Moçambique precisa de adoptar ideais de igualdade e liberdade para resolver focos de violência cíclica, porque é um país "profundamente injusto" no plano económico e político, defenderam ontem os filósofos moçambicanos Severino Ngoenha e José Castiano.
Ambos fizeram uma radiografia da situação em que o país se encontra, durante a apresentação, em Maputo, do livro "Manifesto por uma terceira via", obra escrita pelos dois filósofos.
"Hoje estamos, paradoxalmente, com um terceiro consenso: Moçambique é um país profundamente injusto", sublinhou Ngoenha, que é também reitor da Universidade Técnica de Moçambique.
O segundo consenso foi a necessidade de o país adotar as liberdades políticas e individuais, com o Acordo Geral de Paz de 1992, e o primeiro consistiu no início da luta de libertação nacional contra o colonialismo português, para o alcance da igualdade e justiça, explicou.
Para Severino Ngoenha, os sinais de injustiça no país encontram-se nas desigualdades sociais e económicas do dia a dia e na vulnerabilidade da população à violência armada.
"A injustiça é sentida em Cabo Delgado e é sentida no centro do país, referiu.
A exclusão política, prosseguiu, também tem marcado a vida do país, através da discriminação contra pessoas que militam ou assumem posições contrárias à Frelimo.
Por seu turno, José Castiano, professor de Filosofia na Universidade Pedagógica de Maputo, apontou a injustiça social e económica e a violência como denominadores comuns da história de Moçambique, defendendo a necessidade de reconciliação nacional.
"Temos todos de unir os nossos esforços, as nossas inteligências e as nossas capacidades em direcção a um Moçambique de paz e reconciliado", afirmou Castiano.
Os autores do "Manifesto por uma terceira via" propõe que o país junte as virtudes de cada uma das fases da história do país para se poder construir um futuro de paz.
A obra foi lançada um mês depois das eleições gerais e provinciais em Moçambique nas quais a Frelimo e o candidato presidencial, Filipe Nyusi, carimbaram vitórias em todas as frentes, contestadas pela oposição, alegando fraude eleitoral.
Os resultados estão nas mãos do Conselho Constitucional, órgão ao qual caberá nas próximas semanas decidir sobre a respetiva proclamação, cerca de quatro meses após a assinatura de um acordo de paz e reconciliação entre o Governo e a Renamo, principal partido da oposição.
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