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“Não conhecia Nhangumele”
Um acordo, muitas incertezas
- Ndambi Guebuza Pág. 12
Págs. 2 e 3
TEMA DA SEMANA 2 Savana 09-08-2019
S
ob um manto de incertezas,
foi selado, esta terça-feira,
6, em Maputo, aquele que
entrou na história como o
terceiro acordo de paz em Moçambique. A despeito de toda a euforia,
o acordo de Maputo, cujo conteúdo está no segredo dos deuses, não
passa de um documento à espera
de passos de gigante no cenário
político moçambicano, com mudanças corajosas que, no passado,
se mostraram impossíveis. Mas
pior, é a nuvem de incertezas que se
estalou sobre a paz de Filipe Nyusi
e Ossufo Momade.
O acordo desta terça-feira, servido
no discurso oficial como o definitivo, foi o culminar de um processo
negocial iniciado há três anos entre
o presidente da República, Filipe
Nyusi, e o histórico líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
A propaganda governamental fez
coincidir a data de assinatura com
o dia em que passavam dois anos
após o primeiro encontro Nyusi-
-Dhlakama, na Gorongosa, a 6 de
Agosto de 2017, um evento celebrado como símbolo de heroísmo
de quem tem obrigação de tudo
fazer pela paz.
O acordo desta terça era para ser
rubricado às 16h, a mesma hora do
histórico encontro da Gorongosa,
mas como se tornou regra na governação de Filipe Nyusi, a cerimónia atrasou em mais de uma hora.
Seria pelas 17h:14min que, pelo
punho de Nyusi e Momade, seria
fechada uma paz improvável.
O acordo de Maputo, considerado
pela crítica como uma cartada eleitoralista, está ensombrado por uma
crise interna na Renamo que lança
incertezas sobre o futuro. De armas
em punho, estrategas de Afonso
Dhlakama contestam a liderança
de Ossufo Momade, acusado de
levar a cabo uma cruzada de perseguições no partido.
Os guerrilheiros, que têm como
rosto o major general Mariano
Nyongo, desafiam a liderança de
Ossufo Momade e juram, a pés
juntos, que não irão entregar as
armas enquanto não elegerem um
novo presidente. Marcaram para 17
de Agosto a eleição do novo líder
do partido, que querem que lhes
conduza ao desarmamento.
Em meio a polémica, Momade
abandonou a vida difícil da serra,
na quinta-feira da semana passada.
Regressou a cidade, seu habitat, e
deixou mais incertezas sobre o futuro.
Mais do que uma crise que dilacera a Renamo pós-Dhlakama, os
entendimentos desta terça-feira,
que parecem mais uma obra Nyusi-
-Momade do que propriamente da
Frelimo e Renamo, assentam sob o
mesmo barril de pólvora que sempre incendiou o país.
A governação excludente da Frelimo, a partidarização do Estado, a
perseguição da oposição e de todo
o pensamento diferente, continuam
intactos e, em alguns casos, com
tendência a agravamento, ainda que
sem beneplácito de Filipe Nyusi.
Outrossim, em Moçambique, os
conflitos políticos têm nas eleições
a sua ponta de iceberg, com o véu
da fraude eleitoral a dar cobertura a contestação da oposição. Não
é que, contrariamente aos pleitos
anteriores, em 2019, a contestação
começou mesmo no recenseamento eleitoral, com números norte-
-coreanos em Gaza, um tradicional
bastião da Frelimo, a desafiarem a
ciência estatística.
No dia da euforia
A praça da paz, na cidade de Maputo, foi o palco escolhido para a
cerimónia da assinatura do acordo
desta terça-feira. Como é tradição,
o local beneficiou de uma intervenção que lhe conferiu um novo
visual.
As barracas nas redondezas foram
removidas à força, num processo
que deixou os vendedores com os
nervos à flor da pele. A antiga praça
de Touros, hoje praça de reparação
de viaturas, foi vedada para esconder a indigência aos olhos dos visitantes estrangeiros.
Logo pelas primeiras horas da tarde, a praça da paz estava a ser inundada por gente de todas idades e
diversos extractos sociais. A claque
do partido Frelimo estava em peso,
sobretudo as “mamanas” da OMM,
o braço feminino do partido. Trajavam camisetas gravadas com “Paz
Definitiva. Acordo de Maputo”,
algumas com fotografia de Filipe
Nyusi colada.
Estudantes de algumas instituições
de ensino circunvizinhas foram
mobilizadas para o local. Por exemplo, alguns alunos da Escola Secundária Noroeste 1 e formandos do
Instituto de Formação de Professores da Munhuana perderam aulas
naquela tarde.
A praça da paz e suas redondezas
estavam sob fortes medidas de segurança. Os ventos que sopravam
e o céu nublado ameaçavam terminar em chuvas. Na aproximação da
hora marcada, começavam a chegar
os convidados de luxo. Às 16h:35
min, os antigos presidentes Joaquim Chissano e Armando Guebuza eram recebidos a palmas pela
claque da Frelimo, que ali se fazia
passar por população moçambicana, mas apenas disposta a aplaudir
os representantes do Governo e ignorar os da Renamo.
Depois da chegada de estadistas
africanos e outros convidados ao
evento, Nyusi e Momade chegavam a passos rápidos e caras alegres. Eram 16:45. Depois vieram
as orações das confissões religiosas,
que enalteceram os “servos” Nyusi e Momade por terem trazido a
paz. José Guerra, o pastor da Igreja Universal, foi apupado, mas lhe
valeu o seu ataque contra “aqueles
que estão nas matas e não querem
entregar os seus instrumentos [armas]”, para também ser agraciado
com aplausos.
Às 17h:14 era o momento mais
aguardado. Nyusi e Momade assinavam o acordo, que depois foi
“autenticado” por Hage Geingob,
presidente da Namíbia, Paul Kagame, do Ruanda, Jakaya Kikwete,
antigo estadista tanzaniano, Mirko
Manzoni, embaixador da Suíça e
presidente do grupo de contacto no
diálogo, Mateo Zupi, representante
da comunidade Sant’Egídio, e Joaquim Chissano, o antigo estadista
moçambicano. Armando Guebuza
voltou a ser contornado num evento de Estado.
Que o sangue não tenha
sido em vão – Momade
Para o presidente da Renamo, o
primeiro signatário a discursar,
eram 18h:20 min, 6 de Agosto é
um dia memorável que expressa
uma inequívoca determinação para
a pacificação do país.
Expressou continência ao “herói”
Dhlakama, lamentando que o líder histórico da Renamo não tenha
vivido um momento tão singular.
Agradeceu ao Estado Maior General (EMG) da Renamo, particularmente, na pessoa do comandante
Timothy Maquinze e todos os comandantes que aceitaram ao ‘‘chamamento’’ da Renamo.
Mas não citou o major general Josefa de Sousa, o então vice-chefe
do EMG, que pode estar a pagar o
preço de ter exigido seguimento à
letra dos compromissos de Dhlakama, sobretudo, a integração dos
guerrilheiros também nos Serviços
de Informação e Segurança do Estado (SISE) tido como o epicentro
das operações contra a oposição.
Momade assumiu compromisso
pela paz e reconciliação, mas exigiu
tolerância ao pensamento diferente. Para ele, a paz deve significar
remoção das barreiras ao exercício
da cidadania, fim de perseguições e
maior democracia no país.
A alternância política, prosseguiu,
deve ser uma regra, através de eleições livres, justas e transparentes e
deve haver boa-fé da parte do Governo. A despartidarização do Estado deve ser permanente. Os erros
de ontem não devem voltar a ser
cometidos, avisou. Que o sangue
derramado não tenha sido em vão,
assinalou.
(OLPLQDUIDFWRUHVGHFRQÁL- tos - Nyusi
O presidente da República
reconheceu que a paz efectiva
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A paz (im)provável!
Por Armando Nhantumbo
Nyusi e Momade selam Acordo de Paz sob olhar de altas individualidades
D
o alto do palanque preparado para grandes
eventos, com um não menos aparatoso equipamento de som, tudo vindo directamente das
luzes da capital, Filipe Nyusi e Ossufo Momade preparam-se para pôr as assinaturas no acordo de
cessação das hostilidades em plena Gorongosa.
Levanto o meu Ipad, que tem a capacidade simultânea
de registar fotos e fazer o seu envio instantâneo. Quero
fixar o momento. Daquelas ocasiões que não se repetem. Um segurança saído do nada, diz que o telefone
não pode tirar fotos. Argumento que Ipad não é telefone. O jovem segurança é irredutível. Não há fotos.
Na minha retina fica a assinatura, a troca de pastas, o
abraço que inunda depois as redes sociais.
Eu não registei nada. O segurança não deixou. Quando
retomo às fotos, porque jornalista que é jornalista não
se deixa vencer por argumentos de proibições ad hoc,
fica a faltar uma parte do que foi histórico no Chitengo. À minha frente, dezenas de diplomatas registam
o momento nos seus smartphones. Mais afortunados
que eu. Porque não têm por perto o segurança que não
gosta de fotos. E provavelmente não gosta de história.
Se o meu mister fossem as fotos, aquela teria sido uma
quinta-feira negra. Falhar um trabalho em que tantos
gostariam de ter estado. Ainda por cima, o jornal, de
propósito, arrastou temerariamente a hora do fecho,
disputando as iras de uma gráfica na África do Sul que
não quer saber do que se passa na Gorongosa.
O editor de serviço deu o seu melhor. Para que o jornal
cumprisse a sua função num dia tão especial.
Mesmo com o tal segurança que não gosta de fotografia.
F.L.
Acordo do Chitengo - Correcção
Na última edição, a propósito do acordo de cessação das hostilidades subscrito pelos presidentes Filipe Nyusi e Ossufo
Momade, foi escrito: “Politicamente, a Renamo acusava a
Frelimo de fraude eleitoral e exigia a indicação de governadores para as seis províncias onde o partido obtivera a
maioria dos votos.”
Trata-se de um erro editorial pois o texto original era: “Politicamente, a Renamo acusava a Frelimo de fraude eleitoral e exigia a indicação de seis governadores provinciais.”
F.L.
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TEMA DA SEMANA Savana 09-08-2019 3
exige esforços para a eliminação de
factores que alimentem conflitos
no país. Filipe Nyusi garantiu que
de tudo fará para a correcção do
que no passado deu errado.
“Não há razão para continuarmos a
nos matar”, enfatizou.
“Podemos entrar em desacordo,
como é comum numa família, mas
recorreremos ao diálogo”, prometeu, acrescentando que Moçambique não deve jamais ser teatro de
guerra.
Para o presidente do partido acusado de fraude nas eleições, os resultados eleitorais não devem ditar a
paz em Moçambique
Ruptura com o passado
– grupo de contacto
O embaixador suíço foi uma das
peças-chave nos bastidores do diálogo Governo-Renamo. Aliás, a
Suíça tem tradição de apoiar, discretamente, esforços de paz um
pouco por todo o mundo. No caso
moçambicano, Mirko Manzoni
preside o grupo de contacto internacional de diplomatas no diálogo
político. Para ele, o acordo de Maputo marca ruptura com o passado.
Saudou o empenho de Afonso
Dhlakama [fez saber que o líder
histórico da Renamo o tratava de
“vizinho” por a embaixada da Suíça fazer paredes-meias com a sede
da Renamo, em Maputo], de Filipe
Nyusi e de Ossufo Momade, reconhecendo que fazer paz é mais
difícil que fazer guerra e requer
coragem.
Reconheceu riscos ao nível político e pessoal, mas felicitou as duas
lideranças por terem conseguido
fazer acreditar os seus a seguirem o
caminho.
Manzoni, que considerou a morte
de Dhlakama como trágica, alertou
que a assinatura de um acordo não
basta, é preciso colocar em prática.
Implementar a democracia
– UE
Por sua vez, a alta representante da União Europeia (UE) para
Negócios Estrangeiros e Política
de Segurança e vice-Presidente da
Comissão Europeia, Federica Mogherini, considerou que Moçambique e África deviam estar orgulhosos pelo acordo de Maputo. Mas
sublinhou que a paz não é apenas
uma assinatura, mas se constrói todos os dias. A representante da UE
sublinhou que a paz não é apenas
assinatura de papel, nem ausência
da guerra, é um projecto de vida.
Na ocasião, a diplomata anunciou
60 milhões de euros da UE para
apoiar o processo de Desmilitarização, Desmobilização e Reintegração dos guerrilheiros da Renamo.
Pelo meio, Mogherini deixou recados. Afirmou que a implementação da democracia será parte da
implementação do acordo. Como
tal, a UE irá observar as eleições
deste ano em todas as fases, com
mais de 100 observadores. Será a
maior observação eleitoral de sempre. “Fazemos isso porque sabemos
que democracia é parte importante
na implementação deste acordo”,
disse, deixando claro que a Europa estará de olhos nas eleições em
Outubro.
Silenciar as armas até
2020 - SADC
O acordo desta terça-feira foi ainda
testemunhado por chefes de Estado africanos e representantes de
organizações continentais, todos
eles com discursos de conveniência.
O presidente da Namíbia e presidente em exercício da Comunidade de Países da África Austral
(SADC), afirmou que Maputo deu
um passo importante na meta da
União Africana (UA) de silenciar
armas até 2020, em prol de uma
África próspera e integrada.
“Moçambique mostrou o seu compromisso em prol da África que
queremos”, disse, sublinhando que
o processo da paz apenas começou.
“Vocês nos convidaram para este
acordo. Mas se decidirem reiniciar
a guerra, nos convidem também a
todos nós”, afirmou Hage Geingob,
irónico.
Solução africana
– Paul Kagame
Paul Kagame, o presidente do
Ruanda, classificou o acordo entre
o Governo moçambicano e o maior
partido da oposição do país como
histórico.
