Guebuza e o eterno dilema da sua sucessão |
Escrito por Luís Nhanchote |
Quinta, 05 Setembro 2013 14:36 |
![]() Na vésperas desse evento, decorrido na Escola do Comité Central da Frelimo, na Matola, ecoava o nome de Heldér Muteia, tido como “Delfim” de Chissano, como seu provável sucessor. O efeito Guebuza, que com 95,2 porcento dos votos era confirmado o próximo candidato da Frelimo e substituía, deste modo, Manuel Tomé nas funções de secretário-geral. Faltavam cerca de dois anos para o pleito de 2004. Neste momento, a 13 meses para as eleições gerais marcadas para 15 de Outubro de 2014, mantém-se a incógnita sobre o sucessor de Guebuza, facto que está a levantar as mais diversas especulações, como a de a Frelimo, com maioria qualificada, e sob comando total de Armando Guebuza, poder alterar a Constituição da República (cujo debate sobre a revisão do mesmo está em curso) e manter o actual Presidente da República por mais um mandato. Nesta análise, procuramos, nas entrelinhas dessa incógnita, desfiar esse mistério que está a deixar vários sectores de cabelos arrepiados. Que mistério é este?Desde a implantação da democracia multipartidária em Moçambique, que veio pela via da Constituição de 1990, e as suas primeiras eleições quatro anos depois – dois anos antes o governo da Frelimo e a Renamo, chancelavam em Roma, Itália, o Acordo Geral de Paz, Joaquim Chissano sempre esteve ao leme da Frelimo, que tinha tido antes outros secretários-gerais não “presidenciáveis”.A característica dos governos de Chissano nos anos últimos da sua chancelaria foi a tecnocracia. Chissano capitalizou bastante os jovens com formação técnica para operacionalizarem os planos quinquenais. Como a Constituição da República estabelece um limite de dois mandatos não renovavéis, Chissano chegou naturalmente ao fim, sem que contudo conseguisse que a Frelimo tivesse uma maioria qualificada. Nos dois anos em que Guebuza esteve como secretário-geral, conseguiu no périplo que fez pelo país adentro reogarnizar as bases, que as hostes na Frelimo consideravam que Chissano se tinha esquecido delas. Nessa época, dizia-se que Chissano se tinha desligado do país e estabelecido um “gabinete áereo”. E assim Guebuza foi “entronizado” em 2005, como o novo Presidente do País e, naturalmente, chegou à presidência daquela formação partidária, que em 2009, no seu Nono Congresso realizado em Quelimane, atribui a Chissano o título de presidente “honorário”. Do “boom dos recursos naturais”A chancelaria de Armando Guebuza foi claramente marcada pela “descoberta” de recursos minerais que podem colocar o país na rota do desenvolvimento.Mas muitas vezes foi referido que o presidente Guebuza detém um vasto leques de interesses empresariais. Os dossieres sobre a exploração mineira em Moçambique, como algumas organizações da sociedade civil têm denunciado, continuam no segredo dos deuses. Isto é, quem está a governar é quem tem acesso privilegiado a estes dossiers. A título ilustrativo, desde que chegou ao poder, o que alicerça a tese de que ele pode manter no poder, por via de uma emenda constitucional a ser eventualmente efectuada pela bancada do partido que dirige, o cidadão Armando Emílio Guebuza, através da Intelec Holdings, a que está ligado, associou-se a Shree Cement Limitada, e ambos criaram a ECM - Elephant Cement Moçambique, Limitada, que se dedica à “exploração mineira de pedra calcária e outros minerais”. Tobias Dai – ex-ministro da Defesa irmão da Primeira-Dama, isto é? seu cunhado? é sócio da Tantalite Holdings, sociedade que se dedica “à exploração mineira de tantalite e minerais associados”. A sociedade foi criada em 2008, ou seja, Guebuza já estava no poder. Valentina da Luz Guebuza, uma das filhas do Presidente Armando Guebuza, e o seu tio, José Dai (primo de Tobias Dai), constituíram a Servicon, Limitada, em 2008, que tem como objecto social a actividade mineira. Outro filho de Guebuza, Ndambi Armando Guebuza, criou a Intelec B.A.C. - Business Advisory & Consulting, Limitada, que é ligada à Intelec Holdigs, que também tem interesses no sector. Esta referência pode ser uma amostra de que se Guebuza não indicar o seu sucessor (a via tem sido o Comité Central) vai adensar a tese de que os ganhos dos recursos, como o carvão, o gás e, quiçá, o petróleo só deverão começar a "jorrar" quando ele já não estiver no poleiro e as empresas dele estiverem na dianteira. Refira-se que no dia 26 de Junho do ano passado, durante a cimeira do Rio de Janeiro, o Presidente Guebuza foi jantar em casa de Murilo Ferreira, o presidente da multinacional Vale do Rio Doce, que está a operar no país. Este facto aconteceu numa viagem de Estado e foi denunciado na imprensa nacional e internacional. A procissão de “Hossanas” ao Presidente Guebuza, por via de uma media bem identificada, é outro sinal de que os mistérios se adensam sobre a sua sucessão. Apesar de Guebuza ter dito publicamente que não se vai recanditar, ao ritmo como está a ser endeusado, não espantaria a ninguém a sua recondução por via da eventual emenda ao texto constitucional. Assim como nos filmes: foi a vontade popular que pediu que continuasse.... É Feliciano Gundana seu sucessor?![]() Se tal facto acontecer, isto significa que Armando Guebuza, que detém a presidência do partido e a manterá mesmo fora da palácio da Ponta Vermelha, continuará a dirigir os destinos do país. Nessa altura, por alturas das eleições gerais e multipartidárias, Gundana estará a completar 74 anos, visto que nasceu em 1940 e faz parte da geração de 25 de Setembro que ainda dirige o país. A ver vamos, estamos aqui para isso. |
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