quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Limpeza

Limpeza
Vi recentemente um depoimento triste de Carlos Serra a reclamar o comportamento dos nossos compatriotas na praia um dia após o grand emomento de activismo social que foi o dia mundial de limpeza. Sem amargura, mas com determinação, ele apelou à consciência cidadã e ao amor à terra. Vi também várias manifestações de indignação, uma boa parte das quais destacou a falta de civismo, o problema da mentalidade e a necessidade de as autoridades actuarem energicamente sobre as pessoas que teimam em sujar os espaços públicos.
Há um cunho de verdade na lamentação sobre a falta de civismo e a ausência de acção enérgica por parte das autoridades. Mas não é tudo. A sociologia, que não serve para muita coisa, pode ajudar um pouco, pelo menos para a gente perceber que tipo de problema precisa de ser atacado. A primeira coisa é interiorizar a necessidade de nunca ceder à tentação de generalizar um comportamento com uma morfologia bem clara. O que aconteceu na praia não foi exactamente uma demonstração de falta de civismo (ainda que no fundo seja isso). O que aconteceu foi uma manifestação do que acontece onde multidões se concentram em ambiente festivo. Aposto que estiveram lá pessoas que na véspera participaram no acto de limpeza.
Leonardo Abilio Hofisso, um estudante de sociologia da UEM, está a escrever o seu trabalho de fim do curso sobre a questão do fecalismo a céu aberto em Maputo. O trabalho progride de forma interessante e uma constatação extremamente importante e rica que ele faz é que estes comportamentos aparentemente individuais não são, na verdade, individuais, mas sim colectivos. Há todo um esforço coordenado envolvendo várias pessoas - umas directamente, outras contra a sua própria vontade - no sentido de propiciar esse tipo de comportamento. Esta hipótese aplica-se lindamente ao comportamento na praia, onde a inoperância do município, a lógica comercial num ambiente altamente competitivo, a interacção fechada em pequenos grupos de cumplicidade comportamental, o álcool que jorra, etc. conspiram para normalizar certos comportamentos. É preciso entender estes meios, sobretudo a maneira como eles são produzidos por várias pessoas de forma consciente ou inconsciente, antes de fazer recurso ao civismo.
Uma solução, que não vai vingar logo à primeira, seria, por exemplo, a ruptura desse trabalho "colaborativo" na produção desse comportamento problemático. Isso pode ser feito, por exemplo, limitando o número de barracas e criando mais espaços entre uma barraca e outra, demarcando espaços de ocupação da praia (incluindo (des)incentivos financeiros), colocação de fiscais de limpeza com a função de garantir que não surjam focos de sujidade (que só vão encorajar as pessoas a sujarem ainda mais) que podem recolher lixo ou admoestar pessoas que sujam, imposição de proibições de consumo em certos espaços, etc. Isso exige um trabalho concertado e de longo prazo, sujeito, é claro, a retrocessos porque onde há multidões o civismo essencialmente acaba.
Comentários
  • Carlos Serra Diana NC lê. Soluções hoje conversadas
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  • Dulcínio Mechisso As sugestões são óptimas Professor, gostava mesmo de as ver experimentadas. Ainda que sujeitas a retrocessos, me parecem ser de grande potencial para melhoria do ambiente.
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  • Celia Meneses 🤔😳 E umas sapatadas bem dadas para quem não acatar a ordem dos fiscais? Elisio eu já estive naquela praia e se os fiscais não andarem 3 a 3 e com uma Kalashinikov duvido que as ordens sejam acatadas. Efeito de mob.
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    • Elisio Macamo kalashinikov não. tinha que ser um bom par de chinelos...
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    • Celia Meneses sabes que já vi miúdos embriagados a baterem em polícias, coitadinhos com os salários que têm a comer pouquíssimo, vou te dizer! Esses mesmos meninos atravessam a fronteira e portam se que nem uns betinhos pois a polícia sul africana tem outra estrutura. Tem de haver uns sapatoes dissuadores desde as primeiras horas da manhã.
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    • Elisio Macamo o bochechudo da coreia do norte faz falta na pérola do índico.
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    • Celia Meneses Não tenhas dúvidas, qualquer bochechudo
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  • Ze Luis Debate interessante, com argumentos baseados em exemplos. Pelo que, vale aqui "Parabenizar" ao jovem Leonardo, pelo facto de alguns dos resultados do seu trabalho de final de curso já estarem a ser amplamente partilhados...antes mesmo da sua conclusão (imagino)! Até estarei lá, no dia da defesa, para testemunhar, ou para defender (e digo melhor: para DEFENDER O TRABALHO DO próprio LEONARD, porque talvez doravante também se torne meu, ou de qualquer um que tenha tomado conhecimento (através deste forum)sobre!)... brincadeirinha. kkkkkkkkk
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  • Leo D. P. Viegas O que Elisio escreve sempre me apeteceu escrever provavelmente por falta de um enquadramento teórico fiquei reticente. O facto é que aquilo que acontece na Costa do Sol em tardes quentes de fds sobretudo aos domingos acontece mesmo.nos paises ditos civilizados! Já assisti na saida de nightclubs nos EUA mulheres caucasianas urinarem em via pública e em lugares sem muita luminosidade! Assisti isso em outros paises europeus comportamentos similares de pessoas que dentro da sua lucidez iriam condenar esse tipo de comportamento. Com.frequência os jornais internacionais mostram image ns que refletem o comportamento de pessoas e. Multidões. Portanto a forma de lidar com esse tipo de comportamento são as ideias enunciadas acima mas acima de tudo maior policiamento!
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  • Ze Luis Leo D. P. Viegas, achei interessante o seu posicionamento, mas permita-me dize-lo que, embora as teorias científicas sejam muito importantes na interpretação dos fenômenos, elas não explicam tudo. Portanto, não se sinta retraído pelo facto de não poder/saber usa-las...partilhe, sempre que possível, a sua experiência.