Para Kagame, um estadista que várias vezes se mostrou irritado com
ingerência ocidental, destacou que
o acordo de Maputo mostra que a
África pode ter soluções próprias,
ainda que em meio a dificuldades.
“Não deve haver imposições”, disse Kagame, conhecido por ter catapultado a economia do Ruanda,
mas acusado pela oposição de ter
instalado um regime ditatorial no
seu país.
Um novo começo – África
do Sul
Por sua vez, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, destacou a
liderança das duas partes para que
se chegasse ao acordo. Disse ser
um momento histórico que só foi
graças à coragem e visão das duas
lideranças. “O acordo anuncia um
novo começo”, disse, prometendo
o apoio incondicional da África do
Sul.
“Nunca estarão sozinhos nesta
jornada”, garantiu, depois de ter
lembrado o apoio de Moçambique
à África do Sul na luta contra o
apartheid.
Força, “irmão” Nyusi
- Zimbabwe
Mais desfasado ainda foi o vice-
-presidente do Zimbabwe, Kembo
Mohadi, que trouxe a Maputo um
discurso de camaradagem.
O representante do Governo da
Zanu-PF, um partido “irmão” da
Frelimo, passou de lado de Momade. Saudou Nyusi e o encorajou a
continuar a dialogar com “lideranças da oposição”.
Moussa Faki, presidente da Comissão da União Africana, prometeu apoio e solidariedade daquela
organização continental. Disse que
a União Africana aprecia os esforços de Moçambique em prol da paz
rumo à “África que queremos”.
Para o presidente da Zâmbia e
presidente do órgão para a Política, Defesa e Segurança da SADC,
Egdar Lungo, trata-se de um momento histórico que serve de inspiração não só para Moçambique,
mas também para a região e toda
Mirko Manzoni Paul Kagame a África.
Federica Mogherini Hage Geingob
TEMA DA SEMANA 4 Savana 09-08-2019
É
a voz de alguém que, desde
o primeiro minuto, esteve
envolvido nas negociações
para o Acordo Geral de
Paz (AGP), de 1992, em Roma. É
italiano, mas apresenta-se como
amigo de Moçambique, um país ao
qual está ligado desde 1984, quando chegou pela primeira vez com
ajuda alimentar de emergência em
resposta a fome que sacudia um
país dilacerado por uma das piores
estiagens da história. Mateo Zupi é
um dos fundadores da Comunidade
Sant’Egídio, a organização italiana
que mediou o diálogo que colocou
fim a 16 anos de uma fratricida
guerra-civil. Esta terça-feira, Zupi
voltou a Moçambique para ver, in
loco, a assinatura de mais um acordo
de paz. Vinte e quatro horas depois,
falava ao SAVANA. Não toca nas
feridas, mas quer que o acordo de
Maputo seja definitivo. E deixou a
receita: diálogo e diálogo, sempre.
Depois da experiência de Roma, o
que significou para si ver o Governo e a Renamo a assinarem mais
um acordo de paz?
Grande alegria, porque a paz tem
de ser defendida sempre. Ainda que
apareçam problemas tão profundos, o
diálogo é a única via para resolver os
problemas. No fundo é o método de
Roma. O método de Roma era falar
entre moçambicanos e reconhecer-se
como membros da mesma família
moçambicana, tentando pôr de lado
aquilo que divide e buscar aquilo que
une. Esse é o espírito de Roma, falar
entre moçambicanos. Na verdade,
uma mediação leve. A Itália não é
um país pesado, não tem poder colonial, a comunidade Sant’Egídio é
uma instituição não-governamental
entre aspas, mas isso ajudou muito
o diálogo entre moçambicanos, sem
interferências. Era mesmo falar entre
moçambicanos.
Será este o acordo definitivo?
Essa é sempre a pergunta. Quando
casa-se, não se diz que “eu te caso
até amanhã”, é “eu te caso definitivamente”. É claro que tem de ser definitivo. Queremos que seja definitivo.
Depois, como todas as coisas, tem
de ser defendido sempre, porque há
sempre inimigos da paz, mas, certamente, um compromisso como este,
frente a comunidade internacional,
é um passo fundamental, igual a um
casamento em que ninguém irá querer recuar.
Quem são os inimigos da paz?
Há muitos. Sempre muitos inimigos
da paz. Olhem ao mundo. Alguns
interesses económicos. Quando não
se defende a paz, crescem as divisões.
Na África, há ainda muitos conflitos.
Algumas vezes infelizmente são exploradas as religiões. Mas a religião é
pela paz. Mas vimos que, por exemplo, a violência no norte do país, parece explorar a religião como maneira de justificar a violência. Significa
que é preciso sempre encontrar maneira de a defender e fazê-la crescer.
Perguntávamos se este será um
acordo definitivo tendo em conta
o passado. Este é o terceiro acordo.
De onde vem a crença e a fé de que
desta vez será de vez?
Penso que há maturidade e confiança para se encontrar soluções. A
coisa importante é o diálogo entre
as partes. O facto de se ter resolvido
através do diálogo significa que se
aparecerem outros problemas, recorrer-se-á ao diálogo e não à violência.
E a coragem do presidente Nyusi e
do falecido presidente Dhlakama, de
se encontrarem, não foi uma coisa
banal. Pelo contrário, muitas vezes,
muitos conflitos em África surgiram
porque os actores não se encontraram, não se esclareceram entre eles
ou, quando surge o problema, significa que acabou. Mas aqui surgiu o
problema, com dificuldades, mas os
dois se encontraram e penso que é
um método melhor para defender a
paz.
Esteve profundamente envolvido
na mediação do AGP. O que falhou
com o Acordo de Roma?
Na época, certamente, a parte do
acordo sobre as autoridades locais foi
a parte menos discutida em Roma.
Discutimos muito outras partes, esta
parte aqui foi só nas últimas semanas.
Então, não foi aprofundada, porque
havia todas as partes mais fundamentais e, como sempre, quando há
coisas que não são bem esclarecidas,
antes ou depois, podem surgir problemas. A metodologia de Roma era
aquela em que se dizia “passo a passo
para se dar sempre passos certos”.
Mas é preciso admitir que o passo
sobre as autoridades locais, que ficou
para o final da negociação, foi apertado e isso criou algumas dificuldades na interpretação. Mas falar para
resolver essas interpretações é um
bom sinal para qualquer problema
que pode surgir no futuro.
Por quê era importante uma discussão profunda da questão das autoridades locais?
Para ver bem todas as implicações.
O acordo de Roma não era só de
princípios gerais. Pelo contrário, era
muito detalhado. Sobre alguns assuntos, era mesmo muito detalhado,
com todos os compromissos. Sobre
outros assuntos, menos detalhado ou
era mais um princípio geral. Mas a
paz nunca é só um princípio geral,
tem de ser detalhado. E penso que
este terceiro acordo detalhou bem os
pormenores. A coisa fundamental é
o compromisso de qualquer problema que surgir seja resolvido na via
do diálogo.
Mas este acordo resultou de um
diálogo a dois e a sociedade civil e
outros partidos da oposição sempre
reclamaram exclusão nesse processo. Quando as questões de toda
uma Nação são decididas por duas
pessoas, por aí não há riscos?
É claro que [durante as conversações
de Roma], ainda não havia partidos,
mas certamente havia outros actores,
mas justamente, o Governo falou
com a Renamo, que era a guerrilha
com a qual precisava acabar a violência. Depois o Parlamento, que tem
de ser o lugar no qual os partidos são
representados. Então, penso que isso
não é excluir, é resolver entre actores,
mas permitir a todos de participarem
na construção da Nação.
Não acha que este acordo, nomeadamente, o seu conteúdo, devia ser
divulgado para ser de domínio público, em nome da transparência?
Também em Roma, algumas partes
do acordo entenderam-se entre eles.
Isso é lógico, não é esconder as coisas. O conteúdo importante é aquilo
que ouvimos ontem (terça-feira).
É preciso ouvir desertores
Este acordo é assinado numa altura em que há guerrilheiros da Renamo, mas guerrilheiros armados.
Até porque, horas antes do Acordo de Cessação das Hostilidades
Militares, semana passada, houve
registo de ataques em Sofala. Não
será esta uma ameaça a este acordo?
O acordo talvez é a maneira de resolver este problema dos descontentes
da Renamo. Dá mais força para responder essas dificuldades.
A Renamo diz que são desertores
e indisciplinados que devem ser
perseguidos. Acha que é a melhor
forma de abordar o assunto?
É sempre melhor falar, ouvir e ver
quais são os verdadeiros problemas
e tentar buscar uma solução pacífica.
É sempre a maneira mais humana de
resolver os problemas.
Está a dizer que a Renamo tem de
sentar e conversar com os “desertores”?
Certamente. Imagino que eles encontrarão uma maneira de falar com
eles. Ou a Renamo ou mesmo o Governo.
E se prevalecer esta abordagem de
trata-los como desertores e persegui-los?
A minha esperança é não chegar a
nenhuma perseguição, mas encontrar-se uma maneira de se resolver
pacificamente.
Durante mais de 20 anos, não foi
possível desarmar a Renamo. Acredita que será agora em um mês e
meio ou dois?
A convicção é essa. Penso que o trabalho feito foi bem feito. A comunidade internacional disse também
que vai ajudar essa transformação
importante. Todas as condições estão
aí para terminar este problema.
Acha que as causas dos conflitos
em Moçambique estão eliminadas?
As causas de conflitos, em qualquer
país, muitas vezes podem ser causas
que não são causas. A Alemanha declarou guerra a Polónia, inventando
uma causa qualquer. Há tantas causas que podem fazer surgir conflitos.
Por isso, precisa-se sempre da construção e manutenção da paz. Nunca a violência pode ser justificada e
todos os problemas são resolvidos só
com a paz. E a democracia tem de
crescer.
A história de conflitos políticos em
Moçambique mostra que eles surgem sobretudo depois das eleições.
Conflitos que nascem da contestação de eleições consideradas fraudulentas, não transparentes, muito
menos livres e justas. Ora, estamos
a caminho das eleições de 15 de
Outubro e já há problemas com o
recenseamento. Esta paz não estará
em causa?
Tem razão, mas também é preciso
sublinhar que já são as sextas eleições depois do acordo de Roma. Então, apesar de todos os problemas, já
há uma experiência de democracia e
isso é muito importante. Apareceram
outros partidos que também tomaram um lugar importante. Não é fácil
encontrar no mundo, e em África em
particular, uma dialéctica de partidos
verdadeiros. Encontrar, por exemplo,
uma Comissão Nacional Eleitoral
que seja aceite por todos. O papel
do Parlamento é focar nas garantias
de que as instituições são de todos.
Quem tem de contar os votos tem
de ser alguém que faz o seu trabalho
para todos e não para o seu partido,
por isso, penso que certamente encontrarão as garantias necessárias.
Historicamente, a Frelimo, um
partido libertador, mostra dificuldades em aceitar pensamento diferente, em comer na mesma mesa
com a oposição, uma Frelimo com
uma governação excludente, que
marginaliza os “outros”, uma Frelimo que partidarizou e capturou
o Estado. Não serão essas ameaças
a paz?
Vinte e cinco anos são muitos. O
Parlamento é sentar-se frente a frente e é o lugar onde se discute com
4XHVHMDGHÀQLWLYR
0DWHR=XSLHR$FRUGRGH3D]
Por Armando Nhantumbo
a oposição. Essa é a lógica democrática. Aqui precisa-se de valores, de
todos os partidos, uma política que
seja pelo povo. Penso que o desafio
de ética política é importante. O
Papa Paulo VI dizia que a política é
a caridade mais alta, mais importante. Penso que é o problema de todo
o mundo, a começar pela Itália, um
problema de ética política. Todos
têm um desafio da ética política, ter
uma visão do bem comum, que é
fundamental para que a política seja
verdadeiramente um serviço às pessoas. A ética política é um problema
sério.
Fruto de Dhlakama
Foi dos principais mediadores nas
conversações para o acordo geral
de paz de Roma, que teve como um
dos protagonistas Afonso Dhlakama. Como é que recebeu a morte de
Dhlakama em Maio do ano passado?
Com muita pena, porque havia laços
de tantos anos e eu diria também de
amizade e de confiança. A semente
deste acordo foi por ele lançada, nos
encontros com Nyusi. Muitos, não só
da Renamo, agradeceram o Dhlakama porque é um fruto último da sua
esperança de acabar novamente com
a violência.
Como alguém que trabalhou com
Dhlakama, pode dizer-nos que homem era esse?
O Dhlakama era um homem que
queria muito Moçambique. Foi sua
determinação chegar a um acordo,
mas um acordo verdadeiro, porque
ele queria acabar com a violência. A
primeira vez que falamos com ele, na
Europa, numa viagem secreta antes
do primeiro encontro de Julho de
1990, ele dizia que “eu não quero a
violência, quero acabar com a violência, mas para acabar com a violência,
temos de acabar com as razões que
levaram à violência”. Penso que todos apreciam esta determinação dele.
Muitos pensavam que, depois do
acordo de Roma, ele não era capaz
de manter os compromissos, mas ele
os manteve.
Mas foi muitas vezes perseguido
e combatido. Acha que Afonso
Dhlakama não foi compreendido
na sua época?
A má compreensão tem sempre dois
lados. O fundamental é que, apesar
dos problemas que surgiram nestes
anos, de facto, o fio do diálogo nunca
foi totalmente rompido.
Como vê esta Renamo sem Afonso
Dhlakama?
Não é fácil. Não falei ainda com eles,
mas certamente, para todas as organizações, com uma mudança como
esta, nunca vai ser fácil. Certamente,
a coisa mais importante para eles é
tentarem conservar a unidade, porque as eleições sempre enfraquecem,
por isso o feito de terem feito congresso, é um desafio de maturidade
que demonstra que a Renamo sabe
enfrentar esse momento muito difícil. Estou certo que eles vão defender
a unidade, que era uma das preocupações mais importantes do Dhlakama, que o partido seja unido.
