O Parlamento Juvenil (PJ),
uma das mais interventivas
organizações da sociedade
civil moçambicana,
quebrou o silêncio esta semana
e levantou a sua incómoda voz,
desta vez sobre a difícil situação
política, económica e social que o
país atravessa. Numa declaração de
10 páginas, na qual reafirma o seu
combate cívico para que a justiça
faça a paz dos moçambicanos e o
Estado se reencontre com a juventude
e o povo em geral, aquele movimento
de cariz revolucionário,
liderado por Salomão Muchanga,
diz que se o povo deve incrementar
a produção, como apela o discurso
oficial, que o executivo de Filipe
Nyusi entregue, em troca, à barra
da justiça, os infractores e beneficiários
que mergulharam o país na
actual insustentável dívida.
Numa missiva bastante contundente
intitulada “A hipoteca de
toda uma geração”, o PJ refere que
a crise generalizada e absoluta que
se abate sobre o país intima os moçambicanos a um novo pensar Moçambique que não pode ser mais
comunicado dos dirigentes ao povo
através do escrutínio das fontes das
boas ideias baseado nas relações de
simpatia e poder.
Diz o PJ que a actual crise não
constitui surpresa ao executivo, porquanto
não faltaram avisos internos
e externos sobre os perigos do que
chama de super-endividamento do
Estado, até porque, ciente disso, o
Governo desde logo se comprometeu
a alargar a base produtiva, mas
contrariamente manteve políticas
de desenvolvimento concentradas
na “maldição” de uma economia
meramente extractiva.
Contudo, “somos hoje revisitados
pela cultura política de se atribuir
a causas externas ao sistema todos
os problemas que afectam o país”
analisa.
Absolutamente indignada pela dívida pública contraída à margem da
lei orçamental, na ordem de USD
1,4 mil milhões, o PJ entende que
este endividamento hipoteca os
rendimentos e sonhos de gerações
inteiras e constitui um perigo a longo
prazo para a juventude e para a
estabilidade social.
Destaca aquela organização de advocacia
em prol dos direitos e prioridades
da juventude que só um
Governo consciente de que está a
violar a lei e a rasgar a Constituição
poderia se dar ao luxo de ocultar dívidas e ludibriar o seu “maravilhoso
povo” a quem solicitou confiança.
Para o PJ, em consequência da recente
troca “angustiada” de títulos
das dívidas descobertas, enquanto
indicativo da vontade diminuída do
Governo de cobrir as suas obrigações futuras de dívida em relação à
promessa original e do antecipar do
possível incumprimento do honrar
destas dívidas por parte do Estado,
o país tem sido penalizado a nível
mundial.
“O país está em crescente decadência
nas agências de notação financeira.
Este cenário prenuncia uma
queda brutal do crescimento do
PIB, muito aquém do previsto no
PES” comenta, acrescentando que,
consciente da dificuldade de convencer
o povo com os argumentos
e as medidas anunciadas, o executivo
optou pelo desfile público da
máquina repressiva e exibição do
material bélico enquanto estratégia
de intimidação e demonstração de
forças na limitação do direito à expressão.
E questiona: “quem é soberano? Se
os nossos governantes, eleitos para
servir e prestar contas ao povo, não
vêem urgência em fazê-lo em sede
do Parlamento, os dignos representantes
do povo moçambicano não
poupam esforços para se justificar
em Washington e Bruxelas, nos
questionamos quem realmente vive
de mão estendida, onde realmente
reside a soberania e quem é agente
das agendas externas? Foram indagados
pela Assembleia da República,
mas preferiram prestar contas ao
verdadeiro patrão, invertendo a pirâmide
e confundindo publicamente
o interesse nacional. Quem é o
real patrão? Quem são os inimigos
do desenvolvimento e os apóstolos
da desgraça? Aqueles que prevêem
e alertam em prol da prevenção ou
os que constituem a oligarquia predadora
do Estado?”.
