
mas a da “ACTIVA” foi chumbada.
Patel terá pedido permissão para
apresentar, posteriormente, outras,
mas também lhe foi vedado.
Patel lembrou que a candidatura
que representava tinha suporte da
FEMOTUR, onde se acham federadas
11 associações, das quais 10
constam do Caderno Eleitoral.
“Perante a recusa do mandatário
do candidato Agostinho Vuma, o
presidente da Comissão convidou a
todos para um intervalo de 10 minutos.
Regressado do intervalo, o segundo
vogal, Sr. Paulino Cossa, disse
que a acta da Assembleia Geral
da FEMOTUR não devia ser considerada,
alegadamente, porque não
tinha sido autenticada. Argumenta
ainda o Sr. Paulino Cossa que a acta
arrolava cinco pontos da agenda,
mas só apresentava a deliberação
sobre um único ponto de agenda
que era o apoio da candidatura da
FEMOTUR à presidência da CTA,
facto que, segundo ele, não procedia
para os efeitos que se pretendia alcançar.
Apenas isso”, explicou Matsombe,
que reparou que a acta não
devia mostrar o desenvolvimento
dos restantes pontos de agenda por
se tratar de questões internas da
FEMOTUR de cujo domínio não
deve ser público.
O candidato reprovado rebate a
CE da CTA, que arguiu que o Regulamento
exige que a candidatura
seja proposta por mais do que um
membro, isto é, por um grupo de
proponentes. Matsombe argumenta
que grupos de membros e grupos de
proponentes são realidades totalmente
diferentes, por isso, o apoio
da FEMOTUR, suportado pelas
11 associações federadas, já bastava
para validar a sua candidatura.
Refere ainda que, contrariamente ao
que resulta do regulamento eleitoral,
a CE, depois de analisar e deliberar
sobre as candidaturas, em nenhum
momento comunicou, por escrito,
ao mandatário Patel, a lista das irregularidades
que deveriam ser sanadas
no prazo legal de 48 horas.
“Preocupou-se, antes, nas reuniões
da Comissão Eleitoral, em justificar
as suas decisões, todas elas para indeferir
todo e qualquer argumento
Ocandidato reprovado entende que a violação de diversas
normas e estatutos, desde o incumprimento de prazos e
procedimentos legais até à usurpação de competências,
é suficiente para suspender o acto eleitoral.
Por isso, Quessanias Matsombe promete recorrer a todos os
meios legais para restituir a legalidade do acto eleitoral na CTA.
Garantiu mesmo que as eleições não serão realizadas na próxima
quinta-feira, 4 de Maio, porque irá levar o caso ao Tribunal e
o seu grande advogado são os 75% das associações que disse o
apoiarem.
Quessanias, que actualmente é presidente do Conselho Fiscal da
CTA, lembrou que esta é a primeira vez na história da casa dos
empresários que há dois candidatos, por isso que há barulho.
Na verdade, todos os presidentes da CTA, que foram candidatos
únicos, vieram das fileiras da antiga direcção. Foi assim com Salimo
Abdula, o segundo presidente da CTA que veio do elenco do
primeiro presidente, Egas Massanhane e com Rogério Manuel,
que veio da direcção de Salimo Abdula. A história parece estar
para se repetir com Agostinho Vuma, aliado de Rogério Manuel,
que presidiu a CTA por seis anos, divididos por dois mandatos
de três anos cada.
“Antes era uma espécie de dinastias e nós queremos romper esse
ciclo de dinastias”, promete Quessanias. Para ele, o barulho à
volta das eleições deste ano, que disse constituírem um caso de
estudo, surge porque se sabe que os associados vão escolher o melhor
programa, sugerindo que Agostinho Vuma está por detrás de
todo o expediente iniciado nas redes sociais e na imprensa até à
reprovação da sua candidatura.
“Estou desiludido”
Kekobad Patel, que participou na CE como mandatário de
Quessanias, denunciou divergências, em muitos aspectos, entre
o conteúdo das deliberações assinadas pelo presidente da CE
com o conteúdo das actas e questionou: “quem é o aldrabão neste
processo”. Esclareceu que o conteúdo da deliberação é obra dos
membros da CE nomeados pela direcção de Vuma, incluindo o
seu mandatário de candidatura.
Patel, que é um dos membros fundadores da CTA, diz estar desiludido
com o que está a acontecer na CTA.
Lembra que o nascimento da CTA, por volta de 1996/7, foi marcado
por muitas dificuldades, mas sempre pesou o interesse organizacional.
“A minha desilusão é que há candidatos com interesses pessoais,
mas sem interesse institucional”, desabafou, frisando que as
falhas do passado foram ultrapassadas porque havia interesse colectivo
pela CTA.
Romper dinastias na
sucessão dos presidentes
que fosse apresentado pelo mandatário
da nossa candidatura, factos
que indiciam, de forma clara, o interesse
da Comissão Eleitoral em
prejudicar esta candidatura”, condena
Matsombe, para quem, tendo em
conta o firme interesse de defender
o associativismo e a democracia nos
órgãos sociais da CTA, a Assembleia
Geral desta agremiação estabeleceu
o direito de suprir quaisquer irregularidades,
sendo que era da responsabilidade
da CE, de forma clara,
transparente e democrática, conceder
o prazo regulamentar de 48 horas
para a eliminação de eventuais
vícios.
Diz que nada disso foi feito porque
o interesse da CE era e é de permitir
que as eleições aos órgãos sociais da
CTA sejam ganhas pelo candidato
Agostinho Vuma.
Lamenta ainda que a CE tenha recusado,
ilegalmente, a recepção de
documentos, alegando estar fora do
horário.
Abordado pelo SAVANA, Agostinho
Vuma recusou estar a influenciar
o processo eleitoral. Lembrou
que não faz parte da CE e precisou
que esse é o órgão responsável pela
eleição e age em respeito aos instrumentos
normativos da CTA. “Um
problema institucional não pode ser
personificado em Vuma”, rematou
Vuma.
TEMA DA SEMANA 4 Savana 28-04-2017
9
inte e quatro horas depois
de um estranho assalto e
sabotagem a uma viatura
da Polícia da República de
Moçambique (PRM), que culminou
com o resgate de dois perigosos
cadastrados por seus supostos comparsas,
a Procuradoria Geral da República
(PGR) ordenou a revogação
da liberdade condicional e emitiu
um mandado de captura internacional
contra o cidadão Momade Assif
Abdul Satar, mais conhecido por
Nini Satar.
Nini saiu em liberdade condicional
no dia 05 de Setembro de 2014, depois
de cumprir metade da pena de
24 anos, em conexão com o assassinato
do jornalista Carlos Cardoso, em
Novembro de 2000.
Com o número 04/PGR/
GC/012.3/2017, o documento da
PGR, distribuído na noite desta
terça-feira, refere que cerca das 12:40
horas do dia 24 de Abril de 2017, um
grupo de quatro indivíduos, todos
encapuzados, fazendo-se transportar
numa viatura de marca Toyota Corolla,
modelo Runx, de cor cinzenta,
sem chapa de inscrição, seguindo da
Avenida Vladimir Lenine em direc-
ção à Av. 25 de Setembro, chegado
à rua de Ngungunhana, bloqueou a
viatura da PRM, que transportava
dois reclusos, onde se presume que
tenham efectuado mais de vinte tiros,
perfurando pneus da viatura celular
e de seguida resgatado os referidos
reclusos do seu interior, pondo-se de
seguida em fuga.
De acordo com o comunicado da
PGR, trata-se de José Ali Coutinho
e Alfredo José Muchanga, que
se encontravam a cumprir penas de
prisão maior em conexão com crimes
hediondos no Estabelecimento Penitenciário
Especial de Máxima Segurança,
vulgo BO, junto às celas anexas
ao Comando da PRM da Cidade de
Maputo.
A PGR diz que a revogação da liberdade
condicional e a consequente
ordem de captura de Nini Satar resultam
do facto deste ter violado, de
forma persistente, todas as injunções
impostas aquando da sua concessão,
principalmente no que se refere a não
se fazer acompanhar de pessoas de
má conduta e ao não cometimento de
outros crimes.
Na tarde desta terça-feira, Inácio
Dina, porta-voz do Comando Geral
da PRM, disse à imprensa que
os dois reclusos foram resgatados
quando eram conduzidos à Primeira
Esquadra, na baixa da cidade capital,
onde seriam ouvidos pelas autoridades
policiais.
Segundo Dina, trata-se de uma dupla
que era indiciada de sabotagem ao
sistema de segurança prisional, destruição
do património prisional, planificação
e preparação de fuga, bem
como a prática de actos de violência
contra os restantes reclusos.
Até ao fecho desta edição, a PRM
ainda não tinha pistas sobre o paradeiro
dos reclusos, mas, segundo
Inácio Dina, a corporação accionou
todos os meios operativos para a recaptura
dos fugitivos, bem como dos
responsáveis pelo resgate.
A par dos esforços da PRM visando
a captura dos fugitivos, também está
a PGR, que apelou à colaboração da
sociedade moçambicana na denúncia
de qualquer movimento dos mesmos.
No entanto, Nini Satar, um dos sujeitos
a monte e procurado pela justiça,
contraria as autoridades e apresenta
outra versão.
Para Nini Satar, quer a PRM, bem
como a PGR sabem, perfeitamente,
que não se tratou de uma fuga, mas
sim de um assassinato.
Na sua página no facebook, Nini
Satar diz que os dois reclusos foram
retirados das celas para serem mortos.
Sustenta a sua tese, argumentando
que a PGR sabe que qualquer recluso
que sai das celas do Comando, sempre
está escoltado com mais de duas
ou três viaturas e, no caso em alusão,
toda a ordem foi invertida porque as
pessoas que tiraram José Ali Coutinho
e o comparsa das celas tinham
intenção de matá-los. Acredita que
os dois reclusos morreram no local do
cerco da viatura da polícia, por terem
sido atingidos pelas balas disparadas
para o local onde estavam os supostos
foragidos.
Quem também duvida da versão policial
e estranha os moldes em que foi
executado o processo que culminou
com a imobilização da viatura policial
é o bastonário da Ordem os Advogados,
Flávio Menete, bem como do
antigo director da Polícia de Investigação
Criminal na cidade de Maputo,
António Frangoulis.
Em entrevista ao canal privado, STV,
Flávio Menete disse que há muita
coisa estranha neste processo, na medida
em que, se tratando de pessoas
condenadas e em cumprimento de
pena, num estabelecimento penitenciário,
qualquer interrogatório devia
ser no seu local de reclusão e mediante
autorização do juiz.
Menete duvida que tal procedimento
tenha sido observado.
Continua referindo que é também
estranha a argumentação da PRM de
que os dois reclusos iam ser ouvidos
numa esquadra por factos relacionados
com práticas de algumas infrac-
ções dentro da prisão. No entender de
Menete, esse facto mostra a perigosidade
dos sujeitos, pelo que mereciam
fortes medidas de segurança, não se
percebendo as razões que levaram a
polícia a retirá-los duma cadeia de segurança
extrema para uma esquadra.
Menete questiona ainda o facto de
a PRM ter se encarregue de movimentar
reclusos dum estabelecimento
prisional para uma esquadra, enquanto
essa tarefa é da competência
do Serviço Nacional Penitenciário
(SERNAP).
Para o bastonário da OAM, em condições
normais, as balas que foram
disparadas para a viatura policial
deviam ter sido direccionadas para
a zona que constituísse perigo, neste
caso agentes da polícia que escoltavam
os reclusos e não para os comparsas
que iam ser resgatados, mas foi
o contrário.
Terminou a sua explanação referindo
que foi a primeira vez que ouviu que
uma viatura de escolta com sirenes
parou num semáforo e deixou a viatura
escoltada continuar sozinha.
Por seu turno, António Frangoulis é
da opinião de que os atacantes tiveram
toda a informação sobre a operação,
o que leva a crer que a informação
saiu de dentro da corporação.
Para Frangoulis, outro espanto é a
qualidade das balas disparadas. Na
sua óptica, dificilmente um criminoso
gasta cerca de 20 balas numa
operação.
A PGR ordenou ainda uma investigação
para saber em que termos foi
engendrada a operação que culminou
com a fuga dos dois reclusos.
O SAVANA sabe que os três agentes
que se encontravam na viatura no
momento do resgate foram detidos.
1LQL6DWDUHRVUDSWRV
No seu comunicado, a PGR diz que
Nini Satar formou uma organização
criminosa cujo propósito consistia
em raptar cidadãos moçambicanos
para posteriormente exigir avultadas
quantias em dinheiro.
Nini Satar nunca aceitou o crime,
porém, a realidade mostra um cenário
totalmente diferente.
A 06 de Fevereiro de 2012, um ano
depois de registo dos primeiros casos
de sequestros em Moçambique, o então
director da Polícia de Investiga-
ção Criminal (PIC), Dias Balate, ordenou
a transferência de Nini Satar,
Vicente Ramaya e Ayob Satar da BO
para as celas do Comando da cidade.
Balate entendia que a onda de sequestros
que abalava o país era orquestrada
a partir da BO, com Nini
Satar na liderança.
Dois meses depois da sua transferência
para as celas do Comando da
cidade, mais concretamente no dia 09
de Abril de 2012, Dias Balate ordenou
a prisão de Danish Satar e Sheila
Adão Issufo, sobrinho e esposa de
Nini Satar. Na mesma altura, recolheu
aos calabouços a irmã de Nini
Satar, Rachida Satar, todos em conexão
com os raptos.
O trio veio a ser solto dias depois por
ordens do Tribunal que alegou insu-
ficiência de provas.
Ainda no mês de Abril de 2012, a
Polícia deteve os primeiros operativos
dos raptos. Trata-se de Hélder Naene,
Bendene Chissano (Angolano),
Dominique Mendes, Luís Chitsotso,
Albino Primeiro, Arsénio Chitsotso e
Joaquim Chitsotso.
A quadrilha indiciou, em sede de instrução
preparatória, Danish Satar, o
sobrinho de Nini Satar, como um dos
mandantes dos crimes de sequestros.
Dias depois da denúncia, Danish Satar
fugiu de Moçambique, ignorando
ordens judiciais que o obrigavam a
permanecer no país, enquanto o processo
seguia seus trâmites legais.
Em Maio de 2012, a PGR terminou
a instrução preparatória contra
os arguidos Hélder Naene, Bendene
Chissano (Angolano), Dominique
Mendes, Luís António Chitsotso,
Albino Primeiro, Arsénio Chitsotso
e Joaquim Chitsotso.
3*5DFFLRQD,17(532/HRUGHQDPDQGDGRGHFDSWXUDFRQWUD1LQL6DWDU
Procurado pela justiça
Na investigação, a PGR encontrou
provas que indiciassem os sete réus
de prática de crimes de raptos. No
mesmo processo, com o número
16/2012/10 foi também acusado o
arguido Nini Satar.
O processo, que já tinha também
Nini Satar como arguido, foi encaminhado
para a Décima Secção do Tribunal
Judicial da Cidade de Maputo
para o prosseguimento de trâmites
legais.
Porém, para o espanto e decepção do
Ministério Público, o juiz da causa,
Adérito Malhope, não pronunciou
Nini Satar do crime dos raptos.
É importante frisar que o juiz Adérito
Malhope foi o mesmo que assinou,
contra a vontade da PGR e da direc-
ção da cadeia, o pedido de liberdade
condicional a favor de Nini Satar,
dois anos depois de ter negado a sua
pronúncia no caso de sequestros.
Meses depois de o juiz Adérito Malhope
salvá-lo dos raptos, Nini Satar
apareceu, publicamente, em actividades
similares a de detectives privados,
e conduziu a polícia à identificação,
captura e abate de alguns raptores.
Na altura, Nini Satar referiu que investiu
pouco mais de 200 mil meticais
na compra de informação, dentro
da cadeia, para auxiliar a polícia a
neutralizar os malfeitores.
Contudo, a 19 de Maio de 2014, em
entrevista ao jornal “Notícias”, o então
Comandante Geral da Polícia,
Jorge Khalau, disse que Nini não
estava a ajudar a Polícia na identifi-
cação de raptores como tentava dar a
entender à sociedade.
De acordo com Khalau, Nini queria
tapar a cara às pessoas, fingindo
que não sabe de nada sobre os raptos.
Para o ex-comandante, Nini estava
sim por detrás de grande parte dos
raptos e a única verdade é que ele é
que era o verdadeiro patrão.
Jorge Khalau disse na altura que chegou
a essa conclusão porque aqueles
que iam sendo neutralizados pela Polícia
é que revelavam que Nini é que é
o patrão dos raptos.
“A profissão de Nini é orientar o crime
organizado e, infelizmente, vai
tentando enganar a sociedade, diPor
Raul Senda
Nini Satar, de liberdade condicional à foragido, PGR
ordena mandado de busca e captura
Edith Antónia da Câmara, uma das acusadas pela morte do Procurador Vilanculos
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TEMA DA SEMANA 6 Savana 28-04-2017
zendo que não sabe de nada ou que
tem estado a prestar colaboração na
identificação dos criminosos. É tudo
mentira. Ele é que comanda os raptos.
Grande parte dos raptores detidos
aponta o seu nome”, rebateu o
então Comandante-geral da Polícia.
Sobre os foragidos, a PGR diz que
José Ali Coutinho encontrava-se em
cumprimento de uma pena de 16 anos
de prisão maior pelo crime de roubo
concorrendo com cárcere privado no
processo n° 51/2009/7-C, do Tribunal
Judicial da Cidade de Maputo,
7ª secção criminal e, recentemente,
foi pronunciado pela autoria do crime
de homicídio qualificado contra
o Procurador Marcelino Vilanculos,
no âmbito do processo n° 59/2016,
do Tribunal Judicial da Província de
Maputo, 5ª secção criminal.
O mesmo é igualmente acusado, no
processo 35/PCM/2017, pela autoria
material do crime de rapto de dois cidadãos
e, ainda sobre ele, encontra-se
em instrução preparatória um outro
processo pelo seu envolvimento na
prática de crime de rapto, com o registado
nº 1061-N-2017 e que corre
termos no SERNIC, da Província de
Maputo e sob a direcção do Ministé-
rio Público.
No âmbito da instrução dos referidos
processos, dentre os quais, o processo
número 131/PCM/17 e o processo
n.º 35/PCM/2017, confirmou-se que
Nini Satar formou aliança criminosa
com os reclusos José Ali Coutinho
e Edith Antónia D`Compta da
Camara Cylindo, arguidos no processo
acima referido (processo 35/
PCM/2017) e já acusado.
Segundo a PGR, Edith Antónia
d`Compta da Câmara Cylindo foi
também acusada num outro processo
autónomo que ostenta número
2/2017, 5ª secção criminal, do Tribunal
Judicial da Província de Maputo,
por envolvimento no homicídio
qualificado do Procurador Marcelino
Vilanculos.
Edith da Câmara Cylindo, ora detida
nas celas da Cadeia Civil de Maputo,
manteve relações amorosas com Nini
Satar, no seu tempo de reclusão e, em
algum momento, serviu como ponta
de lança nos negócios de Nini Satar
no mundo externo.
