Matias Guente
5 de Março de 2015. Passa
um pouco das 9 horas. Homens
e mulheres com ar de preocupação
e incredulidade fazem
um círculo em volta de um
corpo sem vida na Rua da Costa
do Sol, no Bairro da Polana
Caniço “B”, nos subúrbios da
capital Maputo. “O que é que
aconteceu. O que aconteceu?”,
perguntavam os que se aproximavam
do aglomerado. Uma
jovem que, debilitada, caminhava
naquela rua, caíra ali mesmo,
desamparada e sem vida, causando
choque nos transeuntes.
A falecida chamava-se Nádia
Fabião Hoguane, de 26 anos de
idade, residente no Bairro Polana
Caniço “B”. Há uma trágica
ironia nesta morte. Nádia acabava
de sair do Hospital Geral
da Polana Caniço, onde não foi
atendida porque não havia um
aparelho para medir a tensão arterial.
Foi aconselhada a ir medir
a tensão arterial numa farmácia
privada, para depois regressar
ao hospital público. Sem for-
ças, Nádia tentou caminhar até
à farmácia, que fica na zona do
“Componde”, e morreu pelo caminho.
Nádia era estudante de
Contabilidade no Instituto de
Transportes e Comunicações.
Tarde de sexta-feira, ainda em
Março de 2015. Duas viaturas
luxuosas e desportivas entram
na estação de serviço da “Total”
na “25 de Setembro”, zona
nobre da cidade de Maputo.
A alta cilindrada e o incomum
das duas viaturas chamam a
atenção. Uma viatura é da linhagem
de luxo italiana: um
Ferrari modelo F12 Berlinetta.
A segunda é do casamento automotor
anglo-germânico: um
Mercedes Benz McLaren modelo
desportivo GT, também
conhecido por “Road Model”,
que é encomendado por celebridades,
visto que a sua principal
linha de produção é para as pistas
de corridas da Fórmula 1.
O Ferrari Berlinetta vermelho
não tem chapa de inscrição.
Mas o McLaren de cor laranja
tem. É uma matrícula sul-africana
domiciliada na província
de Gauteng. A matrícula personalizada
faz jus ao potente
e luxuoso carro. Não tem o
código do abecedário como as
matrículas dos carros normais.
É personalizada: “A BESTA
GP” lê-se na chapa de incrição
da soberba unidade automóvel!
Dos carros, saem jovens com
menos de 25 anos. Um jovem
forte de raça negra entre os
seus companheiros de ascendência
asiática faz diferença
entre a turma. A forma como é
venerado pelos seus amigos e
pelos trabalhadores da estação
de serviços cria-nos interesse.
Como as viaturas são incomuns
nas ruas de Maputo e de
África, as pessoas que passavam
pela avenida paravam para
fotografar as duas máquinas que
normalmente são avistadas nas
ruas de Hollywood, no cinema.
“É o filho do Presidente”,
indica um jovem, apontando
para o único jovem forte sem
ascendência asiática, no grupo.
Noite de sábado, 11 de Abril.
O mesmo McLaren que atraiu
curiosos na “25 de Setembro”
estaciona em frente à porta de
um dos mais badalados restaurantes
de classe alta da Capital,
ali ao lado do Hospital Central.
Mais uma vez a viatura chama a
atenção, porque torna-se singular
no meio das restantes estacionadas
no passeio daquele restaurante.
O mesmo jovem forte
sai acompanhado e entra para o
restaurante, debaixo de comentários
como “Veja aquele carro”,
“Será que é Lamborghine?”, “É
o filho do presidente Nyusi”
As realidades descritas no
início, a que se passa no Bairro
Polana Caniço “B”, zona onde
vive a maioria pobre, e a realidade
“hollywoodiana” que se dá
nos dois últimos casos, nas avenidas
“25 de Setembro” e “Eduardo
Mondlane”, parecem espelhar
dois países diferentes. Um
país em que se morre na rua por
falta de um tensímetro que custa
41 euros (cerca de 1500 meticais)
e um outro país em que
um rapaz que não trabalha mas
tem a sorte de ter um pai que
controla os recursos do Estado
num país do Terceiro Mundo
anda num Ferrari Berlinetta que
custa 5,6 milhões de randes (17
milhões de meticais). De acordo
com uma cotação da “Continente”,
fornecedora portuguesa
de material hospitalar, com o
valor do Ferrari que o filho do
Presidente da República conduz
dava para comprar 11.408 aparelhos
de tensão arterial e distribuir
mais de 1000 aparelhos
por cada uma das 11 províncias.
É, de resto, sobre esta realidade
de carências, onde falta
água potável, comida, que o filho
do Presidente da República
tem estado a dar um verdadeiro
espectáculo de ostentação.
Chama-se Florindo Filipe Jacinto
Nyusi. É um nome a reter,
porque o seu estilo de vida desmente
qualquer discurso governamental
de falta de dinheiro.
Nasceu em Nampula e não
deve ter mais de 27 anos. Se no
regime de Guebuza pontificava
Valentina, que aparecia em tudo
quanto era negócio rentável,
no regime de Nyusi a estrela
é um rapaz que leva uma vida
paralela à das celebridades do
Ocidente. Se Cristiano Ronaldo
teve de correr, transpirar,
lesionar-se, para ter um Ferrari
na sua colecção, o jovem Florindo
Jacinto Nyusi só precisou
de o seu pai dirigir um dos
Estados mais pobres de África.
Florindo Jacinto Nyusi está
a fazer furor nas redes sociais
com as suas máquinas de alta cilindrada.
