domingo, 1 de março de 2015

Funcionários do MITESS aprofundam percepção sobre discursos de Filipe Nyusi

Leiam o extracto do texto, a foto e o meu comentário vem logo a seguir
Funcionários do MITESS aprofundam percepção sobre discursos de Filipe Nyusi
Os funcionários do Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS), a diferentes níveis, estão a levar a cabo sessões de estudo e discussão dos discursos do Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, proferidos por ocasião da sua tomada de posse, em Janeiro último, bem como aquando da posse dos membros do seu novo Governo e de Governadores provinciais.
Facilitadores: Professor Francisco, Reverendo Anastácio Chembeze e o jurista e jornalista Tomás Vieira Mário.
Fonte: Jornal Esquento, Sexta-feira, dia 27 de Fevereiro de 2015. 
Comentário

Começo por dar os meus parabéns aos facilitadores pelo tempo, pelo esforço e pela inteligência na facilitação. Se o que está aqui escrito for verdade, espero que os presentes tenham aproveitado o momento para explorar com a necessária profundidade as “recomendações contidas nos discursos de Nyusi”, o Presidente da República de Moçambique.
Outrossim, quero exortar a Ministra Vitória Diogo para parar com as “sessões de estudo e discussão dos discursos do Presidente da República” e em substituição fortalecer de entre os técnicos do seu ministério, a cultura do Estado de Direito; da noção de uma burocracia ancorada no primado da lei.
O sociólogo Elisio Macamo escreveu em 2006 que “num Estado de direito não são decisões que contam, mas sim leis”. Di-lo quando criticava justamente a formula da então chefe da ANFP, “decisão tomada, decisão cumprida”. Ou seja, num estado de direito, o que conta não são os discursos, as “recomendações” mas sim leis, principalmente quando tais recomendações são para serem implementadas pelos técnicos. Para que estas recomendações sejam implementáveis, elas devem ser legais. E é justamente por isso que Nyusi por exemplo recomendou a Renamo e Dhlakama a submeterem tudo o que acham importante para o país e respectivas propostas de transformação do figurino político administrativo à Assembleia da República. Ao fazê-lo, Nyusi reconhecia que a sua vontade nem a do Dhlakama eram bastantes para operar qualquer transformação profunda ao país senão pelos órgãos apropriados. E continua Macamo, “leis conferem autoridade a quem toma decisões. A autoridade vem da lei”.
Ora, o que os técnicos precisam quanto a mim não são sessões de explicação dos discursos de Nyusi. O que os técnicos precisam é a certeza de que podem trabalhar livremente dentro dos cânones da lei. Os técnicos precisam é do “poder” de decisão sobre os assuntos da sua responsabilidade.
QUAL É AFINAL O MAL DA VITÓRIA DIOGO AO TER PROMOVIDO ESTES CURSOS?
Ao ter promovido estes cursos, a Dra. Vitória Diogo trocou o respeito pela legalidade substituindo-o pela lealdade ao chefe. Ou seja, lançou uma grande nuvem de poeira sobre como os técnicos devem se comportar doravante: se é obedecendo as leis ou às recomendações do chefe. No final das contas, a Dra. Vitória Diogo está tornar vulneráveis os técnicos do seu ministério ao retirar-lhes a certeza que deve ter sobre as leis que regem o funcionalismo público.
Mas atenção, não estou aqui a dizer que as recomendações do Presidente são ilegais. Não. Estou a dizer que o tipo de pessoas que devem prestar maior atenção às recomendações do chefe não são os técnicos. São os políticos como a Dra. Vitória Diogo. É ela que deve avaliar se aquelas recomendações têm algum enquadramento legal ou não. Se não tiverem, então caberá a ela pensar e esboçar alguma proposta de lei para que depois sejam implementadas pelos técnicos. O que os técnicos querem não é uma interpretação uniforme das recomendações que emanam dos discursos do PR. É pelo contrário, um quadro legal coerente que os permite agir com segurança.
Ao ter promovido aqueles cursos a Dra. Vitória Diogo está por outras palavras a dizer aos técnicos para fazerem e cumprirem o que é o entendimento dela (e dos consultores do discurso) sobre as recomendações do chefe, ou seja, aquilo que ela sonhou em implementar em 2007: decisão tomada, decisão cumprida [arbitrariedade]. O parágrafo seguinte tira quaisquer dúvidas sobre isto:
A iniciativa visa explorar, como profundidade, a percepção criada por cada funcionário do MITESS em torno das referidas comunicações, tendo em conta que os funcionários, no se nobre papel de servidores públicos, são parte activa da implementação dos conteúdos, sobretudo na vertente das recomendações nelas contidas. In: Esquento, 27 de Fevereiro 2015
ISTO PODE PRODUZIR OS SEGUINTES EFEITOS NEFASTOS
• Insegurança do técnico em tomar decisões de acordo com a lei
• Obrigação de sempre “consultar o chefe” mesmo estando certo sobre o caminho a seguir. 
