Assad avisa que um ataque externo contra o seu regime pode
desencadear “uma guerra regional” e ameaça retaliar contra "interesses
franceses".
Bashar al-Assad avisou que um ataque externo contra o
seu regime pode desencadear “uma guerra regional” numa zona do mundo
que descreve como “um barril de pólvora”.
Entrevistado pelo jornal francês Le Figaro,
o líder sírio, acusado por norte-americanos e franceses de ter usado
armas químicas em ataques que mataram centenas de sírios no dia 21,
desvalorizou os riscos da retaliação que venha a ordenar em resposta
contra um ataque externo. “Não devíamos estar a falar só da resposta
síria, antes no que pode acontecer depois do primeiro ataque. Ora,
ninguém pode saber o que vai acontecer. Todo o mundo perderá o controlo
da situação assim que o barril de pólvora explodir”, afirmou.
“O
Médio Oriente é um barril de pólvora. Hoje, o fogo está-se a aproximar”,
descreveu Assad na entrevista que o diário publicará terça-feira (esta
segunda disponibilizou alguns excertos no seu site). “O caos e o extremismo vão espalhar-se por todo o lado. Há o risco de uma guerra regional.”Assad voltou a considerar um disparate “sem lógica” a acusação de que está por trás dos ataques de 21 de Agosto contra várias localidades nos arredores de Damasco. Washington diz que os bombardeamentos com gás sarin mataram 1429 pessoas, incluindo 426 crianças. Paris diz que sabe que foram usados químicos – e está a testar para concluir se foi sarin – e que morreram pelo menos 281 pessoas.
A oposição conservadora francesa, que começou por indicar que apoiaria a participação de Paris num ataque punitivo contra a Síria, começou a pressionar François Hollande para que levasse, tal como os líderes norte-americano e britânico, a questão a votação ao Parlamento. Barack Obama anunciou no sábado que vai pedir a autorização ao Congresso: na próxima segunda-feira, dia 9 de Setembro, o pedido será discutido.
A Constituição francesa não obriga o Presidente Hollande a fazê-lo, e para já está marcado apenas um debate parlamentar para quarta-feira.
Uma série de socialistas franceses defendem que Hollande não deve abdicar do direito de avançar com um ataque e deixar essa decisão aos deputados. Mas foi isso exactamente que o Presidente norte-americano anunciou que ia fazer, embora sublinhasse que tem o direito de ordenar um ataque sem ouvir o Congresso. Já David Cameron é obrigado a ouvir a Câmara dos Comuns, que reprovou o princípio de uma intervenção na semana anterior.
Tudo isto é uma situação nova: nem há memória de um primeiro-ministro britânico perder o controlo da sua política externa, nem nos EUA há uma situação comparável — o que vinha a haver era justamente o contrário, presidentes que tomavam decisões que os seus críticos diziam que deviam passar pelo Congresso.
Tudo isto se reflecte em França. O antigo primeiro-ministro e deputado da UMP François Fillon pediu uma votação. O líder do partido conservador, Jean-François Copé, pediu pelo seu lado ao Presidente que espere pelos resultados das conclusões dos peritos da ONU. Os serviços secretos franceses apresentaram ontem um documento de nove páginas descrevendo o ataque químico de 21 de Agosto como “enorme e coordenado” e dando como certo que este foi ordenado pelo regime de Damasco.
“A questão é demasiado séria para ser submetida a política partidária”, contrapôs a ministra Marisol Touraine, dos Assuntos Sociais. “Devemos cingir-nos à Constituição”, defendeu também a socialista Elisabeth Guigou, da comissão de assuntos externos. O que aconteceria, questionou, se o Parlamento aprovasse o ataque e o Congresso dos EUA o chumbasse? A França, que o ministro da Defesa já disse que não agiria sozinha, ficaria numa “situação impossível”.
Na rara entrevista a um media de um país ocidental, Assad também disse que a França passará a ser "um inimigo" caso participe num ataque contra Damasco. "O povo francês não é nosso inimigo, mas [...] na medida em que a política do Estado francês for hostil ao povo da síria, esse Estado será nosso inimigo", afirmou ao Le Figaro. "Haverá repercussões, negativas, entenda-se, contra os interesses da França", ameaçou.
A intervenção é pouco popular entre os franceses (64% contra) mas beneficiaria Hollande, visto como fraco, ao mostrá-lo como um aliado de Obama num conflito internacional, diz a revista Time.
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