“O diálogo é a única via para resolver problemas” - Mateo Zupi
TEMA DA SEMANA Savana 09-08-2019 5
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SOCIEDADE 6 Savana 09-08-2019
N
a maratona de inaugurações,
esta segunda-feira, no distrito
de Palma, uma boa notícia para
o “conteúdo local”: o cimento e
os inertes para as obras da base industrial da Península de Afungi serão integralmente adquiridos a empresas moçambicanas ou registadas no país, num
valor orçado em USD150 milhões. A
decisão é da Anadarko, a empresa que
lidera a exploração do gás no Bloco 1
da bacia do Rovuma.
Horas antes do lançamento da “primeira pedra” do complexo industrial que
compreende a construção de duas unidades de liquefacção de gás, Steve Wilson, o “boss” da Anadarko para Moçambique, rabisca à mão um parágrafo
extra nas notas sobre o projecto de gás,
depois do discurso introdutório de Ian
Perks, o vice-presidente na multinacional norte-americana que acompanhou
o presidente Filipe Nyusi em mais uma
ronda de inaugurações.
O cimento e os inertes foram introduzidos na noite de véspera num “trabalho
de formiga” de Max Tonela, o ministro
que supervisiona os Recursos Minerais
e Energia. A decisão não é simples uma
vez que não abundam pedreiras de qualidade em Cabo Delgado e o cimento,
para além da “batalha das especificações” para garantir qualidade, tem que
assegurar que o “klinker” tem agregado
calcário local, para afastar a “batota”
das fábricas que começam a crescer em
muitas províncias, mas com “klinker”
importado do exterior. A saber, os melhores jazigos de calcário estão em Salamanga, no extremo sul do país e em
Muanza, na zona centro, não muito
longe de Inhaminga. Wilson acenou de
novo com USD2500 milhões para negócios com fornecedores locais.
Nova vila
Perto do local da cerimónia dos “trens”
de liquefacção do gás, foi inaugurada
uma estrada alcatroada de 12km, um
troço que liga a futura zona industrial
de Afungi e a estrada Mocímboa da
Praia-Palma(EN 62). As bermas foram
limpas, numa extensão de 30 metros
para cada lado, claramente uma medida de segurança para evitar emboscadas
junto ao pavimento da estrada. A obra
esteve a cargo da CCC (Consolidated Contractors Company), a maior
empresa de construção civil da Médio
Oriente, com sede em Atenas. Foram
USD22 milhões investidos pelo consórcio do gás num empreendimento
feito em 14 meses.
Mas a “cereja no topo do bolo” foi o
“corte de fita” do mais novo posto administrativo do país, a vila de Quitunda,
um centro urbano erguido de raiz para
acolher as 560 famílias que estão a ser
gradualmente movimentadas das áreas
nevrálgicas do projecto de gás. Para já
foram transferidas 27 famílias, mas até
ao fim do ano serão 160 agregados.
A vila, feita pelos italianos da CMC, foi
discutida “taco a taco” com os futuros
moradores, organizações da sociedade
civil, burocratas de diversos ministérios do governo central e um pequeno
batalhão de “especialistas em ciências
sociais” da própria Anadarko.
À primeira vista, o resultado é impressionante. Os arruamentos principais
são em alcatrão, há saneamento básico, a água é tratada e há contador para
compra pré-paga de energia. Os empreiteiros, ao estilo tradicional da maioria das construções em Moçambique,
eliminaram toda a vegetação autóctone
da área urbanizada, para depois plantarem acácias e outras plantas “importadas” junto às casas de habitação.
Como equipamentos sociais, há um
posto de saúde com capacidade de internamento e maternidade, uma escola
com 10 salas de aula, um centro comunitário, campo coberto para a prática de
desporto com balneários, um mercado
e uma terminal de “chapas”. No jardim
infantil com baloiços e “escorrega”, as
árvores foram poupadas e as crianças
podem brincar à sombra. Há ainda o
posto administrativo onde estão instalados os burocratas de Quitunda e um
posto policial com a respectiva prisão.
O nome de Quitunda, segundo explicação local, deriva das lagoas que existem
na zona.
Vida Nova
Na casa 266, a esposa de Samuel Maulane, com um sol esplendoroso, mesmo
não tendo batido ainda as sete horas,
“lava” vigorosamente as paredes exteriores da casa, apesar da pintura bem
executada pelos constructores. Provavelmente, entre as várias dezenas de
“induções” que os técnicos da Anadarko
fizeram, não explicaram que as paredes
dispensavam a lavagem. O Sr. Samuel,
um pouco bebido, para hora tão matinal, explica que a esposa está a fazer o
que lhes foi pedido: manter tudo limpo
e bem apresentado para as visitas. Diz
que a casa é suficiente para os 10 membros da família e está satisfeito. Os pratos, panelas e talheres foram oferecidos,
um kit que inclui um pequeno caixote
de lixo em plástico amarelo berrante. A
sua preocupação é saber onde vai ter a
sua machamba, embora não tenha plantado nada no jardim e na horta, dois espaços adjacentes a cada casa da vila.
O seu vizinho Zacarias Muanga, mais
expressivo em português, apesar de
contente, tem várias críticas a fazer. Diz
que há cheiro que vem das pias turcas
que foram instaladas nas casas de banho
exteriores. Mesmo que cada uma tenha
uma tampa em borracha. Também não
gostou do arroz que foi oferecido. A farinha para preparar a tradicional “ugali”
é bem melhor, na sua opinião. Encolhe
os ombros quando lhe peço opinião sobre a água e a electricidade que vai ter
que pagar
Nyusi, na sua vertente não populista,
pede para conservarem bem as casas,
que não cozinhem dentro das habitações, que água e energia custam dinheiro, que não devem fazer novas
construções (na contramão do modelo
estabelecido).
As casas de banho fora de casa foram
um pedido das famílias, mas os funcionários governamentais que vieram
inspeccionar as habitações não gostaram do que viram, mesmo havendo
uma espaço interior com tubagem já
instalada para uma potencial casa de
banho com loiça sanitária. A explicação
fornecida são os potenciais negócios de
venda de casas dos actuais moradores a
favor de funcionários da administração
local, imaginando alugueres fabulosos
ao “boom” de emprego que começará
com a construção das fábricas.
Zona industrial
Segundo foi explicado, até ao fim do
ano, deverá arrancar o terminal de descargas de Afungi, o embarcadouro por
onde chegarão grande parte dos materiais de construção por via marítima.
De Pemba e, eventualmente, de Nacala.
A construção do terminal, na primeira
fase, empregará 5000 moçambicanos.
Os trabalhos de todo o complexo industrial estão adjudicados a um consórcio liderado pela italiana Saipem e que
integra os empreiteiros da americana
McDermott e os consultores japoneses
da Chiyoda. As tubagens subaquáticas entre as fábricas e os poços da área
Golfinho/Atum – a cerca de 40km de
terra e a uma profundidade de 1800m –
serão montadas pela francesa Technip.
Ainda na frente logística, até ao fim
do ano estará pronta a primeira fase da
pista de aviação de Afungi, numa extensão de 1600 metros, o que permitirá
a aterragem dos Embraer 145 da Fast
Jet, fretados pela Anadarko a partir de
Maputo. Na segunda fase, a pista terá
2300 metros e poderá acolher aviões do
tipo Boeing 737. Por motivos de segurança, segundo explicação fornecida, a
líder do consórcio da Área 1, não utiliza
as aeronaves da LAM para o transporte
dos seus trabalhadores. Habitualmente
o pessoal a prestar serviço em Afungi
trabalha 28 dias seguidos, descansando
por período idêntico.
Na frente industrial, os dois “trens”
GNL (gás natural liquefeito) produzirão 12,88 milhões toneladas por ano.
Haverá um ancoradouro para quatro
navios com capacidade para um milhão
de barris de gás liquefeito (174 mil m3).
A cada dois dias será despachado um
navio que demora 18 horas a carregar.
Um quinto ancoradouro será utilizado
para exportar condensado, um subproduto do gás extraído das profundezas
do subsolo.
A Área 1 foi concessionada a um consórcio liderado pela Anadarko (26,5) e
inclui ainda a Mitsui(20%), a ONG Videsh (16%), a Barath (10%), a Oil India
(4%), a ENH (15%) e a PTT (8,5%).
Esta quinta-feira, depois do fecho da
nossa redacção, a assembleia de accionistas da Anadarko deverá tornar firme
a venda dos seus activos à Occidental.
Isto implicará a venda da operação moçambicana à Total francesa, numa transacção estimada em USD8800 milhões.
Nyusi foi a Afungi levando apenas dois
“ministros civis”. Celso Correia que foi
ver inaugurar a sua “localidade modelo” e Max Tonela que tutela a área do
“oil&gas”. O resto da comitiva era composta pelo ministro da Defesa Atanásio
Mtumuke, o ministro do Interior Basílio Monteiro, o director do SISE Tomás Jane, o comandante geral da polícia
Bernardino Rafael e o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Lázaro
Menete. O que mostra a preocupação
pelos temas de defesa e segurança.
*deslocação a convite da Anadarko/MIREME
A
s fotos que aqui reproduzimos foram tiradas em Pemba, esta terça-feira.
Dois helicópteros com cores militares, sem armamento, mas
sem matrícula ou qualquer insígnia
nacional. Os seus ocupantes, oito
elementos, aparentando cerca de 40
anos, vestiam camisetas de cor clara,
calças de camuflado militar e os inseparáveis óculos escuros.
Trata-se de helicópteros franceses
Gazelle fabricados pela Eurocopter,
uma versão mais avançada dos velhos
Allouette, utilizados pelo exército
colonial nos anos 70, precisamente
no teatro de operações de Cabo Delgado. Este tipo de helis, disponíveis
na África Austral, tem a fabricação
descontinuada tendo estado ao serviço no exército britânico. A África do
Sul possui várias unidades utilizadas
por entidades privadas.
Segundo especialistas do sector, pela
sua versatibilidade em voo, estes
aparelhos são muito utilizados para
operações de reconhecimento e de
combate a insurgentes (pois podem
ser equipados com metralhadoras de
ataque ao solo). Apesar do habitáculo reduzido, podem ser utilizados
no lançamento de forças especiais ou
usados na retirada de feridos em zonas operacionais.
Têm sido utilizados para esses fins no
Mali, nas operações contra o Boko
Haram e no Iraque contra o ISIS.
Em termos de armamento também
têm a capacidade de serem equipados com misseis “tow” e “canudos”
com sete rockets. Possuem uma autonomia de voo de 200 milhas náuticas o que significa atingirem um
objectivo a cerca de 100 milhas com
regresso seguro à base operacional.
Autoridades aeronáuticas escusaram-se a comentar a presença dos
helicópteros em Pemba e uma das
multinacionais com operações na
área do gás disse que os aparelhos
não integravam a sua operação securitária.
Em breve saberemos se haverá uma
escalada de meios nas operações
militares nos distritos nortenhos de
Cabo Delgado.
Trabalho avança na bacia do Rovuma
Boas notícias para conteúdo local
Por Fernando Lima, Foto de Naíta Ussene, em Afungi*
Novos actores no teatro de operações
Violência em Cabo Delgado
Steve Wilson, o “boss” da Anadarko para Moçambique, anuncia USD150 milhões
para o conteúdo local
TEMA DA SEMANA Savana 09-08-2019 7
DIVULGAÇÃO
ROSC, ACABE, Action Aid Moçambique, ADDC, AIRDES, ASCHA, MULEIDE, AMMCJ, Associação Solidariedade Zambézia (ASZ),
Associação Wona Sanana, CESC, Centro de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da UEM, Comunidade Moçambicana de Ajuda (CMA),
Coalizão da Juventude Moçambicana, COREM, Fanelo ya Mina, Fundação Apoio Amigo (FAA), FDC, Fórum Mulher, FORCOM, Girl Move
)RXQGDWLRQ +$&, 5(366, /H0XVLFD /'& /LQKD)DOD&ULDQoD 0(37 :/6$ 1¶ZHWL 3ODQ,QWHUQDWLRQDO 3DWK¿QGHU,QWHUQDWLRQDO 5(&$&
Rede da Criança, Rede HOPEM, Save the Children, SOPROC, Terre des Hommes Itália, Terre des Hommes Schweiz, VSO, World Vision
Moçambique, Young Women Christian Association, Associação Jovem para Jovem (AJPJ), AMODEFA, AGCD, Associação Progresso,
REPROCRINA, UATAF-AFC, ChildFund, FHI360, Malhalhe, Nova Vida, AMPARAR, Right to Play, H2n
Este artigo é da autoria da CECAP – Coligação para a
Eliminação dos Casamentos Prematuros. A CECAP é
composta pelas seguintes organizações:
A Assembleia da República
(AR) aprovou, no dia 18
de Julho, na especialidade, o Projecto de Lei de
Prevenção e Combate às Uniões Prematuras. O documento segue para o
Gabinete do Presidente da República
que, por força do número 1 do artigo 163 da Constituição da República
deve, num prazo de 30 dias, promulgar e mandar publicar no Boletim da
República. Trata-se de um instrumento importante para a garantia dos
direitos humanos da rapariga porque,
segundo o economista e professor
universitário, António Francisco, um
país com altos taxas de uniões prematuras reflecte um nível muito baixo de
desenvolvimento económico e humano. Por seu turno, Joaquim Oliveira
Mucar, director de Advocacia Gestão
de Conhecimento e Mobilização de
Fundos na Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC),
explica que é que as uniões prematuras constituem um entrave ao desenvolvimento e sublinha que o País perde 62 biliões de Meticais anualmente
(correspondentes a 10% do PIB) devido à desnutrição crónica.
