segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

ZOBUÉ E MORRUMBENE: UM POVO E DOIS DESTINOS DIFERENTES

Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com ) 

Zobué é uma terra de gente empobrecida e sem perspectiva de desenvolvimento económico. Entretanto, “O baixinho deve contentar-se com o comprimento do seu passo, porque, pelo menos, é superior aos de outras espécies: formiga, camaleão e grilo.” A parte entre comas foi extraída de uma conversa com o amigo Nkulu
No âmbito do meu périplo pelo país, iniciado a 20 de Novembro último, escalei o distrito de Morrumbene, situado na parte central da província de Inhambane. Em Dezembro de 2014, por voto familiar, visitei, pela primeira vez, a vila-sede de Morrumbene. Nas decisões familiares, salvo honrosas e esporádicas excepções, há uma prerrogativa que é costumeira nas sociedades africanas a qual assiste à “cabeça de fogo”, isto é, ao “chefe de família”, a qual sempre abdiquei por respeitar integralmente os princípios e valores democráticos. Esta prerrogativa consiste em recusar ou aceitar uma decisão sufragada pela maioria familiar, tenha ela razão ou não, porque o homem é absolutamente a principal locomotiva da família. Na sequência, durante o estádio em referência (2014), poderia ter optado por passar as festas do final de ano em Maxixe ou em Massinga onde, comparativamente a Morrumbene, os dois distritos encontravam-se, tal como actualmente, em situação económicas bastante favoráveis.
Consta que, no período colonial, Maxixe era posto administrativo pertencente à circunscrição de Homoíne e nessa altura Morrumbene já era circunscrição. A guerra fratricida entre as forças governamentais e a Renamo fez retardar o desenvolvimento económico de Morrumbene. Paradoxalmente, essa mesma guerra civil, levou o desenvolvimento da Maxixe, porque depois do massacre de Homoíne a elite mudou-se para Maxixe, tornando-a na segunda cidade de Inhambane e elevado a categoria de distrito. Morrumbene que conheci em finais de 2014 estava moribundo e sem progresso. A sua gente procurava, sem encontrar respostas plausíveis, as causas para o sofrimento que picava, impiedosamente, por todo o distrito. De antigo celeiro da província de Inhambane, Morrumbene passou a enfrentar graves situações de seca, fomes, deficiência de água potável, restrições de energia elétrica, enfim, pobreza multidimensional. As políticas públicas até então ensaiadas pelo executivo de Agostinho Trinta, governador de Inhambane, não eram satisfatórias para reanimar a economia do distrito de Morrumbene. A justificação da guerra, muitas vezes usada pelos nossos governantes como pretexto para encobrir a inércia mental, era extemporânea, mormente para um distrito que é atravessado pela Estrada Nacional número 1 (EN-1) e com fortes potencialidades agrícolas. Faltava uma acção clara e objectiva do que é preciso fazer quando uma população dorme sem comer e sem bússola do futuro. Não basta mandar camiões com donativos às populações para remendar a inoperância do executivo, ainda que sejam necessários em tempos de crise, mas sim aproveitar os recursos locais para transformar as adversidades em oportunidades. O sucesso de qualquer sociedade passa pelo somatório entre o Homem e a natureza. A forma como o Homem lida com os recursos naturais é fundamental para responder a simples pergunta sobre o atraso económico de uma sociedade. Porquê, então, desfalecia Morrumbene? Se os recursos existem, incluindo financeiros, porquê razão continuava Morrumbene na cauda de desenvolvimento? Porquê motivo o mar e os pomares não eram aproveitados? Faltava a fertilidade e a implementação das ideias. Faltava, igualmente, uma correia (políticas públicas eficientes) para que o motor (governo) funcionasse em sincronia com todos os outros sistemas (instituições públicas e privadas). O grande desafio de um dirigente consiste em reconhecer o erro e colocar a locomotiva nos carris. Repito, é preponderante saber encontrar fórmulas para que as adversidades sejam geradoras de oportunidades. E, neste aspecto, está de parabéns o governador Trinta. De facto, no espaço de um ano Morrumbene deu a volta à situação. O distrito está em franco crescimento. A energia eléctrica funciona normalmente, até parece que a Barragem de Cahora Bassa está lá instalada; uma grande parte da população já consome água potável, embora o precioso líquido tenha um horário limitado no fornecimento que vai das 6h às 22 horas; o comércio está a fluir e a