sexta-feira, 20 de março de 2015

TVM E RM: AS “REGIÕES AUTÓNOMAS” DO G 40


Equipara Jeremias Langa – em debate sobre o assassinato de Gilles Cistac com Télio Chamusso e Baltazar Fael na “Linha Aberta” – o pavor que os telespectadores têm do G 40 ao que seria no caso em que se tratasse do Boko Haram, dado que os telespectadores que telefonaram para o programa denunciaram a acção daquele grupo de malfeitores. Não se tratando propriamente de um Boko Haram à moda moçambicana que luta pela imposição de uma religião a fim de que a mesma seja obrigatoriamente professada por todos, o que atenta contra a dignidade da pessoa humana, dado que todos têm o direito de escolher a sua religião ou mesmo nenhuma se for o caso, o G 40 toma de assalto os serviços públicos de rádio e televisão para impor a sua ideologia política a fim de que a mesma seja obrigatoriamente professada por todos, atentando contra a dignidade da pessoa humana, dado que todo o cidadão tem o direito de escolher a sua própria ideologia ou mesmo nenhuma, se esse for o caso. É um crime de lesa-humanidade atentar contra a liberdade das pessoas de escolherem aquilo que elas querem para elas. A primeira coisa que um dirigente com tendências para a ditadura faz para limitar os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos – como seja o direito à livre escolha – é cortar-lhes o acesso à informação, que é o mesmo que lhes cortar o acesso ao conhecimento. Os ditadores sabem que o conhecimento é o pressuposto da liberdade, que só pode escolher livremente quem tem acesso ao conhecimento. Impondo-se na rádio e na televisão pública, transformado estas estações que vivem dos impostos pagos pelos cidadãos em suas “regiões autónomas” e impedindo que outras vozes possam se expressar livremente, os elementos do G 40 cortam o acesso à informação e ao conhecimento, limitando os cidadãos de escolher aquilo que é melhor para eles. Foi o que andaram a fazer estes tristes homens de fato e gravata de que tanto se fala hoje. Basta nos lembrarmos de programas como “Quinta a Noite” e até mesmo dos telejornais de domingo ao longo dos últimos três anos na nossa televisão pública para constatarmos que os telespectadores não foram servidos outra coisa senão as mesmas babuzeiras que não eram nada mais nada menos que propaganda política, sob a capa de análise política. Para além de prestarem serviços no “Quinta a Noite”, nos telejornais de domingo e noutros em que se lhes aprouvesse, sem que houvesse ali qualquer espécie de contrapesos, Eugénio Brás e Patrício José seriam posteriomente os artistas da análise do processo eleitoral, incluindo da fase da divulgação dos resultados parciais. Não admira muito que Patrício José, que vinha se evidenciando como um dos especialistas mais radicais no aniquilamento da Renamo através dos seus pronunciamentos, tenha sido posteriormente nomeado vice-ministro da defesa, um claro prémio de jogo, ou melhor, do jogo sujo travado até se “arrancar” a vitória de Nyusi nas eleições. Transformar os posicionamentos de um analista político, já de per si radicais contra a Renamo e seu líder Afonso Dhlakama, em políticas públicas do ministério da defesa, que possam vir a determinar os comandos estratégicos belicistas das forças armadas, há-de ter sido certamente uma bolada de muito mau gosto, sobretudo quando testemunharmos que esses mesmos comandos começaram por impor uma única linha de pensamento na análise política da televisão pública, violando as regras básicas da convivência dos homens civilizados. É por isso mesmo que o povo vai questionando se os cargos que elementos saídos da lista impopular do G 40 ocupam hoje resultam efectivamente da sua competência comprovada ou então dos serviços prestados enquanto agentes de propaganda política encapuçados de analistas políticos. Questionam hoje os cidadãos se é para isso que pagam impostos. Imagine alguém que tenha dito nas suas análises monolíticas que a Renamo devia ser aniquilada ser nomeado ministro da defesa, por exemplo. O que se pode esperar das suas relações com aqueles a quem ontem chamou considerou que devia ser aniquilado, dada a sua arrogância e falta de caráter. Sou de concordar plenamente com o meu estimado professor Lourenço do Rosário quando nos diz que é hora do dono dos cachorros recolher os seus cachorros, dado que estamos fartos de ouví-los a expelirem ódio contra os outros na nossa rádio e televisão pública. O grande problema do momento é que os cachorros cresceram e alguns deles já governam. É assim no país do comandante-geral que se farta de anunciar o combate ao crime organizado, quando o crime organizado vai desfilando a sua classe nos telejornais. É crime, sim senhor. Roubaram-nos o direito de escolher, oferecendo-nos à força um único prato de maçaroca com caril de pato. Nada mais patusco!
Major-General Henry Miller

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