• Arbitrariedade na tomada de decisões como resultado da “interpretação difusa” e as vezes extensiva das recomendações
• Promoção de práticas nefastas à função pública entre as quais o “puxa-saquismo” ou o lambebotismo na medida em que o clarividente passará a ser aquele que “melhor entende as recomendações” e não aquele que melhor interpreta e faz as cosias de acordo com a legislação. E interpretar “melhor” passaria s ser aquilo que o “chefe disser SIM”.
• Promoção dos Yes-men.

Iria facilmente concluir que a Dra. Vitória Diogo gosta disto: aparecer como quem melhor entende o chefe e seu pensamento ou quem pelo menos se esforça em entender. Para tal, junta especialistas para ajuda-la a melhor entender e interpretar o pensamento de Nyusi, numa magna reunião por si dirigida e na presença de todos os técnicos. Melhor, replica este exercício por todo ministério e agências subsidiárias! Haverá melhor demonstração de puxa-saquismo que esta?
E não é de hoje este hábito. Ela faz isso de forma aparentemente tão profissional que passa despercebido aos olhos de muitos.

Posso sem rodeios recomendar a Dra. Vitória Diogo a deixar de promover ilegalidades nos sectores onde é dirigente. O seu percurso dentro do governo está cheio de episódios que documentam a sua apetência por um poder arbitrário, autoritário e muitas vezes que não se conforma com as leis vigentes.
VAMOS REVISITAR A HISTÓRIA RECENTE DA SUA GOVERNAÇÃO
1. Em 2006 o Presidente da República criou a Autoridade Nacional da Função Pública – ANFP, com competências ministeriais através do decreto presidencial 2/2006, de 7 de Julho. Meses depois o Professor Giles Cistac chamou atenção para a inconstitucionalidade daquela entidade, a não ser que fosse liminarmente extinta e fosse criado um outro ministério. 
2. No dia 23 de Maio de 2007, noventa Deputados da Assembleia da República solicitaram ao Conselho Constitucional a declaração da inconstitucionalidade do Decreto Presidencial nº 2/2006, de 7 de Julho, que cria a Autoridade Nacional da Função Pública, abreviadamente designada ANFP.
3. No dia 16 de Outubro de 2007, o Presidente da República, Armando Guebuza extinguiu a ANFP. E em substituição criou o Ministério da Função Publica.
4. No dia 30 de Novembro de 2007, através do Acórdão nº 06/CC/2007 de 30 de Novembro, o Conselho Constitucional decidiu não se pronunciar sobre a inconstitucionalidade do Decreto Presidencial nº 2/2006, de 7 de Julho, em virtude da sua revogação pelo Decreto Presidencial nº 13/2007, de 16 de Outubro, ter determinado a inutilidade superveniente de uma decisão de mérito.
Nascia assim o Ministério da Função Pública em 2006. O Presidente Guebuza cria assim um Ministério para acomodar uma ideia sua bem como as pessoas com as quais se comprometera. Um ministério diga-se, que nasce de um erro, com todas as consequências económicas para o Estado.
5. Mas enquanto chefe máxima da ANFP, a Dra. Vitória Diogo ficou célebre quando quis obrigar todas as entidades do Estado a aplicar a fórmula uniforme para o fecho da correspondência oficial com as palavras: DECISÃO TOMADA, DECISÃO CUMPRIDA. Para tal, através da Resolução nº001/2007 de 2 de Março, a Autoridade Nacional da Função Pública aprovou a tal tristemente famigerada fórmula. Na verdade esta fórmula não passava do mais recente Consenso do Quelimane, onde o Partido Frelimo acabava de fechar o seu IX Congresso, que teve lugar entre 10 e 14 de Novembro de 2006.
6. A 12 de Abril de 2007, o Concelho Constitucional entendeu que a introdução de uma tal fórmula envolveria sempre juízos de conveniência ou de oportunidade eminentemente políticos, pelo que devia ser objecto de acto legislativo da Assembleia da República ou do Governo nos termos do artigo 143 da Constituição. Nestes termos, o Conselho Constitucional deliberou não aplicar a resolução nº1/2007, de 2 de Março, da Autoridade Nacional da Função Pública, por ser ilegal.
7. Hoje, a Dra. Vitória Diogo junta colaboradores do seu ministério para “aprofundar os discursos do Nyusi” em vez de aprofundar os preceitos legais e empoderar o técnico para que tome decisões de acordo com a lei. 
