Phantima Vilankulu Khosa está com Arcenio Cuco.
Prezado Arcenio Cuco,
Antes, porém, estabeleço uma premissa essencial, que mais se apresenta como um lembrete: facto é aquilo que se realiza, aquilo que se faz, enquanto papo é aquilo que se enuncia, aquilo que se diz.
Adolf Hitler foi um ditador cuja memória histórica se inscreve como um dos expoentes máximos dos regimes totalitários mais perversos da humanidade — o nazismo. Este, como bem é sabido, figura entre os maiores responsáveis por atrocidades que marcaram a história universal, o que dispensa uma exposição detalhada, dado o caráter amplamente reconhecido de tais eventos.
Em contraposição, analisemos a FRELIMO, cuja configuração autocrática se manifesta sob as formas mais desumanas. Este regime não apenas perpetra mortes pela negação do acesso à educação, saúde, segurança, infraestruturas e condições mínimas e dignas de vida; ele viola o contrato social, despoja-nos dos verdadeiros valores e elimina fisicamente aqueles que ousam pensar de forma distinta, denunciar os seus abusos ou despertar na cidadania a consciência cívica. Exemplos abundam, mas permito-me mencionar apenas um: as 25 balas que ceifaram a vida de Elvino Dias. Este episódio simbólico resume as inúmeras vidas apagadas nas zonas mais recônditas do país, vidas que permanecem invisíveis aos olhos do público. Simboliza também aquele atentado ignóbil contra uma jovem mulher indefesa, que, numa postura cívica, ousou manifestar-se de forma publica, questionando as mentiras e incongruências de um regime que, ao longo de 49 anos de governação, permanece incapaz de responder às múltiplas e legítimas demandas dos mais variados sectores sociais.
Sob o nazismo, caro Cuco, houve intelectuais que se abstiveram de questionar o regime. Recomendo-te a leitura de A Culpa, de Karl Jaspers, que elabora sobre este fenómeno. Entre os membros do nazismo, poucos ousavam distanciar-se da máquina estatal. Tal como Hannah Arendt demonstrou em Eichmann em Jerusalém: A Banalidade do Mal, muitos contribuíram para a execução de "ordens superiores" sem jamais as questionar. Dito isto, e assegurando que me esforço para ater-me aos factos (caso em contrário, prontifico-me a retirar qualquer palavra imprópria), interrogo-te: quais são, afinal, as diferenças e coincidências entre o regime nazista e o regime autocrático da FRELIMO?
Venâncio Mondlane (junto com os Dinis´s e o Podemos, etc), ao contrário, congrega os diversos sectores do tecido social que, ao longo de 49 anos, viram suas demandas negligenciadas de forma sistemica. Estes sectores são os que hoje constituem uma nova identidade política: o “povo”. Enquanto parlamentar, Mondlane desempenhou as suas funções de forma visivelmente mais eficaz do que muitos dos ignaros, energúmenos e néscios que ocupam o parlamento, vivendo à custa dos nossos impostos, sem questionar, sem propor, limitando-se a aplaudir e saudar o “Camarada Presidente”.
Não nos esqueçamos, caro Arcenio, dos eventos que testemunhámos: a saída de Venâncio da Renamo após as negociatas de “Mafuta” com o regime, envolvendo a autarquia de Maputo; a exclusão da CAD pelo CC (sobre os aspetos legais dessa decisão, abstenho-me de comentar, pois trata-se de decisões políticas, pode me provar o contrário, se não aceitar); o papel de Mondlane na colaboração com o Podemos; e, por fim, o escandaloso processo eleitoral, marcado por um roubo descarado e pela sua posterior legitimação por parte de Matsinhe, cuja postura de bispo cristão é de forma absoluta irreconciliável com os valores que tal título deveria representar.
Ademais, não podemos ignorar a morte cruel de Elvino Dias e Paulo Guambe, bem como o atentado televisivo perpetrado pela polícia — não nazista, mas frelimista — contra o Venâncio Mondlane e os jornalistas (incluindo estrangeiros) em direto, cidadãos indefesos, alias, incluindo o cerco à residência dos Ventos da Setima Geração (VM7).
Caro Arcenio Cuco, diante desse cenário, pergunto-te: o que esperavas de Mondlane? Qual teria sido a tua ação em seu lugar?
Abandonando de forma momentânea esta linha de raciocínio, recordo que o mundo, em particular as chamadas “esquerdas” e o que chamo de terceiro ator ("parceiros" do gás, da nossa madeira, dos nossos rubis, da nossa floresta, etc), tem apoiado, direta ou indiretamente, o regime da FRELIMO. Nesse sentido, interrogo: o que esperavas de Venâncio Mondlane? Que tentasse negociar com aqueles que sustentam, ainda que indiretamente, este regime? Convenhamos. Não aprovo a postura de usar os meios para justificar os fins, mas compreendo-a, e compreender é dirente de justificar (do “justo”).
Por fim, como mobilizar um jovem privado pela FRELIMO de uma educação formal, crítica e elaborada, para engajar-se na política? Em cada esquina encontramos uma igreja (permitida pela FRELIMO, como a IURD, por exemplo), mas são raras as escolas, as bibliotecas ou as casas de cultura. A causa de não termos, é a FRELIMO. O que, caro Arcenio Cuco, esperas que um jovem compreenda melhor: um livro científico ou uma narrativa bíblica?
Deixo à tua consideração esta reflexão. E, nas tuas futuras análises, sugiro que adotes, pelo menos, o princípio da dúvida.
Como nos recorda Mano Azagaia em Os Vampiros: TUDO PARA TODOS OU NADA PARA NINGUÉM.
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Arcenio Cuco
Comentarei oportunamente. Phantima Vilankulu Khosa
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