Elisio Macamo
14 saat ·
Recentemente, circulou uma reportagem no Facebook em que curandeiros de Inhambane diziam que não tinham cura para a Covid-19 e aconselhavam as pessoas a seguirem o que as autoridades de saúde dizem. Essa admissão não me surpreendeu. Bons profissionais naquela área têm consciência das suas limitações. Quem exagera o que eles podem fazer são indivíduos formados, mas intelectualmente incoerentes – e, se calhar, também desonestos. Este é um grande problema.
Há vinte anos, aprendi a respeitar a honestidade intelectual de curandeiros em Chicumbane. Eu estava lá a fazer pesquisa sobre assuntos relacionados com a sua actividade. Cheguei até a contemplar a possibilidade de me “formar”, mas a última da hora perdi coragem. Não me sentia suficientemente forte para me submeter ao exercício mentalmente liminal que isso exigia. Isso ensinou-me a respeitar as pessoas que passam por isso. Acompanhei uma jovem que estava a fazer a formação e fiz várias entrevistas com ela. No fim da minha primeira estadia no “terreno” entrevistei-a e, no fim, pedi para que me fizesse um “diagnóstico”. Ela falou da minha família e caracterizou todos os meus irmãos – que não conhecia de nenhum lado – duma forma que correspondia ao que eu também sabia e pensava. Fiquei impressionado.
Meses depois, voltei ao “terreno” e entrevistei-a de novo. Pedi, como da outra vez, que ela me diagnosticasse. Ela voltou a falar da minha família, mas desta feita dizendo coisas completamente equivocadas. Achei estranho que ela não repetisse o que me tinha dito antes. Percebi, contudo, que ela se orientava pelo que os “ossinhos” lhe diziam. Isto é, ela procedia de acordo com um método. Ela foi duma coerência intelectual de fazer inveja a muitos pseudo-académicos. Não foi a única curandeira que se comportou desta forma. Um outro curandeiro, mais velho e com mais experiência, curiosamente, membro da igreja presbiteriana, depois de me dizer com uma profundidade filosófica sem igual que “não existem maus espíritos, mas apenas pessoas más”, desabafou: “era tão bom se a igreja e a medicina tradicional se unissem para combaterem a superstição”. Depois de observar o seu comportamento e conversar com ele várias vezes, não vi nenhum paradoxo nesse desabafo.
Tenho visto no Facebook ataques injustos às nossas universidades que são acusadas de não contribuírem com soluções para o combate contra a Covid-19. Embora seja de facto triste que as universidades moçambicanas não produzam “soluções”, considero a crítica que lhes é feita injusta e, acima de tudo, reveladora da nossa perplexidade científica. É injusta porque, pelo menos nas ciências naturais, o tipo de investimento que é necessário fazer para a gente estar em condições de fazer isso é enorme e muito aquém das nossas possibilidades. A pesquisa é cara. Pesquisa científica séria não é aquela que “descobre” novas coisas – a originalidade na ciência, como se diz, é prerrogativa de quem leu pouco – mas sim aquela que pega no que é já conhecido e procura replicar. Não sei como as nossas universidades poderiam replicar estudos que custaram bilhões de dólares! Nas poucas universidades onde se “inventou” alguma coisa, isso foi feito com apoio de instituições ocidentais que dispõem de meios. No Senegal, aquele kit simples para teste foi “inventado” no Instituto Pasteur.
A crítica é também reveladora de perplexidade científica porque ignora o que significa fazer ciência. Há uma oposição simplista que se faz entre “ciência ocidental” e “ciência africana”. O filósofo do Gana, Kwasi Wiredu, já se desbruçou de forma convicente sobre isto. Ele rejeitou a ideia de que o “pensamento tradicional africano” pudesse ser colocado ao nível de oposto da ciência – ideia que foi propalada por um filósofo e antropólogo britânico, Robin Horton – e sugeriu que o “pensamento tradicional africano” fosse oposto a outros tipos de pensamento tradicional que existem, por exemplo, também na Europa. A questão da artemísia, por exemplo, não é apenas assunto africano. Na Alemanha é assunto que se arrasta há anos e protagonizado por grupos exotéricos e homeopáticos. Embora Wiredu destaque na sua distinção as fraquezas do “pensamento tradicional” em relação à ciência, o exercício tem outro tipo de utilidade. Consiste em obrigar as pessoas a serem coerentes.