prover emprego; a agricultura produz abundantemente e a fome passou a ser uma realidade de outras geografias; os motores das grandes máquinas não param de roçar como sinal inequívoco de que as indústrias estão a produzir; o mar é responsável pela alteração da dieta alimentar e já atrai turistas de toda a parte do mundo; a população já não tem que enterrar o metical nem deslocar-se a Maxixe para efectuar transações comerciais, com a existência agora de infra-estruturas bancárias (ao todo existem 3 bancos). Além disso, do ponto de vista da saúde, o reumatismo e os problemas da junta (articulação de ossos) foram ultrapassados com a instalação de farmácias, e não só, velhos e jovem dão gosto ao pé nas diversas casas de pasto e estâncias turistas existentes. Em breve, com a reabilitação da ponte cais, Morrumbene pode ser o ponto nevrálgico de desenvolvimento da província de Inhambane e do país em geral. Ao contrário de Morrumbene, a localidade de Zobué, no distrito de Moatize, continua a estagnada e perdida no tempo. Os vícios de uma administração desarticulada e mal organizada, outrora alojados em Inhambane, estão agora instalados em Tete. A situação calamitosa do Zobué é consequência directa da falta de estratégica de desenvolvimento do governo da província de Tete. Desculpe-me a rigidez, tenho mesmo que dizer isto: A população de Zobué sofre porque falta clareza nas políticas públicas aos dirigentes da província. Zobué foi em tempo não muito distante um chamariz em termos de produção de comida, actualmente tem gente a viver de tubérculos silvestres.
Zobué tem terras férteis para a prática da actividade agrícola. E a minha pergunta é esta: o que é feito desse potencial? Nada. Zobué faz fronteiras com o Malawi (geralmente as zonas transfronteiriças são catalisadoras de desenvolvimento, o que não acontece com Zobué), mas nem por isso a localidade avança. Porquê? A corrente eléctrica está dependente da boa vontade dos malawianos e a localidade está mais tempo às escuras. Até quando uma acção enérgica do governo de Tete? A água mineral é a única água potável, só para quem tem capital financeiro. Será que não há dinheiro para fazer furos? Zobué não tem uma única agência bancária (bem que Morrumbene ou Moatize podiam dispensar uma), sendo que a população continua a enterrar a moeda nacional. Parece-me que esta realidade ultrapassa a capacidade de análise dos dirigentes de Tete. Entretanto, os dilemas de ter que percorrer longas distâncias e sujeitos a acidentes de viação constituem uma dor de cabeça para a população de Zobué. As montanhas do Zobué que a prior parecem não ser úteis à economia devem servir de pranchas, pois são únicas no mundo. O clima de Zobué é diferente do clima de Moatize e por isso deve atrair turistas nacionais e das regiões quentes de África. O desporto deve colocar a localidade do Zobué no centro das atenções. A famosa missão do Zobué deve voltar a funcionar a 100%. Certa vez, respondendo à minha pergunta, ouvi de um alto dirigente de Tete uma tamanha besteira: “senhor Dias, o nosso distrito está cheio de pedras e não dá para produzir nada”. E eu tornei a perguntar se as pedras eram o motivo da pobreza do seu distrito? Não tive resposta, calculei que tivesse feito uma introspecção e daí tenha saído uma luz. Debalde. Esse distrito continua a afundar e o dirigente, paradoxalmente, foi promovido a deputado. Essas podem servir em zonas onde elas não existem. Com a resposta que tive facilmente compreenda razão de Zobué estar como está: POBRE. Sim, Zobué não é um distrito como Morrumbene, mas um dia pode vir a ser. O desenvolvimento de uma terra não pode depender da sua categoria administrativa, se assim fosse, cidades literalmente pequenas da Europa e até mesmo da região austral de África estariam atrasadas em relação às capitais distritais, provinciais, etc. Pequenas coisas fazem a diferença entre essas cidades. É verdade que Zobué e Morrumbene não há comparação possível do ponto de vista de desenvolvimento económico. E os que gostam de alimentar uma visão tribal dirão que Morrumbene é um distrito do sul do país e Zobué é uma localidade do centro do país. Existe distritos do centro e norte que estão mais desenvolvidos que os do sul do país. Portanto, o desenvolvimento do Zobué está dependente da mesma receita que Morrumbene teve de implementar: ESTRATÉGIA CLA-RAS DE DESENVOLVIMENTO. 
Zicomo (obrigado). 
WAMPHULA FAX – 28.12.2015

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