O economista António Francisco, com terceira abordagem sobre a dívida pública em Moçambique. Acredito que vamos aprender um pouco da economia e muito mais se os economistas nos derem muito subsídio.
António Francisco: País 'obrigado' a aumentar dívida pública para crescer
Moçambique está obrigado a aumentar a dívida pública para financiar a sua expansão económica, o que seria um mal menor se as verbas fossem canalizadas para o consumo e não para o investimento, defende o economista António Francisco.
"Considerando a estratégia de crescimento principalmente com poupança externa, e a aceitação dos fazedores de políticas, de certo modo resignada ou fatalista, das baixas poupanças domésticas, na prática Moçambique não tem outra forma de acelerar o crescimento económico a não ser recorrer à dívida pública ou à convivência com défices elevados nas contas correntes", explica o fundador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos.
Em entrevista à Lusa, António Francisco explica que, "como essa é a escolha seguida tanto pelo Governo como pelos seus parceiros internacionais, a questão que fica é discutir os riscos, os limites, potencialidades e consequências de tal opção", que aliás o economista critica por ter retirado espaço de manobra aos empresários moçambicanos.
"Diferentemente de alguns dos meus colegas que criticam o recurso à dívida pública, eu vejo esta opção como corolário inevitável da estratégia de crescimento com a poupança externa", que diz ser a preferida dos parceiros internacionais "por descrédito de que os governos consigam fazer melhor".
O debate sobre a dívida pública em Moçambique, que está perto dos 60% do PIB, tem sido um dos maiores focos de tensão política e de debate económico, com várias instituições económicas internacionais a questionarem se o montante será excessivo, e outras a defenderem que o financiamento é essencial para o desenvolvimento do país.
"Faço questão de me distanciar das duas abordagens prevalecentes: a abordagem dos crentes acríticos na ideia que está tudo sob o controlo; e a abordagem dos críticos do endividamento público galopante, mas que não reconhecem que este é um caminho inevitável se quisermos manter taxas elevadas de crescimento, sem ser pela alteração radical das políticas económicas, visando elevar a poupança doméstica e a acumulação de capital produtivo nacional, e por essa via reduzir a dependência das poupanças externas e défices nas contas correntes", conclui o economista.
No futuro, diz, é possível que Moçambique atinja ou ultrapasse o limite: "Iremos entrar em insustentabilidade ou crise, mas isso não será novidade, passámos por algo similar em 1984 e em 1999, não vejo por que não voltemos a cair em tal situação uma terceira vez, tendo em conta a complacência e a anuência da opção estratégica de crescimento do Estado e seus parceiros internacionais".
Aliás, acrescenta, "com a história de consumismo que temos, depois de nesses períodos termos estado na iminência de uma dívida impagável, estou convencido que não há duas sem três e vamos acabar por cair nessa tendência".
O que não se sabe, conclui, "é se tal crescente e inevitável endividamento irá acabar por ir mais para o consumo ou para o investimento", diz, lembrando que "nos últimos 50 anos, 52% das verbas do estrangeiro foram para o consumo e 48% para o investimento", quando a aposta no investimento reprodutivo devia ter sido muito mais vincada.
Fonte: Lusa – 20.06.2015
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