1LQL6DWDU-RVp&RXWLQKRH
o assassinato do procuraGRU9LODQFXORV
Em Julho de 2016, a então PIC, ao
nível da província de Maputo, capturou
três indivíduos em conexão com
o assassinato do procurador Marcelino
Vilanculos, ocorrido a 11 de Abril
de 2016, no município da Matola,
província de Maputo.
O grupo era constituído por perigosos
cadastrados e parte deles ligados
ao mundo de sequestros e em cumprimento
de penas de prisão maior
na BO.
Consta na acusação que o recluso
José Ali Coutinho foi contactado
através de exterior, para dirigir uma
operação cujo objectivo era silenciar
o magistrado.
Para tal, foram contratados Amad
António Mabunda e Abdul Afonso
Tembe, na altura em liberdade condicional,
para executar o crime.
Nos autos consta que, dias antes do
assassinato de Marcelino Vilanculos,
José Coutinho, que serviu de ponte
entre os executores e os mandantes,
manteve, com alguma frequência,
contactos telefónicos com o mundo
externo, até no estrangeiro.
Os telefonemas cessaram logo após a
materialização do crime.
Ora, Nini Satar, que já foi apelidado
como mandante dos raptos, reside no
exterior há mais de dois anos.
Segundo a acusação, no interrogató-
rio feito ao arguido José Ali Coutinho,
este terá dito por diversas vezes
que a coragem que o magistrado tinha
na tomada de certas decisões, nos
processos sob sua direcção, devia ser
limitada e uma das formas era eliminá-lo,
fisicamente, para os restantes
procuradores terem lição.
Os três co-réus, em algum momento,
terão convivido com Nini Satar durante
a reclusão na BO.
À altura do seu assassinato, Vilanculos
tinha sob sua direcção vários
“processos quentes” dentre eles os relacionados
com crimes de sequestros,
incluindo do suposto envolvimento
de Danish Satar, sobrinho de Nini
Satar.
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O resgate de José Ali Coutinho, na
última segunda-feira, vem representar
a segunda baixa no esclarecimento
da morte de Marcelino Vilanculos,
que já caminhava para a fase final
com a detenção, acusação e pronúncia
dos três executores.
O processo do assassinato de Marcelino
Vilanculos já caminhava para
o julgamento e lá presumia-se que o
trio indicasse o verdadeiro mandante,
para além de desvendar outros crimes
movidos, a partir do exterior.
Antes da saída de José Coutinho, o
motorista da viatura que conduziu a
quadrilha e executor confesso, Abdul
Tembe, fugiu, em circunstâncias também
estranhas, das celas do Estabelecimento
Penitenciário da Província
de Maputo, ex-Cadeia Central, no
dia 24 de Outubro de 2016.
Antes da fuga de Abdul Tembe, as
direcções da Cadeia Central, bem
como da BO, violaram vários procedimentos
internos, bem como o regulamento
prisional.
A fuga de Abdul Afonso Tembe criou
um mal estar no seio da equipa dos
agentes dos Serviços de Investigação
Criminal (SERNIC) encarregues de
investigar o crime, juntamente com o
Ministério Público.
Sentindo que o seu esforço estava a
ser relegado para o segundo plano, os
agentes devolveram à PGR todos os
meios de auxílio à investigação mormente,
viaturas e telemóveis.
A reacção criou ira à procuradora
chefe da província de Maputo,
Evelina Gomane, que de imediato
ordenou a detenção do director do
Estabelecimento Penitenciário de
Maputo (ex-Cadeia Central da Machava),
Castigo Machaieie, e mais
oito subordinados.
A prisão dos nove gestores do Estabelecimento
Penitenciário de Maputo
(EPM) foi legalizada pelo juiz de
instrução e os detidos aguardam pelos
procedimentos criminais nas celas
da Cadeia Civil.
Neste momento, o único acusado
que continua preso, é Amad António
Mabunda, o suposto atirador.
Depois de cumprir 13 anos, intercalados
entre a BO e as celas do Comando
da Cidade, Nini Satar saiu do
país, há mais de dois anos, mediante
autorização do juiz Adérito Malhope,
supostamente, para tratamento
médico na Índia. Há muito que os 90
dias que tinha para permanecer fora
do país venceram, mas o homem que
indignou meio mundo ao tratar em
público dez mil dólares como “quantias
irrisórias”, continua em parte incerta.
Do exterior tem desafiado a tudo e
todos, incluindo o Estado moçambicano,
particularmente, a administra-
ção da justiça. A comunicação social
que expõe as suas conexões com o
mundo do crime também não escapa
das suas investidas. Apenas uma imprensa
acrítica e mancomunada com
o crime organizado é que escapa e,
em contrapartida, reproduz os textos
que Nini publica no seu facebook,
com forte teor insultuoso.
Não se sabe ao certo onde é que está
Nini Satar. Em entrevista ao SAVANA,
este ano, a alta comissária britânica,
Joanna Kuenssberg, quando
chamada a confirmar se realmente
Nini está no Reino Unido, respondeu
que “a única indicação de o Nini Satar
ficar no meu país são algumas fotografias
no facebook (...) tem havido
nos últimos meses um debate sobre
notícias falsas que mostram o potencial
das nossas tecnologias modernas
em criarem toda a impressão que se
quiser”.
Observadores atentos ao caso anotam
que a fuga de Nini para parte incerta
só foi possível graças a uma desorganização
organizada do sistema da
justiça moçambicana, onde o jovem
milionário é acusado de ter fortes in-
fluencias. À STV, esta quarta-feira, o
antigo bastonário da Ordem dos Advogados
de Moçambique, Gilberto
Correia, disse que a saída de Nini das
celas foi graças à descoordenação do
sistema da justiça.
Depois de escapar a pronuncia de Adérito Malhope, a justiça volta ao encalço de Momade Assif
SOCIEDADE Savana 28-04-2017 7
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TEMA DA SEMANA 8 Savana 28-04-2017 SOCIEDADE
Oacadémico e filósofo
moçambicano Severino
Ngoenha considera que
a corrupção que flagela
as sociedades modernas resulta de
uma grave falha de inserção do indivíduo
na sociedade. Entende que
há muito trabalho a ser desenvolvido
no sentido de restituir os valores
da moral e de direito aos cidadãos
para que se volte a uma sociedade
de partilha do bem comum.
Severino Ngoenha, autor de um
vasto naipe de obras publicadas,
defende que a história da corrupção
em Moçambique começa a desenvolver-se
logo depois da assinatura
do Acordo Geral de Paz (AGP) em
1992, em Roma, capital italiana.
Porque, nota, depois, emerge um
indivíduo egoísta e egocentrista,
que se aproveita da sua pertença a
Moçambique para acumular e que
nunca pensa que aquilo que tem
como rendimento vem da comunidade.
“Nasceu entre nós e se implantou
o individualismo, pessoa que só
pensa em si próprio, pensa em tirar
proveito da sociedade e não para
beneficiá-la”, disse.
O também reitor da Universidade
Técnica de Moçambique (UDM)
falava esta terça-feira sobre o tema
“O sentido do bem comum como
antídoto à corrupção”, que está inserido
num ciclo de palestras orgaCorrupção
resulta de falha de inserção social
Por Argunaldo Nhampossa
que a existência do indivíduo só
tem sentido quando há deveres
com a sociedade em que está inserido.
Porém, hoje, continuou, o cenário
mudou drasticamente e as sociedades
são dirigidas por pessoas que
seguem a máxima de que os fins
justificam os meios.
“Quando se materializa este pensamento
é sinal de que os valores
morais que são ou deveriam servir
de base de convivência comum no
meio de uma sociedade começaram
a claudicar e recorre-se ao uso do
direito para tirar proveito”, frisou
Ngoenha, numa palestra moderada
pelo investigador Thomas Sulemane.
Severino Ngoenha considera que
a corrupção constitui uma falha de
inserção de um indivíduo na sociedade.
Erode o factor ético, moral e
todas as manipulações em termos
de estatuto tornam-se coisas artifi-
cias e banais.
Destaca que cada membro da sociedade
luta para ser feliz e tem o
dever de realizar o que sonha para
ser feliz, mas impõe-se a definição
de um limite de felicidade, que deve
respeitar o outro.
Para Ngoenha, que já foi seminarista
diocesano, o problema com
que as sociedades se confrontam
não tem a ver com a existência de
ricos ou empreendedores, mas com
o limite da acção humana. Associou
a corrupção como corolário
- diz Severino Ngoenha
ficou destruído e desde então a palavra
de ordem é reconstrução”.
Diz que Moçambique perdeu a
guerra pelo número de mortes,
pelas crescentes desconfianças,
fragmentação do tecido social e situação
de permeabilidade a novos
conflitos que são intercalados por
tréguas.
Foi justamente, rematou, dessa matriz
que, depois dos anos 90, emergiu
o individualismo.
nizadas pela Comissão Episcopal
da Justiça e Paz, que vão decorrer
até ao próximo dia 09 de Maio.
Individualismo
Numa plateia composta por sacerdotes,
freiras, crentes da igreja
católica, governantes e deputados,
Severino Ngoenha defendeu que
o indivíduo em causa é aquele que
não tem o sentido de comunidade,
o que significa partilha de bens materiais
e imateriais.
É, prosseguiu, aquele que pretende
ser autossuficiente a ele próprio ou
que busca na pertença social os elementos
para o próprio crescimento,
mas em nenhum momento pensa
restituir o que tirou para o benefí-
cio do próprio grupo.
O filósofo moçambicano referiu
dos conflitos que o país foi vivendo
ao longo dos tempos.
A guerra contra o colonialismo
português, observou, era necessária
e todos os moçambicanos se revê-
em nela, pois foi possível alcançar a
independência.
A independência abriu espaço para
que se começasse a construir os
alicerces do novo Estado e fizesse
transitar a população ao estatuto de
povo, mas houve deficiências que se
sentem até hoje, acrescentou.
Entende que “povo é um tecido
unido, um tecido homogéneo que
consegue resistir às intempéries
e às veleidades dos tempos, sendo
a prova disso o eclodir da guerra
dos 16 anos, na qual nem a Frelimo,
nem a Renamo ganharam, mas
Moçambique perdeu porque o país
Severino Ngoenha
Savana 28-04-2017
9
PUBLICIDADE SOCIEDADE
10 Savana 28-04-2017 SOCIEDADE
Omentor da Lei da Probidade
Pública (LPP),
Abdul Carimo Issá, não
isenta a Assembleia da
República (AR) pelas imprecisões
e lacunas existentes naquele
dispositivo legal que tem como
objectivo assegurar o bom comportamento
dos funcionários
públicos, bem como a gestão do
património.
Carimo diz que a AR fez altera-
ções profundas da proposta-lei
enviada pelo Governo, facto que
desagua nas lacunas de interpretação.
Por via disso, reconhece o
mérito da revisão, para uma melhor
clarificação das situações que
configurem conflito de interesse e
não empacotar tudo num saco tal
como aconteceu.
A necessidade da revisão da Lei
de Probidade Pública manifestada
esta semana pela presidente
da Comissão Central de Ética
Pública (CCEP), Graciete Xavier,
alegando vícios de interpretações
e lacunas foi bem acolhida por
Abdul Carimo, que aponta haver
necessidade de uma melhor clari-
ficação daquele instrumento que
parecia estar esquecido.
A LPP foi determinante para eliminar
funcionários públicos que
ganhavam duas vezes no mesmo
Estado, com destaque para deputados
do partido governamental
que ao mesmo tempo ocupavam
cargos de PCA´s e administradores
nas empresas públicas. Outro
caso vistoso em que se teve de
recorrer a esta lei foi aquando da
atribuição de uma luxuosa viatura
de marca Mercedes Benz ao
antigo chefe de estado, Armando
Guebuza, pela CTA, na altura dirigida
por Rogério Manuel.
Em declarações ao SAVANA, esta
quarta-feira, Abdul Carimo esclarece
que a proposta de lei tinha
inicialmente a designação de “Có-
digo de Ética do Servidor Público”
que depois foi transformada em
Lei de Probidade Pública e estava
dividida em três grandes títulos:
Ética governativa, ética parlamentar
e ética judicial, cujo objectivo
era tratar de forma uniforme e
dentro dos mesmos valores e princípios
os poderes do Estado. Isto
porque até à aprovação desta lei
havia um tratamento diferenciado
daqueles poderes. Ou seja, exigia-
-se a declaração de património por
parte dos membros do Governo,
mas o mesmo não se verificava na
classe dos magistrados e dos parlamentares.
Sucede que o parlamento eliminou
os capítulos específicos para cada
poder e resolveu juntar “tudo no
mesmo saco”, facto que está a difi-
cultar a interpretação. Diz Carimo
que, após a aprovação da lei e a respectiva
criação da CCEP, orientou
uma palestra para aquele órgão
na qual chamou atenção sobre os
vícios e problemas criados pelos
deputados, tendo recentemente
feito o mesmo para com os actuais
dirigentes da comissão.
Falou das alterações feitas nas
formulações de artigos, como é o
caso da designação dos cargos políticos,
a remoção do capítulo ética
parlamentar e judicial, pontos que
necessitavam de um tratamento
especial.
Disse não perceber as motivações
da retirada de um dos artigos que
vedava a militância política dos
magistrados, a sua participação
em eventos de angariação de fundos
para partidos políticos e ainda
prerrogativa de denúncia dos actos
que perturbem a sua independência
na actuação.
Caso Carlos Mesquita
Numa altura em que o debate está
centrado à volta da existência de
conflitos de interesse por parte do
ministro dos Transportes e Comunicações,
Carlos Mesquita, quanto
à adjudicação directa dos serviços
de transporte de carga para uma
das suas empresas e na redução das
taxas portuárias para as concessionárias
dos portos de Maputo, Beira
e Nampula, mas onde sobressai
a Cornelder da Beira, empresa
em que é accionista, Carimo diz
fazer todo o sentido rever a lei e
espera que estes assuntos sejam
bem clarificados. Este exercício
será fundamental para analisar
eventuais situações dos restantes
membros do Conselho de Ministros
que também são empresários,
com destaque para casos em que o
próprio dirigente é quem toma as
decisões.
“A questão de fundo é o que é que
a CCEP foi propor ao Parlamento
e ao Governo. De momento eu
não sei. Se for uma proposta para
melhorar assino por baixo, mas se
for uma proposta para eventualmente
reduzir algumas obrigações,
aí já tenho alguma discordância”,
anotou.
Carimo, que discorda da decisão
da CCEP em relação ao caso Mesquita,
levantou uma questão de
fundo quanto à promoção da cabotagem
no país, visto que consta
do Plano Quinquenal do Governo.
Visto que o ministro do pelouro
é accionista duma empresa que
opera num dos portos, questiona
quem deverá assinar um provável
memorando nesse sentido com
empresas.
“Mandatar-se a vice-ministra será
a solução ou vai o primeiro-ministro
ou ainda a solução passa pela
exoneração do ministro ou tudo
será engavetado até que termine o
mandato”, indagou.
De seguida, apelou ao Parlamento,
que tem o último martelo na aprovação
das leis, para que desta vez
não embuta os artigos no mesmo
saco tal como aconteceu doutra
vez. Mas, antes disso, sugere que
haja um debate público amplo sobre
o assunto de modo a se colher
mais subsídios.
Outro vício constatado pelo antigo
director da Unidade Técnica
da Reforma Legal (UTREL) foi
a introdução de medidas penais
naquele instrumento. Refere que
a LPP faz parte da área do direito
administrativo e não é lei penal,
mas estranhamente foram introduzidas
na LPP medidas penais, o
que está errado.
“Se há um conflito de interesses
que resultou num proveito pessoal,
aí há um enriquecimento ilícito
que deve ser punido nos termos do
Código Penal e não da LPP. Hoje
temos o enriquecimento ilícito no
Código Penal e na LPP em simultâneo,
temos prevaricação no
Código Penal e prevaricação na
LPP”, disse.
Prosseguindo, explicou que se um
ministro não apresenta a sua declaração
de património, na primeira
vez é multado e, na segunda vez,
estamos perante uma desobediência
que é crime. Aqui pode se instaurar
um processo-crime nos termos
do direito penal e não na LPP.
Esta dupla penalização dificulta a
actuação do aplicador do direito.
Passados cinco anos após a aprovação
da Lei número 15/2012 de
14 de Agosto, diz estranhar que
nos órgãos centrais (Conselho de
Ministros, Assembleia da Repú-
blica e nos Tribunais) não existam
comissões de ética. É esta situação
que levou o Primeiro-Ministro a
remeter esclarecimentos sobre o
caso Mesquita à CCEP, enquanto
deveria ter solicitado na primeira
instância à comissão do Executivo,
sendo que, em caso de dúvidas,
esta iria recorrer à CCEP.
À luz da lei, cabe à CCEP o papel
de fiscalizar, orientar, regrar, esclarecer
e tirar dúvidas, mas agora a
CCEP está a fazer o papel doutras
comissões. Para além dos órgãos
centrais, as comissões de ética pú-
blica devem ser alastradas para as
instituições subordinadas ou sob
sua tutela, para as instituições autónomas
e nas empresas públicas
ou de capitais públicos, facto que
não existe até ao momento.
A proposta de revisão da LPP deve ser submetida a debate público
Abdul Carimo culpa AR pelas imprecisões
da lei da probidade
AAssembleia da Repú-
blica (AR) concluiu,
na tarde desta quarta-
-feira, a apreciação da
Conta Geral do Estado (CGE)
referente ao exercício económico
de 2015, com a bancada parlamentar
da Frelimo a garantir,
sozinha, a aprovação do documento.
Na verdade, a sessão serviu
apenas para confirmar o que
já se sabia que ia acontecer, no
caso, a aprovação através do voto
maioritário da Frelimo.
Esta bancada fundamentou o seu
voto favorável, na voz do deputado
Danilo Teixeira, afirmando
que a conta apresenta “uma execução
orçamental e financeira satisfatória”.
Para a Frelimo, “as falhas
nela reportadas são próprias
de um processo de construção e
crescimento”.
As bancadas da oposição, tal
como deram a entender desde
o primeiro dia da apreciação do
referido instrumento, fizeram jus
às suas promessas e optaram pelo
“não” categórico. O Movimento
Democrático de Moçambique
(MDM) foi a única que exerceu
o seu poder de voto, desfavorável,
tendo em conta que a Renamo
preferiu simplesmente abandonar
a sala das sessões plenárias.
Arrolando as razões pelas quais
decidiram pelo “não”, José de
Sousa, deputado do MDM, no
espaço reservado às declarações
de voto, disse que assim procedeu
a sua bancada porque a CGE de
2015 legaliza os empréstimos
criminosos e contratados às escondidas
pelas empresas ProIndicus
e Mozambique Asset Managment
(MAM).
Para além da questão da legalização
das chamadas “dívidas escondidas”,
acrescentou De Sousa,
concorreu para este posicionamento
o facto de ainda não ter
havido qualquer esclarecimento
às razões por detrás do incumprimento
das amortizações dos
créditos concedidos a alguns dirigentes
do partido no poder, em
2002, com os fundos do tesouro.
Já a bancada da Renamo, que
convocou a imprensa para explicar
o boicote da votação do projecto
de resolução que aprova a
Conta Geral do Estado de 2015,
socorreu-se dos mesmos argumentos
apresentados nas sessões
que aconteceram nos dias 12 e 13
de Abril.