Vou tentar explicar isto em breves palavras. O conhecimento médico assenta numa teoria. A predominante agora é a do germe, isto é que a doença é causada por germes. A identificação de vírus e bactérias, a descrição do que estas coisas fazem com o nosso corpo e, por isso, o tipo de intervenção terapeutica necessário para livrar o corpo, tudo isso tem a sua coerência nesta teoria. Quando depositamos a nossa fé nestes medicamentos aceitamos, implicitamente, esta teoria. Se eu fosse a um médico que me receitasse comprimidos contra dores de cabeça porque ele acredita que fui enfeitiçado, eu desconfiaria. Assim sendo, que teoria explica a medicação “tradicional”? O que é um vírus nessa “ciência”? Existe? Se você tem alguma formação e mesmo assim afirma de pés juntos que devemos dar o benefício da dúvida à “ciência africana”, tudo bem, mas precisa de explicar essa teoria. Se não tem nenhuma, você está a ser intelectualmente incoerente.
Nada disto quer dizer que não existam nas nossas sociedades pessoas com conhecimentos úteis. “Gonazololo” provavelmente funciona e alguém lá em Manica descobriu isso. Já provei, amarga para o diabo, tentei com Coca-Cola como me recomendaram, continuou a amargar e não acordou ninguém lá em baixo, mas de certeza funciona para alguém. O que seria bom, contudo, é que alguém submetesse a coisa a um estudo científico rigoroso que pudesse identificar com exactidão a substância activa responsável pelo que se diz que a planta faz. E não só. Devia determinar-se em que tipo de pessoas funciona, em que circunstâncias e quais são os seus efeitos secundários. Há muito medicamento que não é aprovado no Ocidente por causa dos seus efeitos secundários devastadores. Igualmente, para um medicamento ser aprovado, muitas vezes só precisa de apresentar um aumento de 1% na cura em relação a outros medicamentos. E mesmo assim, poucos conseguem isso.
Quem acusa as nossas universidades de serem inúteis não entende nada de ciência. Mil vezes universidades que não fazem proclamações bombásticas do tipo “Covid-organics” e têm consciência das suas limitações. Em ciência, uma das virtudes mais importantes é ter consciência daquilo que não sabemos, nem podemos fazer. Agora, se as nossas universidades não nos oferecem soluções por causa disso, não sei. Mas espero que seja esse o caso. O que me intriga é o número de pessoas que é capaz de ridicularizar os profetas Cutane e os Sheikhs da nossa vida quando estes prometem cura disto, mais daquilo. Que critérios usam para rejeitar estes aqui, mas aceitar coisas que eles avaliam relaxando os critérios da ciência? Não me parece coerente.
Esta falta de coerência parece-me o principal desafio que as universidades em Moz enfrentam. Já que não dispomos de meios para fazer melhor do que estamos a fazer, uma das principais apostas das universidades mozes devia ser a promoção dum espírito mais crítico na sociedade para que a gente esteja menos vulnerável ao charlatanismo. A medicina tradicional sensata tem um papel importante a desempenhar nisto, pois ela tem consciência das suas limitações ao contrário de muitos pseudo-formados que à primeira angústia existencial sucumbe à superstição. A incoerência intelectual não é apenas um problema de académicos. É um dos principais problemas políticos no País, onde a acção muitas vezes é arbitrária por desprezo ao rigor crítico.
