segunda-feira, 1 de julho de 2013

Ponto prévio do governo pode resvalar num autêntico impasse ao diálogo político em curso

Ponto prévio do governo pode resvalar num autêntico impasse ao diálogo político em curso

Está mais claro do que nunca que brevemente vai acontecer o frente-a-frente entre o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza (AEG), e o Líder da Renamo, Afonso Macacho Maceta Dhlakama (AMMD).
É um encontro fundamental para se sanar a actual crise política que se vive no país e acabar com a violência armada em curso.
Porém, para este encontro acontecer como se espera nãopode agora começar a existir exigências de nenhuma das partes que resvale numa situação de impasse.
O ponto prévio apresentado pelo governo para o diálogo que deve retomar esta segunda-feira, 1 de Julho, entre as delegações das duas partes é demais exagerado a essas alturas. Nomeadamente, exigir hoje a desmilitarização da Renamo pode ser visto como uma condição que impede claramente a intenção do diálogo.
Perante o cenário vigente, é absolutamente improvavél que a Renamo aceite ser desarmada.
Aliás, esta é questão que já dura mais de vinte anos, por isso não se vê razão para ela ser colocada no topo da agenda do diálogo decorrente da  situação  de violência armada em curso no país.
Entendemos que essa é uma questão que pode muito bem ser tratada a posterior, pois o que urge neste momento é buscar entendimento e confiança entre as partes.
Se AMMD está nas matas da Gorongosa é natural pensar que é pela confiança das armas que possui.
Se ele ainda tem essa capacidade de pressionar o governo é natural pensar que é pela segurança das armaspela segurança das armas que tem.
Acima de tudo, é preciso entender que essas armas estão em sua posse a mais de 36 anos, e nos últimos vinte anos nunca fizeram mal algum.
Dá para perceber que o problema não reside nessas armas que agora o governo pretende retirar dele.
Há claramente desentendimento entre a Renamo e o Governo e as questões são sobejamente conhecidas, daí que a prioridade, a atenção deve ser dada a resolução das questões que estão por detrásdo desentendimento político em curso.
Mais uma vez, importa reiterar de viva voz que exigir a desmilitarização da Renamo a essas alturas é o mesmo que colocar impasse ao diálogo em curso.
O jornal defende que o governo deve retirar essa exigência e prosseguir normalmente o diálogo como vinha fazendo, até se encontrar uma solução  para acabar com o conflito em curso.
Por mais bem elaborados que sejam os comunicados sobre a presente situação que se vive em Moçambique há mínimos que devem ser observados para que a coisa não se acelere para o desastre.
Uma coisa é reconhecer erros do passado e assumir as responsabilidades  num processo  em que todos tem culpas e outra é continuar-se a partir de posições de dureza e inflexibilidade.
Moçambique não precisa de outro AGP. Simplesmente há que entender aquele não foi implementado na íntegra. Pegar nos pontos que se requerem atenção e avançar por aí.
Não é necessário inventar a roda como sabemos.
Os ex-beligerantes preparando-se para a guerra trazem sombras que os moçambicanos não querem revisitar.
O momento é de extrema gravidade e com declarações como as do ministro de defesa do Zimbabwe clamando por intervenção da SADC pode-se dizer que a aliança africana para acudir o governo de Moçambique está já construída.
Revela-se falta de vontade política genuína de resolver conflitos de origens conhecidas.
Como levar o líder da Renamo para Maputo para um suposto encontro com o PR?
Fragilizar a posição do líder da Renamo significa colocá-lo em rota de colisão com os seus e isso não deverá, obviamente, ser aceite por este. Se este se encontra na Gorongosa isso foi fruto de um processo de corrosão interna e cultivado por forças políticas externas a Renamo. Houve um aproveitamento concreto de debilidades internas da Renamo decorrentes de algumas avaliações precárias de um processo político em certa medida imposto.
Hoje o que se pretende não é destapar campas e ressuscitar cadáveres. Só com todos envolvidos na construção de uma verdadeira democracia é que se resolverão os problemas de Moçambique.
Se os interlocutores do actual diálogo sabem onde estão as divergências e se sobretudo pretendem limpar a casa de pontos críticos, há que trazerem uma abordagem qualitativamente diferente para a mesa.
Levar AEG para a Gorongosa ou Dlahkama para Maputo não é praticável nem ponto de partida para um acordo político entre as partes.
Não seria tempo de utilizar a diplomacia internacional, especialmente a Comunidade de Santo Egídio para ajudar na preparação de um encontro robusto e decisivo para a manutenção da paz em Moçambique?
Quem não quer campo neutro e seguro para as partes realmente conversarem? Face as hostilidades actuais já desencadeadas e ao ambiente de pouca confiança que se desenvolveu não seria de aconselhar as partes para que preparassem uma prenda de aniversário da independência diferente para os moçambicanos?
Anos de adiamento de diálogos fundamentais e de implementação séria de um acordo longamente negociado estão colocando todo um processo político em causa. Os sujeitos da acção inconclusiva são sobejamente conhecidos.
E estão todos vivos. Porque não chamá-los à mesa no lugar de semanalmente se sentarem a mesa para fingir que estão conversando?
A demagogia já deu todo o tipo de frutos que poderia dar.
O governo moçambicano pode recuperar o tempo perdido mas mostra-se necessário mudar de táctica ou fundamentalmente de estratégia.
O primeio comunidado do porta-voz do PR contém em si um impasse ou convida a um impasse.
Ou será mais uma manobra para entrenter ou ganhar tempo para que as condições consideradas necessárias sejam criadas de modo a prosseguir-se no caminho da guerra?
Como é que a Renamo vai reagir?
O povo moçambique quer e exige resultados tangíveis.
Mas sem flexibilidade e espírito patriótico corre-se o risco de vermos Moçambique avançando para a violência.
Não basta afirmar que queremos a paz e que repudiamos a guerra. É preciso tratar dos assuntos em mão com seriedade e respeito pelos concidadãos.
Se não estão preparados para ceder no essencial não enganem o povo com declarações inflamadas que de paz pouco ou nada possuem.

O AUTARCA – 01.07.2013

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