domingo, 20 de setembro de 2015

O guarda com sentido de dever




Eu gosto do Mia Couto. Gosto do que escreve. Gosto da sua imaginação. Gosto da sua criatividade. Gosto da forma surpreendente que ele tem de dizer verdades incômodas. E não sou o único, o que revela a sua grandeza. Dou-lhe os meus parabéns pelo doutoramento honoris causa. Acho que esse é o doutoramento mais difícil de conseguir. O outro, o normal, é assunto de cumprimento de dever. É, para usar a insinuação de Mia Couto durante a sua oração de sapiência, algo que se obtém sem mesmo conhecimento… mas doutor honoris causa significa o reconhecimento por aquilo que nós fazemos pelo nosso talento, pela perseverança, pela dedicação. Qualquer pessoa pode ser doutor de verdade, mas nem todos podemos ser doutor honoris causa, pois enquanto o primeiro trabalha para esse fim dentro de parâmetros claros, o outro nem aí está, e mesmo assim pode ser reconhecido.

Li a sua aula de sapiência com muito interesse, como aliás deve ser quando se trata de Mia Couto. É uma aula que contém ideias brilhantes, chamadas de atenção pertinentes e ainda por cima, eivadas do humor fruto duma capacidade de observação do quotidiano que só ele tem entre nós (e, aposto, no mundo inteiro). O conjunto da aula, contudo, incomodou-me mais do que me estimulou. As verdades pareceram-me simples demais, os pressupostos na base dessas verdades pareceram-me fruto dum tipo bastante superficial e nocivo de análise que é característico da nossa sociedade, a base normativa chegou a mim como algo rebuscado, amnésico em relação ao passado que está na origem de alguns dos males por ele apontados, uma base normativa que nega aquilo que a própria aula queria transmitir, nomeadamente a ideia de que Moçambique é um lugar que pode ser para todos, um lugar, portanto, onde cabem todas as sensibilidades, incluindo as daqueles que acreditam em valores desprezados por outros.

Explico-me. A aula chegou a mim como uma crítica velada a Guebuza. O que me incomoda nisso não é a crítica em si que isso é assunto do próprio Guebuza e, já agora, da Procuradoria Geral da República… Incomoda-me, isso sim, a repetição de lugares-comum, a ausência de esforço em entender as condições que produziram a cultura política e pública tão características do segundo mandato de Guebuza, e o recurso a uma análise do tipo censura para entender os desafios enfrentados pelo país. É opinião assente em Moçambique que passamos por uma experiência de governo caracterizada pela arrogância do poder, ganância pessoal e o uso de vocabulário sugestivo, mas oco. Tudo o que foi feito nos últimos dez anos reduz-se à impressão com que ficamos dos últimos cinco anos do mandato de Guebuza e, sobretudo, da reacção do governo e do próprio chefe às críticas, algumas vezes justificadas, outras vezes simplesmente injustas e incoerentes. Algumas das reacções de Guebuza a jornalistas foram simplesmente mal reportadas pelos jornalistas, arrancadas do seu contexto e colocadas ao serviço da reprodução duma imagem fixa que esses jornalistas tinham dele.

Espanta-me que pessoas que têm percurso na Frelimo tenham pouca sensibilidade para a forma como aquela organização funciona. Quando Guebuza tomou as rédeas da Frelimo fez um grande investimento na revitalização do partido – muita gente esquece que durante o consulado de Chissano muitos se tinham afastado, sobretudo aqueles que durante o consulado de Samora Machel tinham o poder e, muito possivelmente, se opuseram ao fim negociado do conflito com a Renamo. Uma das coisas mais bonitas que aconteceram quando Guebuza subiu ao poder – para quem é simpatizante da Frelimo – foi ver o regresso (à lucidez), mas também ao trabalho do partido dessas pessoas. Guebuza investiu muito nisso, apesar de tudo. Estou a pensar no caso bem específico de Marcelino dos Santos. Quem não se lembra da desgraçada imagem que ele fazia de si próprio por aí, confirmado alguns dos defeitos que lhe tinham sido apontados por Janet Mondlane na sua auto-biografia? Quem não se revoltou com isso sabendo o que tinha acontecido a pessoas que se haviam comportado daquela maneira durante os anos gloriosos da Frelimo? Para percebermos porque algumas dessas pessoas se tornaram tão hostis a Guebuza não é suficiente convocar termos simplistas como corrupção, ambição, ganância e arrogância. É preciso também perceber que agendas entraram em choque lá na Frelimo e que tipo de agenda reunia consensos. Não creio que tenha sido a agenda do enriquecimento fácil que vingou no interior da Frelimo. Foi uma agenda pragmática distante do populismo revolucionário que tanto mal fez ao nosso país. O facto de o país atravessar um momento económico e político que facilita muito o enriquecimento fácil, o oportunismo e a ganância precisa de ser analisado. Não é um indivíduo que é responsável por isso. Isso é simplista demais. Por muito que Nyusi jogue à bola com crianças, vá à Igreja rezar por mais encontros com Dhlakama, etc. só a sua atitude não vai mudar muita coisa enquanto não analisarmos as condições estruturais que determinam muitos destes comportamentos problemáticos. Ademais, estamos a ver no julgamento que decorre agora que o discurso de “traição dos valores revolucionários” é muito forte e é minha impressão que precisamos de olhar para esse discurso também para percebermos porque a nossa representação dos últimos dez anos é bastante simplista. Eu acho caricato que o Mia Couto fale do luxo em que viveu enquanto compunha o hino nacional no meio de toda a miséria daquela altura, mas não encontre palavras para julgar isso e o tipo de política que produziu essas contradições, mas tenha muito a criticar aos que hoje se enriquecem. Porque é que a vida aparentemente de luxo dos dirigentes de então não deve merecer reprovação moral? Não percebo.

