Os produtores de Mafuiane, na Namaacha, na província de Maputo, aprovaram a produção em estufas introduzida pelo Projecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos Corredores de Maputo e Limpopo (ProSul) e pedem a extensão da iniciativa, cujos resultados desafiam a seca que se verifica nesta região do país.No distrito da Moamba foram usadas sementes melhoradas de batata reno. O resultado é simplesmente espectacular.
“Nas nossas machambas tradicionais as culturas simplesmente não florescem porque queimam com sol, murcham, e têm “sofrido” de pragas constantes, daí a grande diferença entre produzir na estufa e ao ar livre. Aqui dentro a mesma planta dá frutos durante todo o ano e as quantidades que colhemos são mais elevadas”, festeja Alda Jonas, uma das beneficiárias da iniciativa.
Trata-se de um projecto concebido pelo Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), através do Centro de Promoção da Agricultura (CEPAGRI), e está a ser implementadoem 19 distritos das províncias de Maputo, Gaza e Inhambane.
A iniciativa conta com um orçamento de 45 milhões de dólares americanos, disponibilizados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Fundo Fiduciário do Governo Espanhol e o Programa de Adaptação de Agricultura Familiar (ASAP), cujo objectivo é melhorar a renda de mais de 20 mil famílias, compostas, na sua maioria, por pequenos produtores.
Alda Jonas faz parte desse grupo de beneficiários e conta que as técnicas que estão a ser usadas nos campos experimentais são fantásticas, pois permitem produzir durante todo o ano, o que constitui um grande ganho “porque em condições normais dependíamos apenas da época chuvosa”, disse.
Conforme apurámos, o projecto visa ajudar os agricultores a aumentar os níveis de produção a partir do incremento dos volumes de produção, produtividade e melhoria da qualidade em três cadeias de valor, designadamente horticultura, mandiocas e carnes vermelhas.
Os beneficiários contam comapoio de técnicos do ProSUL que lhes concedem sementes, adubos, pesticidas e também aprendem técnicas de rega com pouca água, por causa da seca que se verifica no país e os produtores apenas contribuem na mão-de-obra.
O destino dado ao valor resultante da comercialização dos produtos colhidos depende dos produtores, alguns optam por guardá-lo no banco para depoisdistribuírem-se e usar parte dele para adquirir estufas (sombrites) individuais, outros dividem-no assim que termina a venda dos produtos colhidos.
A nossa Reportagem visitou os dois distritos da província de Maputo onde a iniciativa está a amadurecer, nomeadamente Namaacha e Moamba, cujos beneficiários acolheram o programa e pedem que seja mais abrangente, pois só assim poderão aumentar a produção e a produtividade, combater a fome e reduzir as importações.
Aliás, em Mafuiane, no distrito da Namaacha, estão a ser produzidas hortícolas como tomate, pimento vermelho e amarelo, pepino inglês e híbrido iguais àqueles que habitualmente são importados da África do Sul para serem comercializados em grandes supermercados.
Apesar de estarem perante novas técnicas de produção, os camponeses por nós abordados referem que em pouco tempo perceberam que uma das vantagens de se usar o sistema de produção em estufas é a possibilidade de ter hortícolas durante todo o ano, mas, sobretudo, ter um ambiente que permite que a mesma planta produza durante dois anos. “Depois devemos renovar gradualmente porque, passados dois anos, a produção começa a reduzir”, explica.
MERCADO ASSEGURADO
Apesar de o projecto ter apenas nove meses de implementação, aqueles agricultores reconhecem que os resultados são visíveis, mesmo tendo em conta que o ano foi atípico por causa da seca. Alda Jonas toma como exemplo a produção de pepino híbrido que foi semeado em dois ambientes distintos, nomeadamente dentro e fora da estufa. “O resultado foi completamente diferente. O melhor foi para as plantas que estavam dentro da estufa”.
O que anima àqueles produtores agrários é que a colheita é encaminhada para grandes supermercados como a Food Lovers e Horta Boa. “Estamos satisfeitos. Queríamos que fossem abertas mais estufas porque conseguimos produzir durante o ano e temos mercado garantido”, sublinha.
Por seu turno, a agricultora Lina Mucavele afiançou que não terá nenhum ganho na sua machamba tradicional por causa da seca, pelo que tem os olhos postos na estufa que, segundo ela, “veio a calhar. Esta é a melhor forma de produzir, principalmente agora que temos problemas de água. O projecto é bem-vindo porque está a ajudar-nos”.
