Cerca de 20 Governos pediram ao Brasil documentos para investigar a trama internacional de corrupção
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Nas delações abertas na semana passada, não foram liberadas informações sobre delitos competidos pela Odebrecht em suas operações internacionais, muito embora algumas pistas do que vem por aí tenham ficado evidentes. Num dos documentos que o Supremo anexou ao material das delações – horas de vídeos com os 78 delatores, e cópias das petições de cada pedido de investigação –, o Supremo descreve que Marcelo Odebrecht afirmou “que o Grupo Odebrecht, a pedido de Antônio Palocci Filho, teria repassado via Setor de Operações Estruturada, US$ 3 milhões (três milhões de dólares) ao candidato à presidência do Peru Ollanta Humala”. A doação de recursos ilícitos teria acontecido em 2011, quando Humala concorreu à presidência pelo Partido Nacionalista.
O ex-executivo Alexandrino de Alencar citou também um pedido de Palocci para que a Odebrecht doasse 3 milhões de dólares à campanha presidencial do candidato Mauricio Funes em 2009, em El Salvador. A mesma informação foi confirmada pelo ex-titular do departamento de Operação Estruturadas, Hilberto Mascarenhas. Funes é casado com uma brasileira, Vanda Pignato. Sua campanha foi feita pelo marqueteiro João Santana. O jornal O Estado de S. Paulo informou nesta quarta (19) que há, ainda, pedidos de investigação do ministro Edson Fachin que continuam em sigilo sobre a atuação do ex-presidente Lula a favor de negócios com Cuba, e serviços prestados em Angola a seu pedido.
O procurador Paulo Roberto Galvão disse que a data foi acordada em dezembro para dar tempo à Odebrecht de assinar acordos de cooperação com a Justiça desses países. “A mesma empresa pode apresentar as provas de seus crimes nesses países às autoridades locais”, explicou em uma entrevista coletiva no mês passado. Em troca dessa cooperação, a Odebrecht pode ser penalizada, mas continuaria sua atuação em obras públicas internacionais.
A equipe de investigadores já recebeu pedidos de cooperação de cerca de vinte países para detalhar informações sobre subornos e lavagem de dinheiro. “Além dos 12 países em que a Odebrecht pagou subornos, a empresa lavou dinheiro em outros dez”, afirma Aras. Ao todo, a empresa tem atuação em 25 países. Aras explica que o modus operandi da Odebrecht foi exportado tão logo ela colocou os pés fora do Brasil. “Ela encontrou modelos semelhantes ao que havia aqui, um atmosfera muito parecida, talvez até pior em alguns países, como no continente africano”, diz. A expansão internacional da empresa começou em 1979. Na África, ela tem operações em Gana, Angola, Moçambique e África do Sul. Um dos delatores da Odebrecht disse à repórter Marina Rossi, do EL PAÍS, que a empresa sempre atuou na base de subornos a partidos de esquerda e de direita em outros países, e também se associou com empresas locais em sistemas de cartel. “A prática é a mesma em todos os lugares”, disse.
As investigações internacionais também chegaram às autoridades de alto escalão. Além de Ollanta Humala, há suspeitas sobre outros dois ex-presidentes peruanos — Alejandro Toledo e Alan García. Há também provas de que o atual presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, recebeu dinheiro da empresa brasileira para financiar sua campanha presidencial de 2010. Outra investigação do Ministério Público da Colômbia tenta descobrir se na campanha de 2014 houve a mesma prática.
Os investigadores da Lava Jato alertam que à medida que a Odebrecht for detalhando sua trama corrupta às autoridades estrangeiras começará a ser aberta a caixa de Pandora da corrupção internacional. O nível de detalhe que sair dela e as consequências de tais revelações dependerão da maturidade da Justiça de cada país. “Plantamos sementes para investigar a corrupção em várias partes do mundo, veremos onde eles crescem”, diz Deltan Dallagnol, o procurador que comanda as investigações do caso Petrobras, a macro-operação que há três anos vem revelando a corrupção sistêmica das elites políticas e empresariais brasileiras.
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