segunda-feira, 18 de novembro de 2024

O FENÓMENO QUE DESMENTE A MENTIRA DOS NÚMEROS

 

O FENÓMENO QUE DESMENTE A MENTIRA DOS NÚMEROS
Quando o fenómeno do batimento de panelas, vuvuzelas, apitos foi anunciado, eu não lhe dei muita importância, nem imaginei que viesse a ter a adesão que teve.
Quando a panelada começou, eu estava nos confins do Bairro Luís Cabral, um dos mais martirizados pela pobreza urbana. Na aglomeração familiar em que eu e meus familiares estávamos, havíamos ficado poucas pessoas que ainda se mantiveram em conversa de cavaqueira quando, de repente começou a ecoar o som ainda audível à distância. É daí que nasce a preocupação de cada um ir para casa.
Pelos becos de Luís Cabral até à zona Junta, vi e passei por gente de todas as idades, que se fizera aos caminhos e às ruas, batendo panelas e cantando Venâncio Mondlane.
Eram jovens, homens e mulheres totalmente distintos de molwenes e terroristas, movimentando-se para aqui e acolá.
Uma vez na Junta, fiz-me à EN1 até ao Bairro do Jardim, desci pela Rua da EDM até à empresa 2M, na tentativa de reduzir as distância que o Tony e o Mário deveriam percorrer até Infulene e S. Damanso, respectivamente, visto que já não havia nenhum meio de transporte de passageiros a circular e, mesmo as viaturas particulares tinham sumido, excepto algumas colhidas no meio de contingências diversas, tal como aconteceu comigo.
A rua até à 2M estava composta de gente eufórica, gritando, batendo panelas, suas tampas, pronunciando sempre um nome que é o suspeito de sempre.
Defronte das Bombas da Total, na 2M, a estrada estava abarrotada de gente e o Tony achou prudente que eu manobrasse dali mesmo pois, era mais seguro para quem estivesse a andar a pé do que para quem se fizesse transportar em viatura. Poderia ser confundido pelas pessoas eufóricas, por oportunitas ou por infiltrados.
De regresso à EN1 pela mesma via, o ruído das panelas subia de tom e, para não parecer um contra, naquela calada da noite, entrei na onda de buzinar, como faziam as poucas viaturas que sobreviviam, circulando perdidas pelas ruas daquele bairro. Enquanto isso, o carro andava devagarinho e, as pessoas aplaudiam e eu ripostava com mais buzinadelas. Era estratégia de sobrevivência numa euforia popular sem igual, com todos os riscos nocturnos associados.
A chegada ao semáforo do Bairro de Jardim, cruzei com uma viatura da TV Miramar, decerto, fazendo o seu trabalho.
Desci pela Avenida Joaquim Chissano, na convicção de que, àquela hora da noite, ninguém lá estaria pois, imaginava que as pessoas estivessem nos confins do seu bairro, tal como vira no Bairro Luís Cabral.
Engano meu. Os residentes do Bairro Aeroporto desceram para a Avenida Joaquim Chissano. Era uma massa humana enorme que nunca imaginei poder ver àquela hora da noite.
Muita gente se fizera à rua e, a maior concentração estava defronte do Centro de Saúde de Xipamanine, onde a estrada estava literalmente bloqueada por um denso cordão humano, eufórico, às paneladas e eu, seguindo as regras da experiência de sobrevivência que a vida me ensinou, voltei a entrar na onda dos manifestantes e, como não poderia descer da viatura, servi-me das buzinadelas e luzes de emergência ligadas, conduzindo devagar, devagarinho, enquanto as pessoas ovacionavam por ter mais um "reforço" e, nessa onda, ia-se abrindo caminho por entre a multidão, até eu passar.
Ninguém tocou na minha viatura, tendo chegado à Avenida de Angola, depois a Acordos de Lusaka, passando pela Avenida Milagre Mabote que, pela esquerda, estava composta por uma enorme onda humana, saída do irreverente Bairro da Maxaquene, eufórica e às paneladas, em resposta ao apelo feito.
Em todo o trajecto da minha aventura nocturna só vi alguns Polícias da FIR defronte do Centro de Saúde de Xipamanine. Diz-se que, depois de eu passar, os ânimos exaltaram e, o ambiente foi temperado de gás lacrimogéneo.
Nos demais locais por onde passei, a população eufórica estava sozinha, sem Polícia a fazer, fosse o que fosse.