Maria Ivone Soares, chefe daquela
bancada parlamentar, disse que
a Renamo abandonou a sala porque
não concorda com a inscrição
na Conta Geral dos empréstimos
contratados pela administração
de Armando Guebuza a favor de
duas empresas públicas, à revelia
da Assembleia da República.
Reiterou que a sua bancada é
contra a ideia de que as dívidas
devem ser pagas por todos os
moçambicanos, quando no seu
entender foram contraídas por
um “grupinho” identificado que
circula ante o olhar impávido e
sereno das autoridades de justiça.
“Não aceitamos a inclusão das
dívidas ilegais e inconstitucionais
na Conta Geral do Estado de
2015. Para a bancada parlamentar
da Renamo é inaceitável que
estado moçambicano assuma dí-
vidas particulares e as transforme
em dívidas que todos os moçambicanos
terão de pagar”, explicou
Ivone Soares.
(Ilódio Bata)
Por Argunaldo Nhampossa
Frelimo aprova sozinha a CGE de 2015
Savana 28-04-2017 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE
12 Savana 28-04-2017 INTERNACIONAL SOCIEDADE
Até onde conseguirá ir
Marine Le Pen? Ela
esforça-se. Anunciou
domingo que “suspendia”
o seu desempenho do cargo
de presidente da Frente Nacional,
o partido de extrema-direita
que lidera. Para poder ser “Presidente
de todos os franceses”, se
for eleita a 7 de Maio, na segunda
volta das presidenciais.
Muito depende de como votarão
os eleitores da direita nesse dia e
um mês depois, nas legislativas.
Rendem-se a ela ou darão o seu
voto a Emmanuel Macron? Le
Pen, em entrevista à televisão
France 2, confirmou que tem contactos
com o partido Os Republicanos,
para ter o apoio de alguns
dos seus líderes. François Fillon,
o derrotado e desacreditado líder
deste partido de centro-direita,
uma das grandes formações políticas
tradicionais, reconheceu
“não ter legitimidade para liderar
esse combate” e afastou-se.
O que defende Le Pen?
O comité político de Os Republicanos
reuniu-se depois de Fillon
se afastar, anunciando que ficaria
como militante de base e recomendando
o voto em Macron.
Mas a direita francesa tem muito
a fazer nos próximos tempos. Os
Republicanos entregaram-se a
uma troca de acusações.
Alguns dos mais conservadores,
como Christine Boutin, anunciaram
que irão votar em Marine Le
Pen. Nicolas Sarkozy não se pronunciou.
O deputado George Fenech,
próximo do ex-Presidente,
anunciou que não apoiaria Macron:
“Os eleitores que se desenrasquem
com Macron e Le Pen.
Foi o que escolheram.”
Enquanto liderou os Republicanos,
Sarkozy seguiu o princípio
do “nem, nem” nas segundas voltas
— não apoiar nem a esquerda
nem a Frente Nacional, se o candidato
do seu partido tivesse sido
eliminado na primeira votação
— recusando fazer a tradicional
“barreira republicana” contra a
extrema-direita, que a esquerda
tem continuado a praticar.
Christian Estrosi (Republicanos)
lamentava a posição assumida pelos
que não apelaram ao voto em
Macron, como a Associação Senso
Comum, saída do movimento
católico conservador que liderou
as manifestações de contestação
ao casamento gay, legalizado por
François Hollande, e que se tornou
no grande apoio do candidato
Fillon. “Pensei que partilhávamos
todos mesmos princípios”,
criticou.
Se há coisa que estas eleições estão
a mostrar, para angústia de
Estrosi, é que vai uma grande distância
entre partilhar princípios e
pô-los em prática. Os socialistas,
apesar do humilhante resultado
de Benoît Hamon — 6,3%,
o que fez desaparecer o rosa dos
mapas — lançaram múltiplos
apelos ao voto em Macron, apesar
das enormes divisões internas.
O Presidente François Hollande
manifestou-lhe o seu apoio, tal
como o ex-primeiro-ministro
Manuel Valls, ou o ex-ministro
da Economia Arnaud Montebourg,
apoiante de Hamon.
Em busca de aliados
O que não se entende ainda é
qual será o PS que vai disputar
as legislativas de 11 de 18 de Junho
(duas voltas). “Dentro em
dias Marine Le Pen vai ter dez
milhões de votos. É o fim de um
ciclo”, disse Manuel Valls. Mas
que vai ele fazer? Vai continuar
no PS? Ou vai criar uma nova
formação, para oferecer o seu
apoio a Emmanuel Macron no
Parlamento, já que este não tem
propriamente um partido político?
Aguarda-se para ver.
Até porque haverá necessariamente
uma recomposição nas
listas, porque pelo menos três
dezenas de deputados não se irão
recandidatar — desiludidos com
a política parlamentar ou, explicação
talvez mais terra-a-terra,
porque ficam impedidos de acumular
cargos com a nova legisla-
ção (antes era possível ser deputado,
presidente da câmara e ter
outros cargos ainda).
O que falta a Marine Le Pen para
conseguir chegar ao Eliseu, todas
as análises o dizem, é ter uma
grande reserva de votos para a
segunda volta. Não tem nem um
aliado político que diga “votem
nela”, embora ao contrário do que
aconteceu quando o seu pai, Jean-
-Marie, passou à segunda volta,
em 2002, ela não suscite uma rejeição
tão profunda.
Jean-Luc Mélenchon, que se
opôs de forma intransigente ao
pai Le Pen, não está a conseguir
dizer que apoia Macron — e talvez
metade dos seus sete milhões
de eleitores se abstenham na segunda
volta.
Le Pen e Macron falam para duas
Franças diferentes. Os eleitores
de Marine vivem fora das grandes
cidades, na França rural ou nas
aglomerações urbanas na periferia.
Se Macron obteve 34,83% em
Paris, Le Pen não chegou sequer a
5% na capital. E na região Norte,
onde Marine construiu o seu feudo
eleitoral — 28,22% —, conseguiu
apenas 13,83% em Lille. O Público.pt
s angolanos vão a
votos a 23 de Agosto.
A data foi anunciada
pelo porta-voz
do Conselho da República,
o procurador-geral angolano
João Maria de Sousa, citado
pela TPA.
“Todas as condições de natuAngolanos
escolhem sucessor de
JES a 23 de Agosto
Se a “barreira republicana” não funcionar,
até onde irá Le Pen?
reza política, legislativa, financeira,
logística, de segurança e ordem
pública estão praticamente criadas
para que as eleições gerais decorram
de forma transparente e sem
quaisquer constrangimentos sobre
os seus principais protagonistas”,
disse o Presidente angolano, José
Eduardo dos Santos, durante a
reunião do conselho, de acordo
com a televisão pública.
A votação em Agosto determinará
a futura composição da
Assembleia Nacional, onde o
partido mais votado indicará o
nome do sucessor de José Eduardo
dos Santos, que anunciou
que não voltará a ser candidato
à chefia de Estado.
João Lourenço, actual vice-
-presidente do MPLA, é o
candidato do partido no poder
e o mais provável sucessor do
actual Presidente, há 38 anos
no cargo.
A UNITA e a CASA-CE,
principais partidos da oposição,
concordam com a data avançada
para o escrutínio, apesar da
primeira força reclamar uma
auditoria independente aos cadernos
eleitorais, que sofreram
um processo de actualização
concluído a 31 de Março. Existem
à data mais de 9 milhões
eleitores registados.
Público.pt
Marine Le Pen não suscita uma reacção de rejeição tão violenta como o pai,
Jean-Marie Le Pen Pascal Rossignol/REUTERS
— Como vai votar a direita na segunda volta das presidenciais francesas? Macron vai recebendo apoios. Le Pen já se afastou da liderança da FN para
se mostrar como uma “Presidente de todos os franceses”
'DWDSDUDDVHOHLo}HVJHUDLVDQJRODQDVIRLDQXQFLDGDHVWDVHJXQGDIHLUDQRÀQDOGH
uma reunião do Conselho da República.
José Eduardo dos Santos está no poder há 38 anos. O nome do seu sucessor
será conhecido em Agosto. Reuters/© SIPHIWE SIBEKO/Reuters
Emmanuel Macron é tido como favorito na segunda volta das eleições francesas
Savana 28-04-2017 13 SOCIEDADE OPINIÃO
J
ean-Marie Le Pen somou
5,5 milhões de votos, 18%
dos sufrágios, na disputa
contra Jacques Chirac na
segunda volta das presidenciais
em Maio de 2002, e Marine parte
para o confronto com Emmanuel
Macron contando com 7,8
milhões de apoiantes, 21% dos
votantes - nisto se resume a degradação
da Quinta República.
O segundo mandato de Chirac
foi um fiasco, a presidência de
Nicolas Sarkozy, lamentável, o
quinquénio de François Hollande,
deplorável, e, consequentemente,
passados 15 anos sobre a
derrota de Jean-Marie, metade
do eleitorado apoiou candidatos
contestatários do sistema político,
soberanistas e proteccionistas.
França em quebra de rendimentos
e perda de estatuto, temente
ao futuro, expressa-se de forma
cada vez mais estridente nas vota-
ções por candidatos politicamente
extremistas.
A outra face da moeda radical é a
defesa de um estatismo regulató-
rio apostado em proteger sectores
com escassas ou nulas expectativas
de promoção social e baixa
capacidade competitiva ante a
introdução de novas tecnologias,
técnicas de gestão e concorrência
estrangeira.
Estes deserdados são efeito, e simultaneamente
uma das causas,
da perda relativa de peso de Fran-
ça desde a década de 1970 em
relação à Alemanha e Grã-Bretanha,
acentuando-se a tendência
neste século pelas disfunções do
mercado laboral e da gestão empresarial,
apesar da sofisticação
de sectores de ponta como a indústria
aeroespacial ou de armamento.
Uma carga fiscal excessiva, representando
55% do PIB, enquanto
a dívida pública equivale a 96%,
ou um défice orçamental cronicamente
acima dos 3% são alguns
dos sintomas de um regime económico
incapaz de continuar a
assegurar prestações sociais elevadas
(57% do orçamento, excluindo
educação).
A celebrada “douceur de vivre”
tem um contraponto no acentuar
das assimetrias sociais e na
alienação da grande maioria dos
7,3 milhões de descendentes de
imigrantes (11% dos franceses,
representando os actuais 5,9 milhões
de imigrantes, menos de 9%
da população).
Entre esta população jovem e
urbana (47% com menos de 25
anos, enquanto a média nacional
desta faixa etária se cifra nos 30%
- dados INSEE de 2017) assinala-se
no caso dos descendentes de
magrebinos (o maior contingente
- 31%, seguindo de italianos,
portugueses e espanhóis, 29%)
repúdio crescente pelos valores
republicanos e comportamentos
em violação das leis e interditos
morais.
Ao clima de permanente tensão
social e violência nos subúrbios
acresce a incidência do jihadismo
entre cerca de 6 milhões de
muçulmanos, maioritariamente
sunitas, a alimentar sucessivos
atentados terroristas que justifi-
cam um estado de emergência em
vigor desde Novembro de 2015.
O repúdio pela frequente imoralidade
de próceres políticos institucionais
para proveito pessoal
(caso de François Fillon, sua esposa
e rebentos) fez-se sentir na
primeira volta das presidenciais,
sem afectar Marine que no Parlamento
Europeu cultiva a tradição
galesa de empregos fictícios para
financiamento partidário.
A recomposição da direita, repudiando
o seu fracassado candidato,
e possíveis cisões entre os
socialistas, autonomizando alas
sociais-democratas de facções
anticapitalistas, vão dificultar a
criação de maiorias de coligação
estáveis na Assembleia Nacional
nas votações de Junho.
A margem de vitória de Macron a
7 de Maio contará, também, para
a sorte do partido centrista que
intenta patrocinar, com todas as
ambiguidades que o caracterizam.
Reforma constitucional é tema a
que Macron é alheio; exemplo de
equilibrismo político é a promessa
do manifesto de candidatura
de preservar a semana de 35 horas,
deixando à negociação a nível
empresarial as horas efectivas de
laboração.
Macron teve sorte até agora, mas,
dependente de acordos partidários
numa assembleia e num
França: a litania dos fracassos
Por João Carlos Barradas*
senado onde não contará com
maiorias a seu mando, será um
Presidente sem margem política
para empreender reformas de
fundo.
As expectativas que Macron irá
defraudar nada auguram de bom
para a Quinta República, institu-
ída em 1958 à imagem de Charles
de Gaulle e que, agora, ameaça
ruptura pela ascensão dos extremos.
*Jornalista e colunista do jornaldenegocios.pt
Arrenda-se
Arrenda-se uma residência R/C
e Primeiro andar, tipo três, sala
de visitas, sala de jantar, duas
casas de banho e garagem para
dois carros. A casa localiza-se no
bairro da Malhangalene, largo da
Ilha de Moçambique, número 22.
Contacto 842552183
14 Savana 28-04-2017 Savana 28-04-2017 15
NO CENTRO DO FURACÃO
I
mprevisível e irreverente, dirão
uns, frontal e vertical, dirão
outros, este é Artur Semedo
o nosso entrevistado desta
semana. E como peculiar continua
com o seu discurso ora meio-
-filosófico ora incendiário. Diz
que o futebol moçambicano tem
donos e que são esses que ditam
as regras de jogo; que sempre foi
alvo a abater nestes últimos quinze
anos, que mesmo impedido
de treinar qualquer equipa pelos
donos do futebol nunca vai pedir
desculpas a ninguém. E mais:
enganam-se os que julgam que
ele passa necessidade até porque
escolhe os clubes que quer treinar.
Seguem os excertos da conversa.
Mister, muitos adeptos ligados ao
futebol questionam o seu desaparecimento.
Afinal, onde anda o Artur
Semedo?
Eu acho que os adeptos deviam
questionar as entidades deste futebol,
deviam questionar alguns dos
dirigentes deste futebol, deviam
questionar toda a orgânica deste
futebol por que razão estou ausente
dos clubes e do futebol no seu todo,
embora fazendo algumas aparições,
ajudando algumas colectividades
comunitárias e outras com menor
expressão no país. Embora precisem
deste apoio, na verdade não deviam
perguntar a mim, mas aos donos
deste futebol, porque, como sempre
sublinhei, este futebol tem donos.
Quem são, de facto, esses donos do
futebol?
No nosso futebol há sempre, em
determinado momento, alguns personagens
que surgem como os mais
influenciadores do próprio sistema,
eles conseguem aglutinar, à volta
de si mesmos, todos os conceitos
de futebol, usando, algumas vezes,
o seu poderio financeiro (os que o
têm) porque nem todos o têm, di- êm, dizia,
conseguem manipular a vontade
colectiva e angariar para si mesmos
o poder de decisão no futebol. Eles
existem e vão variando de época para
época, alguns conseguem se man- , alguns conseguem se manter
por mais tempo no activo que
os outros mercê da sua capacidade
de esperteza, de aproveitamento da
conjectura, do seu poderio financeiro
e da influência que conseguem mover
em vários sectores de actividade
da nossa sociedade. Não é segredo
para ninguém que, paulatinamente,
vão aparecendo estes poderes instalados
todos os anos, todas as épocas,
e uns, como disse, ficam mais tempo,
outros vão sucumbindo, mas aí estão.
Insisto, esses poderes têm nome?
É evidente que têm nome, mas não
estou aqui para tratar ou retratar
quem quer que seja, muito embora
possa afirmar, de alguma maneira,
que o facto de não estar em actividade
deve-se a algum destes poderes.
Há pessoas que têm feito de
tudo, ao longo destas épocas, para
que eventualmente eu abandone o
meu país, há pessoas que sentem a
minha presença como um incómodo
por defender as causas de futebol, e o
facto de estar em inactividade deve-
-se a essas pessoas. Deve-se a indiví-
duos como Latifo Issufo ou Simões
Cossa, por um lado, e, por outro lado,
a indivíduos como António Simões
ou apenas Latifo. Estas personalidades
de tanto gostarem de mim e
terem muito poder neste futebol,
na verdade são os responsáveis pela
minha inactividade, são responsáveis
pelo facto de eu estar, neste momento
excluído, porque conseguiram
manipular e instrumentar os outros
subalternos que existem e são muitos
e a situação mantém-se como está,
mas a minha preocupação é zero em
relação a isso porque se de facto este
futebol está bem assim e não precisa
dos meus préstimos na verdade
é porque sou incompetente e tenho
muito pouca capacidade para poder
ser um elemento inovador e estruturante
para que este futebol possa
atingir níveis altos. Diria, portanto,
que tenho pouca capacidade, sou incompetente
e também devo ser um
elemento transgressor, no bom sentido
da palavra, e incomode os poderes
instalados. Isso pode servir como
razão para o meu afastamento, mas
sempre continuarei na defesa da causa
de futebol. Claramente é isso que
faço, não tenho truques, sou transparente,
é exactamente assim como
me bato pelo futebol, pela melhoria
da sua capacidade, pela elevação dos
seus níveis, pela elevação dos padrões
de qualidade e não tenho interesses
particulares nem de outra natureza.
Alvo a abater
Desde quando Artur Semedo tornou-se
num alvo a abater?
Sou alvo a abater já há quinze anos,
concretamente, desde que regressei
ao país, mas por ser tão incompetente
ainda estou aí, porque caso fosse
competente tenho a impressão de
que teria sucumbido, mas mesmo
sendo incompetente continuo robusto,
vivo e com muito ainda para
dar ao futebol.
Tem um discurso meio- filosófico
mas as suas palavras não transmitem
uma sensação desagradável.
Está zangado com o nosso futebol,
com os dirigentes desportivos de
alguns clubes?
Como é que posso estar zangado
com um futebol medíocre, não estou
zangado, se estivesse teria abandonado
o futebol há muito tempo, mas é
evidente que com alguns conceitos
estabelecidos, com a gestão que é
feita em determinados momentos,
com a via escolhida para o desenvolvimento
do futebol, sublinhe-se entre
aspas a palavra desenvolvimento,
porque este não é nenhum desenvolvimento,
na verdade eu não poderia
estar zangado porque todo o meu
interesse vai sempre ao encontro do
desenvolvimento do futebol, o meu
interesse é só na preservação dos valores
que caracterizam o futebol e o
desporto em geral.
Com essa perseguição de que diz
estar a ser vítima pelos donos do
futebol certamente que ainda não
chegou a ser convidado, este ano,
para treinar uma equipa. Confirma?
Têm surgido abordagens, mas as
minhas escolhas são feitas com critérios,
posso dizer-lhe categoricamente
que é algo que faço há algum
tempo. Eu escolho os clubes que
quero treinar e, por causa desta assumpção,
tenho merecido da parte
dos meus detractores muitas críticas.
Na verdade, escolho os clubes
que quero treinar com critérios, não
faço escolhas marginais, pois com
todo o capital e experiência que colhi
ao longo da minha carreira, como
praticante e depois como treinador,
cheguei a uma encruzilhada tal que
me permite, claramente, escolher os
clubes em função das pessoas que
o dirigem e, sendo assim, escolho as
pessoas com quem quero trabalhar.
Por isso, quando tiver os critérios
bem delineados poderei aceder, provavelmente,
a qualquer convite que
surja, mas também sei que muitos
destes dirigentes que por aí pululam
são também instrumentalizados
por este poder para, eventualmente,
impedir a minha contratação, mas
continuem a impedir quantas vezes,
quantas épocas, quantos anos quiserem,
que continuarei a ser o mesmo
despreocupado e a trilhar os caminhos
que eu bem entendo para mim.