O Mia Couto falou, e muito bem, da erosão dos valores morais. Isto é muito importante, desde o momento que essa erosão não seja vista como algo de hoje (ou pior ainda, dos últimos dez anos). E aqui gostaria de abordar uma questão que me incomoda bastante no discurso moralista da actualidade no nosso país. Muitos daqueles que criticam o estado actual das coisas não têm a rectidão de falar donde isso vem, falar da responsabilidade que a folia revolucionária deve assumir e, acima de tudo, distanciarem-se elas próprias de forma clara e inequívoca dos excessos desse tempo (e, se for o caso, do seu próprio papel nisso; no mínimo deviam ter a coragem de nos dizer o que fizeram para evitar esses excessos e, se nada fizeram, dizerem porque não fizeram, e pedirem desculpas por isso). O que hoje chamamos de Guebuzismo é talvez um dos extremos (o outro foi o Samorismo que poucos dos apóstolos morais criticam – o seu quinquagésimo aniversário foi festa nacional, isso não era lambe-botismo?) do poder da Frelimo, um poder que sempre se constituiu na definição de quem pertence, e quem não pertence. A incapacidade revelada por Guebuza de lidar com um poder absoluto é típica da Frelimo e foi bem patente nos primeiros anos da nossa independência até à morte de Samora Machel. Reduzir essa incapacidade a Guebuza parece-me bastante simplista, ainda que com isso seja fácil marcar pontos numa esfera pública que confunde a crítica com a auto vitimização. Os aplausos que vejo por aí ao interessante discurso de Mia Couto não são apenas o reflexo de algo merecido. São também uma manifestação da miséria da nossa crítica, uma ilustração daquilo que o próprio Mia Couto critica, nomeadamente aplaudir quem diz mal dos outros.

Numa outra ocasião vou querer falar de aforismos como “a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos”, ou, já agora, “o outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores…”. São excelentes aforismos, mas numa esfera pública onde eles não são debatidos para se saber o que o autor queria dizer servem facilmente para que cada um de nós forme a sua ideia de “ricos” ou de “doutores” que devem ser abominados. Seria um outro texto. Mas é evidente que a produção dum rico em si não precisa de entrar em conflito com a riqueza, muito menos com a distribuição justa da riqueza. Mais desgraçado é o país pobre que nem um rico consegue produzir. Quando ele é capaz de produzir um rico devemos ficar contentes, pois isso revela potencial. A discussão, contudo, deve ser em torno do que impede outros de se tornarem ricos e o que acontece com essa riqueza. Mas, lá está. Somos herdeiros dum discurso marxista mal digerido que nos leva imediatamente a abominarmos qualquer coisa que cheire a capitalismo mesmo quando nas nossas práticas quotidianas não fazemos outra coisa senão emularmos, em silêncio, esse modelo de vida.

Parabéns ao Mia pelo reconhecimento. Não quero estragar uma festa merecida. Mas acho que se a mensagem tivesse incidido no guarda que cumpriu o seu dever, e menos numa imagem caricaturada do seu chefe, teria sido mais instrutiva, pois esse é que sempre foi o nosso problema, ou melhor, o problema da Frelimo, a saber o lambe-botismo que toda a cultura política autoritária fomenta. E não foi Guebuza que inventou isso.






Comments

Elisio Macamo escrevi este texto no meio de muitos afazeres. não vou ter tempo, hoje, para o discutir. talvez amanhã à noite ou na próxima semana...

Tesoura Júlio Tuboy Mia Couto, homem d Verbo, e fala fácil. Tenho dito.

Chil Emerson David Quero acompanhar o debate!

Mário João Francisco Francisco Professor não prometeu, mas queria ver um seu texto sobre julgamento doutro Professor, refiro—me do Castel—Branco, se me permite.
Se não puder, também compreendo. Mas é porque apesar eu ter minha visao própria, tenho me inspirado em seus posts. Eles são um guião pra muitos.
Agora sobre o couvite de discussão deste texto, eu não vou puder não pelo tempo, mas pela capacidade. Sou muito ignorante.

Rildo Rafael Professor! Bom dia! Apenas um comentário rápido! Voltarei ao texto! O luxo de ontem referido pelo Mia pode não ser o luxo de hoje! O luxo que o pobre considera como tal pode não ser o luxo que o rico considerava como luxo! Talvez ai o Mia estivesse admirado com algumas das regálias e beneces que disponibilizaram ao grupo numa missão de Estado e metaforicamente as designou de luxo! Esse luxo consistia segundo ele estar diante de uma piscina e ter as marmitas rechedas de comida, a mesma que eles recolhiam para casa para presentear a família!

Cremildo Bahule Também estou aqui para acompanhar.

Chil Emerson David Rildo Rafael , e tem mais, o facto dele ter dito, humildemente - note-se , não foi a primeira vez - que sim, esteve em tal luxo e que partilhou com os seus familiares ... Nao merece certo respeito? Fe-lo, nao se orgulha disso embora fale e se lembre com sorriso nos labios, mas fala na maior humildade, abertamente, pois apesar desse "erro " , cumpriu a missao. Isso chama se caracter!

Ps: Gostaria de saber, quem nao teria feito o mesmo?

Nita Aquino Gostaria de acompanhar e ter acesso ao texto do Mio Couto que te inspirou.

Elisio Macamo dá no mesmo, Rildo. a nomenclatura comia, o povo não. isso também deve ofender e merece ser abordado num discurso que fala também de moral. naquele tempo havia lojas de dirigentes, porquê se o princípio era primeiros em sacrifícios e últimos em benefícios? percebes?


Geraldo Mandlate A diferenca reside no facto de o Dr. Elisio ter como seu foco é o partido e guebuza , o discurso de Mia , tem como foco a nacao. Pode ter pessoas, momentos, partidos, etc como refencias , mas tem uma visao maior.Vamos esquecer por instantes o nosso partido e pensar a NACAO.

