segunda-feira, 17 de abril de 2017

O GRANDE ADVERSÁRIO DA FRELIMO, NESTE MOMENTO, É A INÉRCIA DE ALGUNS CAMARADAS

CENTELHA por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
Verdade se diga: neste “primeiro mundo”, utilizam-se vacinas contra todas as estirpes de vírus. Mas, que eu saiba, nele nunca é utilizada a vacina contra o vírus da vontade do poder. Esta vontade de poder rapidamente se transforma em tirania e em autoritarismo ideológico. Pe.Manuel Maria da Silva Madureira da Silva, vol. 2, 2014, p. 24.
Sim, a Renamo é hoje uma carcaça política. É um facto. Não tem pernas para andar, nem braços para se erguer das cinzas. Tanto a Renamo como o MDM têm uma única hipótese de sobrevivência: regenerar-se, afastando, com urgência, as suas lideranças. Os dois partidos tornaram-se múmias da democracia devido ao estilo de liderança dos seus líderes.
Eles transformaram os seus partidos em monarquias democráticas. Dhlakama pode ter voz de leão em relação à Frelimo, mas nunca o terá diante da sua sobrinha Ivone que também se transformou numa espécie da Margaret Thatcher (à moda moçambicana). O mesmo se sucede no clã Simango, Daviz jamais terá voz activa perante  o seu irmão mais velho Lutero. Lutero apadrinhou à entrada de Daviz na política.
Estes firmamentos, no mundo da política, são invioláveis.
Uma traição, a mínima que seja, paga-se com a própria vida. Em resumo, não demorará muito para que, à semelhança de São Tomé e Príncipe, a base dos nossos partidos seja feita por influências familiares.
Onde estão os cérebros da Renamo e do MDM para investir em protesto contra estas situações? Críticos que nunca haviam vergado às injustiças tornaram-se, perante o autoritarismo da Renamo e do MDM, mudos e surdos. O meu amigo Araújo ainda tentou, mas esse esforço morreu na “tentativa de tentar” (passe o pleonasmo). Sobre a Renamo, não sei se a competente Ivone será a solução, pois como diz o ditado “O que não tem remédio, remediado está.”
O que mais me preocupa não é o estado vegetativo político em que se encontram a Renamo e o MDM, mas sim a inércia de alguns camaradas que governam em contramão em relação às directrizes da Frelimo, nem estão alinhavados com os discursos do presidente Nyusi.
Não vou-me debruçar do que não tenho dados, por exemplo, sobre a corrupção. Aliás, a base do Direito é a prova. Por isso, aprendi, ainda no primeiro ano da Universidade, que o ónus da prova cabe a quem acusa. Convenhamos, amigo leitor, que o nível de satisfa­ção pelos serviços prestados por alguns camaradas da Fre­limo tende a baixar significa­tivamente. A esse propósito, convém não ignorar-se os avisos à navegação dados pelo meu conterrâneo e veterano da Luta de Libertação Na­cional Sérgio Vieira quando coloca dúvidas sobre a per­manência da Frelimo no po­der. De facto, se a Frelimo não limpar a casa como deve ser, corre sérios riscos de alguns municípios passarem para a oposição (havendo candida­tos independentes) ou, pior, terá que fazer coligações para poder sobreviver à heresia da oposição. Ora vejamos, o edil de Maputo anunciou a construção de 5000 casas (aleluia), mas tem o paradoxo de não conseguir gerir o lixo e a avançada descompostura urbana que se vive na capital do país. A escassos metros do seu gabinete de trabalho, em

Maputo, estão acumulados carradas de lixo que não são removidas há dias.
Em Tete os buracos são de outra dimensão. Ultrapassam, nas principais avenidas da cidade, meio de altura de profundidade. O município diz que está à espera da época chuvosa passar. Será que os carros dos utentes só podem circular depois da época chuvosa, quando o município lançar saibro? Antes se dizia que o problema era do conflito político-militar, agora dizem que a culpa da chuva.
Caminhar no troço Save-Muxúngue já não é um problema que afecta às viaturas, mas também à saúde dos automobilistas.
O troço faz lembrar as trincheiras da guerra. Insisto na cultura. Temos um ministério moribundo. O que se fez nos últimos anos foi a produção de leis.
Não estou a pôr em causa as competências artísticas do artista Dunduru, apenas questiono o destino do turismo nacional. Quantos moçambicanos conhecem o Parque Nacional da Gorongosa?
Em contrapartida, quantos compatriotas passam suas férias na Europa? Milhares.
O que é que se conhece sobre o turismo nacional? Quase nada. O que é que tem a Europa de tão-extraordiná­rio em termos turísticos que se compare a Moçambique? Pouca coisa. O problema de transporte continua a ser uma dor de cabeça. Já não é só em terra firme onde se anda com o coração nas mãos (refiro­-me a triste realidade dos “My Loves”), também no ar a in­segurança é maior. Os nossos aviões não oferecem seguran­ça nem conforto nenhuns. A pontualidade nos horários da LAM tornou-se uma carac­terística “Made in Moçambi­que.” Ninguém faz nada, até que haja outras tragédias.
Um ministro veio a públi­co orgulhar-se da época chu­vosa. Até aqui tudo bem. Mas o que é que o seu ministério fez, antes, para preparar a épo­ca sementeira? Nada. Resulta­do: temos bolsas de fomes um pouco por todo o país. Do ponto de vista económico es­tamos a crescer sim, mas não estamos a conseguimos redu­zir a fome. Faltam instituições sérias de gestão da produção de alimentos. Gabar-se que a produção agrícola excederá, este ano, a “Xis” toneladas, não significa matar a fome dos moçambicanos. Não significa, outrossim, que as “Xis” toneladas estão distribuídas por todo o país. Porque é que se mantém um ministro que só ganha em discursos e não no trabalho? Aquilo que o país produz (em diferentes áreas) estará, por ventura, demonstrado em alguma página de Internet para que o mundo possa ver que temos talentos e que não somos preguiçosos como alguns preconceituosos pensam? E por falar nisso, para quanto uma casa de cultura em Portugal, Alemanha, França, China, EUA, etc.? Temos ou não o direito de “expor” os nossos valores no estrangeiro?
Mais uma vez fica a minha indignação ao que se faz de errado no Ministério do Turismo. Sobre a pirataria musical, melhor é calar…
Gostaria de falar do ensino, mas porque o assunto é tão complexo e melindroso não caberia uma abordagem de um parágrafo nesta crónica, deixo, pois, para outras ocasiões. Assim sendo, termino com mais um pensamento do Pe. Manuel Maria Madureira da Silva: “A humanidade deste primeiro mundo parece ter enlouquecido! Este mundo enlouquecido (o mundo dos que tudo podem e tudo dominam) produziu sistemas desumanizados, onde cada indivíduo é avaliado pela inteligência (pelos graus académicos, pelas especializações e capacidades) e não pelo coração (pelo verdadeiro humanismo).”
Zicomo e um abraço nhúngue a todos os trabalhadores moçambicanos, especialmente a Telma, Elias, Banda, Ronaldo e Carolina.
WAMPHULA FAX – 17.04.2017

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