Quando contornei a Praça da OMM e tomei a Avenida Vladimir Lenine, a euforia das pessoas nas estradas, foi substituída pelo som das panelas, tampas, objectos metálicos, vuvuzelas, apitos saídos dos prédios e residências. Na estrada, eram buzinadelas das poucas viaturas e tchoplelas que ainda sobrevivam.
A cidade dos prédios vibrava ao som das panelas e outros instrumentos sonoros, desmentindo a mentira dos números dos resultados eleitorais anunciados pela CNE do Bispo D. Carlos Matsinhe, em relação à Cidade de Maputo.
Com efeito, aquando do anúncio dos resultados eleitorais dos distritos urbanos da Cidade de Maputo e Matola, eu escrevi que, nos bairros, eu não estava a encontrar as pessoas que votaram nos resultados eleitorais que iam sendo anunciados pelas Comissões Distritais de Eleições e, o evento das panelas nocturnas de ontem, só serviu para desmentir os resultados eleitorais fabricados para as Cidades de Maputo e Matola por um lado e, por outro, para cimentar a convicção que eu, como eu, sempre tive, de que, como um povo, tínhamos sido burlados, pelo facto de os órgãos de administração eleitorar nos terem feito perder tempo, ao termos irmos votar num acto eleitoral cujo resultado dependia do que eles queriam e não em função do voto popular.
Não sei o que se passou em outras partes do país mas, no que às Cidades de Maputo e Matola diz respeito, é preciso muita casmurice, para não admitir que os resultados eleitorais a elas atribuídos, não passaram de uma farsa, uma burla, sem igual.
Eu nunca disse que o Venâncio Mondlane tenha vencido as eleições, como muitos defendem entretanto factos são factos os números que foram anunciados são uma farsa montada pelo STAE e pela CNE do Bispo da desgraça que, tal como o casamento, tem a parte religiosa chancelada pela igreja, seguidamente, virá a parte jurídico-civil, daquela instituição cujo nivel de manipulações assenta melhor a uma associação de malfeitores.
Numa cidade onde mais de 70% das pessoas votaram em certo partido e candidato, não sobraria gente para alimentar aquele tipo de eventos, muito menos para suportar as manifestações que se arrastam desde o dia 24 de Outubro.
Não há como justificar que aquele evento de ontem à noite tenha sido dos 20% que votaram no outro candidato.
Os números da mentira não têm como suportar e sustentar uma monstruosa mentira.
Espero que quem tem o condão de decidir saiba pôr na balança a justiça dos números, por um lado e a mentira dos números, por outro lado e trazer-nos as conclusões finais, que façam o mínimo de sentido nas cabeças das pessoas.
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Osvaldo Alberto Espirante
Realmente o fenomeno das Panelas desmentem os numeros da CNE/STAE
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Madjissa Mundau Nhakhwemu Yinguani
Eu no início das manifestações, pensava que as pessoas iam se cansar antes dos 25 dias. Mas ao contrário, gostaria que intelectuais deste país desse respeito ao Venâncio antes que seja tarde demais.
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Lila Gracio
Não e só.o fenómeno das panelas, mesmo o cordão de pessoas que saem dos Bairros para as avenidas principais na periferia da cidade , demonstra que a balança, simbolo da justiça, estava enferrujada.
Temos que ter Paz , e paz.duradoira para que não haja mais mortes, mais feridos e menos destruição dos bens de outrem e comuns ! Deixem manifestar quem o quer fazer e deixem trabalhar quem quer trabalhar! Nada deve ser proibido ! A liberdade de um termina onde comeca a liberdade do outro!
Parabéns Dr.Cumbane pela sua história ,carregada de muitos ensinamentos!
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Anselmo Mavale
Mia Couto pede ajuda a vossa classe para mediar este " Conflito".
Com este texto me pergunto, por onde começar?
A resposta morrerá órfã
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Abel Nandza Ixf respondeu
 
