segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Portugal e o Holocausto: Salazar foi cúmplice

Portugal e o Holocausto: Salazar foi cúmplice “de forma involuntária” ao negar vistos a judeus
Autor: Miguel Moreira
Segunda-feira, 29 Outubro 2012 14:20
Na conferência ‘Portugal e o Holocausto’, o historiador Manuel Loff defendeu que Salazar foi cúmplice “de forma involuntária” no extermínio dos judeus, ao negar vistos. “Aceitamos que Salazar não era racista e que foi solidário para com as vítimas dos nazis. Eu não aceito”, defendeu Lopp, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Segundo Manuel Loff, António de Oliveira Salazar não era partidário de uma visão antirracista, ideia que carateriza o Estado Novo. Na conferência ‘Portugal e o Holocausto – Aprender com o Passado, Ensinar para o Futuro’, o historiador defendeu que António de Oliveira Salazar foi cúmplice do genocídio, ainda que “de forma involuntária”.
“Tendemos a aceitar que a política de Salazar não era racista. Que Salazar foi solidário para com as vítimas dos nazis. Eu não aceito”, disse hoje Manuel Loff, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, durante aquela conferência que aborda a posição histórica de Portugal perante o Holocausto.
Manuel Loff baseia-se em diversas missivas do Estado português, entre os anos de 1938 e 1939. Há documentos que comprovam que o Estado Novo proibia a atribuição de passaportes a pessoas cuja nacionalidade não estivesse definida, bem como aos judeus e aos russos que fossem expulsos dos seus países.
O historiador da Universidade do Porto sustenta que a regra “era sempre impedir que os judeus chegassem a Portugal”, obrigando-os a procurar ajuda “noutros países”. E Loff lança a pergunta: “Torna esta atitude Portugal cúmplice no Holocausto? De forma involuntária, é evidente que sim”.
No caso dos diplomatas Carlos Garrido e Sampaio Branquinho, que emitiram passaportes portugueses a judeus, em 1944, Manuel Loff salienta “o caráter excecional em que a representação portuguesa concede proteção diplomática”.
O conhecido ato de salvação de milhares de judeus – por parte de Aristides Sousa Mendes, cônsul português que emitiu passaportes a judeus, em França, na II Guerra Mundial – foi também abordado pelo historiador.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros “fabricou” a ideia de que esta ação de Sousa Mendes iria provocar represálias nazis contra Lisboa, de modo que o Estado Novo tentou travar a concessão de passaportes.
“Não há qualquer documento alemão que prove eventuais represálias sobre o caso Aristides Sousa Mendes. O Estado não tinha razões o temer”, revela. Por isso, acrescenta, só por natureza “política e ideológica” Salazar tentou “impedir a reconstituição de uma comunidade judaica em Portugal”.
Esta conferência sobre a posição histórica de Portugal no Holocausto começou hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian, e contará com diversas personalidades, entre historiadores, investigadores, académicos e estudiosos.

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