António Francisco: uniões prematuras reduzem o desenvolvimento
Fale-nos dos efeitos das uniões preUniões prematuras são um entrave ao
desenvolvimento humano
Uma das consequências
duma criança nascida
de mãe menor é o fraco desenvolvimento.
Haverá alguma relação entre um
nascimento precoce e malnutrição?
Numa situação de união forçada
o que temos, numa primeira instância, é a violação dos direitos
humanos e, se quisermos, direitos
da criança, pois a esta assiste-lhe
o direito de protecção, o direito
de alimentação, o direito à honra
e dignidade, de crescer saudável e
num ambiente são e livre, de estudar e de se desenvolver até a um
nível em que pode fazer as suas
próprias escolhas. A problemática
de uniões prematuras pressupõe
logo uma barreira ao desenvolvimento da rapariga, pois com a
união prematura ela passa a desempenhar um papel de adulto,
de tomar conta do lar e de assumir
responsabilidades que constrangem o seu próprio crescimento e
coarctam os direitos anteriormente mencionados. A rapariga tem,
ao fim e ao cabo, de gozar da sua
infância e adolescência de forma
livre e justa perante a Lei.
Numa outra vertente, podemos
Joaquim Mucar: Moçambique perde 62 biliões de meticais/ano devido à desnutrição
maturas no desenvolvimento económico do país.
Antes de falar do impacto das uniões
prematuras no desenvolvimento económico convém perceber a sua razão
de ser, ao longo de milhares de anos.
Não foi por mera ignorância, ou vontade de usar e abusar da rapariga. Durante milhares de anos, enquanto as
populações tinham uma esperança de
vida à nascença que rondava os 30 ou
35 anos de idade, se a mulher não começasse a ter os filhos imediatamente
após iniciar a puberdade, não haveria
forma de garantir a reprodução humana. Tinham pouco mais de 15 a 20
anos para garantir ter o número de filhos suficientes que sobrevivessem ao
elevado risco de mortalidade infantil.
Numa situação de grande mortalidade, no final, a elevada fecundidade
visava compensar esse déficit.
Assim que a mortalidade começou a
ser controlada, sobretudo a mortalidade infantil, começou a aumentar
a idade mediana da população. Por
exemplo, a idade mediana da população a nível mundial ronda os 30 anos
de idade. Ora, em Moçambique, a
idade mediana em vez de aumentar
baixou de 19 anos em 1950 para 16,6
anos em 2017. Isto pode significar
que a mortalidade infantil registou
uma diminuição, aumentou a população infantil e adolescente, mas não
surgiram condições para as adolescentes encontrarem motivos sociais
e económicos para adiarem a idade
de terem filhos e casarem. Portanto,
o contexto social é muito favorável a
que as famílias queiram casar as filhas
o mais cedo possível. Ou seja, existem
factos económicos, sociais e culturais
favoráveis às uniões prematuras.
Infelizmente, não existem estudos
socio-económicos que avaliem se o
impacto das uniões prematuras é mais
negativo do que positivo nas famílias
rurais. Obviamente, para a rapariga, a
pressão para se envolverem em uniões
prematuras significa privá-la de investir na sua formação. Mas como a
educação formal não aponta uma alternativa compensadora, em termos
de retorno económico a médio prazo,
por via de emprego, a tendência das
famílias é continuarem a defender a
união prematura.
Um país com elevados níveis de
uniões prematuras tem ou não condições de atingir um alto grau de desenvolvimento humano?
Um país com altas taxas de uniões
prematuras reflecte um nível baixo,
muito baixo de desenvolvimento económico e humano. Contudo, à medida que o desenvolvimento humano
aumentar, as uniões prematuras vão
diminuir.
Qual é o impacto económico do crescimento da natalidade resultante de
uniões precoces.
Penso que o impacto maior é a rapariga ficar privada e refém da maternidade, enquanto devia investir na
formação profissional e aquisição de
oportunidades de sustento mais promissoras do que cuidar dos filhos. Esses filhos que a jovem tem, em idade
tão precoce, também irão sofrer a carência de recursos e oportunidade da
mãe, principalmente se o arranjo em
que ela fica envolvida é precário, ou
até fica como mãe solteira.
Que ganhos económicos Moçambique pode obter se eliminar, na totalidade, as uniões prematuras?
Qualquer país que consegue realizar
transformações económicas modernizadoras da economia rural acabará
por reduzir e eliminar não só as uniões
prematuras, mas também a maternidade precoce. As famílias passam a
investir mais na qualidade em vez da
quantidade dos filhos. Isso acontece
quando a fecundidade transita progressivamente para níveis abaixo de
cinco filhos por mulher. Isso já está a
acontecer na cidade de Maputo, onde
a fecundidade da mulher já ronda os
três filhos por mulher.
Penso que um país com problemas de
uniões prematuras não deve reduzir
o assunto a uma questão de ignorância ou falta de conhecimento. Sim, a
educação é crucial para que as pessoas
percebam que a união prematura não
é a via adequada para o bem-estar,
mas simultaneamente devemos reconhecer que é fundamental ampliar as
oportunidades dos jovens, sobretudo
da rapariga, para poder encontrar alternativas economicamente mais viáveis à maternidade.
afirmar que, numa união forçada, a
consequência imediata, para além da
violação dos direitos atrás mencionados, é a gravidez precoce. Precoce
porque a rapariga ainda não reúne
condições físicas, psicológicas e biológicas para gerar um filho e por essa
via para cuidar, alimentar, educar e
facilitar o seu crescimento. Ela ainda
é criança, necessitando desses cuidados, não estando, por isso, em altura
de assumir esse papel reprodutivo que
é próprio de uma pessoa adulta e que
tenha atingido um nível para o efeito
apropriado. Porque a união prematura
pressupõe, logo à primeira, gravidez
e maternidade precoces, então podemos fazer um paralelismo forte entre
uma união prematura e a desnutrição.
Como? Uma gravidez requer alimentação adequada e balanceada, rica em
nutrientes que vão permitir que a
nova mãe possa sustentar a gravidez,
da gestação até ao parto, passando
pela amamentação do bebé até pelo
menos aos 2 anos, período em que se
completa o ciclo dos primeiros 1000
dias desde a gestação, cruciais para o
desenvolvimento são e harmonioso
da criança – o tal período crítico que,
uma vez perdido, não há mais retorno,
senão para um ciclo de desnutrição
crónica do menino ou menina recém-
-nascido.
Biológica e fisicamente falando, porque a menina não está em condições
para gerar e ter bebé, as consequências são várias e graves. Os riscos no
decorrer do parto são enormes, desde
anemia, desnutrição, podendo resultar na morte da mãe ou do bebé, com
possibilidades inevitáveis de fístulas
obstétricas com todas as consequências daí decorrentes, desde a discriminação social e contracção de doenças
de vária ordem, incluindo as de transmissão sexual e o HIV.
Concluindo, qualquer união prematura acaba sendo um problema de
desenvolvimento de capital humano
que, por sua vez, está associado ao desenvolvimento sócio-económico. Por
ser um problema sistémico e multifacetado, as suas soluções têm de ser
igualmente sistémicas, multifacetadas,
envolvendo questões culturais, sociais,
económicas e de ordem jurídico-legal.
Um país com altos níveis de uniões
prematuras tem ou não condições
para superar o problema da malnutrição?
A união prematura obriga as meninas
a deixar a escola, a começar a ter filhos
antes da idade e do desenvolvimento
do seu corpo, a viverem separadas da
sua família, a servir o marido, a cuidar dos filhos. Tudo isto afecta o seu
bem-estar físico, psicológico e emocional. Nenhum país no mundo se
desenvolve sem um capital humano
bem desenvolvido, isto é, uma população escolarizada e saudável, com
índices de dependência reduzidos e
condições ambientais salutares. Em
suma, as uniões prematuras constituem entraves ao desenvolvimento e,
sendo associadas à desnutrição crónica, representam um sério problema ao
desenvolvimento do capital humano,
essencial para o desenvolvimento sócio-económico e sustentável.
Basta dizer que o país perde cerca 10% da sua força de trabalho
, e 62 biliões de Meticais anuais
(correspondentes a 10% do PIB)
devido à desnutrição crónica. Adicionalmente, 18.8% de casos de
reprovações escolares estão associados à desnutrição e 1 em cada 4
casos de mortalidade infantil estão
directamente relacionados com o
mesmo factor. Ora isto é mais que
suficiente para imaginar o quanto
ficamos cada vez mais para trás em
relação aos outros países da região
e não só.
Qual é que pode ser o impacto
de malnutrição numa criança que
nasceu com problemas de saúde,
como é o caso de baixo peso?
O baixo peso à nascença é um
indicador claro de malnutrição,
embora possa ser desnutrição
aguda que, diferente da desnutrição crónica, tem tratamento, por
via de suplementos nutricionais
e alimentação rica em nutrientes.
A crónica é aquela em que, ultrapassados os 1000 dias sem alimentação adequada, incluindo aleitamento exclusivo, não tem retorno.
É uma sentença de inaptidão ao
nível cognitivo, físico e produtivo
para toda a vida.
António Francisco
SOCIEDADE 8 Savana 09-08-2019
No âmbito da passagem do vigésimo aniversário da aprovação da Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei nr. 10/99, de 07
de Julho) e do vigésimo segundo aniversário da aprovação da Lei do Ambiente (Lei nº 20/97 de 1 de Outubro), o ObVHUYDWyULRGR0HLR5XUDORUJDQL]DXPDFRQIHUrQFLDVREUHRVGHVDÀRVGDJHVWmRGRVUHFXUVRVÁRUHVWDLVQRVFRQWH[WRVGDV
mudanças climáticas.
CONVITE:
CONFERÊNCIA SOBRE GESTÃO FLORESTAL, MEIO AMBIENTE
E MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Kaya-Kwanga, Maputo
14 de Agosto de 2019
PROGRAMA:
Orador Instituição Actividade /Tema Hora Moderador/
Responsável
OMR Chegada e registo dos
participantes 08h30 – 08h45 Protocolo
João Carrilho OMR
Abertura: 20 anos da lei
de Florestas: desafios e
perspectivas
08h45 – 09h00 OMR
PAINEL 1 Gestão e uso sustentável dos recursos florestais
Aristides Muhate FNDS Evolução da cobertura
florestal em Moçambique 09h00 – 09h15
Joaquim
Fumo (CFJJ)
Almeida Sitoe UEM-FAEF
Transição florestal e
desflorestação em
Moçambique
09h15 – 09h30
Natasha Ribeiro UEM Florestas de miombo e sua
conservação 09h30 – 09h45
Todos Debate 09h45 – 10h40
Todos OMR Coffee-break 10h40 – 11h00 Protocolo
PAINEL 2 Florestas e mudanças climáticas
Angela
Kronenburg UC Louvain
Empresas florestais,
fronteiras emergentes e
relações com outros
actores e investidores
11h00 – 11h15
Aleia
Rachide
(OMR)
Luis Artur UEM
Gestão de florestas face ao
desafio das mudanças
climáticas
11h15 – 11h30
Luís Muchanga UNAC
Visão da UNAC sobre
gestão florestal e as
mudanças climáticas
11h30 – 11h45
Todos Debate 11h45 – 13h00
Todos Encerramento e lanche 13h00 OMR
D
o ar, Palma assemelha-se a um
conglomerado de pequenas vilas fortificadas por vedações e
barricadas. É aqui onde chegam
os helicópteros fretados pela Anadarko
para fazer o trajecto entre Mocímboa da
Praia e a vila que serve de base a grande
parte das operações do “oil&gas” na bacia do Rovuma.
A Everett, uma empresa com helicópteros de matrícula queniana, começou as
operações em Palma, depois do ataque
de Fevereiro que decapitou um dos trabalhadores da empresa portuguesa que
constrói a pista de aviação de Afungi,
mesmo junto ao acampamento fortificado da Anadarko e a nova vila de
Quitunda. Os Agusta Bell Leonardo
AW139 levam 12 passageiros de cada
vez. De Mocímboa para o heliporto
privado do Amarulla Lodge, uma das
várias instalações hoteleiras fortificadas
de Palma. Mesmo ao lado, há um acampamento com vedação dupla. A parte de
fora é reforçada com cilindros de betão,
similares a instalações idênticas mostradas nas reportagens do Iraque. “Isto
aguenta com um veículo suicida carregado de explosivos”, explica-nos um logístico local, familiarizado com o novo
ambiente da vila.
Os ataques dos grupos de inspiração
jihaddista transformaram radicalmente o ambiente de Palma. De vila pacata e pachorrenta, vivendo dos negócios
da pesca e do trânsito de populações e
emigrantes a caminho do Rovuma e
da Tanzânia, Palma é agora um centro
urbano literalmente sitiado e ocupado
militarmente. “Vive-se atrás do arame
farpado”, explica-nos o logístico a quem
ocultamos o nome, deliberadamente. À
noite, as ruas são ocupadas pelos militares. A maior parte dos habitantes não
arrisca circular depois do pôr do sol,
“para evitar complicações”. Um trabalhador recrutado em Pemba mostra-me
as equimoses nas pernas, depois de um
aparatoso acidente de mota. “Entrei em
pânico quando uma patrulha me mandou parar de arma apontada para mim”,
conta. Mesmo ferido foi trabalhar no dia
seguinte. “Para evitar problemas, disse
que caí em casa. Não quero confusão e
não quero perder o emprego”. Recolho
no telemóvel as imagens das feridas quase cicatrizadas. Mais uma vez, oculto o
seu nome.
Na única discoteca de Palma, também
com vedação de arame fardado, há um
DJ a pôr música, enquanto a maioria dos
comensais segue as imagens televisivas
do Benfica-Sporting.
Uma parte dos clientes dança na companhia de garrafas de cerveja. À falta
de outras companhias. “Podem ser eles.
