MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá amiga JuditeComo estás de saúde? E a tua família?
Do meu lado está tudo bem, felizmente.Escrevo-te hoje para te falar do que penso que aconteceu na recente sessão do Comité Central do partido Frelimo.Muitos de nós acreditávamos que poderia haver mudanças de fundo na forma como a política e a administração são exercidos no país.
Enganámo-nos.A intervenção de Graça Machel, logo no início do encontro, pedindo para os dirigentes históricos do partido, presentes como convidados, poderem participar, activamente, nas chamadas plenárias restritas, parecia abrir a porta para a vitória de ideias que contrariam a orientação actualmente em vigor. Mas a frase “sem direito a voto” devia ter acabado com todas as ilusões.
Desde o Congresso de Pemba a maioria dos críticos do guebuzismo foram afastados do Comité Central e substituídos por gente próxima da actual direcção. Gente que vota como lhe mandam votar, sem pensar muito no assunto.
Portanto, por muito eloquentes que tenham sido os argumentos dos críticos, por muita liberdade que lhes tenha sido dada para falarem, quando chegou o momento da verdade, o momento dos votos, quem ganhou foi um dos do triunvirato patrocinado pelo actual Presidente do partido. Os outros dois foram, por seu lado, humilhados com votações baixíssimas, com destaque para o irmão do madeireiro chinês que, para além do seu próprio voto, só teve mais dois. O mesmo aconteceu, de resto, com a eleição do Secretário-geral do partido.
O que se vai seguir não sei. Ou os dirigentes históricos aceitam que foram varridos para o caixote do lixo da história moçambicana, ou não aceitam. Mas, no segundo caso, creio que só podem pensar numa actuação fora do partido Frelimo. Dentro, como agora se verificou, as portas estão todas fechadas.
Não sei se haverá neles força e, especialmente, vontade de patrocinarem uma candidatura independente às próximas eleições.
A ver vamos...Caso isso não aconteça vamos ter um candidato presidencial do partido Frelimo que nem sequer é membro da sua Comissão Política. Isto é, um candidato
praticamente sem nenhum poder e que, se vier a ser eleito, vai, muito provavelmente, governar de acordo com as orientações superiores.
O que, desde a Independência nacional, nunca aconteceu.
O tempo nos vai mostrar as consequências das decisões tomadas, na Matola, neste longo fim-de-semana político.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 04.03.2014
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