82Lyndo A. Mondlane, Munguambe Nietzsche ve 80 diğer kişi
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Mussá Mohamad Ibrahimo Eu também gosto da disciplina Islâmica que versa sobre a ciência dos #Ginat(Espíritos,Demónios)..há coerência sim .e é "parecida" com a dos curandeiros...também não tenho coragem de aprofundar...
Talvez dizer que,um pouco diferente do que o professor apurou no "curandeirismo" .aqui, também não há Gin mau. Mas há Gin que se torna mau ou bom. Tem liberdade de escolha como o ser Humano... Ou pode ser influenciado pelo ambiente... Tem tendência desviante.como o Homem...
Acho fascinante...curandeirismo e Assuntos de Gin...
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Elisio Macamo o islão, como religião, tem um sistema coerente de pensamento. agora, se serve para explicar fenómenos naturais ou não, é outro assunto. familiarizei-me com o alcorão quando vivi na líbia. tinha um colega líbio com quem falava sobre o seu conteúdo. tudo começou com a discussão sobre o papel e lugar dos tais "gin". vi muita semelhança com os nossos próprios sistemas metafísicos. a questão que o curandeiro em chicumbane levantou foi muito profunda. ele estava a dizer que há muita gente que por não perceber como essa coisa funciona, faz mal a outras atribuindo isso a espíritos malignos. numa comunidade sã, não há espíritos maus...
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Lyndo A. Mondlane Aplauso prof
Excelente texto
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Issouf Binaté
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Rui Miguel Lamarques Nunca tinha olhado as coisas, em relação ao consentimento dos médicos tradicionais por essa perspectiva. Realmente pode ser coerente da parte de alguns esse reconhecimento de incapacidade de lidar com Covid-19. Porém, é curioso para aqueles que anunciam a cura de tudo esse medo repentino. Quanto ao processo de investigação e a complexidade que o mesmo encerra é algo que está muito longe de estar ao alcance das nossas universidades. Contudo, leva-me a questionar a nossa relação com estes megaprojectos. Devíamos reflectir no seu contributo para o país.
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Elisio Macamo charlatães existem também na ciência, Rui Miguel Lamarques. conforme referi noutro post, mais de 80% dos trabalhos publicados em revistas de renome não servem patavina para se desenvolverem medicamentos. são aprovados nessas revistas, mas depois constata-se que houve muitas falhas. não há remédio santo contra isso senão o reforço da revisão de pares. isso, por acaso, torna ainda mais problemático que todo o mundo se tenha mobilizado na base daquele estudo do imperial college - que como se sabe agora estava cheio de problemas - que nem passou por um processo de revisão de pares. mas o importante é que o ideal do rigor existe e é observado. isso aumenta a confiança no que vem deste complexo científico. quanto às nossas universidades, temos que ser modestos e fazer aquilo que é possível. seria interessante, para si, fazer um trabalho jornalístico sobre o trabalho de investigação de malária que se faz lá na manhiça. é feito com apoio espanhol e da oms. o que é possível produzir naquelas circunstâncias? o nosso horizonte tem que ser esse.
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Beatriz Chalucuane Coerência, humildade e pensamento crítico.
Professor, acho que vale a pena falar um pouco do pensamento crítico e a reacção que temos quando discordamos de alguma idéia, o uso que fazemos da expressão "criticar". …Daha Fazlasını Gör
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Elisio Macamo pois. também não é possível chegar lá quando não há coerência intelectual. quando as pessoas saltitam dum lado para o outro, não dá.
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Beatriz Chalucuane Elisio Macamo hahahaha... concordo.
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Beatriz Chalucuane
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Domus Oikos Muito bem Professor a honestidade de ser a base das relações humanas e públicas. Faltam também os profetas
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Susana Mendes Medicina tradicional não é = a superstição. Seria bom dissociar. O melhor seria comecar a falar-se mais em Medicina Natural, que naturalmente também olha para os conhecimentos ancestrais e procura comprender o sentido de determinadas praticas a luz da ciência, sim, mas tambem do efeito psicologico/espiritual que têm no processo de cura. A medicina natural nao actua directamente sobre os virus mas sim sobre o sistema imunitario. É pelo menos assim que vejo e entendo com sentido a medicina natural/tradicional. Penso que deveria de ser mais considerada e valorizada pela ciencia para que as boas praticas possam ser validas e diferenciadas das más práticas.
