quarta-feira, 30 de outubro de 2019

'Vamos criar distração'

Segunda-feira, 14 de outubro de 2019
'Vamos criar distração'

 
Intercept revela hoje como os procuradores da Lava Jato em Curitiba programaram a divulgação da denúncia contra Lula no caso do sítio em Atibaia fazendo um cálculo corporativista e midiático. Os membros da força-tarefa decidiram acusar o ex-presidente na tentativa de distrair a população e a imprensa das críticas que atingiam a Procuradoria-Geral da República. É o que mostram as conversas secretas da Lava Jato, material entregue ao Intercept por uma fonte anônima. 
Em maio de 2017 a equipe do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estava sob bombardeio por causa de um áudio vazado da delação premiada da JBS que atingia em cheio o presidente Michel Temer. Havia suspeitas de que o material havia sido editado. 
Os chats mostram que a denúncia do sítio já estava pronta para ser apresentada em 17 de maio de 2017, dia em que o jornal O Globo publicou reportagem acusando Temer de dar aval a Joesley para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, do MDB fluminense. 
As primeiras conversas dos procuradores sobre a delação da JBS revelam um clima de excitação. “To em êxtase aqui. Precisamos pensar em como canalizar isso pras 10 medidas”, escreveu Deltan Dallagnol em 17 de maio. O procurador Roberto Pozzobon aproveitou para recordar o ministro do STF, Gilmar Mendes, outra obsessão da força-tarefa, ao lado de Lula. “Bem que poderia vir uma gravação do Gilmau junto né?!”. Orlando Martello retrucou, pouco depois: “Defendo uma delação com temer ou Cunha para pegar Gilmar”.
Passada a euforia, a força-tarefa viu a gravação ser questionada na imprensa. Peritos entrevistados ou contratados por veículos de comunicação identificaram cortes na gravação e apontaram que poderia ter havido edição do arquivo. 
Convencidos da integridade do material, os procuradores esperavam que viesse a público o quanto antes um laudo da Polícia Federal sobre o áudio. Foi aí que o procurador Carlos Fernando do Santos Lima expôs seu plano no grupo Filhos do Januario 1, dia 21 de maio de 2017: “Quem sabe não seja hora de soltar a denúncia do Lula. Assim criamos alguma coisa até o laudo”. Após seu chefe, Deltan Dallagnol, se certificar de que o plano poderia ser posto em prática, ele comemorou, no mesmo grupo: “Vamos criar distração e mostrar serviço”. 
A denúncia contra Lula foi apresentada à justiça e divulgada à imprensa no final da tarde do dia seguinte, dia 22.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA →  
Rafael Neves
Repórter

Destaques

O Intercept Brasil não vai parar de investigar o judiciário, as grandes corporações, políticos e governos. Junte-se a nós na luta por informação e transparência.

FAÇA PARTE DO TIB →

 
Leia a série com as mensagens secretas da Lava Jato
The Intercept Brasil
Uma enorme coleção de materiais nunca revelados fornece um olhar sem precedentes sobre as operações da força-tarefa anticorrupção que transformou a política brasileira e conquistou a atenção mundial.
Compre um juiz por R$ 750
Nayara Felizardo
CNJ já condenou 11 magistrados por venda de decisões judiciais. 
Como Barroso, Fachin e Fux blindaram a Lava Jato no STF
João Filho
Vaza Jato revelou como a operação conseguiu atropelar a Constituição com anuência de quem deveria protegê-la.
Bolsonaro acertou: aviso obrigatório de violência contra a mulher à polícia seria desastroso
Bruna de Lara
Lei vetada forçaria médicos a informar delegacias de pacientes vítimas de abuso, mesmo sem autorização – violentando-as mais uma vez.
Não se engane: Luciano Huck tem lado na política – o lado direito
João Filho 
Provável candidato a presidente, Huck desfruta de uma falsa aura de imparcialidade. Mas o defensor das pautas LGBTs votou em Bolsonaro.

FAÇA PARTE DO TIB →  

 
Nosso boletim semanal é enviado aos sábados

Sem comentários:

Enviar um comentário

MTQ