Para o Parlamento Juvenil, dizer
que o povo é o patrão é o cúmulo
da hipocrisia, visto que o empregado
delapidou o padrão, escondeu a
delapidação ao patrão e só pela mão
externa é que o patrão descobriu
que o empregado lhe delapidou.
“Não se promove a produtividade
com discursos políticos; é hora de
operacionalizar o Programa Quinquenal
ao invés de lamentar a fraca
produtividade nacional enquanto
milhões de moçambicanos saldam
dívidas alheias que engordam cada
vez mais os empresários da realeza
mais bem sucedida deste país”, diz
o PJ para quem a actual situação
lembra as vicissitudes de um Estado
demissionário que alenta contra
a miséria estrutural e visceral.
“Moçambique não pode continuar
uma orquestra desafinada no concerto
das nações, um Estado de
ricos e poderosos impunes perante
à lei, um Estado que hipoteca toda
uma geração”, diz a organização
que exige medidas audazes de responsabilização
e uma ruptura do
que apelida de vastosa incúria económica.
Numa altura em que “a guerra causada
pela demagogia dos nossos
políticos que dizem querer o bem-
-estar da nação” dilacera o país, o PJ
frisa, entre vários recados constantes
do Relatório desta semana, que
declarações de políticos em fase
terminal já há muito são nocivas
para a paz e estabilidade.
Prakash queixa-se à PGR
No calor da circulação
dos ´´Panama Papers“,
foi colocada nas redes
sociais uma montagem
gráfica contendo os nomes de
três empresários moçambicanos,
alegadamente com contas em
”paraísos fiscais“, nomeadamente
o PCA do Mozabanco, Prakash
Ratilal e o edil de Nacala, Rui
Chong Saw.
A montagem gráfica envolvia o
logotipo do jornal ”Expresso“ de
Lisboa, uma das publicações que
tem seguido de perto a divulga-
ção dos nomes das pessoas que
figuram nos ficheiros dos ”Panama
Papers“. O director do jornal, Pedro
Santos Guerreiro, em declarações
ao mediaFAX/SAVANA,
afirmou peremptoriamente que
a notícia era falsa e não foi produzida
pelo Expresso. “A imagem
do jornal foi usurpada em prejuízo
de quem leia a informação, e em
prejuízo do próprio jornal. Tanto
quanto me apercebi, a informação
não esteve sequer online, foi sim
passada como imagem na rede
whatsapp, que, por ser encriptada,
protege a origem do boato”, comentou.
Na montagem, Prakash
Ratilal teria feito os depósitos em
nome da empresa LLL Investimentos.
A empresa existe, mas não
tem qualquer ligação com Ratilal,
pertencendo a um grupo empresarial
brasileiro.
Em declarações ao mediaFAX/SAVANA,
Ratital disse que este tipo
de acções só podem ter como destino
a PGR (Procuradoria Geral da
República).
”Já apresentei queixa-crime contra
pessoa desconhecida. A Procuradoria
certamente possui instrumentos
para identificar os que andam a
difamar. Não posso permitir que
cobardes, ao abrigo das facilidades
tecnológicas de informação e comunicação,
vilipendiem ao seu bel
prazer a vida de outros. E, sempre
que o meu nome e o da minha família,
for manchado ou destratado
sem fundamento, o caluniador irá
prestar contas à justiça”, referiu o
banqueiro.
Esta terça-feira, O Consórcio
Internacional de Jornalistas
Investigativos(ICIJ), baseado em
Washington, divulgou a base de
dados com os nomes e instituições
envolvidas nos ”Panamá Papers“
dela constando o nome de 18 mo-
çambicanos do mundo dos negó-
cios.
(Redacção)
Prakash queixa-se à PGR
Panama Papers
- numa dura missiva, o PJ destaca que dizer que o povo é patrão, como o faz reiteradamente o Presidente Filipe Nyusi, é o cúmulo da hipocrisia.
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