Sidonio Givandas Escrever para nao se ler o que vale ,talvez para o museu da leitura a ser criado em breve.,...

Ce Henriques Gostei de ouvir o Mia. Gosto, na mesma proporção, dos entretantos trazidos aqui pelo Professor.

Osh Macamo Interessante abordagem. Digerindo...

Noe Nhancale Ainda estávamos a degustar o texto do grande Mia Couto la vem o Professor entornar o caldo e estragar a festa, kakakakakakakakaa, brincadeira, mas realmente levanta questões pertinentes e ainda estou a digerir......

Jaime Bambo Embora não concordo em grande medida os fundamentos desta reflexão, é preciso reconhecer que foram bastantes coerentes e, na minha opinião, é um grande exercício no debate de ideias e aceitação das diferenças. 
Espero que os que queiram comentar, acrescentem valor ao debate, discutindo ideias e não pessoas!

Lindo A. Mondlane Interessante reflexao.. De guebuza o erro foi confundir interresses individuais com os do estado, ou seja quando viajava em missao de servico, nao se sabia onde terminava o chefe de estado e comecava o empresario (tenho conhecimento de situacoes de genero nestas bandas que seriam vergonha para qualquer chefe de estado com sentido comum) de nao ser isto podia perfectamente haver sido o melhor presidente de todos, porq tem uma concepcao clara de estado, nao se deixava chantangeiar, me custa imaginar o guebuza implorar um encontro desde uma igreja.. Me custa ver o guebuza ver alguem ameiacar cidadaos e ficar tranquilo..ele sabe como funciona o estado... Bom nao falei de mia...

Paulo Inglês Muito interessante! Em Angola também há essa dificuldade. O Pepetela, um grande escritor, quando faz umas críticas ao momento político em Angola, algumas certeiras, as pessoas com alguma memória dos anos 70 e 80 riem-se...principalmente os familiares daquelas pessoas que o Partido decidiu que não deviam continuar vivas...

Eliane Veras Elisio Macamo, embora não tenha lido o discurso do Mia Couto, achei o texto aqui interessante principalmente por levantar questões como a nossa dificuldade (não só dos moçambicanos, penso aqui nos cientistas sociais de modo geral) em analisar o presente e a tendência em idealizar o passado... beijnhos

Américo Matavele A perspicácia na análise é um elixir dos deuses. Por agora fico por aqui.

Ce Henriques Chiça! Xilungu xabindza pah! Awena!

Américo Matavele Traduzi de changana no google translator. Eh eh eh eh eh...

Cândido Langa Na questão da "erosão dos valores morais", O Mia não se referiu ao tempo específico da Era Guebuza , mas sim duma decadência constante da moralidade. Pois até diz: "Há cerca de trinta anos atrás Graça Machel - que era então Ministra da Educação - convocou um grupo de escritores para lhes dizer que estava preocupada". Acredito que este é um sinal desta decadência da moralidade que vem já de muito tempo. Não se refere aos dez anos da governação do Guebuza. 

Por consequências desta imoralidade, acredito eu, que o País está é a produzir endinheirados ao invés de ricos propriamente dito. 

Resumindo, a riqueza passa pela moral antes do dinheiro, da ambição. Riqueza esta na nossa forma de pensar.

Mário João Francisco Francisco Li um pouco o texto de Mia Couto. Não vejo: frases nem ideias anti Guebuza;
Proibição do despezismo;
Nem responsabilidades particulares do estado do nosso Estado à Guebuza....Ver mais

Carlos Edvandro Assis Ate ja se criou um batalhao (exercito) de bajulacao (lambe botismo) no nosso pais! Demonstracao esta feita pelo Mia quando intrinsicamente diz na cara do Presidente da Republica"O sr sabe que eu nao faco parte deste exercito".

Francisco Wache Wache Professor, Estou aqui a tentar ler o seu texto. Estou ja na terceira leitura. Se aqui que vou dizer a seguir não tiver nexo, perdoe. Queria chamar aqui a atenção para, nesse texto, Não se tomem palavras literalmente, sob o risco de, De facto, pensarmos que ele, o Mia, construiu um discurso inteiro entorno da figura guebuziana. É não me parece que, e o maior perigo está ai, Que as suas palavras resultem de uma simples análise do mandato guebuziano. A sua análise, é o que eu percebo, resulta da sua experiência da vida, dos momentos que o paus viveu e que vive. Agora, há muitos aspectos nesses momento que são negativos, sobre os quais o Mia fez um todo discurso. Esses aspectos, isso sim, alguns podem reflectirem o que guebuza fez, alguns reflectirem o que samora fez, alguns reflectirem o que chissano fez. Outros ainda, reflectirem o que a Renamo fez e outras o que a Frelimo está a fazer e fez. Reparo pa a este discurso com um olhar neutro e sem paixões.

Francisco Wache Wache Nota. Esse texto é quase literário, Não é por acaso que aparece frases como:"mia, Queria ser honesto, faltam-me pqtrocinio". Se essa minha leitura for verdadeira, vou respeitar a isotopia Que o professor traçou, mas nao é a única, e me parece muito deslocada, Essa isotopia, do texto.

