Os primeiros tendões da paz moçambicana
A Segunda Guerra Mundial foi o resultado de uma paz mal feita no final da Primeira. A Itália, mesmo tendo juntado o seu destino aos dos Aliados, depois de uma vitória comum que lhe custou seiscentos mil mortos, quatrocentos mil desaparecidos e um milhão de feridos, quando se discutia a paz à volta da mesa, só recebeu as migalhas de um rico espólio colonial. E a Alemanha, derrotada, viu suas possessões africanas a serem entregues a outras potências e a cair num colapso, quando era um país de grandeza material. Quando os preparativos para a Segunda Guerra davam mostras as mentes magoadas já estavam dispostas a receber o inevitável. Entre o fim da Primeira Guerra Mundial (1918) e o início da Segunda Guerra Mundial (1939) passaram 21 anos, o mesmo período que nos separa do Acordo Geral de Paz (1992) a estas escaramuças de 2013. Um certo dia, Prof. Dr. Elísio Macamo escreveu que a Renamo não perdeu a guerra, mas pode ter perdido a Paz. Estas pequenas comparações de contraste servem para ilustrar o ambiente sombrio por que estamos a passar e confirmar a tese de que a História se repete.
Aquando do tratado de Roma, em 1992, havia grandes esperanças e uma certeza absoluta de que a guerra tinha acabado e de que o país se tornara estável numa verdadeira e genuína reconciliação. Não vejo, nem sinto essa mesma confiança, nem sequer as mesmas esperanças, no turbulento país de hoje. É por ter a certeza de que ainda temos o nosso destino nas mãos, nas nossas próprias mãos, e que temos o poder de salvaguardar o futuro, que senti o dever de falar agora, quando a ocasião e a oportunidade se apresentaram. Vou dizer o que tenho dito, repetidamente! Não acredito que a Renamo deseje a guerra. O que ela deseja são os frutos da paz e a expansão ilimitada da sua influência. Mas o que aqui devemos considerar, enquanto ainda há tempo, é a prevenção permanente da guerra e o estabelecimento, o mais rapidamente possível, de condições de liberdade e democracia. As dificuldades e os perigos de hoje não serão eliminados se ficarmos à espera para ver o que acontece, nem praticando uma política de apaziguamento. É tempo de o Governo agir na busca de um interlocutor válido, na capaz de encetar condições de diálogo com a ala militar. Mas o mais importante é localizar o próprio Dhlakama, enquanto há tempo. Não se pode esperar que ele reapareça através dos meios de comunicação estrangeiros, o que poderá lançar desespero a todos nós e reanimar o espírito de vingança dos seus homens. O que é necessário é um acordo com a Renamo militarizada, e quanto mais for adiado, mais difícil será de o obter e maiores se tornarão os perigos que nos ameaçam. Pelas mortes de civis e militares, de Abril a esta parte, já não é válida a velha doutrina de que os atacantes irão gastar suas munições e render-se-ão ou seja, o exército tudo fará para devolver a paz aos moçambicanos. Vivemos um problema político e como tal deve ser resolvido por vias políticas e nunca por vias militares.
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