by Lorena Massarongo on Wednesday, 28 November 2012 at 04:48 ·
A morte! A morte faz parte da vida e como tal deverá ser, digamos, tolerada! Não direi aceite. Ao menos, tolerada. Mas ninguém gosta de falar da morte: da morte no geral, da morte de pessoas próximas e muito menos da própria morte! Poucos, muito poucos, ousam sequer pensar na morte! Daí o quase desuso do hábito de aderir a um seguro de vida e/ou redigir um testamento, o que é uma grandessíssima pena, pois perdemos a preciosa oportunidade de encaminhar os bens que fomos reunindo ao longo de toda uma vida para a(s) pessoa(s) que gostaríamos que com eles ficassem.
Esta aversão à morte impede-nos ainda de decidir sobre a forma como desejamos fechar a cortina da vida, quando a inevitável hora chegar: se gostaríamos de ser enterrados ou cremados, onde gostaríamos de ser enterrados ou que destino gostaríamos que fosse dado às nossas cinzas, que roupa gostaríamos que nos fosse vestida, que tipo de cerimónia gostaríamos de ter, etc. E o resultado é que acabamos “assistindo” à violação de todas estas pretensões; embora, regra geral, os nossos familiares e amigos se esforçem por proporcionar-nos o melhor que podem, se não tivermos em vida expressado a nossa vontade, eles estarão incapazes de concretizar a tal última vontade.
No lugar de regressar do além para perturbar os vivos, como tantas vezes ouvimos dizer, melhor é, penso eu, deixar, ainda em vida, tudo às claras!
Ora bem, se eu me for antes de vós, evitem o meu regresso para puxar os vossos pezinhos à noite, obedecendo ao seguinte:
1. Será triste, imagino! Chorem, se assim o sentirem... Mas, apressem-se: alguns de vós terão que ter a frieza necessária para agilizar as questões práticas do meu funeral.
2. Nada de desarrumarem a minha casa. Deixem tudo como está, onde está: não cubram nada, não desmontem camas nem desloquem móveis.
3. Desejo ser cremada e com brevidade! Sejam flexíveis e marquem a cremação com urgência, no máximo em 48 horas!
4. Nada de caixões caros! A minha filha vai precisar desse dinheiro para os estudos dela. Contactem um carpinteiro que saiba unir e envernizar simples chapas de pinho, revestidas pelos meus mucumes. Seleccionem os mucumes em melhor estado. Nada de comprarem novos: quero os meus, por mim usados!
5. Sempre fui vaidosa! Vistam-me um dos meus vestidos de noite (a minha irmã Kátia tem ótimo gosto e fica encarregue de escolher o traje) e não se esqueçam da maquilhagem (nunca ando sem e quero ir com). Geralmente ando com as unhas arranjadas mas, se não for o caso, pintem-nas de vermelho: mãos e pés.
6. Gostaria que o meu velório fosse na igreja onde cresci, a Sé Catedral. Se as “regras” o impedirem, insistam. Se depois de muito insistirem não for mesmo possível, que seja na capela do HCM. Que remédio?
7. Sempre adorei o coro da igreja! Certifiquem-se que seleccionam o melhor dos coros, para o velório e também para a cremação. A madrinha Otília e a tia Antónia poderão seleccionar as canções. E por favor, nada de “Dzi Ya Khaya”! Detesto esta música!
8. Escolham uma foto em que eu esteja sorridente e careca e, por favor, seleccionem um profissional competente para ampliá-la. Bem sabem que sempre fui exigente e atenta à riqueza dos detalhes.
9. Descompliquem o programa: do velório para o cemitério. Nada de passagens por casa! Poupem-me essa maçada!
10. Para amparar a minha filha durante toda a cerimónia, e antes, e depois,..., confio a minha filha ao colo dos meus afilhados (A & V, identificados nesta nota), o mesmo colo que sempre me dispensam e que tanto valorizo. E, claro, ao calor de todos vós!
11. Nada de vestirem a minha filha de preto: ela que escolha, livremente, o que quer vestir para o funeral. Sempre estimulei nela a autonomia e a cultura da necessidade de fazer as próprias escolhas.
12. Sempre fui uma rapariga expressiva. Se puderem, leiam-me algumas mensagens, completamente informais, que expressem o que terei significado nas vossas vidas. Poupem-me das habituais e entediantes “nasceu em XXXX estudou em blá-blá-blá...”. Sempre preferi palavras que transpirassem sentimento! E lembrem-se que será a última vez que estarei na vossa presença... fisicamenente...
13. Não se “acanhem”: comprem-me flores, muitas flores, mas NÃO as comprem no cemitério. Encomendem nas floristas da vossa preferência e não sejam sovinas: GASTEM! Sempre adorei flores!