Egidio Vaz Excelente interpelação Professor Macamo principalmente por nos oferecer (e insistir) uma oportunidade para analisarmos as condições que possibilita (ra)m a emergência do homem que homem abominamos – Guebuza. Também o texto é-me útil na medida em que chama atenção para uma análise do conjunto das contradições, grupos de interesse conflituantes que culminaram com a produção de Guebuza actual. Tudo bem
Irei socorrer-me da ideia de governação de Francis Fukuyama para sugerir a preponderância do chefe e a sua centralidade na moldagem do que acabou sendo conhecido por Guebuzismo.
Fukuyama ao observar capacidade de prestação de serviços e a eficácia das burocracias de países como China e Singapura notou que apesar destes não serem regimes democráticos como os EUA, eram pelo contrário, mais eficazes e mais responsivos aos problemas da população muito embora ao mesmo tempo os seus cidadãos não poderem participar nas decisões e opções de políticas. Neste países, porque as lideranças não prestam contas, o primado da lei não é observado e os dirigentes não são politicamente responsabilizáveis perante o povo, o dirigente, neste caso, o chefe é central na moldagem do estilo e espírito de governação. Fukuyama também observa que nos EUA, porque o sistema de contrapesos é eficaz não tem sido fácil chegar-se a decisões sem que para tal haja debastes acesos, as vezes, desnecessários. Comparativamente, a eficácia na prestação de serviços públicos é maior nos países como China e Singapura do que nos EUA.
Ora, se por um lado é pertinente apreciarmos as condições que tornaram possível o guebuzismo, nos termos descritos pelos seus críticos, é lícito e compreensível aferirmos o papel do chefe na consolidação deste mesmo guebuzimo.
É verdade que apesar de a Frelimo manter um razoável sistema de freios e contrapesos (os famosos órgãos) é sobre o líder que em última instância vai inspirar o resto. João Pereira (2008) ao estudar as limitações do voto económico na reeleição da Frelimo encontrou no CLIENTELISMO um dos factores para a coesão das elites. E num sistema clientelista, o papel do chefe é crucial senão mesmo preponderante. A analogia usada por Mia de que a política é uma panela é tão funcional e coloca o chefe (o controlador da panela) no centro das atenções. Consequentemente, as estratégias de sobrevivência de todo colaborador do chefe-controlador da penela-passaria por conhecer melhor o seu chefe.
Portanto, chegando até aqui, gostaria de sugerir que SIM existem muitos guardas sobre os quais deveremos lançar as nossas críticas. Porém, estes guardas não estão necessariamente à porta da entrada mas sim ao redor da grande panela, com o chefe. A colher é única e está com o…CHEFE.
Tendo dito deixe-me também concordar consigo num aspecto que me parece fulcral. Estes guardas que tornaram Guebuza no monstro que é, somos sim todos nós, aliás, nem todos nós, mas os que poderiam a tempo ter criado condições para conter os excessos e influencia-lo de outra maneira.
O resto, quanto o fortalecimento da Frelimo, ainda que plausível, o seu efeito foi contraproducente na medida em que contribuiu para ainda diluir os esforços da construção de um estado de direito, da separação de poderes e da prestação de contas. O próprio professor escreveu sobre isso na série “O poder da Frelimo – o que o congresso não discutiu” em que defendia que o burocrata precisava de certezas para agir em conformidade com a lei. Quem poderia conferir tais certezas e garantias num contexto em que o chefe estava rodeado de guardas e que estes guardas não eram a constituição e demais legislação aplicável na gestão do estado moçambicano?

Nelson Mugabe Parabéns #Prof #ElísioMacamo, pela reflexão. É recorrente atribui diversidade, pluralidade só para sociedade civil e seus agentes, e para o Estado e seus agentes não. Eles sempre são vistos de maneira homogeneizada e simplista.

Carlos Edvandro Assis Eu acho que o Presidente da Republica no seu uso de palavras para parabenizar ao Mia Couto nao devia ter usado a palavra "apenas" porque tira o impito daquilo que devia ser o sentimento dele em relacao a nobreza deste acto tornando-o muito simples. O presidente da Republica diz " Quero apenas parabenizar ao ..............." achei tanta simplicidade (ou ate a retirada da nobreza) deste grande e ate majestoso acto.

Geraldo Mandlate Só venho rever os que conseguem sair da abordagem partidaria e pessoal para uma visao ESTADO. Ja nem fico desiludido.

Clayton Johnam Eu também, a semelhança de Francisco Wache Wache. Não vejo no discurso uma crítica velada ao Guebuza. O Mia falou de várias coisas, inclusive da postura incoerente da Renamo. E se alguma carapuça foi destinada a servir a Guebuza, encaixou-lhe perfeitamente! De resto professor, eu acho que o texto de Mia Couto, é um texto de reflexão sobre a moralidade (incluindo a dele) de uma sociedade que clama pelo resgate de valores alicerçados a ela que se julgam perdidos, uma espécie de provocação a todos nós, para ajudar-nos a pensar sob que alicerces queremos costurar a nossa nação. Reduzir a aula de Mia a dimensão de um discurso crítico a Guebuza transparece uma análise demasiadamente simplista. Talvez, como confessou, deveu-se ao facto de estar a fazer muitas coisas quando escrevia as linhas com que nos brindou. Abraços.

Ilidio Lobato Obrigado professor Elisio Macamo pela reflexao coerente sobre o speech do Mia Couto. Particularmente gostei de ler o discurso de Mia, traz alguns pontos importantes sobre a necessidade de se construir uma nacao forte e unida. Tal uniao se funda no reconhecimento das diferencas e das instituicoes democraticas existentes. Mia falou da uniao convocando, para a refexao, o sentido de familia, onde todos se respeitam e/ou se toleram. Portanto, o "nos" substituiria o "eu" e "outros". Sao criticas legitimas do Mia, que na sua opiniao teveram o ponto mais alto no mandato de Guebuza. O que me inquieta no discurso de Mia e o seu empirismo imediato, isto e, forca conclusoes a partir da primeiras observacoes e, por vezes, a partir da sua propria opiniao (o que e mais grave ainda). Partiu dessa realidade para encher o chefe de Estado actual de elogios e algumas comparacoes implicitas entre este e o anterior. Mia, a semelhanca de muitos mocambicanos que vivenciaram internalizaram a revolucao tem uma visao romantica, fantastica do passado. Para eles o periodo da revolucao e inquestionavel, e sagrado e deve servir de ponto de referencia sobre qualquer realidade que se pretenda construir. Para mim, o discurso do Mia, ja interessante, seria mais rico se tivesse mantido a objectividade e abster-se de um discurso que, de inicio, parecia um ajustes de contas com o passado recente, tentando diminuir, atraves da comparacao (muito subjectiva) o antigo chefe de Estado. Por fim, sobre o titulo de Doutor Honoris Causa, nada a dizer. Foi, na minha opiniao, mais que merecido, nao fosse eu leitor (fanatico) do Mia ha anos. Elisio Macamo

