Este é que é o medo (2)
O vídeo aqui postado dissipa as dúvidas de qualquer um sobre a situação actual que se vive em Moçambique. trata-se de um vídeo que retrata as confidências dos sobreviventes da barbárie que vitimou seis pessoas (morreram carbonizadas) na sexta-feira passada, em cheringoma, província de Sofala.
Há acusações cruzadas. A Polícia diz que o massacre foi protagonizado por homens armados da Renamo. Os sobreviventes dizem que foi a Polícia a responsável. Em que ficamos? Demorei este tempo todo para postar este vídeo porque ainda estava à espera de reacções de organismos competentes. E nada. Aconteceu o que eu previa: silêncio total!!!
Isto é preocupante. Este assunto mexe com a sensibilidade de qualquer Estado. Às vezes me parece que Moçambique é uma ilha. Está isolado do restante ritmo que move o mundo. Em Moçambique só o presente é que conta. O futuro? Veremos quando lá chegarmos. Isso é um país?
Foram-se embora, e de maneira hedionda, seis vidas humanas. E o silêncio de organismos como a Liga dos Direitos Humanos, da Alice Mabota, e tantos outros é conivente. Este caso já devia ter chegado à Amnistia Internacional ou ao Tribunal Penal Internacional. Os perpetradores daquela barbárie não podem ficar impunes. Moçambique é ou não um Estado de Direito?
Não pretendo aqui responsabilizar nenhum dos grupos por aquele crime diabólico, mas ao ficarmos em silêncio, significa que qualquer um que entender, amanhã pode queimar cem pessoas que nada lhe vai acontecer. Apenas só se vai falar nesse dia, e no dia seguinte tudo volta à normalidade.
Meus caros: uma sociedade que não reivindica os seus direitos, é uma sociedade morta. Já se notou que, em Moçambique, ficar à espera dos políticos para uma certa decisão, é letra morta. Quando o assunto aflige o povo não movem palha e esse mesmo povo acaba ficando cúmplice desses políticos desavergonhados porque também cala.
Não estou a imaginar se a mesma barbárie tivesse acontecido num país europeu… e não vamos arranjar a desculpa de que os europeus são desenvolvidos ou tais. Os bons exemplos são para serem seguidos.
Se quem de direito não diz nada, também ficamos em silêncio? Quem vai pressionar os políticos para agirem de boa forma? É que sem essa pressão, eles ficam acomodados. Pilham o Estado a seu bel-prazer e nada acontece.
Está de parabéns a STV que trouxe o outro lado dos factos, mas também a este canal faltou aquilo que em jornalismo se chama gerência editorial. Devia ter continuado a seguir os factos até à exaustão. Essa é que é, efectivamente, a tarefa de um jornalista, os chamados “watch dogs”. Fazer jornalismo não é ir a conferências de imprensa onde se anuncia o previsível: briefing do Conselho de Ministros e tal. isso é ser caixa de ressonância. Tem que investigar os factos. Trazê-los à tona. Vigiar os passos dos governantes de modo a que sejam educados para o bem.
Nini Satar
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