    Em segundo lugar, talvez (a título de provocação) referir que, todos nós somos teóricos, "todos nós somos sociólogos..." (H. Garfinkel), o que nos diferencia é a natureza das teorias que mobilizamos para interpretar os fenômenos! Enfim,

    Aguardo ansioso por mais novidades...

    Com alento e consideração
  • Antonio Gundana Jr. Amigo Leonardo Abilio Hofisso, orgulhoso por ti😍
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  • Rui Tembe Excelente. Também se pode proibir eventos na praia que não reúnam certas condições ou colocar normas rìgidas de saneamento e um número mínimo de agentes de limpeza por exemplo para que certos eventos ocorram. Pergunta: em estádios de futebol porque não se verifica esta imundice ( ou não é reclamada da mesma forma? ). São mais civilizados os que vão aos estádios? Ou apenas tem lá os sistemas de saneamento devidamente organizados e controlados? Ou não há tantos bébados lá? O que sei é que a solução não é chamar aos moçambicanos de boçais ou algo do género. Esta abordagem mais estrutural aponta alguns caminhos interessantes...
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    • Elisio Macamo o paralelo é interessante. no estádio a concentração é durante 3 horas de tempo e na maior parte do tempo as pessoas estão concentradas no jogo, não na festa.
    • Rui Tembe True. Ainda assim, quando há concertos nos estádios há menos problemas de urina no relvado. Há garrafas é verdade. Mas a organização do espaço para acolher o evento prevendo as necessidades das pessoas ajuda muito.
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  • Magacebe Majacunene Quando e onde NAO consumir alcool?
    AO Domingo?
    Em tudo que É barraca e tasca?