Tanto Alda Jonas como Lina Mucavele foram unânimes em afirmar que gostariam que o projecto fosse ampliado para que mais camponeses tivessem acesso às estufas, à assistência dos extensionistas e ao mercado. “Espero que todos assimilem as técnicas para que no final do projecto haja capacidade de prosseguir por conta e risco próprios”, sublinha.
ESTUFAS-ESCOLA
O produtor José Ricardo, que também beneficia desta iniciativa, sublinha que a estufa é uma espécie de escola onde os camponeses têm a oportunidade de aprender como proceder com a sementeira de hortícolas para que depois possam implementar nas suas machambas.
A nossa fonte disse que foi graças a esta iniciativa que aprendeu a pulverizar, adubar, irrigar as culturas e ainda ter opções de venda. “Antes vendiam apenas no mercado local e a preços baixos, mas agora temos o mercado garantido onde conseguimos fixar preços mais competitivos”.
Na estufa de tomate onde José Ricardo trabalha são 15 membros que começaram a produzir em Janeiro e já fizeram uma colheita de cerca de três toneladas e, na semana passada, tinham uma encomenda de uma tonelada. “É bom receber encomendas deste tipo, principalmente numa altura como esta em que há muito tomate nacional e importado. Temos recebido muitas solicitações”.
Xavier Tovela, outro membro desta colectividade, sublinhou que a melhor coisa é cultivar para vender para um mercado garantido, guardar o dinheiro no banco e depois de um tempo dividir entre os membros. “Antes cultivava individualmente, mas esta é a melhor maneira de fazer machamba. Tem muitas vantagens, incluindo de racionalização do uso de água porque o sistema de rega é gota-a-gota”.
Segundo apurámos, os membros abrangidos tencionam continuar com a produção em sombrites mesmo depois de este projecto terminar e outros já estão a implementar as técnicas aprendidas nos seus campos de cultivo. “Estou a tentar implementá-las na minha machamba e todos os membros têm as suas parcelas e levam os conhecimentos que adquirem nas estufas para aplicá-los fora”, José Ricardo.
Outro ganho que o ProSUL está a disseminar entre os camponeses relaciona-se com a gestão financeira através do sistema de poupança e crédito rotativo, uma vez que estes camponeses residem em áreas distantes das que são cobertas pela rede bancária.
PRODUTORES PEDEM
MAIS SEMENTE
Segundo Jochua Sitoe, produtor de Moamba, “no começo deste ano tivemos uma reunião com o ProSUL onde pedimos para apoiarem um projecto de emergência para a produção de batata reno porque tínhamos começado muito mal o ano por causa da seca. Fizemos questão de indicar o local onde compramos sementes de boa qualidade e o programa acatou as nossas sugestões”, recorda Sitoe.
Dados em nosso poder indicam que aquele projecto disponibilizou cerca de 30 toneladas de semente para um grupo composto por 19 produtores que estão a trabalhar em campos abertos (ar livre) com sementes tolerantes à seca. A estimativa é de que a colheita de batata chegue a 400 toneladas.
Sitoe disse ainda que seria bom que a quantidade de sementes que a ProSUL vai disponibilizar para a presente época agrícola aumentasse e fosse distribuída para um número maior de produtores, sobretudo se for levado em conta que toda a colheita tem destino assegurado.
Aliás, existem particulares que vão à Moamba adquirir batata reno para vender em Maputo. “É uma pena que o projecto tenha sido limitado. Gostaríamos que abrangesse todos os produtores do distrito, mas não foi possível, porém este é um começo e encorajador”.
Conforme apurámos, na Moamba ainda não foi introduzido o sistema de produção em estufas, facto que Sitoe entende que deve ser feito, mas precedido de um aprofundamento da investigação. Também entende que os produtores devem beneficiar de meios para produzir, pois os técnicos existentes têm capacidade para inverter a situação da agricultura no país.
“Os camponeses sul-africanos e zimbabueanos investiram muito para alcançar o patamar em que estão. Houve perda de fundos, de tempo, alguns quadros fugiram, mas os frutos já estão visíveis. A indústria deles é forte. Moçambique tem tudo para vencer. Faltava-nos esta coragem e ousadia”, concluiu.
Texto de Angelina Mahumane
angelina.mahumane@snoticicas.co.mz
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