OConselho Nacional da
Renamo, que reuniu na
Beira de 09 a 12 de Junho
corrente, recuou da
posição de uso da força – que havia
tomado um dia antes de encerrar
o conclave - para implementar as
províncias autónomas no centro
e norte do país, optando por dar
mais uma oportunidade de diálogo
ao Governo, com retomada de
negociações no Centro Joaquim
Chissano – logo após o anúncio do
bloqueio de canais de diálogo-, e
deu uma larga viragem na simpatia
com a comunidade internacional
– que acusou de cumplicidade
por interesse nas suas acções – ao
anunciar que só estes teriam acesso
às decisões finais da reunião.
O conclave da Beira teve momentos
tensos, vividos em várias etapas
da reunião, desde o anúncio no
início da reunião quanto à disposi-
ção de Afonso Dhlakama, líder da
Renamo, na reedição de Satunjira
II, a criação de uma Polícia e uma
comissão para Causas Políticas,
a redistribuição do braço militar
pelas províncias reivindicadas, ao
“congelamento” de todas as posi-
ções anteriores no fim da reunião,
que foi estendido por mais um dia
do que o previsto.
No dia 09 de Junho, na abertura
da reunião, Afonso Dhlakama manifestou-se
disposto a reeditar Satunjira
II, em alusão aos confrontos
entre seu braço militar e as Forças
de Defesa e Segurança na Serra da
Gorongosa, que fizeram um nú-
mero de desconhecido de mortos,
centenas de feridos e milhares de
deslocados.
No dia 10, já com o órgão pacífi-
co, a Renamo anuncia, através do
porta-voz do Conselho Nacional,
a criação de uma comissão para as
Causas Políticas, para responder à
altura a dinâmica do país e evitar
que o movimento caia na letargia,
injectando a nova velocidade polí-
tica.
No dia 11, data prevista para o encerramento,
a Renamo anuncia o
prolongamento por um dia da reunião,
e o porta-voz da V sessão do
Conselho Nacional anuncia que o
principal partido da oposição iria
forçar as autarquias provinciais no
centro e norte de Moçambique,
através da criação de uma polícia
e da redistribuição do seu efectivo
militar, que já estava em posições
combativas, para responder a eventuais
ataques do Governo.
Já no dia 12, o Presidente da República,
Filipe Nyusi, anuncia pela
manhã uma nova ronda de negociação
de paz com os partidos
da oposição. Na tarde do mesmo
dia, dois Land Cruisers lotados
das Forças de Intervenção Rápida
(FIR) “atracam” uns 50 metros da
sala de reuniões do Conselho Nacional
da Renamo, substituindo os
três “cinzentinhos” que mantinham
segurança estatal do encontro que
decorreu num hotel, no nobre bairro
de Macuti, forçando o reposicionamento
da guarda presidencial de
Afonso Dhlakama.
A reunião demora encerrar, porque
o líder, que devia fazer o discurso
final manteve-se longamente numa
sala privada. A FIR abandona o
local e Afonso Dhlakama regressa
à sala de sessões, aguardando pela
imprensa, para o discurso final.
Recuo das posições
“Vamos insistir na negociação
em respeito à democracia”, declarou
surpreendentemente Afonso
Dhlakama, dando um prazo de três
dias, que terminou segunda-feira
(15), para começar as negociações
da “descentralização do Estado”,
mas cobrindo agora a totalidade
das 11 províncias do país.
“Vamos estender as autarquias para
as 11 províncias, para evitar equí-
vocos de que queremos dividir o
país. Mas as seis províncias que
exigimos agora serão implementadas
ainda este ano, e as outras cinco
depois das eleições gerais de 2019”,
disse Afonso Dhlakama, lendo um
rascunho de um caderno, que terminou
de escrever na presença da
imprensa.
Reconheceu, contudo, que seria mal
entendido ao “usar armas para for-
çar as províncias autónomas”, assegurou
que vai pressionar a Frelimo,
com outra estratégia, para “parar
com brincadeiras e manipulações”.
Na quinta-feira, a Renamo havia
anunciado que iria evacuar e ocupar
os edifícios públicos onde funciona
o Governo da Frelimo, e aos actuais
dirigentes do partido no poder ser-
-lhes-ia dada oportunidade de escolha,
de filiar-se à Renamo para se
manter ou transferir o poder para a
oposição e abandonar o cargo.
“Tem de haver um trabalho de
consenso (entre Governo e Renamo)”
sublinhou Afonso Dhlakama,
insistindo na antiga posição que
apenas estaria disponível para uma nova ronda negocial com o Presidente
Moçambicano, Filipe Nyusi,
“se a conversa for para dar frutos e
pôr a andar o projecto e não para
aparecer na fotografia”, lembrando
que anteriores acordos não foram
cumpridos.
Contudo, Afonso Dhlakama alertou
que o braço militar do partido
vai responder a qualquer provoca-
ção do exército, sustentando que a
“Renamo é que mantém a Paz, traz
brilho ao país e atrai investimentos”.
Noutro desenvolvimento, Afonso
Dhlakama lamentou o fracasso
da desmilitarização do seu braço
armado, garantindo que o modelo
que a Frelimo exigia tinha apenas
objectivo de “retirar armas à Renamo
e depois pisar e humilhar”.
Um outro recuo da Renamo foi a
retomada das negociações no Centro
de Conferências Joaquim Chissano,
encalhadas em várias rondas,
devido ao desencontro quanto à
despartidarização do estado e à
desmilitarização do braço armado
do movimento.
“Manteremos as negociações no
Centro Joaquim Chissano, para
alcançarmos consensos”, precisou
Afonso Dhlakama, lamentando
o incumprimento do acordo de 5
de Setembro, assinado entre ele e
o presidente cessante, Armando
Guebuza.
No entanto, nesta segunda-feira, o
Governo e a Renamo alcançaram
consenso, na mesa de diálogo no
Centro de Conferências Joaquim
Chissano, sobre a declaração de
princípios da despartidarização da
Função Pública.
Nesta sexta-feira, as duas delega-
ções deverão rubricar a declaração
em cerimónia solene, documento
que posteriormente será homologado,
em momentos separados, por
Afonso Dhlakama e Filipe Nyusi e
depois submetido à Assembleia da
República. Afons
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