Nunca sabemos. Mas convivem aqui,
entre nós”. Eles, são os potenciais jihadistas. Insurgentes para outros. Claramente um termo mais neutral. “Se um
deles se explode, podíamos morrer todos
aqui”, comenta um dos meus interlocutores que deve estar habituado a filmes
de acção.
Através do portão entreaberto, assoma
ao recinto uma patrulha militar de homens encapuçados. Todos empunhando
AKM. Olham em redor e desaparecem
com um dos clientes que é recolhido
compulsivamente. “É assim todas as
noites”. Os expatriados não frequentam
o bar, por indicação das suas empresas. A
excepção é um grupo de portugueses que
trabalha na construção de uma pista de
aviação. Têm sotaque do Norte, mas vieram ver o jogo entre as duas principais
equipas de Lisboa. Fazem que não vêm
os militares. Trinta minutos depois entra
nova patrulha. Desta feita, nem todos
estão encapuçados. Tiram várias fotos
com o DJ e saem com latas de cerveja
Palma sitiada
O Iraque é aqui
nos bolsos dos camuflados. Um dos empregados faz um esgar de desaprovação.
“É assim, hoje até que não está tão mal.
Mas não pagam o que levam”. O dono
da discoteca, com o aumento da violência na zona, regressou às origens em Nacala. Explicam-nos que a instalação está
agora alugada a um zimbabweano.
Saímos de novo para a noite. Não há
vivalma nas ruas. Apenas alguns cães
vadios. Por trás do arame farpado, as
unidades hoteleiras funcionam todos
os dias em longas jornadas de trabalho.
Habitualmente os clientes das petrolíferas acordam muito cedo e a primeira
refeição é servida a partir das quatro da
manhã.
Num hotel com vista para a praia, o parque automóvel alberga várias viaturas à
prova de bala e com longas antenas de
rádio no “mata-boi” frontal. “É política
da empresa”, explica o dono da unidade hoteleira. Depois do período mau a
partir de Fevereiro, na sua opinião, “está
tudo a recompor-se”. Não tenho que
me queixar, diz. “Tenho duas unidades
cheias e com contratos permanentes. A
minha pena é não ter mais quartos para
alugar”. Pensa que vai continuar a construir, apesar dos preços especulativos
dos terrenos. “Este espaço custou-me
USD150.000,00, mas agora, por um
terreno idêntico, querem um milhão de
dólares. Está tudo maluco”.
Regresso ao hotel onde passo a noite.
Sem encontros indesejáveis. A entrada
tem uma vedação dupla. Com electrificação e arame farpado. O guarda, como
muitos outros, tem uma arma de fogo.
Palma é o nosso Iraque.
(FL)
TEMA DA SEMANA Savana 09-08-2019 9
PUBLICIDADE
SOCIEDADE 10 Savana 09-08-2019
A
Comissão Nacional de
Eleições (CNE) aprovou e
mandou publicar as listas
dos candidatos a deputados da Assembleia da República
(AR), para a IX Legislatura, cujo
mandato começa em Janeiro de
2020 e prolonga-se até Janeiro de
2025.
Dos 36 partidos políticos, três coligações e um movimento de cidadãos, destacam-se a Frelimo, Renamo e MDM, que concorrem em
todos os círculos eleitorais.
Pela Frelimo, são de assinalar as ausências de Alberto Chipande, Raimundo Pachinuapa e Luísa Diogo.
Tomaz Salomão está de regresso.
Na Renamo, é notável a exclusão de Manuel Bissopo, até pouco
tempo secretário-geral da Renamo
e membro da Comissão Permanente da AR, e a entrada de Elias
Dhlakama e Rosália Xavier Mbiriakuira, irmão e viúva de Afonso
Dhlakama, respectivamente.
No MDM, é também notável a
saída do seu mandatário, Manuel
Domingos de Sousa. Os “desertores” da Renamo, mormente: Albano Baulande e Sandura Ambrósio,
ocupam lugares de destaque nas
listas do MDM em Sofala.
Chipande e Pachinuapa
vão à reforma
Alberto Chipande e Raimundo
Pachinuapa, dois homens fortes da
Frelimo, veteranos da luta armada
de libertação nacional e generais
na reserva, decidiram abandonar as
cadeiras que ocupavam desde 1994,
ano da constituição da primeira
Assembleia nacional resultante das
primeiras eleições multipartidárias.
A próxima bancada parlamentar da
Frelimo também não irá integrar
algumas figuras sonantes como é o
caso de Luísa Diogo, actual chefe
da brigada central para assistência à
província de Tete.
Luísa Diogo é actualmente presidente do Conselho de Administração de Barclays Bank Moçambique.
Em Março de 2014, Luísa Diogo
concorreu com Filipe Nyusi a candidato a candidato da Frelimo à
Presidência da República.
Em Fevereiro de 2019, substituiu
Ana Rita Sithole na chefia da brigada central e, segundo algumas
correntes próximas da organização,
a antiga primeira-ministra olhou
para a sua indicação como um sinal de aproximação ao presidente
da Frelimo e uma abertura para o
regresso ao posto de primeira-ministra ou mesmo para uma eventual
candidatura à eleição de 2024.
Também é notável a ausência de
figuras sonantes do governo de Filipe Nyusi. São os casos de Celso
Correia, ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural,
Max Tonela, ministro dos Recursos
Minerais e Energia; Carlos Mesquita, ministra dos Transportes e
Comunicações; Osvaldo Machatine, ministro das Obras Públicas,
Habitação e Recursos Hídricos
entre outros.
Ao nível dos actuais governadores,
apenas Raimundo Diomba, actual
governador da província de Maputo e Francisca Tomás, de Niassa, é
que constam nas listas a deputados
da AR.
Na cidade de Maputo, está quase
que consumado o afastamento de
Pedro Cossa, antigo secretário-geral da Organização da Juventude
Moçambicana (OJM); Hermenegildo Infante, antigo primeiro-
-secretário da Frelimo e membro
da Comissão Permanente; Danilo
Teixeira, secretário-geral da Organização de Continuadores da Revolução Moçambicana; António
Hama Thay e Henriques Mandava.
O jornalista, no activo, da Televisão de Moçambique, Agostinho
Mavota, mais uma vez viu as suas
ambições de chegar ao posto de deputado frustradas.
A cidade de Maputo tem apenas
13 mandatos. Henrique Mandava
está no 11° lugar, Pedro Cossa ocupa a 12ª posição e Hermenegildo
Infante no 13° lugar. Hama Thay é
suplente número 2, Danilo Teixeira suplente número 3 e o jornalista
Agostinho Mavota é o quarto na
lista de suplentes.
Na Renamo, o regresso do jovem
deputado Ivan Mazanga também
é quase nula. O filho do então vogal da CNE, Fernando Mazanga,
ocupa a oitava posição na cidade de
Maputo. Rahil Khan é o 9º.
A lista da Renamo é liderada por
Venâncio Mondlane. O general
Hermínio Morais, amigo confesso
de Ossufo Momade, actual líder
do partido, está na terceira posição
enquanto que Eduardo Namburete
está no incómodo quarto lugar.
Seguindo o histórico eleitoral
na cidade de Maputo, a Renamo
nunca elegeu quatro deputados. O
melhor resultado da Renamo, nas
eleições gerais, foi em 2014 quando conseguiu eleger três deputados
pelo que, a renovação de Eduardo
Namburete está quase comprometida. Na mesma situação, encontra-
-se o “mágico” António Timba que
está no sexto lugar.
Para a capital, o MDM tem Lutero
Simango como cabeça-de-lista e
em segundo lugar está Judite Macuácua, presidente da Liga Feminina do MDM e membro da Assembleia Autárquica de Xai-Xai.
Na província de Maputo também
está consumada a saída de Edmundo Galiza Matos Júnior. É também
notável a ausência de Maria Jonas,
antiga governadora da província
de Maputo. Galiza Matos Júnior é
primeiro na lista de suplentes.
A Renamo, que tem António Muchanga como cabeça-de-lista para
governador, a direcção do partido
relegou-o para a terceira posição,
enquanto que José Manuel Samo
Gudo está na quinta posição.
Nos últimos tempos, António Muchanga tem visto o seu protagonismo e espaço a diminuir dentro da
Renamo. No Congresso de Gorongosa, António Muchanga apoiou
Elias Dhlakama, tendo até chegado a coordenador do seu gabinete
eleitoral.
O resultado mais alto da Renamo
nas eleições gerais foi conseguido
em 2014, quando o partido elegeu
três deputados para AR. O MDM
mantém a aposta em Silvério Ronguane.
Em Gaza, destaca-se a saída do antigo primeiro-ministro e governador das províncias de Sofala e Tete,
Alberto Vaquina. Na lista do partido, Vaquina ocupa a oitava posição
nos suplentes.
Macuácua e Vuma
O actual presidente da Comissão
dos Assuntos Constitucionais,
Direitos Humanos e de Legalidade, Edson Macuácua saiu dos primeiros três lugares para a sétima
posição, enquanto o actual presidente das Associações Económicas
(CTA), Agostinho Vuma, está na
15 posição. Recordar que esta é das
poucas vezes que Agostinho Vuma
pode chegar ao parlamento sem ter
sido suplente.
Na província de Sofala, a Frelimo
não alistou o nome de Lourenço
Bulha, candidato do partido ao cargo de governador da Província.
Antónia Chare, actual presidente
da Comissão dos Assuntos Sociais,
do Género, Tecnologias e Comunicação Social também não mereceu
confiança dos camaradas. Antónia
Chare é a primeira suplente.
Na Renamo, a grande ausência é
de Manuel Bissopo que, em Janeiro
passado, concorreu contra Ossufo
Momade à presidência da Renamo.
A exclusão de Bissopo é vista como
parte de um projecto de caça às
bruxas, alegadamente protagonizado por Ossufo, depois de recusar
os seus apelos para não apresentar
a sua candidatura naquele pleito
para além de ser visto como um
dos apoiantes indisfarçáveis das
rebeldias do grupo Mariano Nyonga e outros da ala dura de Afonso
Dhlakama.
A lista da Renamo é liderada por
André Magibire, actual secretário-
-geral do partido. Elias Dhlakama,
irmão mais novo do falecido líder,
está na terceira posição em Sofala,
enquanto que a viúva, Rosália Xavier Mbiriakuira, está no quinto
lugar.
Geraldo Carvalho, que regressa à
Renamo depois de a ter abandonado em 2009 para se juntar ao
MDM, onde foi deputado por dois
mandatos, foi colocado na sexta
posição. O actual vice-presidente
da Assembleia da República, Younusse Amad está no sétimo lugar.
Em Sofala, o MDM tem como
número um o seu secretário-geral,
José Domingos Manuel. Depois
segue Albano Baulande, antigo
delegado político da Renamo na
província de Sofala. Baulande é actualmente deputado da Assembleia
da República, eleito pela Renamo.
Sandura Ambrósio, outro membro
da perdiz que abandonou o movimento em protesto à direcção de
Ossufo Momade, ocupa a quarta
posição e o actual porta-voz do
partido, Sande Carmona, está em
quinto lugar. A província de Sofala
elege 20 deputados.
Em Manica, o MDM apostou em
Inácio Charles Baptista (o colunista Edwin Hounnou), um político
que, por vezes, usa a capa de analista para lançar farpas ao regime.
Também está quase consumada
a saída do mandatário do partido, Manuel de Sousa, que ocupa o
quinto lugar.
Na Renamo, é notável a ausência
de Sofrimento Matequenha, deputado e antigo delegado político da
perdiz ao nível da província.
Um seguidor incontestável de
Afonso Dhlakama, em Novembro
de 2018, Sofrimento Matequenha
viu-se obrigado a pedir asilo numa
unidade policial para escapar de
linchamento dos seus próprios colegas do partido.
Antes, Matequenha foi brutalmente espancado pelos membros da
Renamo acusado de ter facilitado a
vitória da Frelimo nos municípios
da província de Manica.
Em Tete, o candidato a governador
da província pela Renamo, Ricardo
Tomás, ocupa a sétima posição e o
deputado Juliano Picardo está em
nono lugar.
Pela Frelimo, a actual ministra do
Trabalho, Emprego e Segurança
Social , Vitoria Diogo, foi colocada
no oitavo lugar.
Na província da Zambézia, Ossufo
Mamade manteve a estrutura dura
dos tempos de Dhlakama. Viana
Magalhães (2), Jerónimo Malagueta (3), Ivone Soares (5) e José
Manteigas (8) ocupam o top ten
que dá todas garantias de aceder ao
parlamento.
Anselmo Victor (25) e José Palaço (30) tem a situação complicada.
Saído do MDM para Renamo nas
vésperas do encerramento das candidaturas, Linete Olofsson ocupa a
19ª posição.
Na Zambézia, a Frelimo apostou
em Basílio Monteiro e Raimundo Diomba para os primeiros dois
lugares. Também foi buscar o filho
de Bonifácio Gruveta Massamba,
Edmundo Gruveta Massamba, que
está em quarto lugar.
O MDM deixou o candidato a
governador provincial, Luís Boavida, de fora. Rogério Warrowaro,
candidato do MDM à presidência
do município de Quelimane, nas
eleições autárquicas de 2018, é o
quarto da lista.
Em Nampula, o partido no poder
dá posição notável ao “analista” e
jurista António Boene, colocado
em segundo lugar, depois de Margarida Talapa.
O empresário da área musical, Faizal António, está na quarta posição
e o actual presidente da Comissão
da Agricultura, Economia, e Ambiente, Francisco Mucanheia, foi
colocado no 17º lugar. Antes está
Lucília Hama (11) e Eduardo da
Silva Nihia (13).
Na Renamo, o grande destaque vai
para o possível regresso de Arnaldo Chalaua, antigo porta-voz da
bancada parlamentar da Renamo
na AR.
