Elisio Macamo
1g ·
Uma das explicações mais preferidas para as dificuldades que países em desenvolvimento enfrentam é aquela que reduz os problemas à maldade ou criminalidade dos governantes. Daí também o sucesso da corrupção como explicação, pois para além de “mostrar” o egoísmo dos governantes ela proporciona uma “boa” razão para a ausência do desenvolvimento. É por isso que não tenho paciência com a corrupção como explicação de seja o que for. Muito simplista e dá apenas conforto a quem não quer reflectir a complexidade de processos que se furtam ao nosso controlo.
Nāo tenho explicação, mas cada vez mais acho que constitui um equívoco analítico grave tentar explicar a ausência de desenvolvimento com recurso à maldade. Acho que o desafio é outro. Toda a gente quer o bem do seu país, mesmo o mais corrupto dos governantes. Quando alguém limita as liberdades individuais, desvia fundos do estado, fecha os ouvidos a outras opiniões, viola a constituição, etc. não o faz por não querer o bem do País. Fá-lo por causa duma ideia de bem do País que tem na mente e que vê ameaçada por quem pensa diferente ou interpela criticamente.
Temos que entender esta ideia do bem do País, donde vem, como se nutre e como pode ser usada para um diálogo profícuo. Não tenho ideia de como isso pode ser feito, mas o desafio analítico é esse. Os ataques e perseguições a críticos são consequência da necessidade de proteger essa ideia, não são o que explica porque um País não anda. A maldade raramente é gratuita e é por isso, talvez, que os momentos mais cruéis da humanidade foram protagonizados pelos “bons”, não pelos maus.
Reconhecer este equívoco analítico pode ser útil para começarmos a reflectir sobre o que deve ser a principal prioridade nos nossos esforços de “desenvolver” o País: criar condições para proteger o País dos erros dos bem intencionados.
63Ricardo Santos, Munguambe Nietzsche ve 61 diğer kişi
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Diogo Valença Aqui no Brasil atualmente todos os nossos problemas são explicados, pelos cristãos e cidadãos de bem, por uma doença: a esquerdopatia, numa de suas variações mais violentas, a esquerdoPTia. Todo o nosso atraso foi por conta dos governos petistas. O bem nacional agora está sendo defendido por um grupelho de milicianos e seria o caso de explicar porque isso ganhou grande dimensão social.
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Elisio Macamo Diogo Valença, pois, é isso. e olha que a característica mais saliente desse discurso de ódio é a crença na própria bondade. é porque amam deus que odeiam tanto!
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Pedro Comissario Gosto deste artigo. Está melhor que aquele das Universidades!
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Elisio Macamo ainda bem! na verdade, aprofunda a discussão iniciada no outro. a prerrogativa presidencial de ignorar a vontade das universidades (ao que parece, cada vez há mais vozes que contestam esta interpretação da constituição) constitui um desses erros do qual a sociedade poderia ser protegida. parto do princípio de que o presidente age de boa fé e pelo nosso bem...
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Paulo Mahumane Muito interessante, estou com o professor quando diz que e um equivoco analitico, pensar a ausencia do desenvolvimento de um pais com recurso a maldade, mas metodologicamente, partir do principio de que quem saca, esvazia o dinheiro público pensa no bem comum de uma nacao, em circunstancias em que isso prejudica enormes planos de desenvolvimento, poe a analise do fenomeno superficial, pois ignora-se que o que empiricamente se confirma que faz mal, tanto a nivel micro como macro.
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Elisio Macamo percebo a sua preocupação. só essa conclusão decorre mesmo do argumento central. é um pouco como a situação de acidente de viação. os ferimentos que as pessoas contraiem são graves e podem levar à morte. contudo, o desafio analítico não reside aí. reside quer nas razões estruturais que permitiram o acidente ou no comportamento que legitimou o tipo de condução. a preocupação com a corrupção olha para o supérfluo, e não para o essencial.
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Tomas Mario "....criar condições para proteger o País dos erros dos bem intencionados". Um apelo de dimensões verdadeiramente bíblicas! Parece-me que a maior complicação parte exactamente do que motiva os "bem intencionados": a convicção, a crença profunda, na superioridade das suas ideias, perante outras quaisquer!
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Elisio Macamo pois. esse é o desafio. infelizmente, desde 75 que olhamos para a governação nesta perspectiva "apolítica" em que pensamos que as boas intenções são tudo o que precisamos...
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Ricardo Santos Eu ando com falta de tabaco de cachimbo por causa daquele sul-africano que anda a mando da Sra Zuma. Mas tu estás a revelar problemas com a falta daquele produto que andavas a cultivar nos Alpes. Explica lá melhor essa dos bem e dos mal intencionados que sobre o lugar da corrupção estamos há muito de acordo. Essa coisa da "intencao" parece revelar de uma visão moralista que se sobrepõe à política.
