Ernst Habermas
11 MANDAMENTOS PARA A NOSSA SALVAÇÃO
Moçambicanos e moçambicanas, companheiros de todas as idades, raça, sexo e religião, venho hoje anunciar-vos algo cuja essencialidade é “apocalíptica”. Mas antes de tudo – como é costume dos bons moçambicanos que somos (ou que devemos ser) – devo em breve trecho apresentar-me:
Deram-me carinhosamente o nome de Eduardo Felisberto Buanaissa. E Deus (entendo lá eu porquê) decidiu que eu nascesse em Moçambique, na província de Sofala, e por via de situação, na controversa cidade da Beira, a qual amo tremendamente, a semelhança do que faço com as restantes cidades da chamada “terra dos heróis”.
Tenho 25 anos, sou formado em Filosofia pela Universidade Pedagógica de Moçambique, técnico em Africanidades pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil e neste momento me encontro na Universidade de Magdeburg, dando continuidade aos meus estudos de Pós-graduação em Desenho de Sistemas de Educação.
Durante as duas décadas e meia de que vivi, a natureza deu-me a possibilidade de conhecer gente e lugares de várias partes de Moçambique e do mundo: Oh, que alegria me vem a alma quando me lembro das marchas que levamos a cabo em Massinga, na companhia das Nações Unidas, para atingir os objectivos do desenvolvimento do milénio! Quão feliz sou quando me recordo das caminhadas – na companhia de Sansão Júnior, meu amigo de infância – que levei a cabo no distrito de Cheringoma só para filosofar junto da natureza! Quão bom é, quando me lembro da breve passagem por Mocuba, a caminho de Nampula, para encontrar com estudantes vindos de várias partes de Moçambique, com a prelecção de discutir “a universidade e o social”!
Também tenho alegria em me lembrar de ter visto a iniciativa do povo de Dubai, em construir edifícios magníficos (quem não os inveja?...) que só trazem a sua gente a alegria e a satisfação de viver! Alegro-me por ter visto gente da Suazilândia, África do Sul, Portugal, Holanda, Alemanha, Brasil, Itália e Vaticano, a conservar (ou a lutar para conservar) a sua cultura e os seus valores tradicionais, mas contudo, sem abrir mão de poder fazer o uso (infelizmente muitas vezes negativo) das benesses de que a modernidade e tudo que ela comporta nos oferece...
Enfim, com o breve trecho acima, quero dizer-vos oh compatriotas, de que tenho a satisfação de dentro das duas décadas e meia de que vivi, ter tido a oportunidade de me aproximar de realidades físicas e espirituais complexas à que me fazem concluir de que tenho condições mínimas (a partir da pequena experiência que venho colhendo ao longo do tempo) de dizer-vos 10 coisas. Aliás, 11 mandamentos, só para não me colocar no risco de entrar em “competição com Deus” nos seus 10 historicamente controversos mandamentos (onde um dos quais é: amarás ao teu próximo como a ti mesmo!). Então, as coisas que quero dizer-vos são as seguintes:
Primeiro: os franceses têm um famoso ditado que hoje tem guiado a vida de alguns moçambicanos (com destaque para o filósofo moçambicanos Severino Ngoenha). O ditado diz: Vale a pena viver pouco e bem, do que muito e mal...
Acho que os moçambicanos entendem o que isso significa, num país em que as dificuldades societais são “apocalípticas”.
Segundo: Jesus Cristo agiu de uma forma extraordinariamente inconcebível: na sua qualidade de 100% homem, assumiu ser 100% Deus (vide a Bíblia em João 10:30). Aliás, não foi por isso mesmo que o mataram? Se quisermos desenvolver um “jogo dekostrutivo”, podemos perceber de que Deus (hermeneuticamente falando) é imortal! Ou pela negativa: Não deve morrer. Ou vocês se esquecem de que Cristo foi abandonado 100% homem, com todos os nossos pecados na Cruz do Calvário bradando em alta voz: “Eloi, Eloi, Lama Sabachtani!)”?, o que quer significar: Meu Deus meu Deus, porquê me abandonaste?
Este cenário marca uma fase controversa e “apocalíptica” que transforma um Homem-Deus num Deus-morto em uma esfera fortemente sacrificial para o bem de toda a humanidade. Lembrem-se, Cristo Ressuscitou com 33 anos. Estou a dizer o seguinte: “A morte de Deus” (pós-posta pela sua Ressurreição ao terceiro dia) foi necessária, mesmo não tendo vivido muito tempo, Cristo ofereceu a sua própria vida para o melhoramento da condição existencial do homem (só para lembrar a filosofia de Sartre).