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Elisio Macamo é o que também estou a dizer, Susana. medicina tradicional não é superstição. mas alguns dos seus defensores recorrem à superstição para a defender...
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Brazao Catopola Por acaso, e para o efeito chamo o Paulo Mahumane, estivemos numa discussão num grupo e eu me debatia exatamente com esta questão a coerência da nossa medicina tradicional e a validação dos remédios malgaxes. Para mim a questão não está na africanidade que muitos, infelizmente, usam como argumento para a massificação desse remédio. Está sim, no que de facto esse remédio pode fazer aos demais. Esse remédio pode ser tão eficaz em um nicho e não em outro mas o mais importante é verificar sob que condições funciona. Eu dei exemplo do tal remédio de lua e tive briga com a minha mulher que é do sul. A minha mãe, não conhece, nunca nos deu e nenhum dos irmãos conhece. Se os meus primos tomaram às escondidas é outra conversa, mas até ontem não existia o reflexo dessa falta de consumo em minha família. A questão em debate aqui devia ser essa porque e como é funcional em uns e não outros, etc. Infelizmente, quando assim se argumenta você é visto como ocidentalizado. Enfim. Vamos lutar.
Eu usei a palavra nicho exatamente para referir a profundidade de questões como ambiente natural e social etc
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Elisio Macamo pois. vamos lutar. ver como ocidentalizado é ad hominem da pior espécie porque falso. o mesmo que diz isso considera-se autorizado pela ciência para dizer isso. é desonesto intelectualmente.
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Paulo Mahumane Para si professor Elísio e Catopola, a minha preocupacao e angustia naquele momento Era de uma pesquisa que se não me engano estava sendo feita na UEM sobre as percepcoes sociais do Corona virus, numa altura em que muitos estudos estão virados para a descoberta da vacina, assim como da cura da doenca. Para mim pareceu me inutil num momento deste uma Universidade ou Departamento de uma Universidade preocupar se em percepcoes sociais sobre uma doenca que objetivamente as pessoas percebem que está matando. Por mim ficavam calados, se é problema de orcamento como o professor advoga no seu post.
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Paulo Mahumane Ja agora, professor o Covid organics de Madagascar não é eficiente? Não se propalou por ai que um medico de origem Congolosa fez essa descoberta e que é científica? Penso que antes de não dar merito ao medicamento tem que se explicar quais são os seus problemas colaterais, e ou não eficiencia para não me obrigarem a pensar no tradicionalismo e a-cientificidade que se acusa o que é feito em Africa pelos Africanos sem a contribuição do Ocidente.
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Elisio Macamo Paulo Mahumane, não sei que discussão vocês estão a ter, por isso não me meto. só posso dizer, contudo, que um estudo sobre as percepções é bem útil, sobretudo num contexto em que o comportamento individual é determinante para combater a pandemia. prec…Daha Fazlasını Gör
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Paulo Mahumane Certo. Concordo com sua colocação. De facto como um País carente, em termos de pesquisa so seremos uteis em pesquisas das Ciências sociais, mas confesso te que muitos, assim como eu ficamos angustiados com uma pesquisa do genero nesta altura. Alias, pa…Daha Fazlasını Gör
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Elisio Macamo Paulo Mahumane, para mim, a perplexidade científica é um dos maiores desafios que a universidade enfrenta. essa insistência dos governos na utilidade prática da universidade transforma a ciência em técnica. a verdadeira ciência no país só pode vir das ciências sociais e humanas. sobre o remédio malgache, é boato que há um silêncio sobre isso. a oms tem uma posição científica clara sobre isso e não é segredo para ninguém.