Chalaua é o décimo sexto na lista
liderada por Lúcia Afate. O actual
porta-voz da bancada, Mohamad
Yassine, é o décimo nono.
O cantor Ali Faque também concorre a deputado da Assembleia da
República pela Renamo, tendo sido
colocado na posição 24. Actualmente, Ali Faque é director para
a área de cultura no Município de
Nampula, gerido pela Renamo.
Em Cabo Delgado, está quase consumada a saída do actual porta-
-voz da Comissão Permanente da
Assembleia da República, Mateus
Katupha, que ocupa o terceiro lugar
na lista dos suplentes.
Salomão Muchanga, antigo presidente do Parlamento Juvenil e
actual líder do partido Nova Democracia (ND), lidera a lista na
província de Maputo, enquanto
que Quitéria Guirengane é a número um na cidade de Maputo.
Candidaturas à AR
Da entrada da viúva de Dhlakama à reforma de Chipande
-Bissopo fora e Rosária Dhlakama avança
- Alberto Chipande, Raimundo Pachinuapa e Luísa Diogo também estão fora das listas
Raul Senda
Entradas e saídas dominam as listas dos candidatos a deputados da AR
TEMA DA SEMANA Savana 09-08-2019 11 PUBLICIDADE
SOCIEDADE 12 Savana 09-08-2019
N
o passado dia 26 de Julho,
os advogados dos arguidos Ndambi Armando
Guebuza, Inês Moiane e
Sérgio Alberto Namburete convocaram a imprensa para se queixarem daquilo que apelidaram
de manipulação política no processo em torno das dívidas ocultas. Uma semana depois dessa
“denúncia”, o colectivo de juízes
Desembargadores do Tribunal
Superior de Recurso (TSR) negou os provimentos dos recursos
interpostos pelas defesas dos três
arguidos.
O documento, com data de 31
de Julho, assinado pelos desembargadores Achirafo Abubacar,
Gracinda Muiambo e Manuel
Guidione Bucuane mantém todas
decisões do juiz Délio Portugal e
reafirma que os factos constantes nos autos indiciam bastante
os arguidos de prática de crimes
de que são acusados para além de
existir risco de fuga e destruição
de provas.
O TSR diz que a manutenção dos
arguidos na prisão é uma questão
de justiça penal.
Ndambi Armando Guebuza, filho do antigo chefe de Estado,
Armando Guebuza, recorreu da
decisão da sua prisão preventiva
alegando que os argumentos arrolados pela justiça são infundados.
Para a defesa de Ndambi Guebuza, os argumentos de perigo de
fuga, continuação de actividade
criminosa, destruição de provas
ou obstrução da justiça não procedem na medida em que, de 2015
até 2019, altura em que iniciou
a instrução do processo passam
quatro anos e nenhuma dessas
alegações foram postas em causa
e o arguido sempre colaborou a
justiça, pelo que apela a libertação
imediata do arguido.
Em jeito de resposta, o TSR entende que as medidas de coação
não restritivas da liberdade não
se mostram suficientes para evitar prejuízos sérios ao processo,
tendo em conta os sinais que se
colhem dos autos.
O Acórdão diz que tendo em
conta a natureza de criminalidade organizada, isto é, a natureza
de crime de colarinho branco ou
criminalidade económica, os mecanismos de dissipação das provas
podem estar à disposição do arguido, na medida em que, neste
crime, a prova é sobremaneira
tecnológica e de difícil rastreio.
Avança que pode haver destruição de provas e ocultação das
mesmas, porque, uma vez em liberdade, o arguido pode destruir
registos contabilísticos e dificultar
a recolha de provas.
Face a tudo o que foi dito, continua o documento, “chegamos
à conclusão de que estamos em
presença de perigo de fuga, continuação da actividade criminosa
e da perturbação da instrução
do processo”, mantendo-se, sim,
os requisitos da insuficiência das
medidas de liberdade provisória
para além de que os princípios
da adequação, proporcionalidade
e subsidiariedade referidos mostram-se preenchidos para manter
a prisão preventiva de Ndambi
Guebuza.
Segundo o colectivo de juízes,
embora a defesa entenda que o
arguido não possa fugir, porque
lhe foi confiscado o passaporte,
o risco de fuga existe na medida
em que, apesar de ser possível
confiscar o documento de viagem,
as fronteiras nacionais são vulneráveis.
O documento explica que a constituição do arguido em processo
penal não é arbitrária, pois observa os mais elementares ditames daquele direito, por isso que
só há forte suspeita da prática
da infracção quando se encontre
comprovada a sua existência e se
verificarem indícios suficientes da
sua imputação ao arguido, sendo
sempre ilegal a captura destinada
a obter esses indícios nos termos
do Código de Processo Penal.
Sustenta que a prisão preventiva
de Ndambi não viola, em momento nenhum, o princípio da
presunção da inocência, porque o
despacho que impõe aquela medida de coação não é uma sentença transitada em julgado, mas sim
é uma medida de coação necessária que visa materializar o fim e
o âmbito da instrução preparatória, quando não são suficientes as
medidas de liberdade provisória
mediante acusação ou termo de
identidade de residência.
Sublinha que, no caso em análise, a captura foi fora de flagrante
delito e ordenado por uma autoridade competente. As provas que
sustentam a captura, validação
e manutenção da mesma constam do processo, daí que não se
compreende qual é a base que o
arguido e o seu defensor usam
para alegar um suposto excesso na
medida de coacção arbitrada pelo
juiz da instrução, sem terem no
mínimo examinado o conjunto de
provas existentes nos autos.
O TSR frisa que todas prisões
preventivas ordenadas pelo Juiz
da Instrução no processo número 1/PGR/2018 respeitaram
religiosamente os princípios de
legalidade, excepcionalidade, necessidade, adequação e proporcionalidade.
“Todos intervenientes processuais
estão cientes de que foram devidamente respeitados os princípios
que informam o direito processual
penal. As decisões que validaram
e mantiveram as capturas fora
de flagrante dos arguidos recorrentes não devem ser revogadas,
por insuficiência das medidas de
liberdade provisória, facto comprovado nos próprios autos, mas
desconhecidos pelo requerente”,
lê-se no Acórdão.
Segundo o Tribunal, das diligências efectuadas resultam sinais de
que Ndambi Guebuza teria cometido os crimes de simulação,
falsificação, corrupção passiva
para acto ilícito e branqueamento
de capitais.
Sublinha que o MP promoveu a
captura do arguido e o Tribunal
acolheu a promoção do MP e
ordenou a captura do arguido; o
arguido depois de capturado foi
apresentado ao juiz da instrução
criminal no prazo legal, onde se
realizou o primeiro interrogatório
como forma de permitir a ampla
defesa do arguido.
O arguido depois de captura foi
apresentado ao juiz da instrução
criminal no prazo legal, onde se
realizou o primeiro interrogatório
como forma de permitir a ampla
defesa.
“Não conhecia Nhangumele”
Diz o Acórdão que Ndambi Guebuza, em sede de primeiro interrogatório disse que conhecia Jean
Boustani e o dono da Privinvest
Iskandar Safa, mas negou que
conhece o co-arguido Teófilo
Nhangumele. Aceitou ter viajado para Dubai várias vezes, porém negou ter conta bancária no
Dubai ou Abu Dhabi, também
negou ter conta bancária com o
co-arguido António de Rosário,
mas aceitou que no Dubai visitou
um estaleiro da Privinvest.
Acrescenta que em sede do primeiro interrogatório, Ndambi
apenas limitou-se aos indícios
constantes, mas apresentou prova
documental ou outra que abalasse
os indícios constantes dos autos.
O acórdão do TSR lembra que
Ndambi Guebuza foi contactado
com vista a interceder para que o
projecto fosse analisado, em conjunto com o co-arguido Bruno
Tendane, seu amigo, mas os dois
entenderam que deviam receber
dinheiro da empresa que pretendia implementar o projecto ou
fornecer serviços ao Estado.
“Entendemos assim que tendo
em conta que estamos perante
criminalidade transnacional, operando em vários países, usando
os mecanismos modernos e sofisticados de comunicação, criminalidade organizada, em que
cada pessoa tinha a função por
realizar na empreitada criminosa,
criminalidade e económica em
que se fala de avultadas somas em
dinheiro mais ou menos 1.8 mil
milhões, no que se refere ao arguido Ndambi Guebuza, a gravidade dos factos, a personalidades
do agente, o facto de em sede de
primeiro interrogatório as declarações defensivas apresentadas
pelo arguido dotaram ao tribunal
de um extenso campo de apreciação e tendo em conta a consistência da prova indiciária cariada nos
autos”.
Os juízes referem que há indícios fortes de cometimento de
crime doloso, os crimes referidos
na acusação são graves, o comportamento que indicia o arguido é grave e, para a realização da
empreitada exigiu uma estrutura
criminosa séria, organizada, fez
o uso de meios tecnológicos que
envolveu dinheiro no sistema financeiro, imobiliário e bancário
moçambicano de forma indevida.
António Carlos de Rosário
António Carlos de Rosário, antigo director da Inteligência Económica dos Serviços de Informações e Segurança de Estado
(SISE), também recorreu da decisão do juiz da instrução criminal,
Délio Portugal e mantida pela
juíza da causa, Evandra Uamusse.
Na contestação, António de Rosário diz que não se conforma
com a sua prisão, porque não foi
elaborado após a audição dos arguidos e lançado na acta, como é
de Lei, por manifesta impossibilidade temporal, mas que o mesmo
já tinha sido elaborado e decidido
antes.
De Rosário alega também que é
membro do SISE e, nessa qualidade, não lhe pode ser aplicada
uma medida de coação que não
seja a liberdade provisória mediante termo de identidade e residência.
No Acórdão, os juízes Desembargadores do TSR entendem que
durante o primeiro interrogatório
aos arguidos, o juiz da instrução
criminal observou estreitamente a Lei e mostrou o domínio da
matéria vertida nos autos durante
o interrogatório, pois não se pode
nem se deve confundir o primeiro
interrogatório com uma sessão de
discussão e julgamento para além
de que os actos praticados pelo
arguido foram para o beneficio
próprio e não de Estado.
Assim sendo, e porque com a
prova indiciária careada nos autos a conduta do arguido integra
vários ilícitos criminais, destarte,
embora o mesmo seja funcionário
do SISE, mas não se mostrando
provado que os factos de que vem
indiciado criminalmente estejam
relacionados com o serviço não se
pode aceitar a alegação do recorrente de que devia responder em
liberdade mediante o termo de
identidade e residência.
Pelo exposto, decidem negar provimento ao recurso interposto
pelo arguido e manter a decisão
recorrida.
A mesma decisão e os argumentos também serviram no despacho de Sérgio Namburete.
TSR chumba mais um recurso dos arguidos das dívidas ocultas
Mais uma batalha perdida
Por Raul Senda
António Carlos de Rosário Ndambi Guebuza
TEMA DA SEMANA Savana 09-08-2019 13 PUBLICIDADE
Enfermagem Geral
Técnico de Medicina Geral
Enfermagem Saúde Materno Infantil
Instituto Politécnico
de Geologia e
Ciências de saúde
14 Savana 09-08-2019 Savana 09-08-2019 15
NO CENTRO DO FURACÃO
“
Vou repetir: não aceitam a altura do mural. Dizem que é
contra as posturas municipais
construir um muro desta altura
e tem que se estudar melhor a sua altura. Os muros não podem ultrapassar 1,80 a 2 metros. Mas que altura
tem o mural da Praça dos Heróis?
Que altura tem o muro da Embaixada do Reino Unido (...)? Lina Magaia.
Aconteceu num certo sábado de
Setembro, decorria o ano de 2002.
O jovem engenheiro preparava-se
para retornar aos seus estudos na
vizinha África do Sul, ultrapassada
a época fria que sempre o trazia de
volta à terra. Lera com atraso no
jornal Notícias duas opiniões antagónicas, lado a lado, tratando dum
assunto que na altura andava na
boca do povo, tal era a sua actualidade. Alarmado pelo conteúdo dos
artigos pensou: “tenho de agir antes que aconteça um desastre”. Nesse
dia até estava muito ocupado, mas
interrompeu os seus afazeres e foi
ao escritório vasculhar os apontamentos da escola. Depois de muita leitura e algumas contas rápidas
tomou uma decisão: “tenho que ter
uma conversa séria com a mana Lina
sobre a obra do muro da Paz”.
No dia seguinte, depois de ligar
para saber onde ela estaria passou
pela obra do tão sonhado Parque da
Paz que não a deixava descansar. Ela
lá estava, deambulando ao sol ainda
fraco da manhã. Queria ter com ela
uma conversa sobre o que se devia
fazer para tornar aquele muro ainda
em obras numa “habitação” segura.
Conversa é favor. Quase tiveram
uma verdadeira discussão. A Lina
Magaia, para além de machambeira e guerrilheira, também percebia
muito de assuntos técnicos. E dar à
língua era com ela!
– Ninguém, mas ninguém mesmo,
deve questionar a solidez desta obra de
arte, foi dizendo quando o viu chegar resoluto. Nem tu, apesar desse teu
nariz empinado a tentares convencer
meio mundo que és dotado em estruturas. A mim não enganas. Este projecto
foi desenhado por mais de três jovens
de diferentes especialidades, todos eles
com formação superior. Um deles até
foi teu discípulo na universidade, por
isso não me venhas com tretas…
Deixou-a descarregar, logo estaria sem munições e seria a sua vez.
