3 de fevereiro de 2016:
EDITORIAL EXTRA
Tenhamos a coragem de dizer que se não fazemos inclusão naquilo que consideramos nossos heróis será também difícil promover uma governação inclusiva para permitir a sociedade moçambicana viver em ambiente de inclusão.
Parar o tratamento depreciativo de compatriotas que também participaram na gesta nacionalista é de todo necessário. A questão é sobretudo reconciliar vivos e mortos.
As diferenças de entendimento quanto a quem reúne os requisitos para ser considerado herói fazem parte de um complexo histórico-político conjuntural. Antes era perfeitamente normal dizer que só eram heróis aqueles que o partido no poder assim determinasse e decretasse. Era o tempo do partido único e com isso fica tudo nesse ponto de vista. Mas o pluralismo político deve manifestar-se neste aspecto da via nacional.
Tem sido difícil o entendimento entre moçambicanos porque ainda não conseguem compreender e admitir que compatriotas com ideologias opostas também são moçambicanos todos com os mesmos direitos.
E esta questão estende-se aos nossos heróis. É inegável que temos heróis nacionais. Moçambicanos que se distinguiram na epopeia da libertação nacional merecem distinção pelo que fizeram e pelo que fazem. Moçambicanos que se notabilizaram em áreas como artes, desporto, e outras áreas da vida no país são nossos heróis mesmo que não tenham ainda o reconhecimento oficial.
Tem sido nosso apanágio tomar o assunto de forma persistente e vigorosa, para o reconhecimento de todos nossos heróis nacionais, apesar da vista grossa que os decisores dos destinos do país tem pautado.
Apraz-nos recordar que após muitas batalhas vimos o governo começar a homenagear heróis cujos nomes nem sequer alguma vez haviam sido tornados públicos.
Em algumas ocasiões os próprios familiares agradeceram o jornal pelo facto de referir os nomes dos heróis que passaram muito tempo preteridos do devido reconhecimento.
Filhos de alguns desses heróis que corriam o risco de passar eternamente despercebidos chegaram a confessar através de cartas públicas publicadas no nosso jornal que nunca sequer ouviram do Governo e da Frelimo a menção de nome de seus pais quanto heróis nacionais.
Não se trata necessariamente de auto-elogio, muito menos reivindicar loiros o jornal apresentar-se como percursor da iniciaticva que o governo vem promovendo de homenagear os heróis que completam 40 anos após a sua morte, mas sim auto-reafirmação de uma contribuição que temos estado a oferecer a favor do reconhecimento inclusivo.
Compatriotas são no passado, no presente e no futuro e isso não se pode negar pois não depende de quem está no poder ou na oposição.
O 3 de Fevereiro de 2016 acontece num momento especial na vida política do país. Será antes de uma reunião importantíssima do Comité Central da Frelimo, partido no poder que poderá alterar a maneira como o país se encontra e sobretudo a forma de alguns de nós de estar, ser, ver e fazer coisas.
Temos de ser honestos e admitir que o caminho para a frente passa pela reconciliação da família moçambicana e essa questão também envolve os nossos heróis.
De alguma forma é preciso criativamente aceitar que todos aqueles que participaram da gesta nacionalista sejam colocados a ribalta e reconhecidos oficialmente.
O processo depois de tantos anos de estigmatização vai ser complexo.
Queremos um Moçambique uno e indivisível e nada de mal acontecerá se formos capazes de perdoar e reconciliar.
Perdoando e reconciliando é possível resolver questões do presente recorrendo ao passado.
Um primeiro passo é deixar de estigmatizar, de hostilizar os nomes daqueles que foram companheiros de jornada depois votados ao esquecimento. É uma questão de coerência com a propalada democracia que nossos políticos dizem defender.
Há alguma discrepância do ponto de vista estatístico sobre quem é herói e a sua origem, atendendo que a maioria dos participantes no combate armado contra o colonialismo era originária de Cabo Delgado. Também há alguma supremacia de outros naquilo que são os heróis oficiais, sem que esteja plenamente claro ou seja consensual que o tenham sido, em detrimento de muitos outros colegas, cuja rejeição ocorre simplesmente da diferença de ideias.
Compatriotas o momento exige coragem, discernimento e sobretudo vontade de despartidarizar o conceito de herói nacional. Até porque reconhecer a heroicidade de quem desenvolve ideologia política contrária jamais representou derrota àquem assume o gesto, mas sim revela a posse de cultura civico-democrática sem preconceito e incondicional.
Frieza e empenho por um Moçambique participado e em que seus heróis não depende necessariamente possuir cartão de membro de determinado partido é uma urgência.
Alguns de nossos problemas são exacerbados por políticos com vista estreita e oportunistas que querem cimentar posições através de protagonismos. Contenção verbal e vontade de construir pontes entre concidadãos ajudam a derrubar tabus.
O AUTARCA – 02.02.2016
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