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Paulo Mahumane Professor, eu estou consigo nessa de termos que investir mais nas Ciências Sociais e Humanas, porque é delas que se produz a verdadeira Ciência, embora os das Ciências Naturais possam defender o contrario. Eu insisto na questão de procurar percepcoes sobre Covid 19 num momento importuno, em que voce está se a desviar da agenda no momento. Para mim neste momento não ande a questionar pessoas sobre o que elas percebem sobre uma Coisa que vai lhe matar se não tiverem algumas precaucoes que talvez não tenham conhecimento, mas que voce cientista social tem a prerrogativa de ter. Gente de Ciência Social é também chamada para intervencoes e ou acções em tempos de crise.
Obrigado pela informação quanto ao posicionamento da OMS sobre a Covid organic Malgaxe.
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Paulo Mahumane Talvez o problema Seja metodologico. O que as Ciências Sociais podem investigar, porque investigar e como investigar num tempo de pandemia como este no contexto de Mocambique.
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Adérito Mariano Em geral estou de acordo com o texto. Infelizmente, noto que em algumas instituições do ensino superior em Angola, nem sequer há predisposição para investigação e debates sobre determinados assuntos, por influência, sobretudo, de crenças religiosas. Tal como já foi referido no post anterior existe medicina. Estes outros conceitos de medicina "tradicional" ou "natural" não sei se são aceites pela comunidade, porque não a pertenço. Porque a própria medicina tem a sua tradição, paradígmas ou outras expressões que geralmente servem para delimitar quem pertence ou não a área. Por outro lado, não podemos voltar a ideia de que o que não é científico é inválido ou inútil. há coisas que a religião ou o senso comum ainda têm as melhores respostas. Porém, nenhum outro tipo de conhecimento procura apresentar o seu método com absoluta transparência e é suficientemente humilde em reconhecer as suas falhas e insuficiências como o conhecimento científico, que não deve ser confundido com determinados aproveitamentos que alguns cientistas fazem para dar nas vistas ou buscar dividendos.
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Elisio Macamo concordo, Adérito. seria muito arrogante supor que a ciência tenha resposta para tudo. não é verdade. mas quando aparece algo que reclama o mesmo que a ciência faz, então o critério tem que ser mesmo a ciência. nisso não podemos fazer compromisso de nenhuma espécie.
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Régis Rembeleki Honi nika a nkavi ka nlhana haswo?¹
Texto rico de conhecimento. Só que suscita uma inquietação ou dúvida no que se refere a associação ou rotulação da medicina tradicional com ou como sendo superstição. Em um estudo de natureza teológica efectuado por Afe Adogame sobre o choque entre a religião cristã e as religiões tradicionais africanas, afirma que os europeus rotularam como profano ou satânicos alguns aspectos e ou elementos de sua liturgia por orgulho e necessidade de impor sua supremacia. Afirma que outra causa é a ignorância por parte dos clérigos ou missionários europeus, daí o esforço em banir ou suprimir tais práticas. Não sei dizer se tal ainda prevalece. Porém outro aspecto, no que tange a preocupação do médico tradicional e que pratica ou é membro de uma denominação cristã, sobre a necessidade de se unir a religião cristã à medicina tradicional, invés da hostilização tenho a dizer o seguinte. Em parte os médicos tradicionais, maziones se deixam confundir aos mediúns por causa da adivinhação. O recurso aos ossos, e outros "tinlholos" e a consulta aos espíritos dos ancestrais ou evocação de espíritos é que levanta choques, a doutrina cristã proibe a adivinhação.