Em Moçambique, Samora Machel tentou ser um salvador – quase que a semelhança de Cristo – carregando a sua própria “cruz-social”, e nem por isso, deixou de ser abandonado pelos seus pais, sem qualquer chance para que pudesse ressuscitar...
e hoje, a pergunta-mandamento de que se pode fazer é: conseguiu Machel – consagrando a sua vida a nós – atingir os resultados para as nossas liberdades sócio-económicas e existenciais? Ou será que ainda estamos numa situação equiparada a batalha de Cristo, onde ainda virá o Apocalipse: A Era da Dekonstrução do Cosmos...
Não deverão existir continuadores das lutas de libertação? Mais uma vez, só para lembrar Machel: A luta contínua...
Terceiro: Se de facto a luta contínua, como ela deve ser organizada? Deverá ser igual a “passividade de Cristo para com Pilatos”? Ou podemos também pegar em armas, na qualidade de bons-alunos que somos, e implementar aquilo que aprendemos dos Libertadores da Pátria (só para lembrar os esforços dos ilustres camaradas Mondlane, Machel, Chissano, Marcelino, Urias, Chipande, e o actual presidente de Moçambique: Armando Emílio Guebuza)?
Ou ainda melhor: Temos outras alternativas para salvarmos-nos das barreiras existências do Glocal? Com isso estou a dizer o seguinte: cada moçambicano deve “obrigar-se” a pensar sobre o destino da nossa humanidade.
Quarto: Por favor, ré-elevem os três primeiros pontos anteriores a este, que se resumem ao ditado francês: Mas vale uma vida com dignidade, do que uma vida com covardia.
Quinto: Vou confessar-vos algo hoje, sempre que li e ouvi falar da luta de libertação moçambicana coloquei-me constantemente numa relação de amor e amargura para com os factos (não pessoas) desenvolvidos pela frente de libertação. Amor sim! Porque o facto de assumir-se a necessidade de libertar um povo, sem medir-se consequências (muitas vezes morais e quase que éticas), já constituem em si um símbolo fundamental de fraternidade para com os Cum-térraneos. E essa atitude merece louvor. Não é por acaso que com a morte de Cristo (e é claro: a Ressurreição, só para não provocar os cristãos) o seu nome esteja sendo divulgado por todas as nações.
E isto significa que a Frelimo merece o nosso louvor e amor. Mas porém, tenho amargura pelo simples facto de que nesta batalha, muitas vidas foram perdidas, se quiserdes lembrar-vos do massacre de Mueda, ou mesmo da morte de Modlane e Úrias Simango. Tenho amargura desse evento, e isso não pretendo esconder, o que não me leva e nem pode levar a recusar entregar a minha vida e a vida de muitos outros moçambicanos (como Judas, só para apresentar um exemplo...), se de facto, o objectivo para a liberdade do nosso povo for a razão. Aliás, lembrem-se do mandamento-primeiro: Viva pouco e bem do que muito e mal.
Sexto: Atenção: o respeito e a certeza de que a acção da Frelimo (e até mesmo dos outros movimentos de libertação como o ANC, o MPLA, a ZANUPF, etc.) foi legítima, não nos deve levar a defender a “síntese” (do tipo Hegeliana) de que a violência é o único e exclusivo mecanismo eficiente, quando o assunto em questão é: Ordem Social.
Sétimo: Por isso mesmo, torna-se óbvio de que em toda a história da humanidade, sempre existiram mecanismos de carácter alternativo para a reposição da ordem social, e estes mecanismos tiveram – vezes sem conta – efeitos teleológicos dos quais muito estranhamente continuamos a legitimar as guerras. Se nos quisermos lembrar, quase todas as guerras ou conflitos armados levados a cabo no interior ou exterior das nações, foram encerrados mais tarde, por intermédio de acordos de pacificação (diálogos inteligentes)...
Que pena, porquê não fizeram os acordos antes mesmo das guerras? O que tem faltado para que o diálogo ante-ponha (e por via de consequência impossibilite) os conflitos?
Vocês humanos as vezes são mesmo demasiadamente humanos (Nietzsche) e vivem tentando ser Deus (Sartre) esquecendo a felicidade que o vosso ser e tempo (Heidegger) pode dar.
E por isso mesmo vos digo: se de facto, pretenderdes a liberdade (Ngoenha), devereis entrar em diálogo intersubjectivo (Habermas) acompanhado de um encerramento do medo de que o medo acabe (M. Couto)...
Mas atenção: Temos antes de tudo, de nos organizar. Temos de saber de que não precisamos de ir longe para buscar as soluções (verdades), elas se encontram dentro de nós (Agostinho).
