Para quem percorre a Avenida Julius Nyerere, ao longo da qual se encontra a maior e mais antiga lixeira do país – A LIXEIRA DE HULENE, já deve ter-se dado conta de o quanto os catadores de lixo se sentem os verdadeiros donos e gestores daquela via. Sentem-se como se fossem a própria Administração Pública.
I. Constatações:
1. Ao longo daquela avenida parecem não funcionar os comandos do Conselho Municipal e nem da Polícia da República de Moçambique, senão dos catadores de lixo que saqueiam bens nas viaturas em movimento ou a meio do congestionamento. Produtos dos vendedores ambulantes arredores, costumam a não escapar do saque.
2. Na mesma via, diariamente, é possível assistir catadores de lixo, com destaque a jovens e crianças, a pendurarem-se nos carros que levam os resíduos sólidos para aquela lixeira. Aliás, nem mesmo os transportes semi-colectivos de passageiros, vulgo “chapa 100”, escapam do “boleiar” daqueles homens.
3. Dois, três ou mais catadores “boleiam-se” na traseira dos semi-colectivos. Facto é que os transportadores que intentarem desafia-los, incorrem à sanções imediatas, a destacar, (i) a vandalização da viatura, (ii) o saqueamento da receita laboral, e até mesmo (iii) a molestação do motorista e de seu respectivo cobrador.
4. O consumo desviante de bebidas alcoólicas, e de outros tipos de drogas, é prática comum entre aqueles homens que jurisdicionam aquele território segundo as suas próprias leis, descurando das leis que emanam das entidades ou órgãos com competência normativa do nosso país que objectivamente conhecemos.
5. Embriagados, os catadores de lixo costumam protagonizar pânico entre os comerciantes à volta, exigindo deles o pagamento de uma taxa por desenvolverem actividades nas proximidades do território sobre sua tutela. E conforme a Administração Pública local, quem não paga incorre à sanções que podem ser de variados tipos.
6. Os “fiosses”, as “badjias”, os “rachéis”, afiguram na lista dos pratos preferenciais do cardápio dos catadores do lixo, que em muitos casos, são comercializados pelos vendedores ambulantes, umas vezes obtidos por dinheiro e, outras vezes, a título gratuito, servindo no último caso, de modalidade de tributação por se estar a desenvolver o seu negócio no local.
7. É também um facto, que os camiões, camionetas ou carrinhas-de-caixa-aberta que transportam mercadorias em suas bagageiras usando aquele corredor rezam para que não haja congestionamento, e muito menos, ocorra qualquer tipo de problemas de ordem mecânica, sob o risco de, em minutos, suceder o mesmo que é de “praxe” no Bairro Luís Cabral nos comboios em movimento.
8. Evaristo Maússe, em seu artigo, aquando do desabamento do murro de vedação, apontara que: «na região autónoma da lixeira do Hulene, os dignos autónomos do lixo e da miséria que por lá vagueiam, são verdadeiros ‘donos do pedaço’ ou não fosse a sua audácia em colocar uma portagem paralela, nas bermas da estrada (…)».
9. Naquela época, apontou Maússe que nenhum carro passava em paralelo à estrada sem soltar “10 paus”, que infelizmente, não entravam nos cofres da República Autónoma, pois eram imediatamente colocados sob a lupa de uma contabilidade paralela e pessoal, durando pouco tempo, pois, o fruto do ‘trabalho’ serviria para saciar os apetites imediatos dos lunáticos e visionários daquela autonomia».
10. De referir que muitos desses fenómenos acontecem à luz do dia e aos olhos impávidos da Polícia Municipal como da Polícia da República de Moçambique, perfilada em distintos postos daquela avenida e com carros de patrulha em movimento. Ninguém mexe àqueles catadores! Ali, eles fazem e desfazem! Estão eles num território que lhes é servo, numa Região Autónoma. Eles é que lho jurisdicionam.
II. Deve-se desautonomizar a zona da Lixeira de Hulene:
É preciso travar a AUTONOMIZAÇÃO do território que envolve à Lixeira de Hulene, que por lei, está sob jurisdição do Conselho Municipal da Cidade de Maputo. É preciso travar e, a título urgente, as investidas de alguns catadores de lixo desonestos e oportunistas que criam terror naquela via de muita circulação.
A polícia deve ser acionada no sentido de proteger o cidadão desprevenido na Avenida Julius Nyerere. Aliás, comportamentos semelhantes precisam de ser travados no terminal de “Xiquelene” e noutros pontos, protagonizado pelos famosos “modjeiros” que se sentem os donos do pedaço e criam terror nas filas. Sua compostura física e semblante têm servido de meios de instigação do medo às vítimas.
Os “modjeiros” criam uma espécie de administrações autónomas em nossos terminais de transporte, com a polícia municipal impávida como se tivesse com medo daqueles ou como se fosse cooperante daqueles homens. O polícia deve cumprir com o juramento que prestou no âmbito da sua graduação. Servir ao cidadão e a pátria.
III. Considerações finais: reorientar os catadores de Lixo:
Porque mais ou menos dias, a Lixeira vai encerrar, é preciso que desde já, tal como Ivan Maússe fizera referência em seu artigo datado de 30 de Junho de 2015, reorientar aos catadores de lixo dando-lhes o bem imaterial mais poderoso que a humanidade conhece: o conhecimento, especialmente, ‘o saber fazer’.
Se faz exigível que as autoridades moçambicanas, por elas mesmas, ou junto dos seus parceiros, promovam cursos intensivos de carpintaria, serralharia, mercearia, electricidade, etc., àqueles homens e mulheres, sob o risco de, respectivamente, metam-se em caminhos tenebrosos do crime e da prostituição.
Aliás, não obsta que, em hipótese, possamos apontar que os homens-catana que muito actuam nos bairros de Ferroviário, Maxaquene, Polana Caniço, Magoanine, Laulane, Costa do Sol e noutros próximos à Hulene, sejam parte dos catadores, que ultimamente queixam-se de crise de lixo reciclável no local a encerrar.
O nosso Estado e as demais pessoas colectivas públicas, e não só, devem começar a TER UMA ATITUDE PARENTAL em relação aos seus governados/administrados. Muita coisa pode ser evitada se tivermos uma Administração Pública séria e comprometida com a formação das humanidades e do progresso social.
Enquanto a lixeira não encerra de forma efectiva, nada obsta que as autoridade municipais e seus parceiros, possam ajudar os catadores de lixo oferecendo-lhes materiais de trabalho, como máscaras, botas, luvas, óculos, o que de certa forma os livraria de muitos males à sua saúde e, por inerência, à vida.
Não à autonomização da Zona da Lixeira de Hulene!
Bem-haja Moçambique, nossa pátria de heróis!
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