14. Concluída a cremação, anunciem a data e o local para lançarem as cinzas: Marginal, na curva acentuada a seguir as Bombas da BP, no sentido para a baixa da cidade, e que seja na sexta-feira seguinte, às 17h30 (se for inverno, podem antecipar para as 17h00). Pedrito, cabe-te garantir um som à altura: deixem tocar o álbum Soul in Mind da Lira. Se houver tempo, e atrasos, toquem também o Return to Love!
15. Após o funeral, podem juntar-se em minha casa mas, por favor, para o after-party, e à semelhança das muitas farras que terei organizado enquanto viva, agradeço que compareçam com um prato e uma bebida. Compreendam que a minha filha irá precisar do dinheiro que o meu serviço disponibilizar (os famosos 6 meses de salário) para viver e custear os estudos. Sempre antipatizei com o encargo dos chás e refeições que as famílias enlutadas têm de suportar nessas ocasiões. Afinal, há vida para os que ficam, vida e contas por pagar. Sempre que vou ao uma cerimónia do género, compareço com o meu contributo: um pacote de chá, um quilo de açucar, água mineral, arroz, etc. Que cada um traga um pouco e, desde já, agradeço.
16. Que o after-party seja no meu jardim. Mantenham a minha casa fechada.
17. Para o after-party, aluguem mesas, cadeiras e loiça. Nada de gente a comer à mão, sem copos/pratos suficientes. Organizem-se!
18. Durante o after-party, toquem os meus CD´s. Nada de cânticos e choros! Nunca fui adepta de lágrimas: quero música, muita música, a minha música! Cantem, sorriam, bebam e por, fim, “bazem”! Nada de pernoitarem em minha casa! Cada um para a sua cama. Sempre detestei a ideia de haver obrigatoriedade de pernoitar-se na casa enlutada! É um caos: demasiado barulho, demasiada gente, pouco descanso, pouco sossego! Já me referi a quem gostaria que permanecesse com a minha filha!
19. Que ninguém vista luto, nem durante o funeral, nem depois, nem NUNCA!
20. Não quero missas! Se quiserem recordar-me, elegam o dia do meu aniversário e façam uma farra! Adorarei!
21. Katyuska, não te esqueças de olhar pela minha princesa!
22. Guardem todos os meus pertences! Tem la muita coisa jeitosa que muito ira servir a minha filhota no futuro.
P.S.: Nada de aflições! Não me vou suicidar, nem estou com nenhum problema dito GRAVE, nem doente (que eu saiba)! Apenas quis deixar a minha vontade expressa pois percebi que para morrermos basta que estejamos vivos. E vivos, estamos todos!...
Esta aversão à morte impede-nos ainda de decidir sobre a forma como desejamos fechar a cortina da vida, quando a inevitável hora chegar: se gostaríamos de ser enterrados ou cremados, onde gostaríamos de ser enterrados ou que destino gostaríamos que fosse dado às nossas cinzas, que roupa gostaríamos que nos fosse vestida, que tipo de cerimónia gostaríamos de ter, etc. E o resultado é que acabamos “assistindo” à violação de todas estas pretensões; embora, regra geral, os nossos familiares e amigos se esforçem por proporcionar-nos o melhor que podem, se não tivermos em vida expressado a nossa vontade, eles estarão incapazes de concretizar a tal última vontade.
No lugar de regressar do além para perturbar os vivos, como tantas vezes ouvimos dizer, melhor é, penso eu, deixar, ainda em vida, tudo às claras!
Ora bem, se eu me for antes de vós, evitem o meu regresso para puxar os vossos pezinhos à noite, obedecendo ao seguinte:
1. Será triste, imagino! Chorem, se assim o sentirem... Mas, apressem-se: alguns de vós terão que ter a frieza necessária para agilizar as questões práticas do meu funeral.
2. Nada de desarrumarem a minha casa. Deixem tudo como está, onde está: não cubram nada, não desmontem camas nem desloquem móveis.
3. Desejo ser cremada e com brevidade! Sejam flexíveis e marquem a cremação com urgência, no máximo em 48 horas!
4. Nada de caixões caros! A minha filha vai precisar desse dinheiro para os estudos dela. Contactem um carpinteiro que saiba unir e envernizar simples chapas de pinho, revestidas pelos meus mucumes. Seleccionem os mucumes em melhor estado. Nada de comprarem novos: quero os meus, por mim usados!
5. Sempre fui vaidosa! Vistam-me um dos meus vestidos de noite (a minha irmã Kátia tem ótimo gosto e fica encarregue de escolher o traje) e não se esqueçam da maquilhagem (nunca ando sem e quero ir com). Geralmente ando com as unhas arranjadas mas, se não for o caso, pintem-nas de vermelho: mãos e pés.
