Grupo Maiaia, proprietário de vários empreendimentos industriais e comerciais em Nacala-Porto, província de Nampula, está a provocar prejuízos à banca nacional e os seus proprietários estão em parte incerta. O “império” de Nacala deve à banca perto de USD50 milhões, onde a parte do leão pertence ao BIM e BCI, os dois maiores bancos comerciais em Moçambique.
O SAVANA apurou que os responsáveis do grupo Maiaia, com destaque para Nurolamin Gulam Hassam e Hussen Gulam Mahomed, administradores daquele grupo empresarial, abandonaram o país para Portugal e Dubai, onde já se encontrava parte da família.
A precipitada fuga aconteceu após fortes pressões exercidas pelo Barclays Bank, num esforço para recuperar uma dívida de cinco milhões de dólares.
Ao que apurámos, parte da família Gulam, proprietária do Grupo, está fora do país em consequência dos raptos, fenómeno de que foram vítimas. Aliás, consta que eles se sentem injustiçados pelo facto de o Governo não ter resolvido o problema dos raptos e tiveram de desviar parte de dinheiro para o pagamento de resgastes.
Fundado nos anos 80, o Grupo Maiaia era dos mais prósperos e influentes em Nacala Porto, empregando centenas de trabalhadores.
Dívida do Barclays
Um alto funcionário do Barclays Bank confirmou ao SAVANA que a sua instituição viu-se obrigada a avançar para o processo de penhora dos bens do Grupo, que não se dignava a atender aos vários avisos no sentido de saldar a dívida.
Entre os dias 22 e 28 do mês de Abril foram penhorados todos os imóveis do Grupo, fábricas de trigo, bolachas, chapas de zinco e plásticos, que agora se encontram sob protecção de uma empresa de segurança privada contratada pelo banco.
As instituições bancárias mais afectadas pelos “créditos mal parados” estão já em contacto com outros empresários para tentar vender o património penhorado. Um dos temores é que existam bens que tenham sido alvo de duplicação de hipotecas, como aconteceu no escândalo na “Niza Modas” em Maputo.
A nossa reportagem em Nacala tentou contactar um dos gerentes de uma das fábricas, mas este declinou tecer qualquer tipo de comentários alegando que não está autorizado a prestar declarações à imprensa.
“Esta não é a missão para a qual fui contratado. O melhor é procurar os proprietários do grupo”, disse.
No entanto, há indicações não confirmadas de que os proprietários do grupo Maiaia terão depositado nos últimos meses acima de USD100 milhões em contas que possuem fora do país.
O SAVANA soube igualmente que ao Bim, o Grupo deve cerca de USD17 milhões e USD15 milhões ao BCI, dívidas consideradas por fontes bancárias como difíceis de cobrar. A dívida ao Barclays, por indicação do banco central foi totalmente aprovisionada no último exercício tornado público pelo banco. As dívidas ao Banco Único, segundo fontes da praça financeira em Maputo, também ultrapassam o milhão de dólares. Fontes do Bim e BCI não quizeram confirmar os valores da dívida alegando que a ética bancária não lhes permite fazer comentários sobre assuntos dos seus clientes em público.
Ao Moza Banco, a dívida do Grupo está abaixo dos USD80 mil, dinheiro que está a ser descontado nas rendas de num imóvel que funciona como agência bancária da instituição dirigida por Prakash Ratilal.
Uma das recorrentes queixas dos bancos é a dificuldade de recuperação de crédito em Moçambique, derivada do penoso processo burocrático, falta de uma central de risco e a inércia dos tribunais.
O único dos “quatro grandes” a ficar fora dos “créditos quentes” em Nacala foi o Standard Bank(SB). Uma fonte do banco disse que a estratégia da instituição está concentrada nos grandes projectos na zona centro e em Pemba e, dada a sua natureza conservadora, têm muitas reservas em dispensar crédito no “corredor de Nampula”.
Esta zona é conhecida como o maior corredor da droga do país, contrabando de mercadorias e descaminho massivo de receitas ao fisco e às alfândegas. O novo aeroporto em Nacala, contudo, é uma das operações financiadas pelo SB.
Trabalhadores à deriva
Mas quem está à deriva são os cerca de oito centenas de trabalhadores do Grupo. Apesar dos gerentes do Grupo estarem a passar a mensagem de que o patronato irá resolver o problema com a banca, reina um clima de insegurança e incerteza.
Actualmente, os empregados do Grupo, entre sazonais e efectivos têm-se deslocado aos seus postos de trabalho apenas para marcar presença.
No entanto, apurámos que os perto de 800 trabalhadores receberam os seus ordenados do mês de Abril, apesar de não estarem no activo.
Um funcionário de uma das fábricas, que aceitou falar na condição de anonimato, afirmou que todos os dias alguns gerentes têm mantido contacto com o administrador do Grupo, Nurolamin Gulam. Este terá transmitido ao referido gerente que todos os trabalhadores receberão os seus ordenados pelo menos nos próximos dois meses, período que o Grupo acredita que irá resolver o imbróglio com a banca.
Sector de trabalho
Lucas Momade, director distrital de trabalho, disse que já se reuniu com os pouco mais de 800 trabalhadores no sentido de auscultar as suas preocupações face à situação que se vive no Grupo Maiaia.
Momade aconselhou os empregados do Grupo Maiaia a terem a paciência até que o patronato dê alguma explicação sobre o futuro que se lhes reserva.
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