Brandon confessou que depois dos ataques já não dormia, sonhava com raios infravermelhos e crianças/Foto: Space4peace
Brandon Bryant, ex-operador de drones da Força Aérea dos Estados Unidos, abaixa o olhar quando se lembra do "momento determinante" que pôs fim à sua carreira de mais de quatro anos no serviço secreto de aeronaves não tripuladas.
"Acho que, naquele momento, estávamos a fazer a coisa errada", disse ele ao programa Witness, da BBC, em referência à caçada ao cidadão americano Anwar al-Awlaki, clérigo radical e líder da Al-Qaeda, morto por um drone americano no Iêmen em setembro de 2011.
"Diziam-nos que ele poderia ser o novo (Osama) Bin Laden. Mas ele era um cidadão americano, pessoas que eu havia jurado proteger."
Bryant abandonou o trabalho na Força Aérea em 2011. Mas admite que, antes disso, um dos ataques que ajudou a realizar, contra uma cabana no Afeganistão em 2007, fê-lo perder o sono por muito tempo. A missão em questão envolvia o monitoramento de dois suspeitos e a ordem era liquidá-los.
"Faltando seis segundos (para o disparo atingir o alvo), uma pessoa pequena corre e entra (na cabana). O míssil atinge o alvo. E eu fiquei sentado a pensar, 'Meu Deus, o que está a acontecer... O que foi aquilo?'".
Cada missão não tripulada contava com um piloto e um operador central (no caso, Bryant) e tinha como objectivo operar a câmara e disparar o laser que guia os explosivos. Bryant diz que o piloto "não se abalou em nada".
Mas o operador achava que eles haviam acabado de matar um civil e pediu para rever as imagens do ataque. A resposta que recebeu dos seus colegas incomodou-o.
"Foi mais ou menos como, 'Após reexaminar o vídeo, parece que era um cachorro'. Eu pensava, de maneira nenhuma, não era um cachorro de jeito nenhum. Acredito que era uma criança", contou. "Senti-me enojado. Parei de dormir porque sonhava com aquilo. Eu sonhava em infravermelho."
Polêmicas
O programa de drones tornou-se uma das principais armas dos EUA no combate a extremistas de grupos como a Al-Qaeda. Mas críticos alegam que os ataques produzem um número significativo de vítimas civis e que o projecto carece de controle maior.
Bryant conta que, como operador de drones, ajudou a matar mais de 1600 pessoas entre 2006 e 2011. Durante quase quatro anos, ele trabalhou nos turnos da noite (dia no Afeganistão e no Iraque), quando grande parte das missões era conduzida.
O facto de monitorar muitas pessoas no seu dia a dia e assisti-las nas suas tarefas quotidianas tornava a tarefa difícil para Bryant. "Sabia que eles (os alvos) eram seres humanos. Assistia-os vivendo as suas vidas, fazendo as suas coisas, até plantar uma bomba num local e voltar para a casa para abraçar os seus filhos."
No fim das contas, Bryant diz que o conflito entre o que ele havia prometido fazer (proteger vidas americanas) e o que ele era forçado a fazer levaram-no a desistir. "Foi quando eu decidi dar as costas e ir embora."
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