Eu conheci, minha finada bisavô materna que residiu em Manjakaze até a sua morte, nos enviava raízes e folhas à Maputo, outras procuravámos localmente sob sua recomendação após a descrição dos sintomas e surtiam efeito. Outra bisavô paterna curou as minhas tias e irmãs da cólica menstrual, até nós homens de casa temos supostamente pouca barba porque ainda miúdos passamos por um tratamento, este último facto soa engraçado, mas não temos muita barba. Se for verdade veremos nos miúdos que nasceram após a sua morte. O que elas tinham em comum é o conhecimento de plantas e raízes com propriedades terapêuticas. Não recorriam aos ossos, não tinham capulanas coloridas, não se pintavam de ocre, não invocavam a nenhum espírito. Embora não fosse um conhecimento adquirido numa escola formal ou convencional tinham-no e funcionava. A esta forma de curandeirismo a Igreja não se opõe, o líder que prega contra é ignorante, o cânon cristão não dá "umbrella" a tal doutrina.
Com isso dizer que os curandeiros ou médicos tradicionais precisam se dissociar da superistição para que não sejam confundidos. Não sei dizer se as raízes ou outros recursos deixariam de fazer efeito se deixarem os ossinhos, penas e outros elementos que usam para o diagnóstico. Ou essa é a sua metodologia para conhecer o problema
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Elisio Macamo hmmm, é complicado discutir aqui porque sou o único, aparentemente, que leio todos os comentários. algumas questões já foram respondidas noutros fios de conversa. ninguém associa a medicina tradicional à superstição. o que é associado à superstição é a defesa que alguns fazem da medicina tradicional. o afe adogame é meu brada. fizemos o doutoramento na mesma universidade e na mesma altura. estivemos no mesmo programa de pesquisa durante vários anos. conheço o seu trabalho muito bem porque o comentei. o que ele diz sobre as religiões faz parte do mesmo registo. é diferente do que está em discussão aqui. mais uma vez, o método científico dá-nos um instrumento poderoso para avaliarmos coisas. o que passa aí merece confiança. ou que não passa, talvez não. não duvido de tudo quanto disse sobre os conhecimentos terapeuticos na família. não está em questão. o que está em questão é como se estabeleceu que funciona. se for só a experiência, é pouco. muito pouco e perigoso.
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Régis Rembeleki Elisio Macamo
Então, o cerne da discussão é ou deve ser como se sabe se a funciona ou não, e não se funciona ou não? É esse exercício que deve ser efectuado?
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Elisio Macamo Régis Rembeleki, bem vindo à discussão! demorou, mas deus é pai.
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Régis Rembeleki Elisio Macamo
😁😁😁😁😁
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Alcídes André de Amaral Coloquei bonequinhos de risos por causa do exemplo de "Gonazololo"... Mas concordo consigo professor. Precisamos de coerência... Confundimos muito "confissões de fé" com ciência. A ciência é, na verdade, os caminhos que nos levam e nos orientam a nossa busca constante pela segurança. Superstição nos dá segurança, apenas esconde a consciência do nosso medo.
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Elisio Macamo sim, comigo nem viagra funciona...
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Lucas Fulgencio Boa intervenção. Porém, gostaria de saber se há diferença entre medicina natural e tradicional? Levanto esta questão porque existem pessoas que sem ser curandeiras, conhecem plantas, fazem misturas e determinam o modo de sua administração para curar certas doenças. Existem outras, como curandeiros que para determinar a planta ou medicamento a dar, tem de consultar aos espíritos. Para mim, é importante ainda esclarecer isso porque, nos últimos tempos em Moz, existe cada empresa, não sei se diria do ramo farmacêutico, que emprega tanta gente e vende esses remédios, os chamados remédios naturais. Porque somos apaixonados pelo natural, compramos. Veja só, os tais vendedores ambulantes são de uma "lata" tal para convencer clientes e mal deixou contacto, ligam várias vezes. Não sei se esse medicamentos ou remédios seriam chamados naturais ou tradicionais, pois que são produzidos de forma diferente.
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Elisio Macamo há médicos (da bio-medicina) que enquadram a sua terapia no contexto geral do cristianismo ou do islão. para a discussão que estamos a ter aqui, esse assunto pode não ser muito relevante. a questão é como determinamos não só a eficácia desses medicamentos como também, do ponto de vista epistemológico, a natureza do tipo de intervenção que eles fazem em nós.