Deu-lhe um enorme abraço, abrindo os braços a 180º para que ela
coubesse dentro de si. Claro que
ela não resistiu e brindou-o com
um forte chicoração. Cumprimentou
carinhosamente aquela que até hoje
continua a considerar sua querida
irmã mais velha pela coincidência
de apelidos, chará da sua mãe pelos
nomes próprios. Ela deixou escapar
um largo sorriso de encanto,
Ainda hoje, depois da sua morte
precoce, o jovem engenheiro continua a tentar saber onde será que
as raízes da sua árvore genealógica
comum se cruzam ou se desencontram, porventura. Acaba desistindo
pensando que jamais conseguirá
desvendar o mistério. Passaram
muitos anos e a internet já não ajuda, congestionada com imagens e
vozes ao vivo, os vídeos do youtube, os chats e fotos do facebook, as
videoconferências no skype, os blogs
no linkedin. Será que Deus já conhece algum destes nomes? Porque
será que, como as gerações, ele e a
Lina eram tão semelhantes mas ao
mesmo tempo tão distintos? Ela
sorria, mesmo que estivesse aborrecida. Ele não sabe sorrir quando
não está alegre. Nem tem facebook,
como poderia sorrir?..
– Mana machambeira, por acaso tomou café antes de sair de casa? Perguntou-lhe. Já não tomo café nas
manhãs, respondeu ela. Desde a última vez que fui parar aos cuidados
intensivos por causa do “stress” que
essa tua escumalha de intelectuais da
antiga geração me criou, o médico recomendou-me chá, de preferência sem
açúcar. Não imaginas, dá-me uma
babalaza…
Conseguiu fazê-lo sorrir também.
– Mana. Não tenho manias de ser dotado: eu amo as estruturas!
– Senhor engenheiro, prosseguiu
muito séria, agora mais calma. Achas
que esses que nos impõem a tal postura
municipal podem explicar-me porque
não podemos erguer aqui um mural
de três metros? Porque será que a tal
postura limita a altura dos muros?
Para mim só pode haver algum propósito pouco claro. Quantos metros tem
o mural da Praça dos Heróis? Ainda
me lembro que esta confusão toda só
começou quando passaram pela Avenida dos Acordos de Lusaka e perceberam que o mural iria tapar o letreiro
do Shoprite. Vieram logo a correr para
saber se tínhamos licença para erguer
esta obra. Na minha terra tudo é negócio, até o que pertence ao povo…
– Bom, para te dizer a verdade não
conheço a tal postura municipal e por
isso não sei em que se baseia. Vim mesmo para te ajudar a assegurar que o
muro, com mais de dois metros de altura, seja seguro e não faça vítimas.
Explico-te como… Já estava no jogo
do tu, ela já não era a sua querida
“irmã” mais velha mas apenas mais
uma adversária.
Interrompeu-lhe. Não me vais explicar nada. Deixa a academia para
os académicos e a religião para os religiosos. Este muro é meu, foi pensado
e desenhado com carinho, ninguém me
vai obrigar a tirá-lo daqui. Fica com
as teorias para os teus alunos…
Voltou ao truque da intimidade
familiar. Sabia que com a Lina era
preciso jogar com mestria.
– Mana, a minha explicação é simples, não tem nada a ver com a academia. Quero simplesmente ajudar-te a
responderes às preocupações que estão
na origem de tantas dúvidas sobre a
segurança do muro. Tens que me escutar…
– Escutar-te? Outra vez?
Ela tinha razão. A última vez que
tentara convencê-la do porquê de
certas verdades deram-se muito
mal. A madrugada chegou sem que
se entendessem. A única saída foi
acabarem meia garrafa de whisky e
uma latinha de café para se aguentarem até amanhecer e voltarem aos
seus afazeres diários.
– Prometo que não será penoso nem
aborrecido. De tanto deambulares
diariamente nesta obra já deves saber
como são feitas as paredes. Só te vou
explicar o que é preciso fazer para que
o teu muro não caia ao primeiro sopro de vento. Aparentemente é isso que
apoquenta os intelectuais que se opõem
à tua obra...
– Sei, mas conscientes da dimensão
desta obra os teus pupilos, a quem tu
mesmo ensinaste a humanizarem as
estruturas, já me aconselharam. Por
isso é que pus pilares de 3 em 3 metros e por cima de toda a parede ainda
vamos pôr uma viga, chamaram-lhe
alguma coisa como viga “nonça”… já
não me lembro do nome.
– “Nossa?” Acho que lhe chamaram
viga de coroamento…
– Isso mesmo, de coroamento. Fixei o
termo coroa, por isso é que a minha
imaginação ultrapassada inventou a
“nonça”, de Nossa Senhora da Conceição, a única que vi usando uma nobre
coroa… Estou a ficar velha.
– Mana Nonça, brincou com ela. É
assim. Não te deixes enganar. Os pilares que estão a pôr na parede, com
secções mínimas de 20 centímetros e
alguns varões de ferro, não chegam
para segurar esta parede se vier um
vento forte.
– Como assim? Voltou a ficar nervosa. Então não foram arquitectos e engenheiros que desenharam este muro?
Afinal para que serve a vossa escola?
Vocês ensinam e continuam a ser os
únicos capazes de saber o que está certo
ou errado?
– Não é bem assim. O problema é que
nos nossos cursos de engenharia e arquitectura não aprendemos a calcular
muros. Considera-se isso um assunto tão trivial que é suposto cada um
aprender por si. É como aprender a
andar. Também, depois de tantos integrais e derivadas, com misturas de
soluções em laboratórios improvisados
tentando inventar novas substâncias
químicas ou novos materiais compostos, a expectativa da academia é que
os jovens graduados sejam os cientistas
do futuro. No passado quando se falava de Doutores logo imaginávamos
alguém já de barba farta, lembras-te?
Já viste os Doutores de hoje?
– Lá estás tu meu afeiçoado. A filosofia
e a ciência de volta ao seu ponto mais
alto por causa dum muro deste tamanho, em pleno subúrbio. Só vocês os
académicos…
– Mana machambeira. Quem começou com este assunto não foram os
académicos, foram vocês os políticos.
Meti-me nele só para te ajudar…
– Só podes estar a gozar comigo. Então
os professores arquitectos que se desdobram para convencer o Município que
este muro vai cair e matar o Presidente da República em plena cerimónia de
inauguração são políticos? Devem ser
assassinos, isso sim. Por pouco me matavam com um AVC… Faltam poucas
semanas para a celebração do primeiro
decenário da assinatura do Acordo de
Paz de Roma. Se vocês não ajudarem
estas obras não estarão prontas para
acolher essa efeméride. Ajuda-me em
vez de me complicares mais…
- Mana Lina, não sejas teimosa. Conheces a diferença entre uma parede
de betão armado e uma de alvenaria?
Pois não. Uma parede de betão é sólida porque o ferro que ela tem permite
que se mexa uns bons centímetros sem
se quebrar. Quando um muro feito de
blocos se mexe, mesmo que sejam apenas alguns milímetros, comporta-se
como o vidro, quebra-se. Quanto mais
alto for o muro maior será a susceptibilidade de tombar por causa desta
fragilidade. O teu muro não é de betão, por isso tens que tomar algumas
precauções à medida que lhe aumentas
a altura.
- Então se não temos dinheiro para
fazer betão não podemos construir
muros…
Não a deixou demovê-lo com a demagogia da pobreza. Prosseguiu.
- Não são só os materiais que contam
na estabilidade das paredes. E isto
é válido para as estruturas em geral.
Há um fenómeno chamado Inércia
que influi muito na estabilidade das
estruturas, sejam elas de betão, de madeira ou doutro material. Qualquer
pessoa pode, de forma muito simples,
observar o efeito da inércia. Vamos
fazer uma experiência aqui mesmo.
Empresta-me os teus fósforos.
Ela tirou de um dos bolsos do macacão uma caixa de fósforos já escurecida pelas suas mãos operárias,
sempre sujas, e estendeu-o na sua
direcção.
O jovem pegou na caixa de fósforos, colocou-a “de pé” sobre uma
tábua de madeira e empurrou-a
ligeiramente com a ponta do dedo,
primeiro numa das arestas menores, naquela face azul que se abre
para tirar palitos. A caixa deslizou
alguns milímetros mas manteve-se
de pé. A seguir fez o mesmo empurrando-a na face maior, ali onde
vem desenhada a Pala Pala sobre
um fundo amarelo. A caixa tombou.
A Lina observava sisuda. Viu que
estava quase a convencê-la com as
suas teorias. Algo que ela não gostava muito.
- Vês Mana? Qualquer objecto tomba facilmente se for empurrado na sua
face maior mas resiste quando a força
é aplicada paralelamente a essa face.
Por isso se diz que os objectos possuem
maior inércia se tiverem grandes dimensões na mesma direcção em que
actuam as forças. A força que carrega
o teu muro é o vento e actua perpendicularmente à maior superfície. Foi por
essa razão que os teus jovens engenheiros mandaram construí-lo em alvenaria, que tem uma espessura razoável,
e não em plástico, por exemplo, que é
muito fino e esvoaça ao mais pequeno
sopro de vento.
Explicou-lhe que era por esta mesma razão que quando se colocam
barrotes de madeira para suportar
chapas ou telhas nas coberturas, o
lado maior da secção rectangular do
barrote deve ficar na vertical. Nesta
posição o barrote tem maior inércia
para as cargas gravíticas devidas ao
peso das telhas ou de pessoas andando sobre o telhado. – Quem quiser pode pôr os barrotes deitados, verá
que eles vergam mais facilmente nesta
posição do que de pé.
Queria socorrer-se de muitos outros exemplos correntes para explicar o fenómeno, mas viu que nesse
aspecto ela já estava meio convencida. Mesmo assim continuou.
– Veja o mural da Praça dos Heróis,
por exemplo. Também suporta o vento no seu plano maior, só que como
tem um traçado curvilíneo em planta
acaba ganhando suficiente inércia na
direcção da sua espessura. Ali foi copiada a técnica utilizada nas chapas
onduladas de zinco ou de fibrocimento. Aquelas ondas não servem só para
drenar a água da chuva, muito menos
para conferir beleza à chapa. Elas
contribuem sobretudo para aumentar
a “inércia” da chapa e assim dar -lhe
maior resistência. Isto acontece porque
o plano de resistência deixou de estar
alinhado numa mesma superfície, que
no caso das chapas até é muito fina,
introduzindo uma espécie de “binário
de forças” que aumenta a estabilidade.
Pelo ar sonso da sua “irmã” percebeu que havia estragado tudo.
– Mana, em engenharia até a tese
mais complexa tem uma explicação
simples. Complicamos só para parecermos génios perante os demais. Arranja-me um copo vazio.
Foi num instante ao cacifo de madeira onde os ajudantes guardavam
os utensílios que usavam ao matabicho e voltou com um púcaro de
metal. “Ainda bem”, pensou. “Assim vai-se ouvir nitidamente o som
da moeda caindo dentro do púcaro”.
Fez a segunda experiência. Pegou
numa folha de papel A4 e depois
de dobrá-la num dos bordos mais
curtos e humedecer com saliva, cortou uma fita de, por aí, uns 3 centímetros de largura. Colocou a fita de
papel deitada sobre o bordo do púcaro e sobre ela pousou uma moeda
de 500 Meticais da antiga família.
A moeda caiu tilintando ruidosamente dentro do púcaro.
Voltou a pegar na fita de papel,
dobrou-a duas vezes ao comprido,
como se estivesse a fazer um leque.
Abriu ligeiramente as ondas e deu
ao pedaço de papel a forma de uma
chapa ondulada em ziguezague. Pôs
de novo a fita sobre o bordo do púcaro e voltou a pousar a moeda. A
fita conseguiu suster o peso.
– Vês, Mana. Tens montes de alternativas para melhorar a estabilidade
das tuas obras, só precisas de saber que
perigos as ameaçam.
Ela tentava dissimular um sorriso. Deixara-se impressionar com a
simplicidade daquelas demonstrações mas não queria que ele percebesse. “É legítimo”, reconheceu.
“A escola não se resume à carteira mas
acima de tudo à vida. Claro que muitos como ela já ouviram falar de conceitos de física e fórmulas matemáticas
das mais simples às mais complexas.
Agora, tirar estes conceitos e fórmulas
do papel para a realidade é o verdadeiro desafio”, pensou.
– É justamente aqui, Mana, que não
se pode comparar o teu muro com o da
Praça dos Heróis. O teu é plano enquanto o da Praça dos Heróis é ondulado. Tem maior inércia, por isso
resiste melhor ao vento.
– E agora que já me convenceste achas
que devo desistir?
– Não, nem por isso. Já vimos qual
é o problema. Agora vamos à procura das soluções possíveis. Engenharia
também é isso, não é simplesmente demolir quando está errado. É procurar
remédios. Estava entusiasmado e
como raramente havia conseguido
ganhar uma disputa com a ela decidiu aproveitar ao máximo. Começou a gingar. O sol de domingo já ia
alto. Dificilmente iria a tempo de se
juntar à malta para a incontornável
partida matinal de futebol.
– Voltemos ao exemplo da caixa de fósforos, que se aproxima mais ao caso do
teu muro. Deixa-me mostrar-te como
é que se pode melhorar a estabilidade
para forças que a empurram na sua
superfície maior.
Pegou de novo na caixa de fósforos.
A contragosto dela, deitou fora os
poucos palitos que restavam e encheu-a com um punhado de areia
húmida. Voltou a pousá-la sobre
a tábua de madeira e, com o dedo
indicador, deu-lhe um empurrão na
face maior. Desta vez a caixa não
caiu. Explicou à Lina que a razão
desta estabilidade era o maior peso,
que para além de aumentar o atrito
na base fazia com que fosse necessária maior pressão para derrubar a
caixa. No primeiro caso, sendo mais
O Muro da Paz
Por Silva J. Magaia
leve a caixa tinha menor estabilidade e caía facilmente.
– Imagino que aumentar a espessura
e o peso do teu muro agora que ele está
quase concluído não seja a melhor opção, para além de que seria mais caro.