Que genoma eihn!
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  • Inacio Fernando nao sei o que se diz depois de ler este post
  • Egidio Vaz Qual é a sua opinião ilustre Inacio Fernando?
  • Livre Pensador Obras Escolhidas de Ny-Usi-Un - Tomo I
  • Egidio Vaz Não duvide Livre Pensador. Vem aí o primeiro Tomo!
  • Inacio Fernando Egidio Vaz, nao acha que o discurso de Nyusi tem a estratégia orientadora sobre como deve ser conduzida a gestão da coisa pública? Nao acha que naquele discurso tem as orientações sobre como o povo deve ser tratado? Revisitar o discurso é para se compreender e inspirar os funcionários sobre o que mudou com o actual governo e o que vai mudar ainda. Por exemplo, repara so que o INATER reduziu as contas bancárias, isso é mudança. Ontem na STV o presidente disse aos Administradores que se continuarem a deixar o povo morrer de cólera então eles estariam a mais no Governo, isso é mudança meu irmao. As mudanças devem ser compreendidas previamente sob pena de aqueles que são os operadores dessas mudanças serem resistentes.
  • Egidio Vaz Eu gostei e aplaudi o discursto de Nyusi. Sou o seu entusiasta numero UM no sentido lato do termo, para dizer que gosto dele, do seu governo e da sua visão. Isto não tem nada a ver com os objectivos dos encontros que a ministra está a orientar. Leia bem a noticia caro Inacio Fernando. Atenção, eu gostaria que todos tivessemos compreendido bem os discurso de Nyusi. Mas devemos seguir as leis. E se faltam as leis devemos aprova-las para que consigamos chegar onde queremos. É isso que discuto aqui. Parto do reconhecimento que a nossa cultura política não permite que os funcionarios do Estado tomem decisoes de forma segura e autonoma justamente porque ela ancora-se num principio do poder arbitrario, de recomendaçoes e de lealdades e de confiança. E não do poder juridico-racional, ancorado num gineceu de leis. O nosso estado é de leis. E não de confiança ou lealdade. E é isso que julgo que deveria ser promovido de entre os tecnicos.
  • Livre Pensador Estrategia orientadora. O que estes gajos nao inventam para manter a partidarizacao da Funcao Publica!
  • Inacio Fernando Concordo. Mas isso passa por conscientizar os servidores a dominar a linha de orientação. Não estão ali para dizer que a lei deve ser escamoteada não. O proprio PR disse que ninguem está acima da lei. Disse também que vai promover a transparencia e servir a todos os cidadaos sem olhar para cor, raça, etc. O trabalho da Ministra é desdobrar isso para que o discurso nao seja apenas discurso mas se transforme em realidade. Se andarmos a criticar so isso nao ajuda. A Etica, o compromisso para com o cidadao, a transparencia, o profissionalismo e outros valores, devem ser revisitados de tempos em tempos. A presença do Tomas como facilitador é mesmo para dar cunho legal à discussao e o outro senhor cujo nome nao me lembro, penso que dará um cunho ético. É bom que se discuta
  • Egidio Vaz Ilustre Inacio Fernando estamos a discutir duas coisas diferentes. Acho que não me percebeu ainda. 
    Mas vou tentar de novo.
    Atente nesta passagem da noticia
    " A iniciativa visa explorar, como profundidade, a percepção criada por cada funcionário do MITESS em torno das referidas comunicações, tendo em conta que os funcionários, no seu nobre papel de servidores públicos, são parte activa da implementação dos conteúdos, sobretudo na vertente das recomendações nelas contidas.".
    1-Os servidores públicos são parte activa na implementação das recomendações contidas nos discursos de Nyusi? Como se faz isso senão atraves das leis? E caso não existam, de quem seria a responsabilidade de faze-las? Os tecnicos ou o governo, na pessoa da ministra?
    2-Como os tecnicos poderão melhorar a sua prestação na função pública através do "entendimento dos discursos do PR"? Não vê que está aqui patente a dimensão extremamente subjectiva? Não vê que estamos perante um elemento simples, que é a moralização da função pública? E ela faz-se reunindo sessões interpretativas de textos do PR? Ou tomando decisões, empoderando o tecnico?
    3-Alguma coisa estranha que Nyusi teria dito e que não encontra enquadramento legal no actual funcionalismo público? O que aconteceu antes que agora deve mudar? E será esta mudança devido aos discursos do Nyusi ou na mudança da forma como se trabalha?
    São perguntas que fiz, não para desafia-lo mas para se calhar, ajudar a tonar meu argumento mais claro.