Como profissional com credenciais
no panorama futebolístico nacional
alimenta esperança de vir a treinar
uma equipa este ano?
Não estou preocupado, até este momento
não esbocei qualquer tentativa
para treinar quem quer que seja,
tal como disse, as dinâmicas impostas
no futebol fazem com que todos
os treinadores exibam uma subalternidade
intelectual para andarem
a reboque dos dirigentes, comigo
isso não vai acontecer, nunca aconteceu
e não vai ser nunca. Por isso
que digo que não é este futebol que
claramente vai prescindir do meu
trabalho, se alguém julgou, porque
alguns desses poderes usam muitas
vezes redes sociais propalam e veiculam
os seus discursos e algumas verdades
provisórias, julgavam que me
colocavam numa situação de alguma
necessidade, eu estou aí tranquilo e
sereno. Eu ando no futebol desde
que me conhece, não voltei ao país
para pedir favores a ninguém, repi- ém, repi- m, repito,
não voltei para pedir favores de
qualquer espécie, a ninguém, pelo
contrário, vim dar muito da ajuda
que este futebol precisa porque, na
verdade, rege-se por lei e comportamentos
ainda demasiados primários.
A minha presença, passe alguma
modéstia, tem servido para catapultar
este futebol para níveis de acordo
com aquilo que se faz pelo mundo
fora.
Deserdado por discordar de
muitas coisas
Depois desta experiência amarga
e assumindo que está ser vítima da
sua verticalidade e frontalidade sobretudo
no discurso, e estando desempregado
nunca lhe passou pela
cabeça moderá-lo, ou seja, fazer de
conta que tudo está bem para garantir
o seu pão?
N ã o , eu não faço e nunca
f a r e i isso. A maneira
c o m o fui educado não
per- mite que me
oriente por
u m a
transmutação
moral, ética
e intelectual para
servir interesses deste
ou daquele, para me benefi-
ciar disto ou daquilo. O mundo
não é só Moçambique, por
isso estou à vontade para trilhar os
caminhos que sempre quis e quero.
Se estou aqui é porque o quis, se estou
neste futebol é porque quis estar,
não é a primeira vez que sou apeado
deste futebol por discordar de
muitas coisas ou por contrariar ou
contestar, mas estas pessoas que me
contestam são as mesmas que, muitas
vezes, querem depois trabalhar
comigo quando estão em situação
de apuro. Quando estão em apuros,
quando precisam tirar dividendos de
diversa maneira, quando precisam
de voltar à ribalta, quando precisam
de exponenciar os seus interesses,
sempre pensam numa pessoa e eu,
como percebo e faço leitura das coi- e faço leitura das coi- ura das coisas,
só sou usado quando quero.
Mister, a situação económica do
país é preocupante e o custo de vida
atingiu níveis incomportáveis. A
maior parte das pessoas que têm
vínculo contratual com as empresas,
que trabalham ressentem-se
desta triste realidade. Numa situação
como a sua é de esperar dificuldades
acrescidas. Como é que o
mister Semedo vive e mantém-se
com a dignidade que sempre o caracterizou,
até porque treinadores
há que se oferecem de bandeja...
Não é uma questão de dinheiro, não
é uma questão de ter ou não dinheiro,
é uma questão de convicção, de
educação, de atitude, de princípios.
Eu continuarei a defender os meus
princípios.
Tem se dito que a ocasião faz o
ladrão, princípios sim, mas sem
dinheiro fica complicado...
É evidente que é preciso ter se
dinheiro para se poder
viver, é uma verdade
inegável, mas eu
não ando no futebol
por ver os
outros, eu sei
o que ando a
fazer no futebol,
não vim
aprender a
ganhar dinheiro
em
Mo-
çambique,
e digo-lhe mais: os meus proventos
foram muito maiores como
praticante do que como treinador.
Não voltei ao meu país para ganhar
dinheiro, se fosse para ganhar dinheiro
não voltava.
O mister Semedo é rotulado como
daqueles técnicos bastante caros.
Se for o caso não está aí mais uma
razão para que alguns clubes de
menor capacidade financeira tenham
receio de contratá-lo?
Bem, sinceramente não consigo
perceber o que é isso de eu ser um
treinador caro, mas é evidente que a
qualidade que ostento merece uma
reciprocidade monetária, e mesmo
assim não é equivalente neste país,
não sou pago de acordo com o que
mereço ou julgo merecer. Provavelmente,
sou pago em função da conjectura
actual e da realidade econó-
mica do país, mas volto a dizer que
não voltei ao meu país por causa de
dinheiro, porque se fosse por causa
de dinheiro eu procuraria outros pa-
íses, outros mercados. Mas poderia,
eventualmente, ter continuado no
Songo, porque só mesmo pessoas
paranoicas, pessoas com outros interesses
teriam prescindido de mim,
dos meus serviços, o único treinador
ganhador que por lá passou. Isso não
cabe na cabeça de ninguém.
Subalternidade de dirigentes
da União Desportiva do
Songo
A mudança da direcção, a saída de
Luís Canhemba e entrada de José
Costa não terá criado condições
para a sua saída, porque com Canhemba
tudo indicava ser um casamento
duradouro. Qual é a sua
opinião?
Acha que mudando a direcção muda-se
ou põe-se em causa a idoneidade
técnica de alguém? A subal- técnica de alguém? A subal- cnica de alguém? A subalternidade
das pessoas que lá estão,
subjugadas por esses poderes que
lhe falei anteriormente, criaram um
cenário de forma a que eu pudesse
transitar de um sítio para o outro.
Não estou claro, constou-me que
simples pedido formal de desculpas
a alguém que, provavelmente
o teria ofendido, bastaria para que
as coisas passassem e, quem sabe,
continuasse como treinador. Foi
Artur Semedo igual a si próprio:
Por Paulo Mubalo
assim tão difícil pedir desculpas?
Estou a dizer que leia a minha resposta
e tira as conclusões que quiser,
eu referi-me à subalternidade das
pessoas que lá estão, foram as pessoas
que ao longo destes dois anos puseram
em causa o meu trabalho no
Songo, mas com a sua
subalternidade
em relação
aos pod
e r e s
d e
q u e
lhe
falei anteriormente criaram um cenário
para que eu pudesse sair deste
clube e transitasse para o outro, sem
antes contar com o livre arbítrio das
minhas decisões. Mas eu não dependo
de ninguém, a minha vida não
é comandada por ninguém, não me
transfiro dos clubes porque alguém
tem o comando total das circunstâncias.
Sair do clube posso ainda
admitir porque não mando nos clu- não mando nos clu- mando nos clubes,
mas alguém decidir para onde
devo ir não aceito, quem decide sou
eu. Como eu não estou a reboque de
ninguém, não sou instrumentalizado
por ninguém, estou nas circunstâncias
em que estou, e quem determina
a trajectória da minha vida sou eu, e
por isso, será sempre assim.
Não acha que essa sua maneira de
ser pode não agradar a muitos dirigentes
dos clubes e que vezes há
em que têm de se confirmar com
alguns cenários para se evitar um
mal maior?
Para quê, para pedinchar o quê, para
servir interesses de quem, para pôr
em causa o meu ego, para defender o
quê e quem? Não preciso, disso claramente
não preciso.
mediocridade
Moçambique já esteve inundado
por treinadores estrangeiros mas
paulatinamente a tendência é decrescente.
Será que o país já não
precisa desses técnicos vindos de
fora?
Tenho a minha opinião, mas devia
perguntar a esses poderes instalados,
porque eles é que determinam
quem treina e quem não deve treinar
e não eu. Já assistimos, em épocas
transactas, uma corrida desenfreada
para contratação de treinadores
estrangeiros, e volta e meia houve
um novo movimento de rotura com
esses treinadores e quase todos foram
despedidos como se fossem uns
incompetentes. Criaram-se cenários
nos seus clubes, de modo que os
treinadores se revelassem incompetentes
porque, na verdade,
foram criados esses cenários
em muitas ocasiões. Hoje
assistimos a uma situação
original de novo em
que a maioria esmagadora
são
treinadores
moçambicanos
e
p o u c o s
estrang
e i r o s .
Eu como
c i d a d ã o
acho que
era desejável
que a
maioria fosse
treinadores
moçambicanos,
mas provavelmente
não nestas
situações em que parece que se está
a massificar a mediocridade.
Estará a mostrar um atestado de
incompetência a muitos treinadores
nacionais?
É preciso dotar as pessoas de capa- preciso dotar as pessoas de capacidade
e de competência para poderem
exercer a sua actividade sem
andarem a reboque de ninguém. A
entrada de treinadores para os clubes
não obedece a critérios, quando
vos falava da idoneidade técnica este
não é o primeiro critério para estar
no clube. Hoje o primeiro critério é
de um treinador submisso, que faz
as vontades das direcções, que não
questiona nem põe em causa a vida
dos clubes, que oculta tudo o que
põe em causa o seu trabalho, por
isso, estamos como estamos.
O mister teve uma espécie de muleta
do seu lado, estou a falar de
Tiago Machaisse. O que faz com
que seja o seu eterno adjunto, será
pela maneira obediente e quiçá
modesta como ele é?
Depende do significado que quer
dar a ser modesto. Ele é uma pessoa
modesta, mas não no sentido pejorativo
que o termo possa conter. Nós
criamos uma cumplicidade muito
grande e eu tenho uma admiração
profunda por pessoas que são íntegras,
leais, profissionais, e ainda por
acima, quando agregam, na sua trajectória
profissional a tal idoneidade
técnica. Esta simbiose faz com que
me sinta reflectido também nessas
pessoas e é por isso que me dou bem
com ele.
Muitos clubes contratam apenas o
técnico principal e a prorrogativa
de escolher os adjuntos é da alçada
das respectivas direcções e muitas
vezes dão primazia aos filhos da
casa. Não tem sido difícil impor a
sua vontade?
Nunca me opus a isso, que essa pessoa
possa trabalhar comigo. Se o clube
tiver condições para suportar uma
equipa técnica nestas circunstâncias,
eu não me oponho, não vejo porque
razão não possa ter um elemento que
faça a ligação entre quem chega e o
clube, isto é perfeitamente natural,
isso acontece em todas as partes do
mundo. Mesmo em alguns clubes
onde trabalhei isso sucedeu, repare
que no Songo eu tinha no meu quadro
técnico elementos que são do
quadro do clube. Nem houve problemas
e trabalhei com eles de forma
profissional.
Artur Semedo já treinou os grandes
clubes de Maputo, casos do
Maxaquene, Liga, Ferroviário,
Desportivo, não esquecendo o
Matchedje, mas a sua saída destes
clubes, salvo raras excepções, foi
atribulada e polémica. O que realmente
aconteceu?
Quando se criam cenários para que
as pessoas abandonem os clubes de
forma desonesta, desumana, não espera
da minha parte que seja complacente
com situações desta natureza.
Vou lhe dizer com muita imodéstia,
chamem me arrogante, chamem-
-me o que quiser, estou acima deste
futebol, eu estou acima deste futebol,
sei a importância que tenho e sei o
que poderia ser se todos comungassem
do mesmo desejo de elevação
do futebol, sei da importância que
eu teria e poderia dar para este futebol,
e por isso não posso aceitar
situações criadas para pôr em causa a
minha pessoa, pôr em causa a minha
competência, isso não posso aceitar.
Nestas duas épocas que estive no
Songo, foram criados problemas ao
longo dos dois anos, problemas criados
por pessoas que neste momento
estão à frente dos destinos do clube,
as mesmas circunstâncias vivi as na
Liga. Tendo sido campeão consecutivamente,
coisa que nunca tinha
acontecido anteriormente. E repito
o que lhe disse antes: quando as
pessoas têm necessidade de elevação
da qualidade dos níveis que desejam
para os seus clubes contratam-me,
quando acham que já estão numa
situação de luxúria criam um cenário
para que as pessoas abandonem os
clubes e eu não posso aceitar coisas
desta natureza. Aconteceu-me no
Matchedje, e posso lhe dizer hoje,
quem elevou os níveis de qualidade
deste clube depois de uma travessia
no deserto teria sido eu, o Matchedje
começou a aparecer para finais das
competições nacionais, ocupou lugares
cimeiros nas competições nacionais,
teve os melhores jogadores
contemplados nesse período, quando
estive nesta colectividade e ainda por
cima tenho salários em atraso, que
até hoje não me foram pagos. Então,
tirem vocês as conclusões porque são
criados alguns cenários para os treinadores
saírem dos clubes.
Que avaliação faz do dirigismo
desportivo em Moçambique?
A minha resposta está subjacente
a tudo o que disse, embora tenha a
dizer , com alguma humildade, que
trabalhei com gente especial ao longo
destes anos, muito poucas mas
que souberam me entender, souberem
perceber-me. Algumas não tinham
a noção da pessoa que eu era e
foram capazes de mudar de opinião
depois de trabalhar comigo e isso é
comum nos clubes, porque sempre
foi veiculada uma ideia contrária à
pessoa que eu sou exactamente para
tirarem proveito disto e daquilo, mas
depois de anos de convivência as
pessoas acabam por reconhecer que
estavam erradas e têm outra opinião
quando trabalho com elas.
Qual tem sido o papel da associa-
ção de treinadores na resolução de
parte dos vossos problemas?
Nem me pergunte isso, porque se
fosse algo que pudesse ter opinião
deveria ter assistido algo que fosse
representativo, por isso não sei se
essa associação existe ou não, porque
se existisse teria outros procedimentos.
Pode até existir fisicamente mas
na prática não se faz sentir.
A terminar
Estou bem como estou neste momento,
apesar de estar a gozar umas
férias merecidas, mas forçadas, repare
bem, férias merecidas embora for-
çadas por determinadas pessoas. Estou
a sentir-me bem até porque que
vejo hoje o futebol de uma forma
mais simples, desapaixonada e lúdica,
por isso quando vou aos campos
tenho sentido da parte dos adeptos
e simpatizantes um carinho enorme,
um respeito enorme, o que contraria
a versão destes poderes que temos
no nosso desporto e isso para mim
é gratificante e diz bem da minha
trajectória neste futebol. O resto não
conta para mim e na verdade nem
estou interessado em aprofundar
determinadas coisas. E a partir desta
entrevista que lhe dou não creio que
daqui para o futuro esteja disponível
para falar sobre o futebol, opinar, dar,
perspectivas do que acho e que não
acho sobre determinadas circunstâncias
que ocorrem.
“Não é este futebol que vai prescindir do meu trabalho”
ão voltei para pedir favores de
quer espécie, a ninguém, pelo
rário, vim dar muito da ajuda
este futebol precisa porque, na
ade, rege-se por lei e comportatos
ainda demasiados primários.
minha presença, passe alguma
éstia, tem servido para catapulste
futebol para níveis de acordo
aquilo que se faz pelo mundo
erdado por discordar de
tas coisas
ois desta experiência amarga
umindo que está ser vítima da
verticalidade e frontalidade soudo
no discurso, e estando depregado
nunca lhe passou pela
ça moderá-lo, ou seja, fazer de
a que tudo está bem para gar
o seu pão?
o , eu não faço e nunca
i isso. A maneira
o fui educado não
mite que me
oriente por
uma
s-
aç ão
al, ética
electual para
r interesses deste
aquele, para me benefi-
disto ou daquilo. O mun-
ão é só Moçambique, por
estou à vontade para trilhar os
nhos que sempre quis e quero.
tou aqui é porque o quis se esro,
é uma questão de convicção, de
educação, de atitude, de princípios.
Eu continuarei a defender os meus
princípios.
Tem se dito que a ocasião faz o
ladrão, princípios sim, mas sem
dinheiro fica complicado...
É evidente que é preciso ter se
dinheiro para se poder
viver, é uma verdade
inegável, mas eu
não ando no futebol
por ver os
outros, eu sei
o que ando a
fazer no futebol,
não vim
aprender a
ganhar dinheiro
em
M o -
çam -
b i -
assim tão difícil pedir desculpas?
Estou a dizer que leia a minha resposta
e tira as conclusões que quiser,
eu referi-me à subalternidade das
pessoas que lá estão, foram as pessoas
que ao longo destes dois anos puseram
em causa o meu trabalho no
Songo, mas com a sua
subalternidade
em relação
aos pod
e r e s
d e
q u e
lhe
0DVVLÀFDomRGD
mediocridade
Moçambique já esteve
por treinadores estrang
paulatinamente a tendê
crescente. Será que o p
precisa desses técnicos
fora?
Tenho a minha opinião
perguntar a esses pode
dos, porque eles é que d
quem treina e quem não
e não eu. Já assistimos,
transactas, uma corrida
da para contratação de
estrangeiros, e volta e m
um novo movimento de
esses treinadores e quas
ram despedidos como se
incompetentes. Criaramnos
seus clubes, de mo
treinadores se revelasse
petentes porque, n
foram criados ess
em muitas ocas
assistimos a um
original de
que a
ma
t
c
a
e
j
m
se
moça
mas Artur Semedo
16 Savana 28-04-2017 PUBLICIDADE
A ENI EAST AFRICA S.p.A. convida as empresas interessadas à submeterem
a sua Manifestação de Interesse para o fornecimento de ser- ão de Interesse para o fornecimento de serviços
de Monitoria de Implementação dos Planos de Gestão Ambiental
para Eni East Africa S.p.A.
ÂMBITO DE TRABALHO
1. Realização de auditorias ambientais em conformidade com os requisitos
legais aplicáveis e boas práticas internacionais;
2. Monitoria e Controlo da implementação de Planos de Gestão AmELHQWDOH3URJUDPDVGH*HVWmR$PELHQWDOHVSHFt¿FRV
LQFOXLQGRDFtividades
de campo e de gabinete);
3. Alocação de recursos humanos para garantir o cumprimento dos
UHTXLVLWRV GRV 3ODQRV GH *HVWmR $PELHQWDO 2¿FLDLV GH &RQWUROR
$PELHQWDOH2¿FLDLVGH&RQWUROR$PELHQWDOH&RPXQLFDomR
4. Realização de formações ambientais e campanhas de consciencialização
ambiental;
5. Condução de processos de participação pública durante a fase de
implementação dos projectos;
6. Elaboração de Relatórios de Progresso e de Desempenho AmbienWDOSDUDD&RPSDQKLDHSDUDRVLQWHUYHQLHQWHV
DXWRULGDGHVHRXtras
partes interessadas e afectadas);
7. Actualização de Planos de Gestão Ambiental;
8. Elaboração de adendas a Relatórios de Estudo de Impacto Ambiental;
9. Elaboração e revisão de Declarações de Método Ambiental.
DOCUMENTOS NECESSÁRIOS
As empresas interessadas neste convite podem apresentar a sua Manifestação
de Interesse devidamente assinada pela pessoa autorizada
MXQWDPHQWH FRP SURFXUDo}HV DXWHQWLFDGDV RX RXWUR GRFXPHQWR GH
autoridade da pessoa autorizada a assinar pela empresa), e com a seguinte
informação obrigatória e documentação que comprove :
1. Cópia autenticada e digitalizada do Registo Comercial, nome Legal
de Entidade e pessoa de contacto para receber informações comerFDomR
válida da Eni S.p.A e que já se auto candidataram no passado para a
mesma actividade, se aplicável, a documentação necessária deverá
ser enviada para o seguinte endereço de email:
eea.procurement@eni.com.