Oitavo: Como nos podemos organizar, de facto?
Talvez a pergunta adequada é: o que queremos organizar de facto? Com quais objectivos?
Desde os inícios da humanidade, passando mesmo pela história dos egípcios, gregos, romanos, germânicos, e hoje a dos americanos, podemos perceber de que o homem vive tentando encontrar a satisfação societal para si e para a sua comunidade. Ou vocês acham de que é por acaso que os norte-americanos vão “evadindo” a Europa desde a altura das duas-grandes guerras, o Vietname, o Iraque, o Afeganistão, o Egipto, o Zimbabué, a Líbia, o Israel, a Tunísia, o Madagáscar, a Guine-Conacry, a Guiné-Bissau, e talvez até Moçambique, etc... (hum, “dominação mundial”: os Cristãos chamam isso de “pré-Apocalipse”).
Então, se a luta é em defesa do societal, porquê que os “ditadores do social” se sentem a cada instante mais distantes dessa realidade? Ou vocês se esquecem do “discurso presidencialista” de Obama em 2008: “America we have come so far, we have seen so much, but we have so much more to do?...”
Deste modo, a resposta para as nossas duas interrogações são simples: a) Queremos organizar o nosso “Eu-societal”, na linha mesmo do pensamento Ubuntuista africano: I am because we are! Isso mesmo, “tu” és porque nós somos! Isto quer dizer: devemos ser solidários para com a nossa humanidade. E este é o nosso objectivo: A solidariedade!
Nono: como é que a solidariedade é possível? A respeito disso, me lembro de que a dois dias, me coloquei a escutar a uma gravação de uma comunicação de um dos mais influentes pensadores de todos os tempos: Karl Raimund Popper. Ele falava em uma conferência sobre o significado da Solidarität e a responsabilidade intelectual. Achei muito interessante de que o filósofo anglo-austríaco junta a ideia de Solidariedade a questão da responsabilidade intelectual. Mas antes mesmo disso, Popper procura deixar claro, de que não haverá Solidarität, se antes ela não for pensada como um aspecto social ligado a tolerância.
Tolerância significa, no mínimo, de que aceitamos de que os homens são diferentes, têm crenças e visões do mundo cada um diferente da do outro, tem religiões diferentes, seguem grupos políticos diferentes, experienciam eventos diferentes, tem talentos, paixões e amores diferentes. Nesse caso eu pergunto: se não formos antes, conscientes de que estas diferenças nos colocam a agir humanamente e completamente diferente um dos outros, poderemos ser de facto tolerantes? E se não formos tolerantes para com os outros poderemos ser solidários? Para com quem? E se já fossemos solidários, poderia permitir-se de que alguns empresários como Bashir por exemplo, compra-se as casas e os carros de luxo que já nos habituou? e viajasse para onde viaja, sem no mínimo olhar para as estradas emborracadas por onde passa e pelo menos dar um “olhar de esperança” aos mendigos que vão enchendo as cidades da pátria dos heróis? Veríamos proeminentes académicos a pagarem jantares a amigos e familiares em restaurantes de luxo a cada final de semana, chegando mesmo a atingir somas monetárias em termos de custo, no valor igual ou superior a 4000.00 mt? E para o cumulo da desgraça, a pagar os seus trabalhadores domésticos quantias salariais não superiores a 2000.00 mt em cada mês (tendo até situações de atraso no pagamento de salários trocados pelos jantares ora anunciados)?
Teríamos conceituados académicos a “ocuparem todos os postos de trabalho” do país (os chamados turbos), impedindo deste modo os recém-formados de puder por em prática aquilo que eles mesmos os ensinaram e de consequência puder guiar as suas vidas e as vidas de suas comunidades?
Ainda um pouco mais grave, poderíamos ver alguns lideres de congregações da defesa da fé (Cristo), como por exemplo, alguns da Igreja Universal do Reino de Deus, a enganar senhoras para que entreguem a cada culto de cada dia (cultos de segunda a sexta e normalmente três por dia) o pouco do dinheiro que sacrificialmente vão conseguindo para o seu sustento, na esperança de que Deus vai repor (aliás, tais senhoras e senhores, vão entregando tudo a tais lideres, a cada instante de que Deus lhes repõe, esperando alimentar-se da fé, sob a justificação, de que nem só do pão vivera o homem: vide a Bíblia: Mat. 4:4).
Poderíamos ver os delegados das precedências-abertas a desviarem constantemente o seu olhar, em relação ao sofrimento de que passam as populações (cerca de 70% do total dos moçambicanos) do interior do nosso país, e a concentrarem-se na construção de “pontes” em cidades? É muito triste, por isso digo: Precisamos de ser solidários. Mas a solidariedade sem responsabilidade intelectual, é uma podridão existencial.