    Todos os dias de semana na via pública?
    CopiEmos os bons exemplos.
  • Júlio Mutisse E a solução Chamboco do Muzila Wagner Nhatsave?
    Lulu Mucave não gosta nnada dela
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  • Diana NC Parabéns Elisio Macamo
    É refrescante no meio de tanto "desfazer" e "mandar fazer", ler algo util e enriquecedor para o que se está a tentar construir.
    Vou pedir amizade para enriquecer tambem a qualidade do meu leque de facefriends
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  • Capito Semente Um bom começo. Dá pra tentar
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  • Eliha Bukeni Uma das medidas que o Prof. Elisio sugere, a imposicao de proibicoes de consumo em certos espacos, ja esta prevista na nossa legislacao e as autoridades competentes as implementam quando lhes convem. Por exemplo, no passado, em todas as lojas de conveniencia das bombas de combustivel vendia-se bebidas alcoolicas, entretanto, quando foi decretada a proibicao acompanhada de multas pesadas, todas a bombas deixaram de vender bebidas alcoolicas. Outro exemplo, a Av. 10 de Novembro era um local de venda e consumo de alcool e ate de alcool trazido de outros locais em colmans e guardado nas bacageiras das viaturas, porem, quando foi decretada a proibicao da venda e consumo de alcool em publico e uma fiscalizacao permantente, cessou a venda e consumo de alcool na Av. 10 de Novembro. Ora, na praia da costa do sol, em algum momento as autoridades proibiram tambem a venda e o consumo de alcool, aplicando multas de 2 mil mts, caso o infractor nao tivesse o valor para pagar a multa, a sansao pecuniaria era convertida em prestacao de trabalhos de limpeza na propria praia. A pergunta obvia e porque sera que as autoridades abandoram a fiscalizacao e aplicacao das sansoes, se a lei nao foi revogada? porque a proibicao mantem-se nas bombas e na Av. 10 de Novembro e foi abandonada na praida da Costa do Sol? Talvez o ambientalista Carlos Serra conheca as razoes do abandono da fiscalizacao e sansionamento na praia da costa do sol.
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  • Gervasioa Absolone Chambo À Regina A. Charumar, já teria sugerido uma pesquisa-acção para melhor solucionar os problemas de cacos e lixo nas praias pois, as campanhas de limpeza em si não resolvem o problema.
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  • Mablinga Shikhani Interessante abordagem. Mas é aqui o de a edilidade eclipsa-se. Mas isso são outros duzentxu...
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  • Danilo da Silva Todas muito boas sugestões para uma cidade que onde não só existe edilidade, como também não se verga à pressões eleitoralistas. Maputo virou uma baderna!
    Não sei se os amigos ja repararam, mas para além das senhoras que a
    li vendem ( e contribuem na limpeza), agora temos cidadãos que vem com os seus carros e poem-se a vender bebidas alcoolicas a partir das suas bagageiras! Sob o olhar impávido das autoridades!
    O Conselho Muncicipal e as autoridades que velam pela venda e consumo de álcool que tenham tomates! Sinceramente
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    • Mablinga Shikhani Danilo da Silva deixe os vegetais fora disso.
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    • Danilo da Silva Os parques de estacionamento viraram bottles stores, discotecas, restaurantes, casas de banho e motéis. A edilidade num sono profundo!!! Mas porquê que neste país temos de vender e consumir bebidas alcoolicas alcoólicas em qualquer lado? Porquê?
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    • Mablinga Shikhani Danilo da Silva “Afirmação Negativa” comer na nossa sociedade sempre foi um problema.

      Comer e beber em público é um acto de afirmação: indicador de “boa vida”.


      Lembra-se dos “acontecendo” com feijoada, cervejas e outros líquidos aqui no Facebook?? Beber/comer era notícia.

      Embora tenham diminuído, comer e mostrar dá status e arregimenta admiradores.

      Experimente fazer uma festa ou um social os vizinhos vão se empoleirar nas árvores ou espreitar pelas grades.

      Comer é um espectáculo para quem come e quem assiste.
      Não adianta estudar.

