29/10/2012 0:25, Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro 8
Sem necessidade de parar um segundo sequer para avaliar o ambiente fúnebre que se abateu sobre os apresentadores das redes de TV ligadas ao capital internacional, percebe-se que mesmo o Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL), do velho Plínio de Arruda Sampaio, governa uma das capitais brasileiras: Clécio Luís foi eleito em Macapá. O Partido Socialista Brasileiro (PSB) venceu em expressivas cidades nordestinas e vai seguir na administração de Belo Horizonte, entre outros grandes centros, como Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) fez papel bonito nas eleições, com disputas aguerridas em Manaus e Porto Alegre. Venceu em Belford Roxo, outra importante cidade fluminense. Em Jundiaí, no interior paulista. Em Contagem, na Grande BH. Mesmo o velho Partidão, ainda esfacelado pela divisão que o atingiu há duas décadas, mostra sinais de reação e pontuou um ou outro vereador nos mais de 5 mil municípios brasileiros. Igualmente o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU). Até o radical Partido da Causa Operária (PCO), de tendência trotskista, intensificou seu namoro com o eleitorado e pretende ganhar mais espaço nos próximos pleitos.
Quem viu todas as suas medidas desmilinguir foi mesmo a direita.
Fora a miríade de legendas nanicas e vazias, ideologicamente, que transitam ao sabor do vento, e das verbas, de uma administração para outra, os grandes defensores do capitalismo, do neoliberalismo, da privatização desenfreada, do desmanche da máquina pública, do Estado mínimo, esse pessoal levou uma surra de relho dos eleitores. O DEM, desidratado, faz de Salvador e de meia-dúzia de cidades, se tanto, sua prancha de salvação antes de desaparecer no horizonte, para onde ruma desde o escândalo que afastou o único governador da legenda, em Brasília. Ele atende pelo nome de José Roberto Arruda, mas ainda não sabe que apelido usará no Presídio da Papuda, local de um provável futuro, longo e penoso.
Outra agremiação que sofre um significativo abalo é o PSDB. A esperança em José Serra para a prefeitura de São Paulo fez água. Deselegante, como sempre, sequer telefonou ao adversário, o prefeito eleito Fernando Haddad, para lhe cumprimentar pela bela vitória. Traduziu em um muxoxo travestido de discurso suas últimas impressões da realidade, tão amarfanhada quando o semblante marcado pelas olheiras da derrota. Seria triste, não tivesse ele – mais uma vez, talvez a última – liderado uma das campanhas eleitorais de pior nível que se viu por aqui desde aquela, dois anos antes, quando também tentou usar as forças das trevas, ora em uma campanha sórdida contra o aborto, ora na crítica infame às políticas anti-homofóbicas, com seu famigerado ‘kit-gay’. Então, foi bem feito.
Mas o corretivo mais bem aplicado foi mesmo na mídia conservadora. Com a resposta dos eleitores, no voto, essa está, até agora, procurando o rumo de casa. A Rede Globo de Televisão sai tostada dessas eleições depois da matéria tendenciosa, de quase 20 minutos no Jornal Nacional, logo após o horário eleitoral gratuito, na qual usou e abusou das frases de efeito de magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), acerca da Ação Penal 470, contra o Partido dos Trabalhadores (PT). Foi a última cartada no segundo turno. Quando percebeu que a vaca global já estava no brejo, mudou o tom e chamou os comerciais, aproveitando que a Corte Suprema também se enrolou toda na tal dosimetria e resolveu deixar para depois o epílogo do julgamento mais transverso da História brasileira.
Tem mais. O diário conservador paulistano Folha de S. Paulo e seu instituto de pesquisa perderam a noção e chegaram a produzir outro escândalo da Proconsult. Para quem chegou agora, Proconsult foi uma empresa contratada pela Globo, nos idos de 1982, para maquiar os resultados das pesquisas que apontavam a vitória do hoje finado Leonel de Moura Brizola para o governo do Estado do Rio de Janeiro. O Datafolha produziu fábula semelhante no primeiro turno destas eleições, em nome da fidelidade que deve ao aliado tucano, ora em depressão visível e profunda. Abusou da margem de erro e causou espanto em quem ainda nutria um mínimo de credibilidade nessas empresas que, juntas, formam o Partido da Imprensa Golpista, conhecido como PIG.
Com certeza, a direitona abastada, dona dos meios de produção e de comunicação no Brasil fará agora um breve recesso. Vai lamber as feridas e avaliar a extensão dos prejuízos. Mas não se iludam. Em breve estará de volta, pronta para o próximo golpe. E, desta vez, além dos postes escolhidos por aquele metalúrgico chamado Luiz Inácio Lula da Silva, precisará enfrentar, se a sociedade brasileira for mesmo séria, além do julgamento do ‘mensalão do PSDB’, originário das Minas Gerais, uma comissão parlamentar de inquérito sobre a Privataria Tucana.
Assim, PIG torce o rabo.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
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