  • Antonio Pescoso entre o PR e o seu elenco governativo sepre sera coisa contriria podem ate nao acreditarem ainda existe uma mancha (si nao for uma nodoa) guebuzista.
  • King Vasquinho King Quanto a mim a questão pertinente no discurso do Nyusi é a mudança do paradigma de concentração de puderes na liderança e que altera para o puder do povo... O Povo é o Nosso Patrão. .. esta novo patrão e o assumir do mesmo merece mudanças profundas no funcionalismo público. O pessoal tem que mudar se o Próprio Presidente diz que o povo é patrão entao os servidores do estado têm que servir ao Povo.
  • Antonio Serra Os funcionarios publicos deviam e ter "aulas" sobre as leis dos seus respectivos sectores porque me parece que muitos deles nao conhece e/ou nao intrepreta as leis "como deve ser".
  • Egidio Vaz Antonio Serra, é justamente isto que advogo aqui. Ensinar e depois dizer: faz como mandam as leis.
  • Antonio Serra Espero que tenhamos aprendido com o governo anterior de que o pais nao se governa com iniciativas presidenciais (ex: jatropha, revolucao verde, etc) mas sim com programas e leis
  • Nelson Junior O mal de tudo isto,é que a Frelimo está tanto e tanto tempo a governar...(quase 50 anos no governo).as instituiçoes do Estado conscientemente ou inconscientemente acabaram por frelimizarem-se....em Moçambique ou em Angola,existem um monopartidismo camafludo em democracia....O Ocidente aceita facilmente essa vossa forma de governar pois obtem contractos vantajosos....mas,o povo Moçambicano so vê poeiras,pontes,estradas...Mas,ha falta de medicamentos,livros, carteiras,agua potavel,energia etc,etc...Esse foi,é e será o Moçambique desses herois de libertaçao....Em qualquer País do mundo,se,o sistema de educaçao é pessimo,o sistema de saude precário e o sistema habitacional sub-humano,algo está errado....Fala-se tanto do Nyusi,mas a Frelimo nao é o Nyusi,...Nyusi é Frelimo....A Frelimo libertou o País ( e agradecemos) mas deveria deixar os outros de diriger o País....Quem??...Esse o vosso problema,pois a Renamo tambem ela nao será capaz de governar bem...Passo por passo,Moçambique está a transformar-se numa outra Gunié-Bissau!!!....que pena!
  • Clodio Guambe Egidio Vaz, uma coisa é certa, as decisões da máquina administrativa devem estar pejadas de pendor legal...independentemente da vontade política de quem quer que seja. Portanto, é deveras importante referir que a preocupação da Ministra deve ser a adequação legal dos desejos do "chefe" e a sua posterior transformação em decisões que respondam os anseios dos "patrões do chefe".
  • Manuel Carlos Nhanala Concordo que os discursos do PR sejam uma fonte de inspiracao para os funcionarios e agentes do AE a todos niveis, contudo acho pertinente cultivar-se por ora o estudo legislativo nao so de cada sector de trabalho mas tambem dos sectores que se interligam, pois ha um defice muito grande de conhecimento das leis por parte dos agentes e funcionarios do Estado.
  • Bento Saloy Mazuze O que falta nos dirigente deste país é ideias originais.
  • Bento Saloy Mazuze Os ministros nos seus ministérios nunca tem ideias. São caixas de ressonância só é so.
  • Tarcísio Azevedo "Haverá melhor demonstração de puxa-saquismo que esta?"
  • Bernardino Victoria Augusto ...faz "todo sentido tanto nos pressupostos como na sua argumentacao" caro E. Vaz. Entendo que a visao governativa pode ser (estar) estabelecida nos discursos presidenciais e na maneira como o Presidente da Republica estruturou seu governo tendo em vista a este desiderato; por isso, o essencial (que para mim) eh a missao governativa eh a operacionalizacao desta visao governativa do presidente no devido contexto (governativo). E isso como se faz? Eh sempre discutivel. Porem uma das formas seria mesmo esta que sugere, mas emprestando-lhe o conceptual caro E.Vaz, interpreto da seguinte forma: "fazer-se estudos dos discursos do Presidente para melhor enquadra-los (operacionaliza-los) nas leis vigentes e se nao houver que se sugira criacao" dentro dos principios e valores governativos (ou sectores) de governacao, respondendo a visao.
  • Bernardino Victoria Augusto ..entenda-se operacionalizacao: como competencias dos tecnicos dos sectores na interpretacao da lei , accao e objectividade governativa para responder aos desideratos da missao e nao o contrario. Note-se, Visao eh um sonho que pode ou nao alcancar-se.

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