terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

As estranhas mortes de inimigos de Putin e... de diplomatas russos


Vitaly Churkin numa conferência de imprensa na ONU. Era representante da Rússia na organização desde 2006
Cinco altos quadros da diplomacia de Moscovo morreram em situação inexplicável ou vítimas de violência, no espaço de 60 dias. O mesmo vem sucedendo a opositores.
A esperança média de vida está a aumentar na Rússia, sendo hoje de 65 anos de acordo com dados do Banco Mundial, e as sucessivas mortes de diplomatas registadas nos últimos 60 dias não irão perturbar este padrão, mas vieram introduzir um factor preocupante para o pessoal político ligado ao presidente Vladimir Putin.
Se o Kremlin tem sido responsabilizado, direta ou indiretamente, com provas ou apenas suspeitas e deduções, pela morte de opositores declarados do presidente ou daqueles que romperam com ele, agora tem de enfrentar danos colaterais das suas decisões políticas. Mais algumas mortes inexplicadas. O caso mais recente foi o do embaixador junto das Nações Unidas, Vitaly Churkin, que morreu subitamente no passado dia 20 em Nova Iorque, um dia antes de completar 65 anos. Aparentemente, de ataque cardíaco fulminante. Mas, sinal de que nem todas as dúvidas estão ultrapassadas, os médicos legistas pediram na passada quarta-feira a realização de novos exames, tendo-se recusado a especificar a causa da morte de Churkin, uma pessoa saudável.
O diplomata, que representava o seu país na ONU desde 2006, era um firme advogado das políticas de Vladimir Putin e destacara-se, em 2016, por uma série de trocas de palavras tensas com a então representante dos EUA, Samantha Power, sobre o bombardeamento russo a Aleppo.
Outros casos recentes e inexplicados de mortes de diplomatas russos ocorreram, respetivamente, em Atenas e Nova Deli. No primeiro caso, o responsável pela secção consular, Andrei Malanin, de 55 anos, no início de janeiro, apareceu morto no seu apartamento, aparentemente de causas naturais. Foi aberta uma investigação pelas autoridades locais. O segundo caso aconteceu no final do mês passado na capital da Índia, quando o embaixador Alexandre Kadakin, de 67 anos, morreu subitamente de ataque cardíaco, não tendo historial deste tipo de doença. Segundo algumas fontes, estaria a servir como mediador entre a Índia e o Paquistão, cuja relação é, deforma recorrente, bastante tensa. No passado, tivera declarações duras contra os talibãs afegãos, apoiados por setores dos militares paquistaneses, segundo a maioria das análises sobre o conflito naquele primeiro país.
Menos interrogações levantaram as mortes do embaixador na Turquia, Andrei Karlov, abatido a 19 de dezembro de 2016, em Ancara, por um agente de polícia no ativo, que invocou os ataques russos em Aleppo para o seu gesto. Karlov era creditado pela reaproximação entre Putin e Recep Tayyip Erdogan. Horas antes, em Moscovo, o responsável pelo departamento da América Latina no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Petr Polchikov, de 56 anos, era encontrado morto no seu apartamento em Moscovo. Tinha uma ferida de bala na cabeça.
Além dos diplomatas referidos, um elemento próximo de Putin e seu conselheiro, Mikhail Lesin, fundador da Russia Today, foi encontrado morto num hotel de Washington, em novembro de 2015. A investigação final concluiu que a morte de Lesin se deveu a excesso de álcool. Mas um detalhe, resultado de uma anterior investigação de março de 2016, apontava noutro sentido: todo o corpo de Lesin apresentava contusões graves provocadas por "instrumento contundente". Lesin passara a viver nos EUA após se distanciar de Putin.
Outras dúvidas - e também certezas - existem no desaparecimento de opositores a Putin. Em 2006, Alexandre Litvinenko, de 44 anos, que abandonara os serviços secretos russos, que colaborava com o MI6 britânico, tendo-se tornado um crítico do Kremlin, acaba por morrer em Londres devido a envenenamento por ação de polónio-210, uma substância radioativa. O inquérito britânico apontou a responsabilidade à secreta russa. Seis anos depois, em novembro de 2012, Alexandre Perepilichny, de 44 anos, um banqueiro que revelara as ligações entre o Estado e as máfias russas, é encontrado morto enquanto fazia desporto. No estômago foram encontrados vestígios de uma planta venenosa, que só existe nos Himalaias.
Menos sofisticado foi o instrumento da morte de Boris Abromovich Berezovsky que, aos 67 anos, foi encontrado enforcado na sua residência nos arredores de Londres. Opositor desde a chegada de Putin ao Kremlin, Berezovsky era alvo de um pedido de extradição de Moscovo, que as autoridades britânicas sempre se recusaram a dar luz verde. Não havia bilhete de despedida e a polícia nunca descartou o cenário de "uma segunda parte". E na própria Rússia, o líder da oposição, Boris Nemtsov, de 55 anos, é morto a tiro em Moscovo, em fevereiro de 2015; em outubro de 2006, fora a vez da jornalista Anna Politkovskaya ser assassinada à entrada de sua casa, na capital russa. Politkovskaya era intransigente crítica da estratégia de Putin para o conflito na Chechénia.
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