Canal de Opinião
Na caminhada aparentemente saudável para a menopausa (leia-se, aqui, maturidade), eis que, num giro, o país se vê ensombrado na crise dos quarenta. Sem precisar de lupa, eis que o país se afunda, levantando-se incertezas sobre a saída desta crise dos quarenta.
A crise dos quarenta é não sermos capaz de dissolvermos da nossa memória que o monopartidarismo, guerra civil, ditadura, falência do Estado, inflação, dívida externa, fraude eleitoral são os que mais nos atrasaram e mancham.
A crise dos quarenta é a nossa curta memória, que nos levou a descambar na guerra civil de 2012/2014 e que nos trouxe consequências nefastas para a economia.
A crise dos quarenta é a nossa falta de discernimento, que nos leva a gastarmos o que não temos, para a compra de armamento, abstraindo-nos de que foram as armas que nos faliram, pois até 1996 o Estado acumulava uma dívida de seis mil milhões de dólares americanos (metade da factura foi gasta na compra de armamento à antiga União Soviética).
A crise dos quarenta é suscitada pela falta de visão que leva alguns sectores do partidão a apostarem num hipotético fortalecimento do Estado, passando pelo desarmamento forçado da Renamo, e abstraindo de que tal fortalecimento, qual um peso e duas medidas, exclui a independência das instituições do mesmo Estado, dos órgãos mais sensíveis como a Comissão Nacional de Eleições.
A crise dos quarenta reside no clubismo e na curta visão de alguns sectores mais radicais do partidão que ainda acreditam que o país pode voltar ao monopartidarismo, ao centralismo do tipo soviético, a persistência com que agarram na ditadura como uma boia de salvação. A crise dos quarenta é como o radicalismo fecha as portas a uma possibilidade de convivermos no respeito das diferenças.
A crise dos quarenta é a visão tacanha, o medo, com que os radicais se assustam na perspectiva de se abrirem espaços para uma segunda democracia, disse-o bem, uma segunda democracia, como advoga uma franja de concidadãos, que passa por eles escolherem quem os governa nas suas autarquias provinciais, na base da qual os Governos provinciais sejam representados por aqueles que estão mais próximo de compreender as suas idiossincrasias e necessidades, que o produto interno bruto seja repartido a um nível mais próximo da base.
A crise dos quarenta é a manifesta forma como estes sectores estão distraídos e concentrados nos seus próprios umbigos, de tal modo que lhes falta o discernimento capaz de perceber que autarquias provinciais equivaleriam a ampliação democrática. Estimularia a distribuição da renda, a níveis descentralizados, e dentro do âmbito dos sectores mais próximos que impulsionam a dinâmica económica, política e social do país.
A crise dos quarenta, ao contrário “sensu”, reside na menopausa com que os sectores radicais do partidão querem ver o país a andar nas suas contas bancárias, nos seus negócios, nos seus interesses privados, no tráfico de influências, na manipulação, no gangsterismo, no clientelismo, que está na base do seu favoritismo ao centralismo e na recusa do que é óbvio. Este é o busílis da questão.
Há que pararmos. E pensarmos que a falta de discernimento é sinónimo de cegueira que afecta este sector radical, incapaz de olhar para dentro de si mesmo.
Pensemos: se o colonialismo promovia a mesma selectividade, a mesma estigmatização, qual é a diferença entre o colonialismo endógeno e exógeno?
Estejamos atentos aos sinais: a crise dos quarenta, qual a cegueira, pode precipitar o país para mais uma guerra civil. Prevejo, mas não desejo. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 23.12.2015
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