Sujeito à submissão da Manifestação de Interesse e ao cumprimento
com toda a documentação acima indicada, as empresas interessadas
SRGHUmRUHFHEHUGD(QL(DVW$IULFDR3DFRWHGH4XDOL¿FDomR
A Eni East Africa S.p.A fará uma avaliação da documentação acima
solicitada e, caso o resultado da avaliação seja satisfatório, irá incluir
R FDQGLGDWR QD VXD /LVWD GH )RUQHFHGRUHV FRP YLVWD D FRQVLGHUDU D
empresa em futuros processos de concurso relacionados com as actividades
em questão.
$SHQDV DV HPSUHVDV FRQVyUFLRV RX -9 TXDOL¿FDGRV TXH WHQKDP GHPRQVWUDGRFDSDFLGDGHHH[SHULrQFLDUHFHQWHGRIRUQHFLPHQWRGRVHUviço
acima exigido serão considerados para potenciais propostas no
âmbito do serviço acima descrito.
A solicitação de informação e documentação tem como objectivo iniciar
XPD³DYDOLDomRSDUDTXDOL¿FDomR´HGDUXPDRSRUWXQLGDGHjVHPSUHsas
seleccionadas de fornecer detalhes da sua estrutura legal, gestão,
H[SHULrQFLDUHFXUVRVHVXDFDSDFLGDGHJOREDOSDUDH[HFXWDURVHUYLoR
Este manifestação de interesse não deverá ser considerada um convite
para concurso e portanto, não representa nem constitui nenhuma
promessa, obrigação ou compromisso de qualquer tipo por parte da
Eni East Africa S.p.A em celebrar contratos ou acordos com qualquer
empresa que participe do presente manifestação de interesse.
Consequentemente, todos os dados e informações fornecidos pela empresa
não deverão ser considerados como um compromisso por parte
da Eni East Africa em celebrar um contrato ou acordo com a empresa,
nem deverá possibilitar que a empresa reivindique qualquer indeminização
da parte da Eni East Africa S.p.A.
Todos os dados e informações fornecidos no âmbito desta manifestaominvites interested companies to submit
the Expressions of Interest for monitoring of environmental and
management plan for Eni East Africa S.p.A.
SCOPE OF WORK:
1. Conduct environmental audits in accordance with applicable legal
requirements and international best practices;
2. Monitoring and control of the implementation of Environmentalsavana@mediacoop.co.mz
Redacção
admc@mediacoop.co.mz
Administração
www.savana.co.mz
EDITORIAL Cartoon
S
e há lição de França é
esta: acelera-se o colapso
das famílias políticas
tradicionais que
têm governado a União e os
seus principais Estados. Isso é
imparável.
Um suspiro de alívio atravessou
as chancelarias no domingo
e houve governos europeus
que, mesmo antes de Hollande
o fazer, se precipitaram para
apelar ao voto em Macron. No
centro e até na esquerda ouvem-se
vozes indignadas exigindo
essa mesma entroniza-
ção, castigando quem se atreva
a sugerir que se deve perceber
o risco para o vencer.
Tal precipitação partilha aliás
um consenso que convém a
ambos os candidatos da segunda
volta das presidenciais francesas:
como anunciam os cartazes
de Le Pen, “Já não existe
esquerda e direita mas sim patriotas
ou globalistas”, e o mesmo
repetem os macronistas da
primeira como da última hora.
É portanto neste terreno de bipolarização
que ambos jogam.
É-lhes confortável fingir que
acabaram os programas e que
A França, cantando e rindo
agora é tudo ou nada, ou o isolamento
ou o desvanecimento.
É um sinal do estado da política
francesa: “cantando e rindo,
levados, levados, sim”, resolve-
-se o problema? É mesmo preciso
um “som tremendo” e um
“clamor sem fim” para que ninguém
ouça nada.
Pergunto-me como podem
alguns intelectuais colaborar
nesta fraude, que é a verdadeira
alavanca de Le Pen. Pacheco
Pereira resumiu bem todo esse
paradoxo: “(a Europa) vai andar
feliz uma semana ou duas
e depois tudo começa na mesma”.
Ora, ficar tudo na mesma
é a garantia de dois erros fatais:
primeiro, perante a degradação
institucional, persistir na solu-
ção (entregar o poder soberano
a autoridades europeias) que
garante o desastre (os regimes
deixam de ser representativos);
segundo, baixar ainda mais o
nível dos protagonistas. Depois
de Hollande é a vez de
um político postiço cuja qualificação
para ser Presidente é
ter ganho uns milhões em piratarias
financeiras.
De resto, entendamo-nos: não
tem o leitor a sensação de déjà
vu? Hollande dera o golpe garantindo
que com ele a Europa
se endireitaria, respeitaria as
pessoas e as nações, corrigiria
os tratados – e tudo em três
semanas. Macron dá um passo
mais: tudo se há-de resolver,
mas não me pergunte como,
basta um beatífico “referendo
europeu na segunda volta”.
Mas se há lição de França é
esta: acelera-se o colapso das
famílias políticas tradicionais
que têm governado a União
e os seus principais Estados.
Isso é imparável, não ocorre
por causa de inimigos exteriores,
não é por Putin e Trump
apoiarem Le Pen, o que tem
forte significado mas escasso
impacto eleitoral, acontece por
causa dos inimigos internos.
Numa palavra, é o liberalismo
económico que corrói a con-
fiança. A continuar a forma de
ser da União, a desunião é o resultado;
a continuar a sua polí-
tica, Le Pen tem uma chance e
essa chance chama-se Macron,
ou tudo recomeçar na mesma
depois da festa.
*Colunista do Publico.pt
D
ois acontecimentos esta semana são auto-explanatórios sobre
como Moçambique terá muitas dificuldades para obter
progressos no índice mundial sobre a percepção da facilidade
de fazer negócios no país.
São acontecimentos aparentemente marginais, mas que são devidamente
anotados por parte de quem possa eventualmente ter
algum interesse em colocar o seu dinheiro por estas margens do
Índico.
O primeiro incidente toca a própria agremiação que anualmente se
tem batido junto do governo para que este melhore o ambiente que
permita a plena realização de negócios em Moçambique. É que
o processo preparativo para as eleições para os órgãos directivos
desta mesma organização deixa tanto a desejar, que não se pode
conferir credibilidade à própria organização.
Se os empresários locais são vistos eles próprios como sendo um
bando de mafiosos, que garantias tem qualquer investidor estrangeiro
de que terá com eles uma relação justa nas suas transações?
Colocado de outra maneira, se os empresários locais se podem aldrabar
entre eles, qual é a garantia que tem o estrangeiro, de que
em caso de alguma disputa, o empresário local não irá comprar o
sistema de justiça local (ele próprio já visto com muita suspeita)
para tirar vantagens e lesar a contraparte estrangeira?
O segundo caso é um episódio que tem todas as facetas para o
manuscrito de um blockbuster fresquinho das entranhas de
Hollywood. Aconteceu na segunda-feira desta semana, quando
dois perigosos cadastrados, sob guarda da polícia, foram libertados
pelos seus próprios comparsas, ante a incapacidade dos seus acompanhantes
de agir para impedir que os criminosos desaparecessem.
Criminosos há em todo o mundo. Mas poucos existem que desafiam
o Estado com tamanho amadorismo e desprezo como o
fazem em Moçambique. E quando é assim, o sentimento de fragilidade
absoluta entre os cidadãos torna-se arrepiante.
Não deve haver dúvidas para ninguém, de que o incidente de segunda-feira
foi orquestrado pelos próprios agentes da polícia que
acompanhavam os dois criminosos. Ou para lhes dar o benefício da
dúvida, caso o plano não tenha sido urdido por eles, então podiam
estar a cumprir ordens dos seus superiores hierárquicos, longe de
se aperceberem de que estavam envolvidos numa missão criminosa.
De qualquer das formas, a conclusão a que se chega é que não é a
este tipo de polícia que qualquer país deve confiar a sua segurança.
Os dois episódios aqui vertidos interligam-se no sentido de que
um país não pode ter um bom ambiente na condução de negócios,
se por um lado os seus próprios empresários actuam com métodos
de um autêntico gangsterismo, e por outro, se o seu sistema de
segurança interna estiver mergulhado na corrupção a um nível tão
profundo que o Estado já não é mais capaz de isolar os criminosos
do resto da sociedade. Como alguém já fez notar, é altamente
improvável que uma viatura de escolta fique retida no meio do
trânsito, deixando o objecto da sua cobertura avançar sozinho.
A sujeira e os golpes baixos que estamos a testemunhar na campanha
para as eleições na CTA demonstram o quão inapta é
esta organização como representativa de interesses genuinamente
empresariais. É o gangsterismo ao mais alto nível, espelhando
provavelmente o carácter dos seus próprios membros. Nenhum
empresário sério poderá se rever numa organização de tão baixa
probidade.
A combinação da imagem de um sector empresarial despido de valores
éticos e de um sistema de segurança pública profundamente
comprometido com o crime são, para além de tantos outros, factores
que concorrem para que este país continue a registar índices
de confiança extremamente baixos nos esforços para se tornar num
destino privilegiado de investimentos. Este é um país nas mãos da
máfia.
Moçambique: Um país
nas mãos da máfia
É toda vossa,
Chefe!
Por Francisco Louçã*
Savana 28-04-2017 19 OPINIÃO
525
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
“
O oxigénio que respiramos
também é um ganho da paz”,
afirma António Luvualu de
Carvalho, embaixador-itinerante
e membro do Comité Central
do MPLA, em declarações à Televisão
Pública de Angola (TPA).
Trata-se de uma declaração cujo
intuito é endeusar o presidente
– o arquitecto da paz – e colocar
o MPLA ao mesmo nível que o
conselho de apóstolos de Jesus
Cristo, ou seja, “intangível”, para
usar uma palavra muito cara a
Luvualu.
Nas redes sociais, as palavras de
Luvualu correm a uma velocidade
extraordinária. Nem mesmo João
Lourenço, cuja figura monopoliza
agora, diariamente, as atenções e
laudas da TPA, RNA e do Jornal
de Angola, consegue ter tanto
impacto quanto o ilustre acadé-
mico do MPLA.
O MPLA deve começar a reflectir
sobre os efeitos contraproducentes
de tantos anos a amorda-
çar os intelectuais, a censurar e a
pisotear a inteligência dos angolanos
que pensam de forma livre
e independente.
Temos, assim, uma comunicação
social do Estado que passou a ser
o repositório da estupidez daqueles
que, a coberto da sua militância
nas mais altas esferas do
MPLA, transformaram o “falar à
toa” na ciência política do regime.
Quando o dirigente general Bento
Kangamba fala publicamente
sobre o trabalho do MPLA em
garantir-nos “energia potável”,
rimo-nos todos da ignorância
do homem e ficamos por aí. Mas
Bento Kangamba é uma figura
extraordinária, é um lúmpen
bem-sucedido que entretém os
angolanos que troçam da sua pró-
pria tragédia.
Kangamba tem graça, Luvualu
não.
Luvualu é um Kangamba que fala
bem português, com mestrado
de universidade portuguesa. Não
passa pela cabeça do ilustre representante
do MPLA que, sem
oxigénio, nem sequer teria havido
guerra. Estaríamos todos mortos.
Eventualmente, só o presidente
José Eduardo dos Santos teria
sobrevivido à falta de oxigénio no
seu papel de “Deus pagão”. Mas
o que é um deus sem seres para
criar e orientar? É nada.
Algo parece revelar que no seio do
MPLA começa mesmo a faltar
oxigénio suficiente para garantir
a sobrevivência de um regime tão
minado pela malandragem e astúcia.
Já não conseguem prometer
nada, nem água, nem luz, e agora
querem chantagear-nos com o ar
que respiramos! Só pode.
*makaangola.org
A
impulsividade de Trump
é um pesadelo, não apenas
porque faz com que
ele seja explorado por
aqueles que têm agendas intencionais,
mas também porque
Trump comanda muitos brinquedos
mortais.
A última palavra, claramente, não
foi ainda proferida sobre o ataque
com armas químicas, em Khan
Sheikhoun, na província síria de
Idlib, a 4 de Abril, e que fez 85
mortos e, apontam as estimativas,
555 feridos. Mas três pontos – em
relação à responsabilidade pelo
ataque, à resposta militar norte-
-americana a esse mesmo ataque
e o efeito que este episódio tem
na guerra civil na Síria – têm de
ser clarificados.
Em primeiro lugar, todos os governos
mentem, não de uma forma
congénita, mas quando lhes
convêm e pensam que podem
sair impunes. Esta tem de ser
a premissa de qualquer esforço
para esclarecer a verdade sobre
o que aconteceu. Um bom ponto
de partida é que os governos democráticos
mentem com menos
frequência que os regimes autoritários,
porque é menos provável
que consigam sair impunes. Assim,
é preferível a explicação do
presidente russo, Vladimir Putin,
à do presidente da Síria, Bashar
al-Assad, e é preferível a do presidente
dos Estados Unidos, Donald
Trump, à de Putin.
De acordo com Assad, o massacre
foi “fabricado”. Por outro lado,
Putin admite que o massacre
aconteceu, mas alega que as armas
químicas estavam no territó-
rio dos rebeldes e que estas armas
químicas foram libertadas ou de
forma deliberada, para desacreditar
o regime, ou de forma acidental
pelos bombardeamentos
do governo. Finalmente, a administração
Trump cita provas conclusivas
que referem que o ataque
foi planeado e levado a cabo
pelo governo de Assad. Os três
pedem um inquérito “objectivo”
às circunstâncias que envolvem
o “evento”, embora discordem
sobre o que pode ser tido como
“objectivo”.
Apesar das provas de Trump não
terem sido reveladas, creio que o
mais provável é ter existido um
ataque com gás sarin ordenado
pelo regime de Assad. Mas há
espaço para dúvidas. Assumindo
que Assad não é completamente
irracional, os ganhos militares,
relativamente pequenos, de gasear
alguns rebeldes (mas também
civis) seriam fortemente suplantados
pelo efeito provável na opinião
internacional, pelo embaraço
dos seus aliados russos, e pelo
perigo de provocar uma resposta
americana. Além disso, para justi-
ficar a invasão do Iraque em 2003,
os Estados Unidos (e o Reino
Unido) produziram igualmente
provas “conclusivas” que Saddam
Hussein tinha armas de destrui-
ção maciça, o que acabou por ser
falso. E a crescente “segurança do
Estado” aumentou a capacidade
dos governos democráticos para
saírem impunes com mentiras.
Em segundo lugar, Trump revelou
a sua instabilidade psicológica.
O seu objectivo enquanto presidente,
que constantemente tem
proclamado, é reparar a economia
norte-americana e não policiar o
mundo. Trump avisou repetidamente
Obama para não entrar
numa guerra na Síria. Ainda assim,
foi precisamente o que fez ao
lançar 59 mísseis Tomahawk na
base aérea síria três dias depois do
massacre em Khan Sheikhoun.
Trump pode, de facto, ter tido um
espasmo de emoção quando viu
as imagens de morte e de crianças
a morrer na televisão, como tem
sido amplamente reportado; mas
as provas visuais dos métodos
sangrentos de Assad há muito
que estão disponíveis.
Quer a sua resposta tenha sido
emocional, ou nascida da frustra-
ção do falhanço das suas iniciativas
de política doméstica, ou desenhada
para assustar a Coreia do
Norte, ou uma mistura das três,
enquadra-se no que o psicólogo
e prémio Nobel, Daniel Kahneman,
identificou como sistema
1 de pensamento: a propensão
para responder impulsivamente
a problemas complexos quando é
necessária uma ponderação mais
cuidadosa (sistema 2 de pensamento).
A impulsividade de Trump é
um pesadelo, não apenas porque
faz com que ele seja explorado
por aqueles que têm agendas intencionais,
mas também porque
Trump comanda muitos brinquedos
mortais. A resposta de sistema
1 de Trump ao ataque com
gás sarin contrasta com a reacção
deliberada em Outubro de 1962
do presidente John F. Kennedy, e
dos seus conselheiros, à decisão
de Nikita Khrushchev de colocar
mísseis nucleares em Cuba.
Em terceiro lugar, o que o secretário
de Estado dos EUA, Rex
Tillerson, disse em Moscovo -
que o “reinado da família Assad
está a chegar ao fim” – não faz
sentido. Dos 16 milhões de sírios
que continuam na Síria, 65,5%
vive em territórios controlados
pelo governo. A menos que Tillerson
tenha em mente uma polí-
tica oculta para retirar Assad, por
assassinato ou por golpe de Estado,
insistir na sua saída como uma
condição para a solução política
para a Síria significa um prolongamento
da guerra civil: mais
apoio em termos de armamento
para a oposição vai significar mais
apoio russo ao regime.
De qualquer maneira, a política
americana - se é que há uma - é
simplesmente uma política de
guerra, sem um limite temporal e
com consequências incalculáveis.
O Instituto Internacional de Estudos
Estratégicos, após o ataque
com os Tomahawk, referiu que:
“se aparentemente Trump está no
caminho para alcançar um equilíbrio
político apropriado, a sua
impulsividade, ignorância em termos
de assuntos internacionais,
natureza inconsequente, contrariedade
natural e disposição ‘transacional’
provavelmente impedem
a consolidação de uma ‘doutrina
Trump’ distintiva”.
Uma política externa prudente
é completamente diferente de
uma resposta “proporcional” a um
evento específico porque envolve
saber que os fins se alcançam com
os meios escolhidos. Por outras
palavras, política externa exige
pensamento estratégico. Trump
não mostrou qualquer sinal disso.
De facto, a sua impulsividade política
arrisca-se a cavar um buraco
ainda mais profundo na Síria, no
qual os EUA, o Reino Unido e a
Rússia vão ficar presos.
Em 1903, um estudante da Universidade
de Cambridge, John
Maynard Keynes, escreveu um
ensaio sobre o filósofo conservador
Edmund Burke, no qual
incluiu uma pérola de sabedoria
do seu próprio tempo. “Além do
risco que envolve qualquer mé-
todo violento de progresso”, argumentava
Keynes “há ainda esta
consideração que frequentemente
precisa de ênfase: não é suficiente
que os assuntos de Estado que
procuramos promover sejam melhores
do que os que o precederam;
têm de ser suficientemente
melhores para compensarem os
males da transição”.
*Membro da Câmara dos Lordes
britânica, é professor emérito de
Economia Política na Universidade
de Warwick.
A política de guerra de Trump na Síria
Luvualu: o Oxigénio do
Camarada Presidente
Por Rafael Marques de Morais*
Não há melhor maneira para justificar a pobreza senão
dotá-la da irremediabilidade da natureza, fazer dela
não um dado social, mas natural. Por outras palavras: o
mundo é naturalmente feito de ricos e de pobres, sempre
assim será. A naturalização da pobreza encontra na esmola
um reprodutor ideal, estimulado a vários níveis, religiosos e profanos.
A pobreza surge como um estado tecnicamente tratável,
exterior às relações de produção.
Uma outra maneira de extrair a pobreza de relações sociais consiste
em fazer dela um problema de preguiça. A conclusão, muito
prezada por certos extractos sociais, é a de que se as pessoas
forem enérgicas, se quiserem vencer, poderão deixar de ser pobres.