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Lucas Fulgencio Está bem Professor, mas eu levantei a questão a partir dos termos presentes no texto que postou. Porém, vou continuar com a minha dúvida se a medicina natural é diferente da tradicional. Mas bem bem, Professor Elísio, peço esclarecimento, pufavor.
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Elisio Macamo não sei se posso ajudar. na resposta que dei, pensei que tivesse dado pistas sobre como procurar a explicação. suponho que medicina natural seja um tipo de medicina que prefere medicação "natural", isto medicação que não sofreu nenhuma operação química…Daha Fazlasını Gör
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Lucas Fulgencio Muito bem professor. Era isso que queria saber porque, de facto tanto na medicina natural, como na tradicional, é preciso baseiar-se em métodos, que uma outra pessoa possa seguir e chegar aos mesmos resultados, ou então, melhorá-los..
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Brazao Catopola Acredito haver. Há aquilo que chamamos de ervanárias, aquelas pessoas que não sendo médicas, ligada a a medicina moderna, têm conhecimento e tratam muitas doenças e por vezes até casos que a medicina moderna não consegue. Já vi casos de alguém com crise de soluços de no hospital, lhe foi recomendado encontrar uma senhora que com mistura de plantas em menos de 1 hora resolveu. Essa equipara-se certo modo às terapias chinesas.
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Calbe Jaime Gosto de ler seus posts professor porque sempre aprendo algo
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Herminio Muiambo Relendo o post pela quarta vez! Obrigado Elisio Macamo por este enorme contributo. Afinal nem sempre é necessário martelo e escopro... Até tabus deslizaram sem vaselina.
Ni dlile, ni xurile!
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Chaida Agnessi Nicaca Gosto 😍😍😍
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TENOR
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Raul Junior É mais fácil trazer resultados dos locais onde há cursos do curandeirismo que realmente os conteúdos veiculados. Há limitações metodológicas de vária ordem que o pesquisador encontra no terreno, por exemplo, o pesquisador não "pode " entrar em Transe. O que um curandeiro diz na verdade não é coisa inventada por ele, há mediação dos espíritos do paciente/cliente. Uns bons Nyamussuros que não apanhado rede espiritual dos Mpoyombos dizem logo " ahivoni nchumu/ nada estamos a ver. A proteção de propriedade intelectual está mais enraizada neste sector na medicina endógena
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Raul Chambote Essa é mesmo boa. Prof. Elisio Macamo tomou "ngonadzololo" puro ou um "ngonadzololo fake"? Deram-lhe em "raiz" ou já preparado/moido misturado com milho torrado e colocado num vaso de caniço seco? Fora de crenças, há muitos que vendem qualquer coisa que chamam de ngonadzololo mas que não é. Macanga, em Tete, dizem que ainda tem velhotes que conhecem ngonadzololo puro. Gorongoza, idem, se calhar com bons velhos. O resto, me perdoe generalização, misturam qualquer raiz e viagra/comprimidos e vendem por aí nas bermas da EN1. Ai do distraído... . Eu soube disso quando estudava a tragédia de Caphirizange em 2017. Foi mesmo um comentário "solto" a margem do fundo da questão que o Professor levanta neste post. Sou das terras do famoso ngonadzololo, mas aldrabões não faltam.
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Elisio Macamo Raul Chambote, conheço essa também de que não foi o verdadeiro... mas prontos!
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Stelio Simoes Fora tudo quanto disse, a mim também, depois de tomar, não apenas uma vez, depois de ouvir tanta propaganda, não acordou ninguém. Enfim, coisas da nossa "ciência".
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Jacinto Nzimo Finalmente encontrei as palavras que eu esperava ouvor do Professor em torno desta situação!
Belas palavras com um pensamento capaz de ajudar muitas pessoas em forma de ver e analisar as coisas.
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Margarida Morais Medecina natural(chas)talvez.Medecina tradicional so´se for na universidade da praia que se formaram.😂😁😁
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