Décimo: Sim: Responsabilidade Intelectual!
A responsabilidade intelectual significa: os intelectuais devem assumir de que só o são porque se lhes é confiada a tarefa de contribuir activamente no progresso do societal.
Atenção. É intelectual, aquele que faz o uso rigoroso e sistemático das suas faculdades de inteligência e de sua formação profissional ao serviço do povo. Alguns são intelectuais orgânicos (se quisermos lembrar A. Gramsci); outros são intelectuais académicos.
Os orgânicos trabalham (ou devem trabalhar) activamente para o bem do social, mas estes não se encontram directamente ligados as práticas académicas, colocando-se na maior parte dos casos em ministérios, presidência, serviços de inteligência e contra-inteligência, e na política; e os académicos são aqueles que se colocam ao serviço do social no interior das academias, inventando e ré-inventando a ciência para o progresso societal. Mas se estes últimos trabalharem por si sós (quase que abandonados na Cruz do Calvário), não poderão de certeza trazer grandes contribuições, ou quando no muito, as suas contribuições serão congeladas à um uso posterior a suas gerações.
Isto significa ré-lembrar àquilo que eu dissera no primeiro debate da nação da STV/2012, quando discutimos sobre a qualidade de educação em Moçambique (e eu defendi a urgente necessidade de cultivarmos a qualidade formal e a qualidade política, quando se pretende a qualidade da educação que de consequência permite o desenvolvimento societal). Neste sentido, pretendo relembra-los do meu discurso: os intelectuais orgânicos e os intelectuais académicos devem unir as suas forças (nesta nova forma de que a Luta de Libertação Nacional assumiu) para permitir com que a ordem social, e por sua vez o progresso societal se tornem possíveis.
Já não precisaremos mais de pegar em armas! Hum, por falar em armas, me lembro de que li na casa de umas amigas o seguinte: “Some people take the guns and kill another people (it is bad: meu acréscimo), thats why we take the guns and kill them”. Muitas vezes não entendo a vossa lógica, vocês demasiado humanos!...
Estou a dizer o seguinte: os esforços conjugados, entre os nossos intelectuais, associados de facto, a ideia de solidariedade (que se plasma num espírito de tolerância), vão nos permitir a entrarmos em espaços públicos de diálogo (Habermas), onde o argumento mais forte sairá vencendo. Lembrem-se, é argumento mais forte aquele que puder propor a melhor iluminação (esclarecimento :do Aufklärung de Horkheimer e Adorno) do nosso devir societal.
Em palavras muito definitivas, estou a escrever-vos esta carta meus moçambicanos, para dizer que o interesse académico e político (Qualidade formal e qualidade política) de Moçambique hoje, é que se deve responsabilizar pelo desenvolvimento de Moçambique. É claro que sempre nunca deixando de fora a intervenção de outros agentes sociais como a mídia, a religião, a sociedade civil, as ONGS, as multi-nacionais, etc.
Não é por acaso que o governo de Moçambique (por intermédio do ministério da Educação) e a Universidade Pedagógica, representando a qualidade política e a qualidade formal respetivamente, contribuíram no financiamento dos meus estudos nesta Universidade onde me encontro agora a escrever-vos esta carta. Fazendo-me ter a oportunidade de perceber de que a educação Ré-pensada liberta-nos (R. Girmes).
Na próxima segunda-feira regresso a pátria dos heróis, com a consciência de que ainda temos muito a fazer.
Um grande abraço fraterno a todos! E não vos esqueçais, a segunda e derradeira fase da nossa luta de libertação contínua! Só que desta vez, sem armas, porém: Pelo diálogo inteligente, cujas estratégias devem ser elaboradas pelos nossos intelectuais.
Já ia me esquecendo, tenho ainda de escrever-vos o décimo-primeiro-mandamento! Só para não fazer concorrência a Deus (e cair no erro do Desire to Be God de Sartre). Aliás, “quem o mandou” não ter nos dado o décimo-primeiro-mandamento que se calhar (segundo E. Galeano) afirmaria: Amai a Natureza com a ti mesmo!?
Décimo-primeiro: Amais a Natureza como a vós mesmos! Do contrário, condenar-vos-ei a odiarem os chineses, a Mozal, a Vale-Moçambique, etc.
Che la Natura vos Proteja
Eduardo F. Buanaissa
Centro de Informática da Universidade de Magdeburg
Magdeburg, 10. 08. 2012
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