Na sua colecção está o
Ferrari modelo F12 Berlinetta,
o Mc Laren GT e a mais recente
actualização por encomenda da
alemã Range Rover: o Lumma
clr rs V8. Todas são viaturas topo
de gama e apenas compatíveis
com economias saudáveis, que
não é o caso de Moçambique.
O drama dos “ricos” dos
países pobres
A ostentação, em automóveis
de luxo, do filho do Presidente
da República encaixa perfeitamente
na descrição do escritor
angolano José Eduardo Agualusa
(2007) na sua crónica “Os
nossos ricos são uma fraude”,
em que o autor fala do drama
dos “ricos” dos países pobres.
O drama daqueles ricos que são
produto da pobreza dos outros.
Ora vejamos, de acordo com o
“Top Gear”, especialista inglesa
de carros de luxo, um Ferrari ou
McLaren chega a ter uma separação
com o solo de apenas
10 centímetros no máximo. O
que significa que uma viatura
da Ferrari ou McLaren só pode
andar num país onde as estradas
não têm buracos. Qualquer desnível
no asfalto e o carro sofre
danos. Outro detalhe é o desenvolvimento
rápido das viaturas
devido à sua quilometragem.
Saem de 0 a 100 quilómetros
em menos de 3,6 segundos.
Em Moçambique, incluindo na capital do país, não há estradas
sem buracos. Mais: não há espa-
ço para os carros andarem à sua
velocidade normal, devido ao
engarrafamento e aos “My Loves”
à mistura. O que quer dizer
que as “Bestas” que transportam
o filho de Nyusi vão pagar o
preço do subdesenvolvimento.
Os preços segundo os agentes
Para ter uma ideia de quanto é
que custa o luxo do filho do Presidente,
o de Moçambique Moçambique
contactou, na África do Sul e na
Europa, agências especialistas
em carros de luxo e obteve as
respectivas cotações que publica
aqui em anexo.
Por exemplo, a sul-africana
“Fouch Motors”, uma das mais
conceituadas agências de venda
de carros de luxo em Gauteng,
informou-nos que um Ferrari
F12/13 Berlinetta zero quiló-
metros custa 5,6 milhões de
randes (17,9 milhões de meticais).
Em segunda mão, pode
custar três milhões de randes.
Não é para menos: tem um
motor 6.3, potência de 740 cavalos,
cilindrada 6.262 e velocidade
máxima de 340 km/h.
Sobre o McLaren GT, a viatura
que o filho de Nyusi usa
para fazer corridas, a mesma
agência informou que a mesma
custa 3,9 milhões de randes, em
segunda mão, podendo atingir
os 6 milhões de randes, quando
tem zero quilómetros. Eis
as suas especificações técnicas:
potência de 625 cavalos, cilindrada
3799, motor V 8 e velocidade
máxima de 333 km/h.
Em relação ao Range Rover
Lumma, tivemos de solicitar
uma cotação à própria subsidiá-
ria da Ranger, a alemã Lumma.
Uma viatura actualizada, em
segunda mão, com as especificações
da viatura associada
ao filho do presidente Nyusi,
chega a custar 182.500 euros,
o equivalente a 7,1 milhões de
meticais. O Estado Moçambicano
atribui, por ano, 7 milhões
de meticais a cada distrito
como orçamento. É o valor de
uma viatura de passeio do filho
do presidente do mesmo país.
Onde trabalha o filho
de Nyusi?
O de Moçambique Moçambique tentou
por várias vias contactar
Florindo Filipe Jacinto Nyusi,
para saber se trabalha em algum
lugar. Não conseguimos. De
várias fontes ficámos a saber
que o filho do presidente não
tem nem sequer profissão. Não
encontrámos nenhum registo
sobre isso. O único registo que
a nossa investigação encontrou
dá conta de que o filho do Presidente
da República é sócio de
uma até agora inexpressiva empresa
denominada “Imográfica”.
O filho de Nyusi é accionista
dessa empresa, com 25%.
O resto é detido por uma outra
empresa, denominada “Irmãos
Moreira Limitada”. A empresa
tem como objecto social: consultoria,
gestão, aquisição, alienação
e constituição de empresas
e de participações sociais;
prestação de serviços de contabilidade
e auditoria financeira;
manuseamento de carga contentorizada;
armazenagem e
transporte de passageiros; e hotelaria
e turismo.
Presidência da República
não quer falar do assunto
O de Moçambique Moçambique contactou
a Presidência da República,
para saber se os carros luxuosos
que andam com o filho do
presidente são do seu suor, ou se
são presentes do Presidente da
República? O porta-voz do Presidente
da República, António
Gaspar, disse que não está a par
da ostentação do filho do presidente.
“Lamento informar que
não conheço o que me apresenta.
Obrigado pela informação.
Tomamos nota”, respondeu o
porta-voz do Presidente da República,
por escrito.
Muitos parabéns pela pagina !
ResponderEliminarParabéns pela blog obrigado
ResponderEliminarNos morremos, eles vivem.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEmplena,crise economica eles ainda tem dinhro pra invistir em carros...nao seria melhor levar aquele dinhero e comprar ambulancia,carros da bofia,onibos.
ResponderEliminarTriste, mas e o Presidente o que diz deste carnaval. Vai perdendo credibilidade. Se nós somos os PATRÕES como ele disse, que preste contas. Meu voto não vai para a Frelimo desta vez. Menos 1
ResponderEliminarTriste, mas e o Presidente o que diz deste carnaval. Vai perdendo credibilidade. Se nós somos os PATRÕES como ele disse, que preste contas. Meu voto não vai para a Frelimo desta vez. Menos 1
ResponderEliminarLamentavel
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