Por João Cabrita
Repete-se hoje o que aconteceu em 1984 quando aos moçambicanos era dada a esperança da paz. Uma das partes afirmava estar comprometida com a paz, que procurava a paz por todos os meios – a parte que assinou acordos com o regime do apartheid em vez de se entender com moçambicanos, e que foi de avião a Mbala discutir a paz quando, juntamente com o Zimbabwe, planeava invadir o Malawi para um “regime change”, estilo Líbia.
A paz prometida em Nkomati – coincidentemente, a promessa foi também feita por um dos actuais mediadores – tardava a chegar. Em Outubro de 1984, a mesma parte voltou a prometer a paz, sentando-se à mesa das negociações com a outra parte – a Renamo. O mediador acordado pelas duas partes era a África do Sul. A primeira sessão plenária decorreu em Pretória de 8 a 11 de Outubro, tendo sido elaborada uma Proposta de Cessar-Fogo que entraria em vigor 45 dias depois da assinatura dos termos do acordo.
O art. 5 da Proposta de Cessar-Fogo dizia que “o cessar-fogo continuará por um período de 3 meses, podendo ser prorrogado por mútuo acordo do Governo da República Popular de Moçambique e da Renamo”.
O art. 6 obrigava “o Governo da República Popular de Moçambique e a Renamo a não obterem quaisquer vantagens militares durante o período de cessação de actividades armadas”. Dizia o mesmo artigo que “ambas as partes nomearao 4 representantes cada para um Comité de Verificação do Cessar-Fogo”.
A pedido do Governo da República Popular de Moçambique, a Proposta de Acordo de Cessar-Fogo incluía uma cláusula no art. 11, nos termos da qual “as partes não poderão divulgar em público quaisquer detalhes do presente Acordo ou das discussões ou actividades da Comissão criada, ou quaisquer outras informações relacionadas com esta mesma Comissão”.
O art. 11 era uma forma de o Governo da República Popular de Moçambique manter os moçambicanos na ignorância sobre as negociações que mantinha com a Renamo. A comunicação social do regime contribuía para esse fim, declarando diariamente que “o governo não se havia reunido, nem nunca se reuniria com a Renamo, e que em vez disso continuaria a lutar até à derrota militar dos bandidos armados”. O chefe da delegação do Governo da República Popular de Moçambique, Jacinto Veloso, também dava o seu contributo para a campanha de desinformação em curso, afirmando em Pemba a 13 de Outubro, onde se reuniu com o presidente da República, que “a acção militar continuaria a ser a principal prioridade na luta contra o banditismo armado”. E o presidente da República dizia no mesmo dia que “Moçambique não negociará com raptores, bandidos, criminosos e malfeitores. Em breve, a República Popular de Moçambique vai liquidá-los a todos. Já temos o caixão para enterrá-los.” O ministro dos negócios estrangeiros, Joaquim Chissano, era claro ao afirmar a 15 de Outubro: “Está fora de questão quaisquer negociações com a Renamo”.
As negociações entre o Governo da República Popular de Moçambique e a Renamo, que deveriam reiniciar a 17 de Outubro de 1984, nunca viriam a ter lugar, pois o Governo da República Popular de Moçambique recusou a exigência da Renamo de que só regressaria à mesa das negociações se a outra parte reconhecesse publicamente que ambos estavam a negociar a paz.
Apesar do revês, a Igreja Católica insistiu na paz – na “Urgência da Paz” – apelando ao Governo da República Popular de Moçambique para que optasse pelo diálogo e pela reconciliação. É por demais conhecida a posição do Governo da República Popular de Moçambique, como também ninguém se esquece das ameaças e insultos contra a Igreja Católica por intermédio de conhecidos escribas.
Em 1985, os que diziam querer a paz, convidaram tropas estrangeiras a intervir militarmente em Moçambique. Fizeram o mesmo em 1987: ZNA e TPDF massacraram civis e forçaram deslocações em massa de cidadãos moçambicanos – a mesma política de genocídio hoje em curso no centro do país, com valas comuns e cadáveres nas bermas de estradas e lançados nas matas, à vista de todos, mas que uns poucos afirmam ter dificuldade em ver ou localizar.
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