terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

É MAIS FÁCIL E RÁPIDO TER CARTÃO DE ELEITOR DO QUE BILHETE DE IDENTIDADE

Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com ) 

“Há males que já fazem parte das nossas características, pela força que têm de permanecerem connosco numa duração perpétua. São dificuldades integrantes do nosso corpo, dificuldades que apenas se separarão de nós pela lei da morte. É uma herança antiga. Estamos a ser fiéis ao nosso passado”. Extraído de uma conversa com o amigo Nkulu 
O presidente Nyusi tem muito trabalho pela frente para conseguir colocar o país nos carris e desintoxicar alguns vícios instalados no Aparelho do Estado. As instituições do Estado que lidam mais directamente com as populações estão a funcionar mal e conduzem o país ao colapso. Os dirigentes que estão na pilotagem dessas instituições agem de forma contrária à lei e parecem adoptar uma missão clara e diabólica: empobrecer as populações, desanimá-las, pô-las doentes e depois aplicar a eutanásia. A meu juízo, esses dirigentes não estão a acompanhar o discurso do presidente da República e o ritmo da sua governação. 
É inqualificável o que está a acontecer no país, sobretudo nas Direcções Nacionais de Identificação Civil e nas instituições a ela tuteladas. Um cidadão nacional chega a passar 8 horas de pé, numa fila “organizadamente desorganizada”, para conseguir chegar ao guiché e tratar o bilhete de identidade. Uma coisa é conseguir aproximar-se ao guiché e ter a sorte de tratar a papelada, a outra é obter o documento cujo tempo de espera chega a durar anos. O normal e caricato, no meio de tudo isso, é quando o tempo de espera para receber o bilhete corresponde a validade do próprio documento.
Uma autêntica montanha de gente, maltratada e desesperada, que se habitua a conviver com a mesma ladainha de sempre: “não há sistema, volta amanhã, etc., etc.”. Com o aparecimento de “telemóveis inteligentes”, os funcionários passam o maior tempo nas redes sociais, partilhando frivolidade, numa velocidade da luz. É verdade que as enchentes nem sempre estão associadas à falta de flexibilidade dos funcionários públicos, mas não pode ser característico nem sistemático essas dificuldades, pois transforma-se em vício. Os vícios, como disse o meu saudoso amigo José Hermano Saraiva, quando mais antigos, tornam-se mais interiores e mais dominantes. Como calculará o amigo leitor, o futuro de um país não se constrói com os vícios do passado e do presente. 
A minha prima Kachembere, por estar a perder oportunidades de emprego em Tete, dado que o bilhete de identidade é condição sine quo non para o efeito, decidiu vir a Maputo na esperança de que na capital do país fosse mais fácil transpor a muralha da burocracia. Enganou-se por completo e passou a viver o pior pesadelo da sua vida. Só conseguiu o bilhete de identidade três meses mais tarde, depois de ter pago um valor acima do exigido. Nestes sectores, ou fazes o que os funcionários pedem, ou estás entregue ao diabo, porque nessas instituições não existem livros de reclamações e os chefes estão sempre inacessíveis, protegidos por um forte aparato de segurança. O melhor que se pode fazer é fechar os olhos, engolir a saliva em seco e lamentar o acto, porque reclamar é o mesmo que tentar tirar leite de uma pedra. 
Não compreendo como é que esses incompetentes conseguem permanecer nos lugares de topo ocupando cargos de chefia. O único castigo que lhes é imputável é a troca de lugares, mantendo-se chefes, à mesma. Aprendi com o meu amigo Nkulu que, no futebol, nenhum treinador faz o 11 com os lesionados e incapazes. Conta com os que estão presentes e aptos.”, o que não acontece nessas instituições, onde a incompetência é premiada. Aquele que rende mais e tem uma ficha de serviço limpa permanece na condição de escravo para poder agachar sempre e fazer subir os chefes aselhas. Neste país, até os mortos mandam. Basta ser e ter apelidos da nomenclatura para fazer e desfazer. 
Entretanto, uns tantos imigrantes e uma certa raça conseguem tratar o bilhete de identidade num piscar de olhos. O vil metal fala mais alto. Quando um funcionário público envolve-se no negócio da venda de bilhetes de identidade, não só comete um crime doloso, como pratica um funeral contra o Estado moçambicano. Infelizmente, este é um negócio que rende tanto para os que a praticam como para os que deviam combater, razão pela qual não há sinais de abrandamento. Com o andar da carruagem, teremos gente a vender a nacionalidade nas ruas, porque o anormal, neste país, tornou-se absolutamente normal. 
Diferente tem acontecido nas vésperas das eleições, em que o cartão de eleitor é passado ao seu titular no mesmo dia, na mesma hora e às vezes no mesmo minuto. Percebe-se, pois há interesses políticos envolvidos. Os políticos é que são, na verdade, patrões do povo e não o inverso. ZICOMO (Obrigado).
P.S.: Grande parte das livrarias e bibliotecas públicas e privadas na capital do país continuam fechadas em gozo de férias. Um país economicamente exaurido, com uma população maioritariamente analfabeta, ainda se dá ao luxo de fechar as oficinas de investigação? Incrível. Seria o mesmo que fechar farmácias e hospitais, até uma data a anunciar. Isto é crime contra o desenvolvimento. 
WAMPHULA FAX – 02.02.2016

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