6. Gostaria que o meu velório fosse na igreja onde cresci, a Sé Catedral. Se as “regras” o impedirem, insistam. Se depois de muito insistirem não for mesmo possível, que seja na capela do HCM. Que remédio?
7. Sempre adorei o coro da igreja! Certifiquem-se que seleccionam o melhor dos coros, para o velório e também para a cremação. A madrinha Otília e a tia Antónia poderão seleccionar as canções. E por favor, nada de “Dzi Ya Khaya”! Detesto esta música!
8. Escolham uma foto em que eu esteja sorridente e careca e, por favor, seleccionem um profissional competente para ampliá-la. Bem sabem que sempre fui exigente e atenta à riqueza dos detalhes.
9. Descompliquem o programa: do velório para o cemitério. Nada de passagens por casa! Poupem-me essa maçada!
10. Para amparar a minha filha durante toda a cerimónia, e antes, e depois,..., confio a minha filha ao colo dos meus afilhados (A & V, identificados nesta nota), o mesmo colo que sempre me dispensam e que tanto valorizo. E, claro, ao calor de todos vós!
11. Nada de vestirem a minha filha de preto: ela que escolha, livremente, o que quer vestir para o funeral. Sempre estimulei nela a autonomia e a cultura da necessidade de fazer as próprias escolhas.
12. Sempre fui uma rapariga expressiva. Se puderem, leiam-me algumas mensagens, completamente informais, que expressem o que terei significado nas vossas vidas. Poupem-me das habituais e entediantes “nasceu em XXXX estudou em blá-blá-blá...”. Sempre preferi palavras que transpirassem sentimento! E lembrem-se que será a última vez que estarei na vossa presença... fisicamenente...
13. Não se “acanhem”: comprem-me flores, muitas flores, mas NÃO as comprem no cemitério. Encomendem nas floristas da vossa preferência e não sejam sovinas: GASTEM! Sempre adorei flores!
14. Concluída a cremação, anunciem a data e o local para lançarem as cinzas: Marginal, na curva acentuada a seguir as Bombas da BP, no sentido para a baixa da cidade, e que seja na sexta-feira seguinte, às 17h30 (se for inverno, podem antecipar para as 17h00). Pedrito, cabe-te garantir um som à altura: deixem tocar o álbum Soul in Mind da Lira. Se houver tempo, e atrasos, toquem também o Return to Love!
15. Após o funeral, podem juntar-se em minha casa mas, por favor, para o after-party, e à semelhança das muitas farras que terei organizado enquanto viva, agradeço que compareçam com um prato e uma bebida. Compreendam que a minha filha irá precisar do dinheiro que o meu serviço disponibilizar (os famosos 6 meses de salário) para viver e custear os estudos. Sempre antipatizei com o encargo dos chás e refeições que as famílias enlutadas têm de suportar nessas ocasiões. Afinal, há vida para os que ficam, vida e contas por pagar. Sempre que vou ao uma cerimónia do género, compareço com o meu contributo: um pacote de chá, um quilo de açucar, água mineral, arroz, etc. Que cada um traga um pouco e, desde já, agradeço.
16. Que o after-party seja no meu jardim. Mantenham a minha casa fechada.
17. Para o after-party, aluguem mesas, cadeiras e loiça. Nada de gente a comer à mão, sem copos/pratos suficientes. Organizem-se!
18. Durante o after-party, toquem os meus CD´s. Nada de cânticos e choros! Nunca fui adepta de lágrimas: quero música, muita música, a minha música! Cantem, sorriam, bebam e por, fim, “bazem”! Nada de pernoitarem em minha casa! Cada um para a sua cama. Sempre detestei a ideia de haver obrigatoriedade de pernoitar-se na casa enlutada! É um caos: demasiado barulho, demasiada gente, pouco descanso, pouco sossego! Já me referi a quem gostaria que permanecesse com a minha filha!
19. Que ninguém vista luto, nem durante o funeral, nem depois, nem NUNCA!
20. Não quero missas! Se quiserem recordar-me, elegam o dia do meu aniversário e façam uma farra! Adorarei!
21. Katyuska, não te esqueças de olhar pela minha princesa!
22. Guardem todos os meus pertences! Tem la muita coisa jeitosa que muito ira servir a minha filhota no futuro.
P.S.: Nada de aflições! Não me vou suicidar, nem estou com nenhum problema dito GRAVE, nem doente (que eu saiba)! Apenas quis deixar a minha vontade expressa pois percebi que para morrermos basta que estejamos vivos. E vivos, estamos todos!...
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