A pobreza é, então, neste prisma, um problema psicológico
particular e é desta maneira que se passa a mensagem de que os
ricos trabalham e os pobres preguiçam.
Pobreza
Robert Skidelsky*
20 Savana 28-04-2017 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
Marchar, acompanhar os
discursos de ocasião, exibir
o boné ou a camiseta
da instituição, exibir cartazes
de luta pacífica pelo bem-estar
do trabalhador e melhoria da qualidade
de trabalho, acompanhar tudo
isso em gritos de lamentos, gritos que
não mudam no seu conteúdo e nem
na sua forma, …marchar para não
apanhar uma falta ou uma repreensão,
…marchar porque fica mal não estar
entre os coagidos. Enfim, marchar/
desfilar porque, simplesmente, é o 1º
de Maio. Pelo menos em Moçambique,
pelas características da marcha/
desfile, não há o perigo de os manifestantes
serem surpreendidos com
uma forte chambocada ou um jato de
água, ninguém volta ao convívio familiar
com hematomas ou a reclamar
o uso de força ou excesso de zelo por
parte dos homens da lei e ordem. O
1º de Maio é sempre caracterizado
Por melhores condições de trabalho
por uma marcha/desfile que não espelha
o profundo campo de reivindicação do
trabalhador, não sendo por isso um dos
picos mais altos, senão o mais alto, da
jornada de luta por melhores condições
salariais e de trabalho.
No último 1º de Maio, o de 2016, notou-
-se claramente que a equidistância entre
o Governo e a cúpula da organização dos
trabalhadores precisa de ser saudável. Ou
seja, esta última deve adequar-se às mudanças
políticas que se operaram no país
após o Acordo Geral de Paz. Pode ser
que seja difícil ganhar alguma autonomia
como organização que representa os
trabalhadores se considerarmos a história
da sua criação e, sobretudo, o suporte fi-
nanceiro. Uma génese que deve valer pelo
seu simbolismo. O lado saudável deve ser
entendido no sentido de a “Organização”
percorrer a razão sem comprometimento
com a “costela política”. É saudável
porque obriga a crescentes melhorias na
qualidade de governação. Quando o conluio
é a regra, então, por inércia, prejudica
essa mesma qualidade. Neste sentido, a
teatralidade pró-governativa, parecendo
que não, gera um efeito contrário, ou seja,
não produz determinação nos governantes.
Adormece a proactividade deste ou
daquele governante porque a suposta luta
por melhores condições salariais e de trabalho
“está sob controlo”. E, quem controla?
O grupo do camarada fulano e sicrano.
E os interesses dos trabalhadores?
Ah, esses já estão satisfeitos por estarem
fora das estatísticas referentes à popula-
ção de desempregados. O problema não
é o salário e muito menos as condições
de trabalho, mas sim a luta pela manutenção
dos seus postos de trabalho. Será?
Claro que é um pensamento à margem
da realidade vivida e defendida pelo trabalhador.
A “Organização” pode, provavelmente,
estar a jogar em função da
realidade política e económica do país.
A luta por uma clara autonomia que a
determine ou determinasse como movimento
plenamente sindical pode
ou poderia custar alguma “agitação
nacional”. Alguma intensidade de
actuação (da “Organização”) tem
ou teria uma forte probabilidade de
estabelecer novas relações de poder,
novas plataformas que flexibilizassem
o alcance dos objectivos do
movimento sindical. Num primeiro
momento pode perturbar a rotina, a
zona de conforto governativo, mas
em última instância poderá patrocinar
uma proactividade gerada pela
meritocracia. A mudança é sempre
um desafio de curto, médio ou longo
prazos, e, muitas vezes, a mesma
depende da percepção que se tem
sobre a sua importância na vida das
pessoas. Quando essa percepção é
clara, as probabilidades de mudança
de mentalidade tendem a ser rápidas
e os ganhos são visíveis. Continuemos
a desfilar. Continuemos a lutar
por melhores salários e condições de
trabalho.
V
ou-te contar uma pequena mentira
envolta numa grande verdade.
Em meados da década de 60,
andava eu pelos meus 20 anos de
idade, engatei o meu primeiro emprego.
Foi como aprendiz de encadernadora
numa empresa gráfica situada numa das
margens da Av. Angola, em Lourenço
Marques.
Nessa gráfica, a secção onde eu trabalhava
era sui generis por várias razões: uma delas
é que o pessoal que aí se encontrava era
exclusivamente do sexo feminino. Éramos
por aí umas 5 ou 7 mulheres. A excepção
era o chefe, que – como era óbvio para esse
tempo – era um homem. Por outro lado,
todas nós tínhamos em comum o facto de
termos sido forçadas a abandonar os estudos
antes mesmo de concluir a primária
ou quase a concluí-la, por razões várias, a
principal das quais era o facto de os nossos
pais não terem condições para continuarmos
a estudar. Outro factor comum
era o facto de quase todas nós sermos desquitadas,
depois de uma experiência curta
e quase sempre traumática de tentar uma
vida “decente” de esposas e mães.
Tudo isto, conjugado com o facto de auferirmos
um salário, nos dava uma certa
margem de independência e fazia com
que, mesmo sem ser de modo consciente,
nos sentíssemos um pouco com o direito
de exercer uma liberdade pessoal maior
do que era a norma. E isto podia manifestar-se
no facto de muitas de nós vivermos
em casas ou dependências arrendadas, sozinhas,
e termos hábitos mais licenciosos
do que seria aceitável na altura.
Fosse porque razão fosse, ganhei muito
cedo a alcunha de Mapilissi. Penso que
este nome vem de uma corruptela da palavra
“comprimidos”, em inglês, como me
disseram mais tarde. O que é facto é que
nas nossas aventuras – eu e as minhas colegas
– eu era a mais atrevida e bem-sucedida.
O ambiente que se vivia naquela
faixa da Av. Angola era favorável a isso.
Na verdade, todo aquele universo era um
formigueiro constante de operários e operárias,
de vendedoras, de boémios amantes
de bom vinho, de homens de tasca e de
toda a sorte de seres humanos. Para dizer
como dizem os nordestinos, curto e grosso,
ali tudo podia acontecer.
Tive muitas aventuras, tal como a maior
parte de nós, mas sem grandes desenvolvimentos,
até que já a caminho dos 40
anos tive aquela que me ia valendo tudo
o resto, o que aliás aconteceu. Foi quando
me envolvi com o Enoque T. N., que era
na altura chefe da secção de empacotamento
na Sabrina. Enquanto eu vivia sozinha
e curtia a minha independência, o
Enoque era casado e já tinha 3 filhos na
fase da adolescência. Foi uma loucura! No
princípio contentava-se em passar uma
noite de sexta-feira na minha companhia,
regressando a casa a meio da manhã de
sábado para contar uma história qualquer
à mulher, que nunca me interessei em saber.
A coisa pegou fogo quando ele, uns
meses depois desta relação sazonal, decidiu
instalar-se na minha casa de armas e
bagagens.
Entrei em pânico, como devem imaginar.
Já me bastava a alcunha de Mapilissi, que
me foi dada porque eu “enfeitiçava os homens”,
tal como as drogas o fazem, quando
mal aplicadas. Só me faltaria agora ser
acusada de ter destruído o lar de um homem,
lar que estava solidamente constru-
ído. Não foi preciso, aliás, que eu me decidisse
muito, porque numa manhã destas
o quintal onde eu tinha a dependência
arrendada foi invadido por uma turba de
gente encabeçada pela Amélia, esposa do
Enoque. Estava acompanhada pelas tias,
pelos filhos e por alguns vizinhos. Ameaçaram-me
de morte se não deixasse o
Enoque definitivamente em paz.
Disse isso a ele, mais tarde, mas ele me
respondeu que, se assim era, preferia
abandonar de vez o lar para vir viver comigo.
Eu disse que não, decididamente
não, mas perante a sua recusa tomei a minha
resolução: nessa noite, enquanto ele
fazia tempo como habitualmente na tasca
do Rodrigues, uns metros mais adiante,
reguei a minha cama e a cabana com petróleo,
tranquei a porta por dentro, deitei-
-me, fechei os olhos e pus fogo a tudo
aquilo. Imolei-me valente e deliberadamente
no altar da paixão. Preferi isso a ter
de carregar aos ombros, pelo resto da vida,
a cruz de uma mulher que destruiu um lar.
P.S. Conseguiste descobrir onde está a mentira?
Mapilissi
Savana 28-04-2017 21 PUBLICIDADE
1. INTRODUÇÃO
O Centro de Estudos e Pesquisa de Comunicação
SEKELEKANI, em parceria com o Observatório do
Meio Rural (OMR) anunciam a realização de um curso
avançado para a formação de jornalistas e editores
nas áreas de economia e agricultura.
O curso facultará aos jornalistas e editores um maior
conhecimento e capacidade de análise de assuntos
económicos e agrários, o que lhes permitirá ter um
PHOKRU GHVHPSHQKR GDV VXDV DFWLYLGDGHV SURÀVVLRnais,
consequentemente, elevar a qualidade dos conteúdos
informativos dos respectivos órgãos de comunicação
social.
2. ORGANIZAÇÃO DO CURSO
O curso está desenhado para um máximo de 25 participantes,
e terá a duração de cerca de 180 horas.
O programa está estruturado em seis módulos. Cada
módulo terá a duração de 30 horas, leccionadas com
uma carga horária de 6 horas por semana (o que equivale
a 2h/dia, três vezes por semana).
Cada módulo terá a duração de 5 semanas e mais uma
VHPDQDQRÀQDOGHFDGDPyGXORSDUDDUHDOL]DomRGH
trabalhos, totalizando seis semanas por módulo. Deste
modo, o curso terá a duração de 9 meses.
Os módulos do curso são os seguintes:
1. Noções de economia
2. Desenvolvimento económico e rural.
3. Governação e Acesso à Informação
4. Políticas públicas.
5. Agricultura.
6. Seminários.
A disciplina “Seminários” será constituída de sessões
de debate sobre temas a serem acordados no decurso
da próxima formação, em serão tidas em conta sugestões
dos participantes.
$ SHGDJRJLD FRPELQDUi D LQWURGXomRGHÀQLomR GH
conceitos, teorias e debates teóricos e práticos de forma
a existirem aulas participativas e de troca de exSHULrQFLDV
HQWUH SURÀVVLRQDLV (P FDGD PyGXOR VHrão
convidados especialistas de diferentes áreas para
apresentação de temas actuais e relevantes da realidade
moçambicana. Estes temas serão seleccionados
com contribuições dos formandos.
3. HORARIO E CRITERIOS DE ADMISSÃO
O curso funcionará em regime pós-laboral, entre as
17:30 horas e as 19:30 horas, conforme o horário estabelecido.
Podem inscrever-se para frequentar o curso jornalistas
moçambicanos em actividade em qualquer órgão
de Comunicação social legalmente estabelecido em
Moçambique. Os/as candidatos/as devem ter, no mí-
QLPRWUrVDQRVGHH[SHULHQFLDSURÀVVLRQDO
Os/as jornalistas interessadas devem submeter a sua
candidatura, acompanhada dos seguintes documentos:
a) Carta de candidatura, indicando a sua motiva-
ção para a frequência do curso;
b) Documento comprovando a sua vinculação a
um órgão de informação nacional,
c) Fotocópia do Bilhete de Identidade ou de qualTXHUGRFXPHQWRGHLGHQWLÀFDomRYDOLGR
Sempre que possível, encoraja-se os/as candidatas a
juntarem uma declaração do Editor, Director de Informação
ou Gestor da Empresa, abonando a sua candidatura
ao curso.
4. PERIODO DE SUBMMISSÃO DE CANDIDATURAS
Os/as jornalistas interessadas devem submeter as
suas candidaturas no período entre o dia 26 de Abril
e 2 de Maio de 2017, através dos seguintes endereços:
Endereço Físico:
Centro de Estudos e Pesquisa de Comunicação
SEKELEKANI
Av. Olof Palme, nº 940 -1º andar. Maputo
Endereço electrónico: .info@sekelekani.org.mz
SEKELEKANI e OMR encorajam vivamente a participação
de mulheres jornalistas no curso.
CURSOS DE JORNALISMO
NAS ÁREAS DE ECONOMIA E AGRICULTURA
22 Savana 28-04-2017 DESPORTO
Empatados na tabela classificativa
(13 pontos) e distantes
nos objectivos e nos
investimentos, o Costa do
Sol e Maxaquene protagonizam,
este fim-de-semana, o jogo mais
importante da oitava jornada do
campeonato nacional de futebol,
Moçambola Zap-2017.
No derby das antigas, os “canarinhos”
e “tricolores” sobem para o
relvado sintéctico da “Matchiki-
-Tchiki” com as mesmas aspirações,
que é a conquista dos três pontos.
Com quatro vitórias consecutivas,
após um arranque em falso, o “canário”
parte endiabrado para o jogo,
apesar da derrota, no último fim-
-de-semana, em Lichinga, diante
da equipa local (UP de Lichinga)
por 1-0.
Nelson Santos, que desde a primeira
jornada reclama o décimo título
canarinho, considera a derrota do
último domingo como um acidente
de percurso e promete provar isso,
neste sábado, perante seu público.
Aliás, tendo em conta o nível de investimento
e os últimos resultados
(quatro vitórias, em cinco jogos), o
Costa do Sol parte em vantagem,
porém, ciente das dificuldades que
terá pela frente.
O facto é que pela frente está uma
equipa jovem, comandada por Antoninho
Muchanga, que já roubou
pontos ao campeão nacional, Ferroviário
da Beira, assim como ao
Ferroviário de Maputo.
Além disso, o Costa do Sol terá
pela frente o seu carrasco dos últimos
anos. O facto é que a equipa
de Nelson Santos não vence, para
o campeonato, os comandados de
Antoninho Muchanga há cinco
épocas, facto que motiva os pupilos
“tricolores”.
No último fim-de-semana, a equipa
“tricolor” arrancou a sua primeira
vitória caseira, ao derrotar a
Moçambola Zap
Por Abílio Maolela
ENH de Vilanculo por uma bola
a zero, numa partida em que, mais
uma vez, as duas equipas denotaram
falta de maturidade.
Como sempre, o técnico do Maxaquene
promete uma equipa aguerrida
do primeiro ao último minuto,
tendo a vitória como sendo o seu
principal objectivo.
Songo em casa para regressar
às vitórias
Enquanto isso, a União Desportiva
do Songo (UDS) recebe, domingo,
a sensacional UP de Lichinga,
numa partida também aguardada
com maior expectativa.
A equipa de Chiquinho Conde
vem de uma derrota diante do Desportivo
de Nacala, resultado que
lhe colocou lado-a-lado com a Liga
Desportiva de Maputo, enquanto a
equipa de Niassa vai surpreendendo
o país, ao se colocar na sexta posição,
com 13 pontos.
Para além destas duas partidas, a
jornada nove reserva ainda a partida
entre os Ferroviários de Nampula
e de Maputo, separadas por dois
pontos, maior para os “locomotivas”
de Maputo que ocupam a terceira
posição com 14 pontos.
A Liga Desportiva de Maputo, que
na última jornada visitou e venceu
o Ferroviário da capital do país, em
pleno Estádio da Machava, recebe
o Chingale de Tete que continua
sem rumo, apesar do afastamento
de Mussá Osman, do comando
técnico.
Por sua vez, o campeão nacional,
Ferroviário da Beira, visita a cidade
de Quelimane, onde vai defrontar
o 1º de Maio local; enquanto o
Ferroviário de Nacala recebe a Associação
Desportiva de Macuácua,
que no último jogo impôs-se ao
Chibuto, ao empatar sem golos.
Aliás, o Clube de Chibuto recebe
o Desportivo de Nacala, enquanto
o Textáfrica de Chimoio recebe a
“Canários” e “Tricolores” numa disputa de posições...
ENH de Vilankulo.
Referir que o Moçambola é liderado
pela Liga Desportiva de Maputo
com 16 pontos, os mesmos
da União Desportiva do Songo.
Enquanto a Associação Desportiva
de Macuácua é o lanterna vermelha,
com quatro pontos e sem nenhuma
vitória.
Savana 28-04-2017 23 DESPORTO DESPORTO
J
á são conhecidos os adversários
do Ferroviário da
Beira, na fase de grupo da
Liga dos Campeões Africanos,
em futebol, edição 2017.
Em sorteio realizado, esta quarta-
-feira, no Cairo, capital do Egipto,
a Confederação Africana de Futebol
(CAF) colocou o campeão
nacional no grupo A, ao lado dos
tunisinos do Étoile Sportive du
Sahel e dos sudaneses do Al-Hilal
Club e do Al-Merrikh Sporting
Club.
O combinado nacional estreia-se
na fase de grupo da maior competição
africana de futebol, ao nível
de clubes, a 12 de Maio próximo,
frente ao Étoile Sportive du Sahel,
na capital tunisina.
Os “locomotivas” da Beira recebem,
jornada seguinte, no caldeirão,
o Al-Hilal, terminando a primeira
volta frente ao Al-Merrikh.
No grupo, onde fazem parte duas
equipas sudanesas, o favoritismo
vai para a equipa tunisina. O Étoile
Sportive du Sahel, nove vezes
campeão nacional, é um cliente
assíduo das competições africanas,
tendo já conquistado uma Liga
dos Campeões (2007), duas Taças
CAF (2006 e 2015) e duas Supertaças
Africanas (1998 e 2008).
Ferroviário da Beira com Étoile Sahel, da Tunísia, no Grupo A da Liga dos Campeões Africanos
A difícil tarefa moçambicana num grupo sudanês
equipas, em particular do combinado
tunisino, o treinador “locomotiva”
afirma que a sua equipa
vai a cada jogo com o objectivo de
mostrar o seu poderio e melhorar
a sua qualidade.
“A preparação vem sendo feita há
muito tempo, porém, agora será
na base de equipas concretas. O
Étoile é um gigante africano, mas
acreditamos que podemos fazer
melhor”, diz aquele técnico, questionado
sobre os passos a seguir
até à primeira jornada.
“O Ferroviário pode sonhar”,
Fernando Dias
O Presidente da Associação
Provincial de Futebol de Sofala
(APFS), Fernando Dias, reconhece
o poderio dos adversários do
Ferroviário da Beira, mas acredita
na passagem do campeão nacional
à fase eliminar.
Apesar de estranhar a presença de
duas equipas sudanesas no mesmo
grupo, Dias considera isso como
uma vantagem porque “as duas
equipas vão lutar por um lugar na
fase seguinte, pois, a equipa tunisina
é favorita”.
“Mas, pode ser uma desvantagem,
pois, em caso de aperto, podem
unir-se numa única frente”, considera
a fonte, sublinhando a necesAliás,
em 2007, a equipa tunisina
ocupou a quarta posição, no
campeonato do mundo de clubes,
competição ganha pelo AC Milan,
da Itália, batendo Boca Juniores,
da Argentina por 4-2.
Para além dos tunisinos, o Ferroviário
da Beira terá de contrariar
o poderio dos sudaneses, também
clientes desta fase das provas africanas.