      A ascensão social em Moçambique é rápida, imediata, por diploma: “é doutor logo é pessoa”. Não há socialização. É tipo vacina.

      Falar dos carros ou ficar por aqui?
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    • Danilo da Silva Mablinga Shikhani pode continuar...mas eishh..precisamos de ser estudados. É muito triste o que nos aconteceu nos últmos 30 anos.
    • Mablinga Shikhani Danilo da Silva de facto.

      Aconteceram muitas coisas a mais importante mas passa despercebida a meio de tanto boçalismo é a liberdade.


      Confundimos muito a “liberdade” com a “libertinagem”. A liberdade demanda responsabilidade, participação e respeito. A libertinagem não demanda nada. É onde estamos.

      Pior: arrastamos a nossa democracia com este peso morto de cidadania negativa, boçal e estúpida. Estamos a gangrenar.

      Sobre os carros já escrevi um textículo “O País que Guia” (notas sarcasto-sociológicas de uma sociedade na contramão) há uns tempos atrás. Boa leitura.
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    • Paula Martins Mablinga verdade, já escrevi isso á uns tempos. Confunde-se liberdade e libertinagem
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    • Mablinga Shikhani Paula Martins choramos ou denunciamos os abusos? 🤷🏼‍♂️
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    • Paula Martins Chorar não dá, aqui dá logo cheias há pouco escoamento😄. Vamos falando, falando sem ser assim DENUNCIAR de choque e há-de entrar. Os abusos no verdadeiro sentido da palavra temos que os combater sim e denunciar, sei lá!!!Demora algum tempo mas entrará.
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  • Andy Silva Bom... sobre a limpeza, vi o vídeo e não me pronunciei porque é algo que deve ser profundamente estudado. Muitos de nós usamos o termo civismo, mas a raíz para este tipo de comportamento parte de onde... No ano 2017, contactei uma associação que faz reciclagem em Inhambane, na praia de Tofo, e na conversa com o grupo de senhoras que recolhem o lixo, elas contaram-me aquilo que ouvem; passo a citar alguns exemplos: «eu deito lixo no chão, porque quem tem que recolher é o Conselho Municipal»; «esse é seu trabalho, apanhe o lixo, não me chateia», etc. Há tantas coisas que elas ouvem, tentam sensibilizar as pessoas para não deitar lixo no chão e não conseguem... Outra questão, a quantidade dos recipientes espalhados pela praia e o tamanho dos contentores de lixo... para dar conta do recado numa multidão, quantas pessoas consomem, produzem o lixo e quantas é que tem consciència de recolher seu lixo num canto e depositar no devido lugar, seja em casa ou outro lugar...
  • Andy Silva Como medidas, penso que é a altura de se apostar na educação ambiental desde muito cedo, no ensino primário, até ao fim da vida, porque falamos muito. Eu vivo em Inhambane, desfruto das mais belas praias que este país tem... mas consegue-se ver alguém... vou falar do que vi pessoalmente no fim do ano quando vemos a praia abarrotada; acabou de beber, deita garrafa de vidro, saco plástico naquele mar cristalino... eu vi, não foi contado, assim pergunto: o que desencadeia este tipo de comportamento? falta de informação? falamos de consciência? o que é isso? Já agora o que é ser civilizado? Há muitas questões a serem feitas e devem ser investigadas... outro comentário que já ouvi algumas pessoas a falarem em Maputo... «a cidade é suja mesmo, não faz diferença, se deitar este papel de rebuçado no chão». São exemplos do que ouvi em primeira pessoa e isso fez me seguir com uma pesquisa: qual é o nível de percepção que os cidadãos tem sobre a gestão de resíduos sólidos? o que leva as pessoas deitarem lixo no chão, na praia, no mar, por exemplo. É MUITO COMPLEXO ENTENDER A MENTE HUMANA, mas vamos continuar... a luta continua!

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