Justiça brasileira obrigou a Folha de São Paulo e o grupo Globo a retirarem da Internet informação de que um hacker tinha exigido 300 mil reais a Marcela Temer para não divulgar informação sensível sobre o Presidente.
A Justiça brasileira ordenou o jornal Folha de São Paulo e a rede Globo para que retirassem uma reportagem referente a um caso de chantagem de um hacker que teve como alvo a primeira-dama do Brasil, Marcela Temer, proibindo também os órgãos de comunicação social de publicar mais artigos sobre o caso. Os media brasileiros sujeitam-se a uma multa de 50 mil reais (15 mil euros) por cada dia que a decisão não for respeitada.
Segundo a Folha, a decisão foi tomada por um juiz de Brasília a pedido do Presidente do Brasil, Michel Temer. Algo que está a ser classificada pelas várias entidades jornalísticas do país como um caso de censura e de ataque à liberdade de imprensa. De acordo com a Globo, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) pediu já a anulação da pena, bem como a Associação das Emissoras de Rádio e TV (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas e a Associação Nacional de Jornais (ANJ).
Em causa está um artigo publicado pela Folha de São Paulo, na passada sexta-feira. Onze minutos após a publicação, Michel Temer instruiu os advogados a avançarem com um processo, em nome da mulher, para que a história fosse retirada do site do jornal. O que veio a acontecer esta segunda-feira. A ordem do tribunal engloba a Globo, que divulgou a mesma história.
Ora, tudo começou no mês de Abril do ano passado, quando um hacker, chamado Silvonei Jose de Jesus Souza, clonou o telefone de Marcela Temer e roubou todos os dados presentes no dispositivo. Alegando que tinha informação suficiente para prejudicar a reputação do Presidente Temer bem como imagens íntimas, o hacker pediu 300 mil reais (cerca de 90 mil euros) para não divulgar o material roubado. Souza acabou detido e condenado a cinco anos e 11 meses de prisão.
O artigo publicado pela Folha descrevia algumas das mensagens, enviadas pelo chantagista através do WhatsApp, na quais avisava Marcela Temer que a informação comprovava comportamentos pouco éticos ou até ilegais do Presidente.
Apesar da ordem judicial, que deu razão ao argumento da “inviolabilidade da intimidade” da primeira-dama, a Folha explica que a informação a que o jornal teve acesso foi aquela divulgada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, pelo que qualquer advogado, ou qualquer pessoa com acesso, pode consultá-la no site do tribunal. Além disso, foram mais os órgãos de comunicação social – como o El País Brasil, por exemplo – que tiveram acesso à mesma documentação, que inclui mais de mil páginas e um relatório da polícia, e onde não constam os registos áudio e vídeo que alegadamente incriminariam Michel Temer, nem os supostos ficheiros íntimos de Marcela Temer.
Numa conferência de imprensa realizada na manhã desta segunda-feira, sobre a Operação Lava-Jato, o Presidente Michel Temer foi questionado se o caso das reportagens dos jornais brasileiros se trata de um acto de censura. “Não houve isso. Você sabe que não houve”, respondeu Temer.
O site Intercept, em solidariedade com a Folha de São Paulo e a Globo, publicou na íntegra as comunicações divulgadas pelas reportagens agora proibidas. Na conversa registada apenas se lêem as tentativas de chantagem por parte do hacker e mensagens de resposta da primeira-dama a negar as acusações de que foi alvo.
Pessoa 1: ??
1: Bom dia!
1: Bom dia!
1: Ligaste-me?
Pessoa 2: Conheces-me? A minha voz? Nada. Posso abrir a minha vida para qualquer um. Limpo e honesto. Ninguém da imprensa pode ter acesso a e-mails roubados! Quem apagou [os dados] do meu telemóvel? Foste tu! O meu iPhone foi hackeado, o meu e-mail foi hackeado, as passwords foram alteradas, foi tudo apagado…. E tu tens essa informação por pura sorte? Explica isso, por favor!
1: Não te vou incomodar mais!
1: Boa noite
2: Espero bem que sim! Tantas pessoas [ilegível] à volta. Tu não me conheces, mas sou mãe e advogada. Eu ajudo muitas pessoas e não mereço ter a minha privacidade invadida. Pensa duas vezes! Podes olhar para a minha vida o quanto quiseres, não há nada. Eu vivo discretamente para o meu filho. Não sei se és um homem ou mulher, mas pensa um pouco.
2: Tu clonaste o meu WhatsApp e tentaste tirar dinheiro do meu manager e roubar dinheiro ao meu irmão que é um homem trabalhador, ok? Para quê? A minha vida é um livro aberto! E o que é que queres de mim? Publicar material hackeado é crime! É a lei! Não sabias? O que tens aí é roubado… Percebido? Eu admito que não te percebo.
1: Eu instalei um antivírus e quando reiniciei o meu computador, estava lá uma pasta com as tuas fotografias, vídeos e ficheiros pessoais.
1: É impossível clonar o WhatsApp!!! Por isso, como eu pensei que este vídeo iria arrastar o nome do teu marido para a lama, quando tu dizes que ele tem uma pessoa do marketing que faz o trabalho sujo, eu pensei que poderia ganhar alguma coisa disto!!! É por isto que tu dizes que sou um DIABO? Não… eu tenho uma lista de jornalistas que me ofereceram cada um 100 mil reais pelo material e eu só mencionei por mensagem o que está no vídeo.
1: Se eu fosse o DIABO eu teria enviado isto para um inimigo do teu marido, mas há quanto tempo estou a tentar contactar-te???
2: Tu pensas que isto prejudica alguém? Então tu queres dinheiro por este áudio? Tu interpretas um áudio e pensas que há alguma coisa de errado lá? Sou realmente eu a falar? Tu conheces-me? A minha voz? Eu não sei quem te enviou… deixa-me em paz que eu tenho muito para fazer.
1: Eu não disse que tu devias alguma coisa. Eu não tenho problemas aqui. Eu não disse que tu eras um patife.
2: Mas o que é que queres? Eu não sei se foste tu ou alguém que hackeou alguma informação do meu iPhone? Clonaram o meu WhatsApp e [ilegível]
2: Eu não devo nada a ninguém, ok? Qual é o teu problema? Tu és o patife aqui!!! Eu sou uma boa pessoa e tu invadiste o meu iPohne!!! Então? O que é que vais fazer? Queres negociar comigo? Isso é montagem… O que é que vais fazer com isso? Queres encontrar-te comigo?
1: Tu sabes que não é montagem, não há cortes.
1: É a tua voz a identificaras-te a ti própria, a dizer que estudas-te na Profirio.
1: Não dá para fazer uma montagem como essa.
2: Criminosos, bandido. A minha vida é limpa e isso basta. Montagem, montagem, não tenho medo de ti. Não sei quem te enviou….
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