Amosse Mucavele O Mia falou de bajuladores do PR e entrou a bajular o PR. Nyusi, e parece me que faltou alguma honestidade intelectual na parte dos que participaram na redacção do hino, falou de todos, e deixou numa primavera sem flores o Salomao Manhica. Parabéns Elisio Macamo por trazer o outro lado do discurso de Mia

Cri Essencia Chama-se endosso nao bajulacao:).

Mário João Francisco Francisco Carlos Edvandro Assis, penso que é habito de presidente nyussi usar "apenas" mas não com intensão de menosprezar. As comunidades africanas quando veiculam o português leva consigo o costume ou tradução direta de alguns signuficados. Dizia ele para tama...Ver mais

Clayton Johnam Caro professor Elisio Macamo gostaria de interpela-lo para o seguinte: Quando sugere que se deve procurar entender a origem dos problemas em Moçambique (incluindo o Guebuzismo e Samorismo), ou seja, as características e o circunstancialismo que ditaram o seu surgimento, é para que isso nos revele que verdade? Esse exercício é para desculpar a alguém? É para encontrar outros culpados? É para reduzir a culpa de alguém? Somente os circunstancialismos é que definem e contextualizam a acção dos indivíduos? Que reencontro, na verdade, quer que se faça com a história e qual sua motivação? A ausência desse exercício deslegitima a crítica sobre o que actualmente esta mal? Se sim, porquê? Aguardo suas respostas. Quero deixar bem claro que acho que sua sua proposta de reflexão é coerente (embora julgue que não seja única), mas gostaria de entender a sua posição e porquê que exclui outras formas de se verem os problemas!

João Barros Mais uma vez, parabens pela reflexao. De todas as formas Professor, apesar deste doutoramento ser o mais difícil de conseguir, na sua optica, prefiro o seu, apesar de ser de cumprimento de dever. Para muitos anonimos, este e o unico e autentico que se pode conseguir. Penso que entende o que pretendo dizer!

Júlio Mutisse Num país normal este exercício é normal. Uma dissertação ser avaliada pelos pares, ser discutida e criticada abertamente. Acho que é isto que o país precisa. Gostei do discurso do Mia, não como uma reflexão acabada mas como um ponto de partida para discutirmos o país que somos e o país que queremos ser. A discussão começou.

Alcídes André de Amaral Interessante reflexão. Na verdade é isso que andamos sempre a falar e parece não ser suficiente. O segundo mandato de Guebuza foi só de estragos porque esquecemos sempre do passado - aí incluindo os primeiros cinco anos. Todo passado é esquecido e é re...Ver mais

Euclides Da Flora parabéns professor Elísio macaco


Celsio Bila Mia expressou os seus sentimentos... Ainda vou reler o texto do professor Macamo.

Chigamoney Grande Boa tarde, Professor Elisio Macamo e comentadores! 
Alguém dispõe do texto do Dr. Mia Couto? É que tive acesso a ele! Peço-o!

Nelson Alicene Tambem pode ir ler na integra no facebok de BorgeBorges Nhamirre


Rildo Rafael Envia teu email

Chigamoney Grande Obrigado, Toldo Rafael! Mas já tenho e estou a degustar da leitura!


Clinarete Munguambe Wena Elísio urandza ku txela missava ka matilho ya vano

Lucio Posse Eu achei o post muito relevante para analisarmos o discurso de Mia Couto.


Maria Helena Franco Machavane para mim faltou tacto na análise da aula de sapiencia do Mia Couto,..... Infelizmente.

Luís George Generoso Professor Elisio Macamo, "Eu gosto do Mia Couto. Gosto do que escreve. Gosto da sua imaginação. Gosto da sua criatividade. Gosto da forma surpreendente que ele tem de dizer verdades incômodas. E não sou o único, o que revela a sua grandeza. Dou-lhe os meus parabéns pelo doutoramento honoris causa." Também gosto, mas entro exactamente na mesma encruzilhada que apresenta neste seu texto que remete a reflexão introspectiva. Nota-se uma inversão das premissas, a sociedade aclama a mensagem axiomatica, muitas das vezes "possuída", porém é preciso escalpelizar em toda extensao para que encontremos o real sentido das multfacetas figuras encarnadas em Mia Couto corpus. Doutor Honoris Causa inquestionável, e merecido, mas vou o confidenciar, meu desejo que tivesse sido a nossa cátedra UEM, mas nunca é tarde para este e outros tantos.

Graca Zandamela Dr. Elisio Macamo li e reli o discurso n vi Nada contra Guebuza mas sim contra tdo errado k acontece n actualidade
E um discurso k Mia apela a paz. a moral. E um discurso profundo

Rildo Rafael Graça Uficsiana!!!!


Alexandre Devissone O professor Elisio Macamo, não tem mais nada a provar a sua capacidade de elaboração, aprsentou aqui as duas faces da moeda o que muitos não conseguem.Volto a reler o texto pra entrar no debate de idéias. Rildo Rafael chute o texto por favor.devissone33@hotmail.com



Rildo Rafael Prezado professor! 