Política que é feita por todos (mesmo os que dizem que não fazem) com as melhores e as piores intenções. O que distingue os indivíduos não são as intenções mas a política que praticam para alcançar determinado fim.
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Elisio Macamo a questão é mesmo essa: os fins que a política procura alcançar estão contidos nas intenções. parece-me um equívoco partir do princípio de que podemos analisar a política com base na distinção "boas" e "más" intenções. na medida que ela é feita com o intuito de alcançar fins, precisamos de dar o benefício da dúvida à "nobreza" das intenções por detrás dessa política. estaline, hitler, fidel, churchill, etc. não fizeram as coisas que fizeram por maldade natural. acreditavam estar a fazer algum bem que nós, analistas, temos de entender para podermos reflectir melhor sobre como proteger a sociedade dos erros que eles, necessariamente, vão cometer. infelizmente, no nosso país existe uma tradição intelectual que reduz tudo à política sem, contudo, criar espaço para essa política. a frelimo foi exímia na promoção dessa cultura e hoje estamos a colher o fruto amargo...
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Uma das explicações mais preferidas para as dificuldades que países em desenvolvimento enfrentam é aquela que reduz os problemas à maldade ou criminalidade dos governantes. Daí também o sucesso da corrupção como explicação, pois para além de “mostrar” o egoísmo dos governantes ela proporciona uma “boa” razão para a ausência do desenvolvimento. É por isso que não tenho paciência com a corrupção como explicação de seja o que for. Muito simplista e dá apenas conforto a quem não quer reflectir a complexidade de processos que se furtam ao nosso controlo.
Nāo tenho explicação, mas cada vez mais acho que constitui um equívoco analítico grave tentar explicar a ausência de desenvolvimento com recurso à maldade. Acho que o desafio é outro. Toda a gente quer o bem do seu país, mesmo o mais corrupto dos governantes. Quando alguém limita as liberdades individuais, desvia fundos do estado, fecha os ouvidos a outras opiniões, viola a constituição, etc. não o faz por não querer o bem do País. Fá-lo por causa duma ideia de bem do País que tem na mente e que vê ameaçada por quem pensa diferente ou interpela criticamente.
Temos que entender esta ideia do bem do País, donde vem, como se nutre e como pode ser usada para um diálogo profícuo. Não tenho ideia de como isso pode ser feito, mas o desafio analítico é esse. Os ataques e perseguições a críticos são consequência da necessidade de proteger essa ideia, não são o que explica porque um País não anda. A maldade raramente é gratuita e é por isso, talvez, que os momentos mais cruéis da humanidade foram protagonizados pelos “bons”, não pelos maus.
Reconhecer este equívoco analítico pode ser útil para começarmos a reflectir sobre o que deve ser a principal prioridade nos nossos esforços de “desenvolver” o País: criar condições para proteger o País dos erros dos bem intencionados.
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Elisio Macamo percebo a sua preocupação. só essa conclusão decorre mesmo do argumento central. é um pouco como a situação de acidente de viação. os ferimentos que as pessoas contraiem são graves e podem levar à morte. contudo, o desafio analítico não reside aí. reside quer nas razões estruturais que permitiram o acidente ou no comportamento que legitimou o tipo de condução. a preocupação com a corrupção olha para o supérfluo, e não para o essencial.
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Ricardo Santos Eu ando com falta de tabaco de cachimbo por causa daquele sul-africano que anda a mando da Sra Zuma. Mas tu estás a revelar problemas com a falta daquele produto que andavas a cultivar nos Alpes. Explica lá melhor essa dos bem e dos mal intencionados que sobre o lugar da corrupção estamos há muito de acordo. Essa coisa da "intencao" parece revelar de uma visão moralista que se sobrepõe à política.
Política que é feita por todos (mesmo os que dizem que não fazem) com as melhores e as piores intenções. O que distingue os indivíduos não são as intenções mas a política que praticam para alcançar determinado fim.
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Elisio Macamo a questão é mesmo essa: os fins que a política procura alcançar estão contidos nas intenções. parece-me um equívoco partir do princípio de que podemos analisar a política com base na distinção "boas" e "más" intenções. na medida que ela é feita com o intuito de alcançar fins, precisamos de dar o benefício da dúvida à "nobreza" das intenções por detrás dessa política. estaline, hitler, fidel, churchill, etc. não fizeram as coisas que fizeram por maldade natural. acreditavam estar a fazer algum bem que nós, analistas, temos de entender para podermos reflectir melhor sobre como proteger a sociedade dos erros que eles, necessariamente, vão cometer. infelizmente, no nosso país existe uma tradição intelectual que reduz tudo à política sem, contudo, criar espaço para essa política. a frelimo foi exímia na promoção dessa cultura e hoje estamos a colher o fruto amargo...
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