Os inimigos da paz são aqueles cujos interesses acabam por ser favorecidos pela guerra
Diz D. Cláudio Dalla Zuanna
Sobre a actual situação política que o país atravessa, o arcebispo da Beira, D. Cláudio Dalla Zuanna, na passada quarta-feira, em Maputo, disse que “toda a divisão, toda a intolerância, toda a arrogância, todo o abuso e toda a agressão devem ser vistas como sendo contrárias à vontade de Deus”.
Segundo D. Cláudio Dalla Zuanna, estes males apenas podem ser enfrentados com a verdade, com uma informação pública não manipulada, com a transparência no uso dos bens públicos e com processos eleitorais fiáveis.
O arcebispo da Beira falava sobre o papel das Igrejas face à actual situação política, durante uma reflexão dos partidos políticos sobre a crise político-militar em Moçambique, organizada pelo Instituto Holandês para a Democracia Multipartidária.
D. Cláudio Dalla Zuanna afirmou que a Constituição, o sistema político e as suas leis, tal como o próprio ser humano e a comunidade social, estão sempre em construção.
O arcebispo da Beira disse que, num Estado Democrático, a justiça é uma arma defensiva imprescindível para a coesão social. Acrescentou que a inclusão social, vivida no acesso à instrução e à saúde, a equitativa distribuição de benefícios provenientes dos recursos do país, são obras de justiça e defesa contra as frustrações que fomentam a tensão social.
“Pelo contrário, a riqueza acumulada nas mãos de poucos, face à esmagadora maioria a viver na pobreza, o uso de resultados eleitorais e pertença partidária como forma de exclusão mais do que de assunção de responsabilidade, a defesa de interesses particulares à custa do bem são caldo de cultivo de desintegração social e de conflitos”, alertou D. Cláudio Dalla Zuanna.
Afirmou que a boa nova que os moçambicanos esperam ansiosamente como um anúncio urgente, que exige prontidão, honestidade, senso cívico, amor ao povo, é viver em paz.
“Pôr as pessoas a reflectir, a partilhar e a procurar acções de paz é como calçar os pés, para poder dar a boa notícia da paz”, disse.
Sobre o papel das igrejas, D. Cláudio Zuanna afirmou que é de incentivar, para que as pessoas, a começar pelos fiéis e instituições, se revistam de verdade, de justiça e de paz.
“Pessoas, organizações, partidos e Governos, sem estes meios, não podem ter oportunidade alguma de vencer os inimigos da paz. E a paz em Moçambique tem os seus inimigos: aqueles, cujos interesses acabam por ser favorecidos pela guerra”, disse D. Cláudio Zuanna.
Possíveis soluções
O arcebispo da Beira afirmou que, como contribuição “para abafar a poeira” propõe-se o calar das armas que “temos nas mãos”, parar com a aquisição de novas armas, não militarizar o país espalhando armamento e homens armados pelos quatro cantos.
Também propõe que sejam enfrentados sem reservas nem tabus os assuntos contingentes que estão na base da tensão político-militar que o país vive, que os dirigentes se convençam e convençam os seus de que não existe alternativa ao diálogo e que a guerra não reforça a capacidade negocial, a abertura ao diálogo de outros intervenientes no cenário político. Propõe que se encontre formas de promover a contribuição de todas as forças vivas do país para uma boa governação e que haja disposição para reformas consensuais do sistema político e do Estado.
“Se a convivência social não se pautar pela verdade e pela justiça, é improvável que as armas se calem ou que não retomem a voz”, disse.
O arcebispo da Beira declarou que é necessária transparência na gestão da coisa pública, particularmente nos concursos públicos, instalação de comissões parlamentares de inquérito e políticas de inclusão atentas às necessidades fundamentais.
“Na luta pela paz, não há garantias de sucesso. Exige coragem, determinação, persistência, se tivermos a coragem de nos revestirmos de verdade, de justiça e de vontade honesta de paz”, conclui D. Cláudio Zuanna. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 26.02.2016
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