Vou iniciar esta minha singela contribuição ao debate com uma passagem do seu texto:...Ver mais

Celsio Bila Professor Macamo, parabéns pela reflexão.... oportuna e típica da academia... obriga - nos a reflectir ainda que embriagados pelo perfume bom da aula do professor mia couto... já agora aproveito o ensejo endereça-lo os meus parabéns pelo reconhecimento merecido. Senti no discurso do mia um sentimento de que os políticos são neste país os mais privilegiados do que os demais independentemente de mérito e eles lutam para abocanhar tudo que podem. E não é verdade? Vão dizer verdade simplista. Ora, entendo também que o problema é estrutural ao ponto de adoptarmos um modelo político presidencialista em que praticamente os três poderes de Montesquieu estão na mão do presidente. Ou seja, poder executivo é este titular... O judicial este é o que nomeia... e o legistativo? Prontos... O jogo do partido com maior representação parlamentar, e quem é presidente do tal partido? Andamos aí às voltas. E se formos a ver quem nomeia o presidente do cc? Prontos, a coisa gravita por ai e entendo que, ainda que mal, ou infeliz, o presidente deve acarretar com todo o mérito, quando é o caso é com todo o demérito. .. porque no fim ele é que tem a faca e o queijo na mão. Tenho pensado.

Rufino Infante Mia Couto é de outras galáxias

Amilcar Joaquim Inguane Da ressaca da aula de sapiência do mais fresco Doutor Honors Causa sobre o seu entender do pulsar do moçambique actual, acordei brindado com a inquietação do Prof. Macamo que nos chama atenção a uma observação simplista e tenta nos levar a reler o tex...Ver mais

Edson Chiziane Emídio Munguambe venha lêr a outra face da moeda

Eliha Bukeni Tambem gostei da aula de Mia. Nao gostei de o ver tratar o Nyusi sugerindo que e melhor Guebuza, pois e ainda muito cedo para essa comparacao, para alem disso rossar a bajulacao. Caro professor, a ideia de que AEG foi vitima do contexto da FRELIMO me parece algo protectora, pois a historia revela que ja Samora Machel tinha se dado conta do comportamento ganancioso e ambicioso de AEG. Carlos Cardoso icone do jornalismo investigativo tambem escreveu: Guebuza NAO em alusao a possibilidade de ele ser candidato a PR. Hoje toda gente se indaga do pretenso combate a corrupcao dirigido a Almerino Manhenje, quando ao fim do seu mandato a lista de casos mal parados ate levaram as empresas de notacao financeira a colocar o pais no nivel de lixo!

Cri Essencia O que o Mia apresentou foi um discurso e nao um manisfesto. Logo, nao tinha a obrigacao de expor e rebater opinioes e realidades dispares quanto a historia de governacao em Mocambique. Ainda que nao seja cegamente “Machelista”, nao cabe neste tipo de plataforma, explanar suas teses sobre o que correu bem e o que correu mal no tempo de Samora Machel, Chissano e Guebuza. Neste tipo de eventos, os homenageados, discursam sobre as suas opinioes, estorias de vida e gente que os tenham inspirado ao longo das suas vidas e designios. 
Mia Couto ‘e da Frelimo. Ele identifica-se com os ideais originarios da Frelimo que, no que toca ao seu discurso, podemos salientar os seguintes exemplos: 
- Unidade Nacional de todos os mocambicanos, independentemente da tribo e cor de pele;
- O PR coloca os interesses da nacao, do povo a frente dos seus interesses pessoais. A terra pertence ao povo e por tal, tudo o que ela produzir deve ser redistribuida pelo povo. 
Perguntas para o Professor: 
1- Acha legitimo que um Presidente de um pais relativamente pobre se torne socio de grandes empreendimentos inseridos no pais? Acha tambem legitimo que tal comportamento se estenda a sua familia ao ponto de, em tao pouco tempo, sua filha configurar na lista dos mais ricos de Africa? 
2- Aos olhos do povo e da oposicao, a conducao do pais por Chissano nao deixou a desejar, ainda que nao tenha sido perfeita. Nesta optica, o que ‘e que nos interessa que o Guebuza tenha reestabelecido harmonia no seio da Frelimo? Se tanto privilegiamos a despartidarizacao do estado, nao vejo o porque do Guebuza merecer aplausos por este feito, a nao ser que a nossa instabilidade e retrocesso tenha sido devido a tal descoordenacao? 
3- Guebuza pos ou nao pos em causa a mocambicanidade do Mia Couto ao distinguir mocambicanos de gema/mocambicanos nao de gema tendo por base a cor de pele? Este comportamento fere ou nao fere um ideal basilar da mocambicanidade?
Alguns de nos devem ter lido Mia Couto escrever sobre o esforco que se fez apos a independencia para a “construcao da identidade mocambicana”, construcao essa em que escritores, pensadores mocambicanos da epoca fizeram parte, incluindo o proprio Mia Couto. Ele ‘e biologo mas passa a vida a ser antropologo tambem. Bebe da nossa cultura e procura instruir-nos sobre ela. O Mia ‘e capaz de ser mais mocambicano que eu, que sou negra e tenho apelido machangana. Como ‘e que um PR, tendo feito parte da revolucao mocambicana, tendo acompanhado os esforcos para a “construcao da identidade mocambicana” pos independencia vai agora sugerir que Mia Couto nao ‘e mocambicano de gema por ter a cor de pele branca? 
E porque acontece nos paises mais civilizados, compreendo o conceito de “mocambicano de gema” mas nao concordo que deva ser associado a cor de pele. Longe de mim iludir-me com aqueles que sairam de Mocambique em 1974 bebes, para Portugal, crescendo a olhar condescendentemente para Mocambique e agora voltam a correr, a procura de colocacao no Mercado de trabalho. Estes, podem nao ser mocambicanos de gema. Qual ulitidade tera essa distincao, nao faco ideia. O que quero frisar ‘e que mocambicano de gema tanto pode ser Khan como Cardoso ou Nhantumbo. O PR foi infeliz ao por em causa esta constituicao mocambicana que vem de seculos. E ao po-la em causa, estara a contribuir para instabilidade no pais, ainda que hipoteticamente. Devemos ter muito cuidado com este tipo de sensibilidades; devemos valorizar a nossa harmonia cultural pois, conforme tenho repetido, ela nos ‘e invejada pelos ditos mais civilizados. ‘E precioso que nao nos odiemos pela nossa aparencia genetica. ‘E preciso preservar este aspecto, prestar atencao as influencias intolerantes que nos sao trazidas ou que nos vamos buscar la fora. 

