segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Quem luta contra quem na guerra da Síria?

Desde 2011 uma sangrenta guerra civil toma conta da Síria. Está programada a participação de diversos partidos em conflito nas negociações de paz em Genebra. Quem são eles e quais suas posições?

Soldado do Exército nacional ostenta retrato de Assad no uniforme
Bashar al-Assad e aliados
Em 2011, dezenas de milhares de sírios foram às ruas protestar contra o governo de Bashar al-Assad. O presidente reagiu com violência extrema, mandando atirar nos manifestantes, mobilizando, assim, as Forças Armadas nacionais contra a própria população. Durante um bom período os protestos permaneceram pacíficos, até uma parte dos ativistas se armar e formar milícias.
À medida que o conflito escalava, muitos soldados desertaram ou se uniram aos grupos rebeldes. Em 2009, as forças sírias contavam cerca de 325 mil homens; em 2013 o contingente estava reduzido à metade. Atualmente o governo Assad depende de apoio externo, embora seja o único dos protagonistas do conflito a dispor de uma Força Aérea.
Irã apoia o regime Assad desde o início dos levantes, em 2011. O país vizinho envia milhares de homens para os combates, sobretudo brigadas revolucionárias e mercenários. O enviado especial das Nações Unidas para a Síria, Staffan de Mistura, calcula que Teerã invista 6 bilhões de dólares por ano no auxílio militar a Assad. Outros especialistas estimam um total de até 20 bilhões de dólares por ano.
Hisbolá, a milita xiita do Líbano com laços estreitos e financiamento a partir do Irã, também combate ao lado de Assad, como segundo maior grupo pró-Damasco.
Rússia é outro aliado importante do regime sírio. Desde o fim de 2015, o país realiza ataques aéreos na Síria – oficialmente, contra a organização jihadista "Estado Islâmico". Entretanto observadores criticam os russos por também bombardearem territórios controlados pelos rebeldes do Exército Livre da Síria, causando mortes frequentes de civis.
Participação nas negociações de paz: 
O governo de Bashar al-Assad subordina a decisão final sobre sua presença nas negociações em Genebra à lista dos grupos de oposição participantes.
Combatente do Exército Livre da Síria
Adversários de Assad
Exército Livre da Síria se compôs originalmente a partir dos grupos oposicionistas democráticos, com o fim de proteger a população. Não se trata de um exército propriamente dito e não há uma liderança central. Seus grupos controlam amplas regiões, no noroeste e no sul do país, cujos habitantes tentam constituir uma sociedade civil, apesar das bombas de barril que o regime Assad lança diariamente contra áreas residenciais e a infraestrutura local.
Como o Exército Livre conta com quase nenhum apoio internacional, muitos de seus homens desertaram. Em contrapartida, o número dos patrocinadores fundamentalistas islâmicos é grande, por isso muitos combatentes passaram para o lado dos grupos islamistas, parte dos quais luta agora contra o regime.
Jaish Al-Fatah (Exército de Conquista) conta entre as alianças de maior porte. Trata-se de uma associação de grupos moderados e extremistas, entre os quais a radical Frente Al Nusra, braço sírio da Al Qaeda, e a milícia islamista mais moderada Ahrar Al Sham. Em vários desses grupos lutam há anos também jihadistas da Jordânia, Argélia, Afeganistão, Tchetchênia e outros países.
Participação nas negociações de paz: 
É grande a insegurança quanto a quais opositores de Damasco tomarão parte das negociações de paz. Enquanto a Arábia Saudita deseja que também sejam ouvidas as milícias radicais como o Ahrar Al Sham, Moscou insiste na presença dos grupos mais moderados, tolerados por Damasco.
Jihadistas do "Estado Islâmico" querem fundar califado na região
"Estado Islâmico" (EI)
A organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) formou-se em seguida à retirada militar dos Estados Unidos do Iraque. Após o início das revoltas populares na Síria, o EI aproveitou-se do caos da guerra civil para ocupar vastas regiões do país. Os jihadistas controlam territórios importantes, sobretudo nas cercanias da cidade de Rakka, no nordeste sírio. Sua meta é a instituição de um califado.
O EI se financia, em grande parte, através da venda de petróleo, também à Turquia, entre outros países. Contudo as ofensivas aéreas das Forças Armadas russas e da aliança militar liderada pelos EUA destruíram numerosos campos de extração e vias para transporte do combustível, colocando os terroristas sob pressão financeira.
Participação nas negociações de paz: 
Todos os partidos com presença prevista nas conversas em Genebra descartam a participação do EI.
YPG curdas: valorizadas pelos Ocidente, demonizadas por Ancara
Unidades Curdas de Defesa Popular
Também as tropas curdas são protagonistas importantes na Síria, com papel vital no combate ao EI. Às Unidades de Defesa Popular (YPG, em idioma curdo) pertencem cerca de 50 mil combatentes de ambos os sexos. Ela é o braço armado do principal grupo curdo da Síria, o PYD, por sua vez ramo sírio do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Sediado na Turquia, este é classificado pelos Estados Unidos e a União Europeia como organização terrorista.
As YPG colaboram, em parte, com o regime sírio, mas também com os adversários deste. Recentemente, porém, elas entraram em choque com grupos rebeldes na cidade de Aleppo, no norte da Síria.
Participação nas negociações de paz: 
Ancara rejeita a participação das milícias curdas, enquanto o Ocidente as considera um aliado importante na luta contra os jihadistas do EI.
Aliança militar liderada pelos EUA
Sob a liderança dos Estados Unidos, desde 2014 uma coligação internacional realiza ofensivas aéreas contra o EI. À aliança pertence um total de 60 nações, entre as quais a Alemanha, Arábia Saudita, França, Reino Unido e Turquia. Nem todas participam dos ataques aéreos, contudo: a Alemanha, por exemplo, só assumiu operações de reconhecimento aéreo, além de ajudar no treinamento de combatentes curdos no Iraque.

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