O primeiro chama-se Al-Hilal
Club, o maior clube daquele país
africano, com 28 campeonatos nacionais
e nove taças, tornando-se
no principal rival do Al-Merrikh,
o segundo maior clube, com 19
títulos nacionais e 24 taças nacionais
e uma Taça das Confedera-
ções (1989).
“Não queremos ser participantes”,
Aleixo Fumo
Contactado pelo SAVANA para
reagir ao sorteio, na noite desta
quarta-feira, o treinador do Ferroviário
da Beira, Aleixo Fumo,
disse que a sua equipa não vai à
competição para ser participante,
mas para competir.
“Não queremos ser participantes.
Era nossa ambição estar na fase
de grupos e agora faremos o nosso
melhor para representar, condignamente,
o nosso clube e país”,
disse Fumo.
Reconhecendo o poderio das três
sidade dos “locomotivas” trabalharem
de forma profissional.
“Precisamos procurar, desde já,
toda a informação relativa a estas
equipas. Temos de procurar vídeos
destas equipas para não jogarmos
no escuro e nem sermos surpreendidos”,
destaca.
O presidente da APFS afirma
que o entusiasmo que se vive na
sua cidade merecia desaguar num
palco como o Estádio Nacional
do Zimpeto, pois, o “caldeirão” do
Chiveve mostra-se pequeno para
acolher “tanta gente”.
Outros grupos
Refira-se que, para além do grupo
do Ferroviário da Beira, o sorteio
da CAF definiu o seguinte
parcelamento: Group B (Zamalek
Sports Club, Egipto; Union
Sportive Médina d’Alger, Argélia;
Alahly Sports Club, Líbia; Caps
United, Zimbabwe); Group C
(Mamelodi Sundowns, África do
Sul; Espérance Sportive de Tunis,
Tunísia; AS Vita (Association
Sportive Vita Club), RDC; Saint
George Sports Club, Etiópia);
Group D (Al Ahly Sporting Club,
Egipto; Wydad Athletic Club,
Marrocos; Coton Sport Football
Club de Garoua, Camarões; Zanaco,
Zâmbia).
Ferroviário da Beira com missão difícil, num grupo dominado por equipas
sudanesas
24 Savana 28-04-2017 CULTURA
AFundação Fernando Leite
Couto e a Trassus Mobiliário
lançaram, no dia
20 de Abril, o Prémio Literário
Fernando Leite Couto, que
anualmente revelará, alternando
a poesia e a prosa, um novo nome
para a literatura.
Para a estreia do Prémio foi escolhida
a poesia, género de eleição de
Fernando Leite Couto, patrono da
Fundação e homem que em vida se
dedicou ao jornalismo e à literatura.
Este intelectual e homem de cultura
falecido em 2013 foi mentor de
muitos autores consagrados e novos
para o mundo literário nacional, sobretudo
através da Ndjira, editora
que fundou e dirigiu.
O Prémio Literário Fernando Leite
Couto pretende ser uma janela
e um novo alento para que mais
Prémio Literário Fernando Leite Couto
autores, sobretudo jovens, despontem
para a literatura moçambicana.
Está destinado para autores sem
nenhum ou com apenas um livro
publicado no período de dois anos
até ao mês do anúncio do vencedor,
que nesta primeira edição será Setembro.
Ao vencedor será atribuído um valor
pecuniário de 150 mil meticais,
ganhando ainda o direito de ver
o seu livro editado pela Fundação
Fernando Leite Couto.
Fernando Leite Couto foi poeta,
jornalista e editor que muito contribuiu
para o crescimento da literatura
moçambicana, dedicando grande
parte da sua vida ao apoio a vários
autores. Esta sua contribuição possibilitou
que o sonho de dezenas de
autores moçambicanos se realizasse
e as respectivas obras nascessem,
ampliando, assim, o horizonte dos
antologias poéticas e tradutor de
poesia. Na década dos anos 1980,
foi director da Escola de Jornalismo
em Maputo. Nos últimos anos
da sua vida, assumiu a direcção da
editora Ndjira, a seu tempo a maior
janela de publicação de livros literários
em Moçambique. Fernando
Leite Couto faleceu em Maputo
em 2013 aos 89 anos.
A Fundação é um espaço de cultura
inaugurado na cidade de Maputo
em 2015 pela família de Fernando
Leite Couto, que desta forma pretende
continuar o seu legado. Dedica-se
à promoção da literatura e
das artes, concebendo e organizando,
todas as semanas, eventos que
vão dos encontros literários, acções
de formação e edição de livros a
apresentações de música, teatro, exposições
de artes e outras manifestações
artístico-culturais. A.S
A MPDC (Sociedade
de Desenvolvimento
do Porto de Maputo)
promoveu, nesta
quarta-feira, 26 de Abril, um
espectáculo nunca antes visto
em Moçambique denominado
“Classic Feminissimo!”, no
Gloria Hotel, em Maputo. “A
MPDC orgulha-se pelo trabalho
e valor que as mulheres, cada
vez em maior número, agregam
ao nosso porto. Achamos que
este concerto é uma forma de
homenageá-las, para além de
outras acções que foram levadas
a cabo durante o mês de Abril”,
afirmou o Director-Executivo
Osório Lucas.
O concerto foi um verdadeiro
hino à Mulher Moçambicana e
juntou, no mesmo palco, todos
os nomes femininos da música
clássica moçambicana, inclusive
solistas na diáspora, Stella
Mendonça (soprano), Sónia
Mocumbi (alto), Mariana Carrilho
(mezzo-soprano), Kika
Materrula (oboé) e Linda Paulino
(contrabaixo). “Este concerto
junta mulheres para celebrar o mês
da mulher, para mostrar que a mulher
é muito forte e que precisa de
ser valorizada. Estamos a mostrar
que a mulher pode realizar coisas
no mundo. Portanto, é um concerto
que juntou mulheres que fazem
música erudita”, explica Stella
Mendonça.
A estas, juntaram-se ainda nomes
sonantes da música clássica cubana
- Alena Bravo (piano), Ekaterina
James (violino) e Deyanira Silva
(saxofone), e ainda a pianista sul-
-africana Susan Swanepoel. O espectáculo
foi ainda poeticamente
narrado pela escritora Sónia Sultuane.
“Procuramos trazer figuras que
têm muita relevância naquilo que é
música erudita. Juntamos mulheres
com quem temos trabalhado há
bastante tempo. O concerto serve
para mostrar que a música erudita
pode ser consumida em todo o
mundo, não tem fronteira e quando
é protagonizada por mulheres traz
outra beleza. É agradável fazer esse
tipo de eventos e serem apresentados
no nosso país”, referiu Sónia
Mocumbi.
O espectáculo não foi apresentado
ao público, mas apenas por
convite e contou com cerca de
400 convidados, entre distintas
figuras das esferas social,
política e empresarial moçambicanas.
“Esperamos ter mais
oportunidades para apresentar
este tipo de projectos na sociedade
moçambicana, para
quebrarmos o tabú de que a
música erudita não tem espaço
nos países do terceiro mundo.
Como disse anteriormente, a
música não tem fronteiras. O
que é preciso é mostrar que ela
precisa de alguns condimentos
para ser apresentada e ser agradável
ao público. Uma excelente
apresentação, ensaios, estudos
científicos e outros aspectos da
música erudita participam para
uma excelente apresentação.
Precisamos mostrar os jovens
que engrenam nesta área musical
que precisam de ferramentas
para que os seus trabalhos sejam
apresentados de uma melhor
forma”, finaliza Mendonça.
A.S
“Classic Feminissimo!”, hino a mulher
Mia Couto falando do concurso
Oconceituado saxofonista moçambicano, radicado na Noruega,
Ivan Mazuze, é o convidado da noite de celebração do Dia Internacional
do Jazz que se assinala a 30 de Abril.
O músico vai apresentar um concerto na cidade de Fano, Itália. O concerto
terá lugar no Teatro della Fortuna às 18h30. Nestas celebrações do dia do
Jazz, Moçambique será muito bem representado pelo incontornável Ivan
Mazuze, mas também por Isidro Novela (baixo), moçambicano radicado
na Dinamarca. A estas duas figuras da música moçambicana, juntam-se
igualmente Bjørn Vidar Solli da Noruega (guitarra) e Raciel Torres, cubano
radicado na Noruega.
Este quarteto, com raízes diferentes, une os seus instrumentos produzindo
uma única sonoridade rica e incontestável para quem navega nas ondas do
Jazz.
O concerto é organizado pela Fano Jazz Network da Itália com apoio da
Unesco Itália, Jazz Forum Norueguês, Music Norway, Embaixada da Noruega
em Roma e União dos Músicos da Noruega.
Mazuze tem estado envolvido nas actividades das celebrações do dia internacional
do Jazz desde 2013. Nesse mesmo ano, foi indicado como director
artístico junto com a saxofonista norueguesa Frøy Aagre, Steve Wilson saxofonista
norte-americano e o director académico do Manhattan Music of
School, Justin Diciocio.
Mazuze teve um papel de destaque na iniciação das celebrações do dia
internacional de Jazz, em 2015, em Moçambique, junto com a organização
cultural Moçambicana Phiane, tendo sido a sua primeira edição em 2015.
O Dia Internacional do Jazz reúne comunidades, escolas, artistas, historiadores,
acadêmicos e entusiastas do jazz de todo o mundo para celebrar e
aprender sobre o jazz, suas raízes, futuro e impacto.
Todos os anos, a 30 de Abril, o jazz é reconhecido por promover a paz, o
diálogo entre as culturas, a diversidade e o respeito pelos direitos humanos
e à dignidade humana, reforçando o papel da juventude na implementação
de mudanças sociais. A.S
produtores da literatura.
Também escreveu, tendo publicado
nove livros, maior parte dos
quais como poesia. Mas a sua obra
inclui também ensaios e crónicas
jornalísticas. Foi coordenador de
Ivan Mazuze celebra o
jazz na Itália
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1216 DE ABRIL DE 2017
Best Seller da semana
RECOLONIZAR ÁFRICA:
AS NOVAS UTOPIAS
Uma obra escrita a 4 mãos brevemente
nas livrarias... Por falar em recolonização...
2 Savana 28-04-2017 SUPLEMENTO Savana 28-04-2017 3
Savana 28-04-2017 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naíta Ussene (Fotos) “
Esta é a minha geração, a geração da Charrua, a geração que recusou, por
princípio, alinhar no espírito cortesão então em voga. Estas cartas a ela pertencem.
Mas há outra geração a que pertenço, a chamada geração 8 de Março,
aquela a quem recaiu o famoso discurso de 8 de Março de 1977, do então
Presidente da República, Samora Moíses Machel. É a geração do Francisco Esaú
Cossa, a geração dos funcionários zelosos, cumpridores das orientações centrais. É
a geração que não ousou questionar, mas que cumpriu sempre. E hoje, essa geração,
a caminho dos sessenta anos, anda, aos fins-de-semana, atrás de blocos e cimento
e pedra, tentando construir a casa do tal homem novo. A eles também dedico estas
cartas de Inhaminga. E aos outros, nossos filhos e netos, espero que não façam do
espírito de adulação, o tal espírito cortesão, o seu modo de estar. Nós precisamos de
autonomizar os discursos. Queremos que o discurso literário, científico, desportivo,
económico, informático, jornalístico, e todos outros discursos possíveis, não sejam
contaminados pelo discurso político. Que todos os discursos tenham o seu lugar de
honra na grelha de partida. Que haja pluralidade. Que haja democracia”.
Estas foram algumas das palavras ditas pelo escritor Ungulani Ba Ka Khosa, aquando
do lançamento do seu mais recente livro, intitulado Cartas de Inhaminga.
No seu discurso, Ungulani Ba Ka khosa disse ainda: “estas cartas, caros presentes,
podem resumir-se a uma ou duas frases: O direito de pensar diferente. O direito de
dissentir. O medo de desafiar a doutrina oficial, o discurso do dia.
Nas imagens, vemos uma geração de moçambicanos que de alguma forma concordam
com os dizeres de Ungulani. Chegou o momento de contar as coisas sem medo.
Reparem nesta primeira imagem onde aparece o Primeiro-ministro da Saúde de
Moçambique pós-independência, Hélder Martins, a conversar com o médico, escritor,
Filipe Matusse, é bem visível o nível de concordância no que falam.
Na segunda imagem, também temos o mesmo cenário de consentimento. As pessoas
parecem concordar que é momento de abandonar o silêncio perante a realidade
que nos rodeia. Vejam como os dizeres da Directora do Museu Nacional de Arte,
Julieta Massimbe, deixam o antigo Ministro da Cultura, Armando Artur. Como se
estivesse a dizer que as questões culturais do nosso país estariam melhor se tivessem
sido tratados de forma diferente durante esses 40 anos de independência. Que
independência?
O olhar também tem a sua linguagem nesta questão de conformidade. É uma das
formas para evitar as palavras. Concordar via telepatia é outra virtude. Talvez é
o que acontece na troca de olhares entre o Presidente do Conselho Superior de
Comunicação Social, Tomás Viera Mário e o Director da Escola Internacional de
Maputo, diplomata e escritor, Florentino Dique.
Nem todos os momentos são de ambiente de concordância. Às vezes, o caminho
da conformidade pode ser longo. Por várias razões. Muitas vezes, as justificações
têm sido um dos principais elementos que nos dificultam chegar à consonância.
Deduzimos que seja o que está a acontecer na conversa entre o Director do Instituto
Nacional de Cinema, Djalma Lourenço e o Jorge Oliveira, da AEMO.
Deixamos para o fim um cenário de plena uniformidade. É agradável ver um jovem
saxofonista a estar no mesmo momento com uma das suas referências. Referimonos
ao saxofonista Moreira Chonguiça que juntou o seu professor de música, Orlando
da Conceição, no centro, e o saxofonista, Manu Dibango, na apresentação
do seu novo disco. Não são todos que têm estes privilégios. Com muito trabalho é
possível.
A verdade chegou
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF"CSJMEFt"/099*7t/o
1216 Diz-se... Diz-se
Naíta Ussene
O
Ministro da Economia e Finanças,
Adriano Maleiane,
está a negociar com o Banco
Nacional de Desenvolvimento
Económico e Social (BNDES),
uma instituição financeira estatal do
Brasil, a restruturação do empréstimo
de 125 milhões de dólares que a mesma
concedeu para a construção do
Aeroporto Internacional de Nacala,
noticia o sítio de notícias Zitamar.
"T OFHPDJBÎÜFT DPN P #/%&4 FTUÍP
B TFS EJSJHJEBT QFMB %JSFDÎÍP EP
5FTPVSP OP.JOJTUÏSJP EB&DPOPNJB
e Finanças moçambicano, disse o
administrador-financeiro da empresa
Aeroportos de Moçambique, Artur
Magalhães, citado pela Zitamar.
0(PWFSOPNPÎBNCJDBOP
QSPTTFHVF
a notícia, pretende o alargamento do
QSB[P EF QBHBNFOUP EB EÓWJEB
F B
remoção da obrigação de depósito de
mais de 15 milhões de dólares para o
pagamento do encargo.
" "%. KÈ TF EFDMBSPV JODBQB[ EF
honrar esse compromisso financeiro.
0#/%&4 DPODFEFV P SFGFSJEP DSÏ-
EJUPË"%.
RVFSFDFCFVBWBMEP(PWFSOPNPÎBNCJDBOP
FBWFSCB TFSWJV
para pagar parte dos 300 milhões de
EØMBSFT Ë FNQSFJUFJSB CSBTJMFJSB0EFbrecht
para a construção do AeroporUP*OUFSOBDJPOBMEF/BDBMB
""%.DPOUSBJVNJMIÜFTEFEØ-
lares de bancos moçambicanos, para a
mesma empreitada.
0"FSPQPSUP*OUFSOBDJPOBMEF/BDBMB
Ï KÈ DPOTJEFSBEP VN FMFGBOUF CSBODP
tendo um índice de procura bastante
aquém da sua capacidade.
0 OFHØDJP FOWPMWFOEP B DPOTUSVÎÍP
EP"FSPQPSUP*OUFSOBDJPOBMEF/BDBMB
FTUÈBTFSJOWFTUJHBEPQFMB1SPDVSBEPSJB(FSBM
EB 3FQÞCMJDB NPÎBNCJDBOB
OBTFRVÐODJBEFVNBJOWFTUJHBÎÍP
EBTBVUPSJEBEFTKVEJDJBJTCSBTJMFJSBTËT
PQFSBÎÜFTEB0EFCSFDIU
Tal como o SAVANABWBOÎPVOBTVB
ÞMUJNBFEJÎÍP
POPNFEPFYNJOJTUSP
1BVMP ;VDVMB Ï BSHVJEP OP DBTP EB
DPNQSB EF BFSPOBWFT B&NCSBFS QFMB
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QPEFSÈ WJS B TFS NFODJPOBEP
OPDBTPEBTiMVWBTwQBHBTOBDPOTUSV-
ÎÍPEPBFSPQPSUPEF/BDBMB
BDBSHPEB
DPOTUSVUPSB CSBTJMFJSB 0EFCSFDIU 0
NPOUBOUFBSSPMBEPTÍP64%NJM
A Zitamar assinala que o Brasil é
NFNCSP EP DIBNBEP DMVCF EF 1BSJT
F
DPNPUBM
UFSÈNBJPSJODMJOBÎÍPQBSB
RVFBEÓWJEBEB"%.BP#/%&4TFKB
negociada num quadro multilateral e
não bilateral.
*OJDJBMNFOUF
P#/%&4DPODFEFVVN
empréstimo de 80 milhões de dólares
em Abril de 2011 para a construção
EP "FSPQPSUP EF /BDBMB 0 4UBOdard
Bank tinha disponibilizado 10
NJMIÜFT EF EØMBSFT FN%F[FNCSP EF
2010.
'POUFT QSØYJNBT EB ;JUBNBS SFGFSFN
RVFB"%.NPTUSPVTFSFMVUBOUFFN
construir o aeroporto, que dista cerca
de 200 quilómetros do Aeroporto
*OUFSOBDJPOBM EF/BNQVMB
OB DJEBEF
DBQJUBMEBQSPWÓODJBEF/BNQVMB
1PTUFSJPSNFOUF
P#/%&4 DPODFEFV
VN FNQSÏTUJNP OP WBMPS EF NJMIÜFT
EF EØMBSFT F P 4UBOEBSE #BOL
BDPNQBOIPVFTTFSFGPSÎP
DPNNJlhões
de dólares.
&N
B "%. NPCJMJ[PV NBJT
recursos, contraindo um empréstimo
OBPSEFNEPTNJMIÜFTEFEØMBSFT
EP #$*
B VNB UBYB EF KVSP EF
BPBOP
FVNPVUSPKVOUPEP#/*
OP
WBMPSEFNJMIÜFTEFEØMBSFT
B
EFKVSPTQPSBOP
""%.UFNEÓWJEBTDPNPVUSPTQB-
ÓTFTNFNCSPTEP$MVCFEF1BSJT&N
B 'SBOÎB DPODFEFV NJMIÜFT
de dólares para a reabilitação do AeSPQPSUP*OUFSOBDJPOBMEF.BQVUPFP
#BODP&VSPQFV EF *OWFTUJNFOUP EFV
26 milhões de dólares para o mesmo
propósito, em 2016.
1PS TVB WF[
P&9*.#BOL
EB$IJna,
emprestou 23,3 milhões de dólares
QBSB PCSBT OP "FSPQPSUP *OUFSOBDJPnal
de Maputo.