Em suma, Guebuza pos ou nao pos em causa os ideias da Frelimo, mais do que os seus antecessores, Sr. Professor?


Custodio Duma Opa Amosse, o Prof. Elisio é caracteristico, aprofundar as ideias para nao se equivocar.

Dilman Michaque Gabriel Mutisse "Somos herdeiros dum discurso marxista mal digerido que nos leva imediatamente a abominarmos qualquer coisa que cheire a capitalismo mesmo quando nas nossas práticas quotidianas não fazemos outra coisa senão emularmos, em silêncio, esse modelo de vida....Ver mais

Brazao Catopola Prof Elisio Macamo, gostei da reflexão e é obviamente mais um ponto de vista que vai incidir no papel de AEG e seu período de governação. Se bem entendi o texto de MIa Couto (desde já fica claro que o admiro muito, mas tenho minhas reservas sobre muito que diz ou melhor sobre os sujeitos de critica por ele feitas), podemos levantar 3 aspectos: 1) Como decisões erradas podem influenciar negativamente a construção de um estado, e sobre isso, acho que se AEG teve o mérito de levar a FRELIMO às bases, como o Professor mesmo afirma, seu demérito, foi que não se fez questão de fazer se entender a diferença (quem não é da frelimo), também conta. Este factor foi determinante para toda uma abordagem que se seguiu sobre o papel de AEG, embora, parecendo não estou aqui numa posição valorativa. o segundo aspecto é que para mim, em minha modesta compreensão, o que MIa Couto nos traz é a consequência disso, se por um lado levar a FRELIMO às bases significou criar condições de poder, por outro lado, foram muitos elementos das bases que criaram essa cultura tanto de medo como do lambebotismo para com as principais figuras do partido (AEG e seus proximos) e consequentemente a exclusão e, finalmete, o terceiro aspecto tem uma relação com o acesso a riqueza. Em face desta exclusão o "acesso" a direito iguais à todos niveis ficou dependente dessa filiação. Como resultado disso, não se discute no país direitos iguais, mas em que circunstâncias se pode ser igual de direito aos demais. Não se não defende o certo, mas se procura o errado (pessoa/partido= O Outro).Não se trata de distribuição de riqueza, mas quem pode ter riqueza. Não se trata de um estado para todos, mas quem se define como parte protegida pelo estado. Eu creio que o texto de Mia Couto, não procura falar de alguém, mas como algum tido de decisões podem influenciar na estruturação social e cultural, alias, por essas posições, aliadas a história do monopartidarismo e a guerra civil a nossa cultura política se estrutura de modo, realmente leninista nós e os contra-revolucionários. Claro que o mesmo vemos na renamo.



Cri Essencia "Somos herdeiros dum discurso marxista mal digerido que nos leva imediatamente a abominarmos qualquer coisa que cheire a capitalismo mesmo quando nas nossas práticas quotidianas não fazemos outra coisa senão emularmos, em silêncio, esse modelo de vida."- MUITO INJUSTO. O que criticamos nao 'e propriamente o modelo capitalista em si mas as praticas desonestas que se lhe aproveitam. O desejo para o lucro esta aliado a ganancia e esta deve ser regulada. Nao queremos um estado vendido as multinacionais. Reivindicamos um estado que tem controle sobre si e neste aspecto, o comunismo vence sempre. Um modelo hibrido, sem "mao invisivel" 'e o ideal ate porque 'e o que a nossa constituicao no fundo consagra- o estado tem obrigacoes para com o povo mas tem estado a falhar muito.

Raul Junior E, quem entende Mia no momento em que coloca as palavras nos nossos ouvidos?