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Álvaro Sitoe
Esse efeito todo tem nome nas ciências!!! Legitimidade ⚖️
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Dinis Tivane respondeu
 
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Nito Prazeiroso
Como Anima ler seus textos!
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Ibraimo Assane
Não muda nada, a FRELIMO e seu candidato vão continuar governando Moçambique
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Naico Francisco Pedro Pedro respondeu
 
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Há 8 horas
Dercio Antonio Rafael
Os teus textos são bons.
Parabéns Dr.Damiao Cumbane.
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Armandinho Alberto
Esses tipos de texto me anima me agrada até posso ler até dia seguinte.
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Joaquim Antonio Manhiçe
Mia Couto e o amigo dele Agualusa vão recolher essas panelas
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Afonso Bunguene
Texto bastante elucidativo.
É a realidade, mesmo no meu aqui em Magude, o som das panelas era audível
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Sil Ramos Cumbane
Amo seus textos Dr. Damiao Cumbane 👏👏👏
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Manjate Custódio
Experiência de outros tempos surtiu efeitos.
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Custodio Mondlane 
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Sim senhor! Quem ainda tinha dúvidas sobre o verdadeiro sentido de liderança, sobre a unidade, sobre o verdadeiro vencedor das eleições é só ler o teu texto.
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Adriano Fernando
És muito lúcido na escrita, Dr.
Muitas verdades num único artigo.
Parabéns
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Rosario Bauque Bauque
O país orgulha-se e agradece por lhe ter como filho, ilustre Cumbane.
Sem semear ódio ou violência, tem estado artigo após artigo, a iluminar a sociedade.
Muito obrigado.
Parabéns pela lucidez e alto sentido de Estado!
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Euclídes Sacane
Facto são factos e contra factos não há argumentos. Com a panelada de ontem (das 22 as 23h aproximadamente) o povo,do Rovuma ao Maputo, fez uma espécie de referendo popular e mostrou aos órgãos eleitorais ao, CC, a FRELIMO e aí mundo que as eleições de de outubro foram uma uma farsa.
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Bruno Silva
Gosto disto! Moçambique resgatado!!
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Nhachungue Bonho Luís Reinaldo
Foi um carnaval de Novembro. No meu bairro Mumemo 04 de Outubro, Município de Marracuene, foi uma passeata de se invejar. Havia paneladas, batucadas, apitos, buzinas e ramos de acácias e tudo de forma ordeira. Foi um espetáculo sem preço e sem igual!
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Arsenio Nhiuane Jose
Pois, é.contra factos,não existem argumentos possíveis.
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Emerson Eduardo Nhampossa
Foi bom a seleção moçambicana ter perdido para não confundir a alegria de um Povo e os resultados do Campo. Na Terça-feira vamos celebrar a vitória dos Mambas. Agora celebremos o Povo Moçambicano
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Leonídio Maúre
Eu só vi pra ler os comentários mas primeiro um texto claro e limpo que nem água da nascente portanto meu amigo continue a descer há mais comentários.
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NicriSs Manejo Jr.
Eu na verdade nem dei em conta do live, mas derepente foi tipo; ordem dada e ordem cumprida
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Armando Mafunhana
PODEMOS SALVAR ESTE PAÍS....
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Jcarlos Zacarias
Um relato da real situação das paneladas,parabéns meu doutor de verdade
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Pedro Nhassengo
Contra factos não há argumentos
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Custodio Machaieie
Eu convido os membros seniores da Frelimo a sairem das suas luxuosas casas por volta das 20:50 e procurarem voltar as 21:10.
É só escolherem qualquer lugar, seja zona suburbana ou urbana.
Mas lhes garanto que sairão de lá as 4h do dia seguinte.
Que perguntem a esses que identifiquei.
Até porque os 3 últimos ja tinham noção da situação, mas os primeiros 3 vindo da minha terra empobrecida "Gaza" não tinham noção das coisas.
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Nayra Penina
Custodio Machaieie deviam experimentar mesmo, ia lhes fazer bem
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Ricardino Jorge Ricardo
Dr Eusébio A. P. Gwembee, leitura faz bem o cérebro. Precisamos ler coisas escritas pelos outros.🔥🔥🔥

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