As negociações entre o Ministério da
&DPOPNJBF'JOBOÎBTFP#SBTJMEFDPSSFN
OVNB BMUVSB FN RVF P(PWFSOP
NPÎBNCJDBOP UBNCÏN FTUÈ B UFOUBS
KVOUPEPTDSFEPSFTB SFTUSVUVSBÎÍPEF
mais de dois biliões de dólares de dí-
WJEBEB&NBUVN
1SP*OEJDVTF.".
A Zitamar entende que o incumpriNFOUP
EBT EÓWJEBT BWBMJ[BEBT QFMP
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iRVF OB WFSEBEF TÍP EÓWJEBT
TPCFSBOBTw
JNQMJDB RVF PT CBODPT
moçambicanos estão neste momento
BMJEBSDPNiDSÏEJUPNBMQBSBEPw
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OPTÞMUJNPTNFTFT
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que uma sociedade que não controla os seus bandidos, acaba por ser
controlada por eles.
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aéreas que pretendam operar em algumas rotas domésticas
e internacionais a partir dos aeroportos moçambicanos. A questão
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apresenta Moçambique como o país mais limpo na utilização de
energia, numa lista onde se destacam também as boas classificações
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Em voz baixa
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parece ter sido a mais sacrificada neste processo, mas como dizia um
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Aeroporto Internacional de Nacala
Moçambique negoceia
restruturação da dívida com Brasil
Savana 28-04-2016
EVENTOS
1
0DSXWRGH$EULOGH$12;;,91o 1216
EVENTOS
O
Banco Comercial e de
Investimentos (BCI) e o
Centro de Aprendizagem e
Capacitação da Sociedade
Civil (CESC) assinaram, nesta segunda-feira,
em Maputo, um protocolo
financeiro e de cooperação que
estabelece relações mutuamente
Apoio à sociedade civil
%&,H&(6&ÀUPDPSDUFHULD
Banco particularmente focado com
as causas mais relevantes do desenvolvimento
económico e social
sustentado de Moçambique e dos
moçambicanos”.
Manuel Soares indicou ainda: “o
compromisso do BCI com o desenvolvimento
de Moçambique
está patente na actividade que desenvolvemos
no País. Hoje, contamos
com uma Rede Comercial de
196 unidades de negócio, a maior
do País. O apoio multifacetado
que prestamos a instituições e organismos,
públicos e privados, nos
mais diversos sectores da vida do
país, através de Protocolos com
Universidades moçambicanas,
com Associações e Confederações
Profissionais e com organismos da
Cultura e do Desporto, são disso
alguns exemplos”.
Por seu turno, a directora executiva
do CESC, Paula Monjane, apresentou
a entidade que dirige como
uma organização que promove a
cidadania, mobiliza as comunidades
para que elas tomem consci-
ência da importância de participar
no seu próprio desenvolvimento,
e fortalece capacidades de grupos
organizados de cidadãos que queiram
também agir nas áreas de desenvolvimento,
governação, saúde e
educação.
Em relação ao acordo firmado,
Monjane considerou “o facto de o
BCI ter aberto a possibilidade desta
parceria é para nós extremamente
importante. Vemos vantagens
importantes neste acordo, para a
organização e para os colaboradores”.
Enumerou como vantagens,
o acesso a serviços prestados pelo
BCI, quer em termos de atendimento,
quer em termos de financiamento.
“Para nós, é uma honra
esta parceria, particularmente na
viabilização das nossas actividades
e nas intervenções que pensamos
que contribuem para o desenvolvimento
do nosso país”, rematou.
(E.C.)
vantajosas. O protocolo irá proporcionar
ao CESC e seus colaboradores,
em todo o país, acesso a uma
vasta gama de serviços e produtos
em condições competitivas.
Falando na ocasião, o Administrador
do BCI, Manuel Soares,
afirmou: “no actual contexto de
Moçambique, o fortalecimento de
instituições que reforcem a cidadania
constitui um desafio extraordinariamente
complexo, exigindo, por
isso, uma mobilização conjugada de
esforços, por parte dos principais
actores da sociedade moçambicana,
daí o nosso envolvimento como
A
Embaixada dos Emirados Árabes Unidos (EAU) visitou, na última
quinta-feira, em Maputo, ao Hospital Geral de Mavalane, com objectivo
de fazer a entrega de um donativo. Trata-se da terceira instituição
beneficiada no âmbito do projecto responsabilidade social levado a
cabo mensalmente pela EAU. Neste projecto, a embaixada escolhe um tópico
para cada ano com vista a apoiar instituições de cariz social nos países onde está
acreditada. Para este ano, o lema escolhido é o “Year of Giving” (Ano de Doar
ou de Dar), que pretende fazer ofertas a várias instituições do país uma vez por
mês em todo o ano.
No âmbito desta iniciativa, o hospital recebeu cerca de 50 cestas para mães
recém internadas, compostas por uma banheira, uma mantinha, capulana, sabonetes,
biberões, pó, entres outros produtos destinados à maternidade daquela
unidade sanitária.
Na ocasião, o Embaixador da EAU, Asam Al Rahmah, disse que este apoio a
maternidade, representava uma iniciativa humanitária do povo dos EAU para
com o povo Moçambicano amigo.
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Savana 28-04-2017 EVENTOS
2
T
ermina nesta sexta-feira, 28
de Abril, a Feira do Livro e
da Cultura promovida pela
Universidade Politécnica,
uma iniciativa, que teve início na
última terça-feira e que tem ocorrido
no pátio da Biblioteca Central
desta instituição privada de ensino
superior, na cidade de Maputo.
A cerimónia de abertura do evento
foi presidida pelo vice-reitor da
Universidade Politécnica, o Professor
Catedrático Armando Jorge
Lopes, que na ocasião referiu que
a Feira do Livro e da Cultura é um
evento organizado anualmente
pela universidade, inserido nas celebrações
do Dia Mundial do Livro
e do Direito do Autor, efemé-
ride que se assinala a 23 de Abril.
Sobre as expectativas em torno da
feira, Armando Jorge Lopes avan-
çou que “nesta edição temos mais
editores a expor, temos mais obras
e, como podemos ver neste primeiro
dia, há muita gente interessada
em participar neste evento”.
“Esperamos que isto se reflicta no
futuro, no que diz respeito à leitura
e à escrita. Portanto, a nossa expectativa
é muito grande”, acrescentou.
Ainda na sua intervenção, o vice-
-reitor deixou garantias de que a
Universidade Politécnica continuará
empenhada no apoio à literatura
moçambicana, sobretudo no incentivo
à leitura e à escrita. Durante a
cerimónia de abertura desta feira,
foi também anunciado o vencedor
do prémio literário Maria Odete
de Jesus, referente à edição do ano
2016. Trata-se de Pedro Pereira
Lopes, com a obra infanto-juvenil
intitulada “O Comboio que andava
de Chinelos”, tendo recebido um
cheque no valor de 60 mil meticais,
com direito à publicação da sua
obra e dos outros dois concorrentes
aos quais coube uma menção honrosa.
Paralelamente à Feira do Livro e da
Cultura, a Universidade Politécnica
organizou o Dia Aberto na Escola
Superior de Gestão, Ciências e
Tecnologias-ESGCT, uma unidade
orgânica daquela instituição
privada de ensino superior. Trata-
-se de um evento durante o qual
a ESGCT recebe estudantes de
várias escolas pré-universitárias da
cidade de Maputo, com o objectivo
de dar a conhecer os cursos e as
respectivas disciplinas por si ministradas,
bem como as vantagens de
cada uma na formação do homem.
No decurso da Feira do Livro e da
Cultura, a Universidade Politécnica
levou ainda a cabo outras actividades
paralelas, tais como interacção
entre escritores e os alunos da Escola
Secundária das Acácias e da
ESGCT. Houve, ainda, uma palestra
sobre cultura, para além da
exibição de danças tradicionais e
doação de sangue.
Entretanto, o reitor da Universidade
Politécnica, Professor Doutor
Lourenço do Rosário, empossou
ainda dois novos quadros desta instituição
de ensino superior. Com
efeito, Girlane da Silva passou a
chefiar o recém-criado Departamento
de Organização e Métodos,
da plataforma de interligação
entre a Fundação Universitária
para o Desenvolvimento da Educação-FUNDE
e a Universidade
Politécnica, para além de Marisa
da Costa Trindade que passou a
assumir o cargo de coordenadora
do Centro de Estudos de Pós-
-Graduação e Pesquisa Aplicada da
Escola Superior de Altos Estudos e
Negócios-ESAEN.
Na ocasião, Lourenço do Rosário
justificou estas nomeações com o
facto de a Universidade Politécnica
encontrar-se, actualmente, num
processo paulatino de mudança.
Conforme explicou, “quer do ponto
de vista de recursos humanos, quer
de recursos materiais e financeiros,
temos de pensar em tudo. Como
Grupo A Politécnica, temos de
pensar sobre de que forma faremos
a articulação entre os diversos sectores
deste mesmo grupo”.
“O mais importante é as pessoas
deixarem de pensar que a nossa actividade
se esgota na universidade.
Nós somos um grupo e temos de
pensar como um grupo, sendo nessa
perspectiva que estas mudanças
estão a ser feitas”, disse Lourenço
do Rosário.
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GR/LYURHGD&XOWXUD
S
udecar Novela, estudante
da escola secundária da Escola
Secundária Francisco
Manyanga e filho de Sudecar
Novela, presidente da Associação
dos Pequenos Importadores de Mo-
çambique (Mukhero), venceu, na última
sexta-feira, a 15ª edição do Pré-
mio Eloquência Camões. Esta é uma
iniciativa levada a cabo pelo Centro
Cultural Português, que pretende
motivar os estudantes para a importância
da oralidade em português no
6XGHFDU1RYHODYHQFH(GLomR
GR3UpPLR(ORTXrQFLD&DP}HV
mercado de trabalho, em áreas tão
variadas como a comunicação social,
a docência, as relações públicas, a
publicidade, o teatro, o cinema, entre
outras.
Em segundo lugar ficou Jéssica Macuácua,
da Escola Secundária de Malhazine
e em terceiro Aldevina dos
Anjos Zimba, da Escola Secundária
Laulane. Os alunos vencedores, os
professores e as escolas participantes
receberam conjuntos de livros oferecidos
pela Plural Editores, bem como
os respectivos certificados de participação.
Os três primeiros classificados
receberam ainda prémios pecuniários
atribuídos pelo Camões – Centro
Cultural Português em Maputo para
aquisição de material escolar. Os 13
finalistas apresentaram os seus trabalhos
publicamente e foram avaliados
pelo júri, constituído pelo escritor
Ungulani Ba Ka Khosa, pela actriz
Ana Magaia e pela docente universitária
Carla Maciel.
Savana 28-04-2016
EVENTOS
3
A Água da Namaacha,
uma marca propriedade
Sociedade de Águas de
Moçambique (SAM), e o
músico Wazimbo anunciaram, recentemente,
um acordo de parceria
entre ambos. O acordo visa o desenvolvimento
de vários projectos
conjuntos para um futuro próximo.
No que concerne a projectos, Wazimbo
salientou a criação de algumas
canções especialmente dedicadas
às crianças que pretende lançar
brevemente, bem como as inúmeras
actuações que estão agendadas para
:D]LPERMXQWDVH
j6$0
terem lugar um pouco por todo o
país.
Por sua vez, a representante do departamento
de marketing da Água
da Namaacha, Manuela Magaia,
referiu que o trabalho a ser desenvolvido
por Wazimbo e pela Sociedade
de Águas de Moçambique
(SAM) visa uma difusão transversal
de uma mensagem carregada de
valor simbólico, fundamental para
cimentar valores na construção da
grande nação moçambicana, para
que o futuro seja sorridente e próspero.
O
Barclays Bank Moçambique
e a revista EXAME
promoveram, na passada
sexta-feira, uma conferência
sob o tema “Parceiros Económicos
de Moçambique/China”.
O evento, que decorreu em Maputo,
contou com a presença de
empresários de diferentes sectores,
gestores de empresas públicas
e privadas, para além do próprio
Embaixador da China, Su Jian, e
de Belmiro José Malate, Director
do MINEC, para Ásia e Oceânia.
Este evento teve como principal
objectivo dar a conhecer as reais
oportunidades de investimento entre
nos dois países.
Falando na ocasião, Rui Barros,
Administrador-delegado do Barclays
Bank Moçambique, afirmou
durante o evento: “é com muito orgulho
que o Banco se associa à re-
%DUFOD\VH([DPHSURPRYHPFLFORGHSDOHVWUDV
vista Exame para este debate sobre
o investimento e as relações econó-
micas entre Moçambique e China,
um dos blocos mais importantes
para o país em termos comerciais e
a qual decidimos dedicar uma das
edições do Ciclo de Conferências
Barclays e Exame: Parceiros Económicos
de Moçambique”.
Por sua vez, Su Jian referiu que,
desde a independência nacional de
Moçambique, a relação entre estes
dois países tem-se desenvolvido
firme e estavelmente. Pode-se dizer
que, nos primeiros 20 anos das relações
entre ambos os países, a política
e a diplomacia foram privilegiadas
devido às realidades dos dois
Países. No entanto, nos últimos 20
anos, a China tem participado activamente
no desenvolvimento económico
e social de Moçambique,
e a cooperação económica passou
a ser gradualmente o protagonista
das relações bilaterais”.
Segundo o diplomata, o valor acumulado
de investimento chinês em
Moçambique totaliza cerca de 6
mil milhões de dólares, cobrindo
as áreas de exploração de energia,
recursos naturais, agricultura entre
outras.
Savana 28-04-2017 EVENTOS
4
O
Ecobank Moçambique
lançou, na última quinta-
-feira, na cidade de Maputo,
o serviço “Ecobank
Mobile App”. Trata-se de um aplicativo
que tem em vista responder
aos desafios do mercado. O banco
assume que o aplicativo irá fazer a
diferença no mercado pela particularidade
de não ser um produto
para um país, mas sim um produto
de vários países, unificando os
33 países africanos onde o Grupo
Ecobank actua.
A Aplicação permite que os clientes
transaccionem a qualquer hora e em
qualquer lugar, tendo como principais
funcionalidades: Consulta de
saldos, Transferências, Pagamentos
de serviços, Abertura de conta, e
mais funcionalidades.
Actualmente, existem mais de 700
milhões de usuários de telefones ce-
(FREDQNODQoDVHUYLoRV
LQRYDGRUHV
lulares em África, dos quais 226 milhões
são usuários de smartphones.
É neste contexto que, no final de
2015, o Ecobank divulgou a sua estratégia
2016-2020, com a sua base
na Banca de Retalho e Comercial
apostando na inclusão financeira e
um acesso mais fácil aos canais bancários
e de distribuição alternativos.
“A nossa estratégia é designada Go
Digital e foi concebida nesse contexto.
Nosso objectivo como um
Grupo é ser capaz de multiplicar
até 2020 o nosso número de clientes
por 10 e ser capaz de atender
a 100 milhões de clientes. Mobile
App é um dos canais oferecidos aos
nossos clientes e que nos permitirá
atingir a meta de 100 milhões de
clientes nos próximos cinco anos.
Está operacional nos 33 países onde
actuamos no continente”, explicou a
Administradora-delegada do banco,
Adama Cisse.
1
um ano de enormes pressões
inflacionárias que contribuíram
para influenciar
as taxas Prime Rate de todos
os bancos comerciais moçambicanos,
agravando extraordinariamente
o preço do crédito bancário e
dificultando a capacidade de reembolso
dos mutuários, o Banco Terra
Moçambique (BTM) conseguiu
apresentar para o ano de 2016 resultados
positivos.
Ao fechar o exercício referente ao
ano de 2016, com um rácio de solvabilidade
de cerca de 32%, quatro
vezes mais que o limite regulamenP
elo menos 30 professores e
formadores moçambicanos
deslocam-se está semana para
a República Popular da China
com vista a beneficiarem dos cursos
de capacitação técnica e tecnológica.
Este treinamento surge no âmbito da
cooperação bilateral entre a China e
Moçambique.
Trata-se do primeiro grupo de um
total de 100 professores e formadores
do Ensino Técnico-Profissional
(ETP), oriundos das províncias de
Niassa, Cabo Delgado, Nampula,
Tete, Inhambane, Gaza e Maputo
Província, que durante cinco meses
vão beneficiar de capacitação em
técnicas, tecnologias e didácticas nas
áreas de Desenho e Fabricação de
Máquinas, Tecnologia de Integração
Mecatrónica, Tecnologia de Controlo
Digital, Desenho e Fabricação de
Moldes e Automação.
Discursando à margem da cerimó-
nia havida quinta-feira em Maputo,
Leda Hugo, vice-ministra da Ciência
e Tecnologia, Ensino Superior e
Técnico Profissional, referiu que o
programa de capacitações é parte de
um convénio entre os Governos da
República de Moçambique e da República
Popular da China, o qual particularmente
prevê o estabelecimento
de um programa de bolsas de estudo
de curta-duração para Formadores
do Ensino Técnico Profissional, que
vai ter lugar na província chinesa de
Chandong e a ser ministrado no Colégio
Vocacional de Jinan, a 3ª maior
província económica Chinesa.
“Estas áreas foram eleitas pela sua
particular importância para potenciar
o Ensino Técnico Profissional e
impulsionar as áreas da manutenção
industrial, nesta fase das acções da
Reforma da Educação Profissional.
Por isso, a exortação do Governo de
Moçambique e de que tirem o má-
ximo proveito desta oportunidade
de formação, aprendendo para além
da técnica e pedagogia que prosseguem,
outra língua e outras formas de
estar na sociedade, que seguramente
encontrarão na província chinesa de
Shandong”, disse Leda Hugo.
Por sua vez, o embaixador da Repú-
blica Popular da China em Moçambique,
Su Jiam, avançou que o seu país
atribui maior importância à coopera-
ção na área de educação profissional,
para que reafirma o compromisso em
apoiar programas de capacitação e
construção de infra-estruturas.
3URIHVVRUHVPRoDPELFDQRV
DFDPLQKRGD&KLQD
tar actual, o BTM continuou a
apresentar-se como uma das boas
referências de robustez no mercado
bancário nacional. Não só o rácio de
solvabilidade supera largamente o
rácio de 12% que o Banco de Mo-
çambique exige para os próximos
três anos, como o Capital Social
também excede em muito o mínimo
exigível para 2020.
Desta feita, o BTM conseguiu
apresentar um resultado positivo
de cerca de 12 milhões de meticais,
após impostos, o que representa um
crescimento em relação ao período
anterior de cerca de 120%, reflectindo
o esforço dos colaboradores do
BTM na criação de uma proposta,
cada vez mais evoluída, de produtos
e serviços ao cliente.
Apesar do crescimento muito té-
nue da economia moçambicana, a
carteira de crédito do BTM cresceu
28%, enquanto a carteira de depó-
sitos registou um crescimento de
34%, o que demonstra a confiança
dos nossos clientes.
Nesta senda, o banco pretende continuar
com a sua estratégia de crescimento
gradual, mas consistente,
baseado na crescente melhoria da
sua proposta de produtos e serviços
bancários, sempre, a custos competitivos.
%70ÀUPHHP
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