Elisio Macamo vou seguir os conselhos do meu puto, mpoyombo-ntsongo, e não participar na discussão que o meu texto suscitou. foram tantas as intervenções que se tentasse responder não faria mais nada durante o fim de semana. só queria, contudo, fazer alguns reparos gerais. primeiro, dou-me bem com o mia couto e devo muito a ele. recentemente honrou-me com um prefácio à edição italiana dum dos meus livros. a minha reacção ao que ele escreveu, portanto, não tem nada de pessoal. é a reacção que acho que uma intervenção intelectual merece. segundo, fui descrito recentemente por um jornalista como defensor de guebuza. por acaso admiro guebuza - como, aliás, admiro todas as pessoas que chegaram ao topo nas suas áreas de actividade - e admiro-o também como político. contudo, o meu texto não é uma defesa dele (mas não me oponho a que seja lido dessa maneira) tanto mais que considero ter sido crítico em relação a ele quando ainda presidente. sempre critiquei o seu "combate à pobreza absoluta", critiquei o esbanjamento de recursos com as presidências abertas, critiquei os perigos do poder absoluto (o poder da frelimo), critiquei os enormes poderes conferidos ao chefe do estado, etc. ao contrário de muita gente na esfera pública, a minha integridade intelectual não está refém de nenhuma agenda política, embora nunca me tenha visto como crítico de tudo e de todos. terceiro, qualquer texto é passível de várias leituras pelo que a sua crítica vai sempre reflectir essas leituras. não sou o único que leu a intervenção do mia couto como uma crítica a guebuza e não preciso de demonstrar isso. para quem não leu essa intervenção dessa maneira, tudo bem, assunto encerrado. acho, porém, que é possível falar sem dizer ou vice-versa. de resto, ao destacar a impressão de que a sua intervenção seria uma crítica velada a guebuza queria chamar atenção para alguns hábitos de análise e discussão que me parecem nocivos à saúde do debate. a Eliane Veraschamou atenção para isso no seu comentário aqui ao falar do presentismo das ciências sociais. isso incomoda-me muito. no nosso país falamos de tudo como se tivesse começado agora e idealizamos muito um passado que está na origem dos problemas que temos. a intervenção de mia peca, aos meus olhos, por apresentar esse passado como um paraíso sem nenhuma ligação com o presente. isso faz com que se veja um período bem específico da nossa história recente, nomeadamente os últimos cinco anos, como uma aberração. estão aí pessoas a serem julgadas por calúnia e difamação e anunciam de pulmão cheio que guebuza abandonou os ideais revolucionários, mas insistem que o seu julgamento é um atentado à liberdade de expressão. que liberdade de expressão havia nesses gloriosos tempos envolvidos em ideais revolucionários abondonados por guebuza? este tipo de incoerência incomoda-me bastante. o próprio mia quando fala de orientações que recebeu da então ministra da educação para escrever estórias que transmitam valores morais não devia também perguntar porque os valores revolucionários não transmitiam esses outros valores? não devia perguntar que sociedade é essa que instrumentaliza a actividade literária? não devia perguntar porque foram hostis à igreja? não devia perguntar que moral era possível numa sociedade com execuções e chamboqueamentos públicos? quarto, o meu texto é contra o hábito infelizmente enraizado em nós de batermos palmas a tudo que confirma as nossas crenças. não duvido que algumas das pessoas que batem palmas ao meu texto são movidos pelo mesmo, e eu condeno isso com toda a veemência. a intervenção é linda, mas a substância deixa muito a desejar. não vemos isso porque a nossa reacção não é ao que ele disse, mas sim ao que ele disse que nos conforta na nossa abordagem simplista das coisas da nossa terra. ninguém deve contar comigo para simplesmente aplaudir. nunca fiz isso com ninguém, nem vou começar agora. aos mais novos recomendo vivamente uma coisa: estudem a vossa história. o passado que se idealiza é a fonte de muitos dos nossos problemas. enquanto não se libertarem da personalização dos fenómenos dificilmente vão entender o país em que vivem. abraços



Elisio Macamo não duvido. mas a minha questão é: porque não pergunta que moral era possível nesse contexto ao invés de dar essa preocupação por adquirido?

Alvaro Simao Cossa A nossa realidade e' esta Elisio Macamo, nao temos outra, so sabemos rir quando o outro chora. O Epicuro disse: -Queres ser rico? Pois não te preocupes em aumentar os teus bens, mas sim em diminuir a tua cobiça. O presidente Guebuza peca nao pela sua riqueza mas pela cobiça. Abarcou muito e apertou pouco, para tudo ha limites.

Mário João Francisco Francisco Prof Elisio Macamo, obrigado. Vou estudar a minha história. Também a "vossa" tem muitos disentendidos. Nossa é simples: desemprego, roubalheira, casamentos prematuros, falta de patriotismo, falta de hábito de leitura, preguiça mental, my love, coisas de género.

Alvaro Simao Cossa Estimado amigo Elisio Macamo, esta semana tive muito tempo para seguir o teu pensamento. Estupendo, estas de parabens. Porem, na tua intervencao neste poste falas de incoerencias, esta bem concordo plenamente, depois perguntas porque Mia Couto... não devia perguntar que moral era possível numa sociedade com execuções e chamboqueamentos públicos?... Este e' um tandem multivectorial, Guebuza foi um dos autores intelectuais dos campos de reeducacao chamboqueamentos publicos e foi a mao de execucao, como ministro do interior na altura. Porque Guebuza nao inqueriu isso, e porque hoje ele aparece como democrata e auto-estimador? Amigo Dr Elisio Macamoaqueles eram outros tempos e nem tudo que em Mocambique se fazia era da nossa autoria, os ares de democracia comecaram a soprar, na nossa terra, quando caiu o comunismo. Porem, este tandem multivectorial e' como teia de aranha prende o passado de muitos politicos hoje, aqueles que tem a sua antessala no passado de ontem. O nosso passado nao tem olor de perfume.

Elisio Macamo releia, por favor, o antepenúltimo e o último parágrafos. verá que a minha questão não é a inocência de uns e a culpa dos outros, Alvaro Simao Cossa.

Alvaro Simao Cossa Por isso dou-lhe todos os dotes e reconhecimento merecidos Elisio Macamo li e cpmpreendi

Martinho Adao Prof . Elisio Macamo , talvez estivesse na altura de se envolver mais na política moçambicana porque , sem dúvida, representa um grande valor intelectual não só da humanidade mas de Moçambique nada inferior ao Mia Couto . A Frelimo como entidade revolucionária não é reciclável para uma democracia, toda a gente vê , a Renamo sabe disso e limita-se a explorar esse ponto fraco com ambivalência , e estou convencido que em último caso poderão vir a ser ajudados a desenvolver uma guerra de libertação do Norte , onde está a riqueza , já aconteceu noutros países africanos . Gaza ,dos lutadores e onde eu vivi e Maputo cidade colonial onde está o poder são pobres em recursos. E não tenho pena nenhuma da Frelimo racista , pois expulsaram-me e exilaram muita gente sem necessidade em 1974/75 .

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