Existem no entanto outras saídas. Vês
aquela parte central onde o artista
concebeu uma pomba? Vocês fizeram
uma parede atrás do muro, imagino
que sejam os bastidores, certo?- Ela
abanou a cabeça afirmativa.
– Então, vamos amarrar os dois muros por meio de vigas na parte superior. Até podemos plantar uma trepadeira que uma vez crescida irá cobrir
os espaços entre as vigas e tornar mais
confortáveis os bastidores. Como se faz
num gazebo. A função principal destas
vigas será no entanto aumentar a estabilidade da obra. Dois muros solidários resistem melhor que uma parede
isolada…
- Genial, disse ela, dando-lhe uma
forte palmada nas costas. É de engenheiros como tu que este país precisa.
Ficou calado e cabisbaixo. Parecia
adivinhar que num futuro muito
muito próximo a sua universidade
o iria dispensar, sem precisar de
expulsá-lo, simplesmente por emitir uma opinião contrária ao paradigma do momento. Estava certo.
Hoje passa ao lado da academia. A
sua escola, a única que lhe sobra, é a
escola da vida. E morre de saudades
daquelas discussões com a Lina…
DIVULGAÇÃO 16 Savana 09-08-2019
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS PARA O PERÍODO DE 6 MESES FINDO EM 30 DE JUNHO DE 2019 &RQÀDQoD,SA
0LFUREDQFR
DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADO INTERCALAR E OUTROS RESULTADOS
Jun2019 Dez2018
Juros e rendimentos similares 61 491 363 62 066 664
0DUJHP¿QDQFHLUD 61 491 363 62 066 664
Rendimentos de serviços e comissões 1 459 529 1 657 736
Diferenças cambiais não realizadas (218 147) (604 211)
Encargos com serviços e comissões (2 512 748) (6 364 129)
6HUYLoRVHFRPLVV}HVOtTXLGDV (1 271 366) (5 310 605)
5HQGLPHQWRVRSHUDFLRQDLV 60 219 997 56 756 059
Imparidade líquida do exercício 829 484 (10 840 158)
5HQGLPHQWRVRSHUDFLRQDLVOtTXLGRV 61 049 481 45 915 901
Gastos com pessoal (33 563 393) (34 284 216)
Depreciações e amortizações (3 523 218) (3 412 995)
Outros gastos operacionais (11 149 595) (12 949 811)
Outros rendimentos operacionais 155 005 264 122
3UHMXt]RDQWHVGRLPSRVWR 12 968 279 (4 466 999)
Imposto corrente - -
Imposto diferido (4 149 849) (100 000)
3UHMXt]ROtTXLGRGRH[HUFtFLR 8 818 430 (4 566 999)
DEMONSTRAÇÃO DA POSIÇÃO FINANCEIRA
Jun2019 Dez2018
$FWLYRV
Caixa 374 208 264 155
Disponibilidades em instituições de crédito 17 325 740 5 597 532
Aplicações em outras instituições de crédito - -
Empréstimos e adiantamentos a clientes 215 499 461 229 735 817
Outros activos 5 739 931 1 674 945
Activos tangíveis 134 180 861 134 282 754
Activos intangíveis - -
Activos por impostos correntes - -
7RWDOGRVDFWLYRV 373 120 201 371 555 203
3DVVLYRV
Recursos de clientes - -
Outros passivos 13 446 602 6 636 322
Empréstimos 51 272 318 69 485 880
Passivos por imposto diferido - -
7RWDOGRVSDVVLYRV 64 718 921 76 122 202
&DSLWDOSUySULR
Capital social 300 000 000 300 000 000
Resultados transitados(Aguardando aprovação BM) (4 566 999) (4 566 999)
Lucro liquido do exercício 12 968 279 -
7RWDOGRFDSLWDOSUySULR 308 401 280 295 433 001
7RWDOGRFDSLWDOSUySULRHSDVVLYR 373 120 201 371 555 203
DEMONSTRAÇÃO DAS VARIAÇÕES EM CAPITAL PRÓPRIO
&DSLWDOVRFLDO 5HVXOWDGRVWUDQVLWDGRV 7RWDOGHFDSLWDO
SUySULR
6DOGRUHH[SUHVVRD GH-XQKRGH
2018 300 000 000 - 300 000 000
Prejuízo líquido do exercício - (4 566 999) (4 566 999)
6DOGRD GH-XQKRGH 300 000 000 (4 566 999) 295 433 001
,PSDFWRGDDGRomR,)56 1RWD
12) - -
6DOGRLQFOXLQGRDGRomR,)56 300 000 000 (4 566 999) 295 433 001
Resultado líquido do exercício - 8 818 430 8 818 430
6DOGRD GH-XQKRGH 300 000 000 4 251 431 304 251 431
2FDSLWDOVRFLDOGR0LFUREDQFR&RQ¿DQoDDSUHVHQWDDVHJXLQWHHVWUXWXUD
Jun2019 Dez2018
QRFDSLWDOVRFLDO 9DORUQRPLQDO &DSLWDOVRFLDO &DSLWDOVRFLDO
Sócios
Hluvuku-Adsema 98% 294 000 000 294 000 000 294 000 000
Bernardo Tembe 1% 3 000 000 3 000 000 3 000 000
Paulo Cuvila 1% 3 000 000 3 000 000 3 000 000
100% 300 000 000 300 000 000 300 000 000
2FDSLWDOVRFLDOLQLFLDOGR0LFUREDQFR&RQ¿DQoDQRPRQWDQWHGH 0HWLFDLV VRIUHXDOWHUDomRQRkPELWR
GRSURFHVVRGHWUDQVIRUPDomRGD+OXYXNX$GVHPDHP0LFUREDQFRSDUDRVDFWXDLV 0HWLFDLVSRU
LQFRUSRUDomRGHDFWLYRVGDTXHODHQWLGDGH 'HVWHPRQWDQWH 0HWLFDLVQmRVHHQFRQWUDPUHDOL]DGR
por aguardar aprovação pelo Banco de Moçambique do relatório de entrega pelo accionista Hluvuku-Adema
GD&DUWHLUDGHFUpGLWRGHFOLHQWHV
DEMONSTRAÇÃO DE FLUXOS DE CAIXA
&DL[DHHTXLYDOHQWHVGHFDL[DDSUHVHQWD VHFRPRVHJXHP
Jun2019 Dez2018
$FWLYLGDGHVRSHUDFLRQDLV
Resultado antes de imposto 12 968 279 (4 466 999)
Ajustamentos de:
Depreciações e amortizações 3 523 218 3 412 996
Perdas por imparidade de crédito (829 484) 10 840 158
Abate/utilização de imparidade de empréstimos e adiantamentos a clientes - -
Variação de empréstimos e adiantamentos a clientes 15 065 840 (240 575 975)
Variação de aoutros activos operacionais (4 064 986) (1 674 945)
Variação de passivos operacionais 6 810 281 6 636 323
Imposto sobre o rendimento (100 000)
&DVKÀRZJHUDGR XVDGR GDVDFWLYLGDGHVRSHUDFLRQDLV 33 473 148 (225 928 442)
$FWLYLGDGHVGHLQYHVWLPHQWR
Aquisição de activos tangíveis (3 421 326) (137 704 079)
Alienação de activos tangíveis - -
Aquisição de activos intangíveis - -
&DVKÀRZXVDGRQDVDFWLYLGDGHVGHLQYHVWLPHQWR (3 421 326) (137 704 079)
$FWLYLGDGHVGH¿QDQFLDPHQWR
Reembolso de empréstimos (18 213 561)
-
Recebimento de empréstimos - 69 494 211
&DVKÀRZXVDGRQDVDFWLYLGDGHVGH¿QDQFLDPHQWR (18 213 561) 69 494 211
$XPHQWRGHFDL[DHHTXLYDOHQWHVGHFDL[D 11 838 261 (294 138 311)
Caixa e equivalentes de caixa no inicio do exercício 5 861 688 -
Capital social - 300 000 000
&DL[DHHTXLYDOHQWHVGHFDL[DQR¿PGRH[HUFtFLR 17 699 948 5 861 688
Caixa e disponibilidades em Banco Central 9 374 208 364 155
Disponibilidades sobre instituições de crédito 10 17 325 740 5 497 532
Aplicações em instituições de crédito - -
17 699 948 5 861 687
&RQÀDQoD,SA
0LFUREDQFR
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
PARA O PERÍODO DE 6 MESES
FINDO EM 30 DE JUNHO DE 2019
(Valores expressos em Meticais)
DIVULGAÇÃO Savana 09-08-2019 17
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS PARA O PERÍODO DE 6 MESES FINDO EM 30 DE JUNHO DE 2019 &RQÀDQoD,SA
0LFUREDQFR Valor antes de
Provisoes,
Imparidade e
Amortizacoes
Provisoes,
Impariadade e
Amortizacoes
Activo Liquido
10+3300 1. Caixa e disponibilidades em bancos centrais 474 - 474
364
38-3311 (1)-
3410+5200+5211
(1)+5318 (1)
Recursos de Bancos Centrais - -
79+80 Juros e Rendimentos Similares 62,910 63,714
11+3301 2. Disponibilidades em outras instituições de
crédito
17,226 17,226
5,498
43 (1) Passivos Financeiros detidos para
Negociacao 66+67 Juros e Encargos Similares 2,209 6,198
153 (1)+158 (1)+16 3. Activos Financeiros Detidos para negociacao -
-
43 (1) Outros passivos Financeiros ao Justo
valor através de Resultados
- -
Margem Financeira 60,701 57,516
153 (1)+158 (1)+17 4. Outros Activos Finaceiros ao Justo valor
através de Resulatados
- -
-
39-3311 (1)-
3411+5201+5211
(1)+5318 (1)
Recursos de outras Instituicoes de Créditos 51,272 63,714
82 Rendimentos de Instrumentos de Capital 0 0
154+158 (1)+18+34888
(1)-53888 (1)
5. Activos financeiros disponiveis para Venda. - - -
-
40+41-3311 (1)-3412-
3413+5202+5203+5211
(1)+5310+5311
Recursos de Clientes e Outros
Emprestimos
49 21
81 Rendimentos com servicoes e Comissoes 0 0
13+150+158 (1)+159
(1)+3303+3310
(1)+3408 (1)-350-3550-
5210 (1)-5300
Aplicacoes em Instituicoes de Crédito - -
-
42-3311 (1)-
3414+5204+5211
(1)+5312
Responsabilidades representadas por
Titulos
- -
68 Encargos com Servicos e Comissoes (304) (167)
14+151+152+158
(1)+3304+3310
(1)+34000+34008-3510-
3518-35210-35211-
5210 (1)-53010-53018
Créditos a clientes 225,510 10,011 215,499.46
229,736
44 Derivados de Cobertura - - -692-693-695 (1)-696 (1)-698-
69900-69910+832+833+835
(1)+836 (1)+838+83900+83910
Resultados de Activos e Passivos Avaliados ao
Justo valor através de Resultados 0 0
156+158 (1)+159
(1)+22+3307+3310
(1)+3402-355-3524-
5210 (1)-5303 (1)
Investimentos detidos até a maturidade - -
-
45 Passivos nao correntes detidos para Venda e
operacoes descontinuadas
- -
-694+834 Resultados de Activos Financeiros Disponiveis
para Venda
0 0
21 Derivados de Cobertura - -
-
47 Provisoes - -
-690+830 Resultados de Reavaliacao Cambial (218) (604)
25-3580 Activos nao correntes detidos para Venda - -
-
490 Passivos por Impostos correntes - - -691-697-699 (1)-725 (1)-726
(1)+831+837+839 (1)+843
(1)+844 (1)
Resultados de Alienacao de Outros Activos 0 0
26-3581 (1)-360 (1) Propriedade de Investimentos -
-
491 Passivos por impostos deferidos - 100 -695 (1)-696 (1)-69901-69911-
75-720-721-725 (1)-726 (1)-
728+835 (1)+836
(1)+83901+83911+840+843
(1)+844 (1)+848
Outros Resultados de Exploracao 870 (10,829)
27-3581 (1)-360 (1) Outros Activos tangiveis 141,117 6,936 134,181
134,283
480+488+/-489 (1)-3311
(1)-3416 (1)+5206
(1)+5211 (1)+5314 (1)
Outros passivos Subordinados - -
Produto Bancario 61,049 45,916
29-3583-361 Activos Intangiveis - - -
-
51-3311 (1)-3417-
3418+50
(1)(2)+5207+5208+5211
(1)+528+538-5388+5318
(1)+54 (1)(3)
Outros Passivos 13,397 12,288
70 Custo com Pessoal 31,385 33,004
24-357 Investimentos em filiais associadas e
Empreendimentos conjuntos
- -
- 71 Gastos Gerais Administrativos 13,328 14,330
300 Activos por Impostos correntes - -
-
55 Capital 300,000 300,000
77 Amortizacao do Exercicio 3,523 3,413
301 Activos por Impostos diferidos - - - 602 Premios de Emissao - - 784+785+786+788-884-885-886-
888
Provisoes Liquidas de Reposicoes e Anulacoes 0 0
12+157+158 (1)+159
(1)+31+32+3302+3308
+3310 (1)+338+3408
(1)+348 (1)-3584-
3525+50 (1)(2)-5210 (1)-
5304-5308 (1)+54 (1)(3)
Outros Activos 5,740 5,740
1,675
57 Outros Instrumentos de Capital - -
760+7610+7618+7620+76210+7
6211+7623+7624+7625+7630+7
631+765+766-870-8720-8710-
8718-87210-87211-8723-8724-
8726-8730-8731-875-876
Imparidade de Outros Activos Financeiros Liquidos
de Reversoes e Recuperacoes (155) (264)
-56 Accoes Proprias - - 768+769 (1)-877-878 Imparidade de Outros Activos Liquida de reversoes e Recuperacoes 0 0
58+59 Reservas de Reavaliacao - - Resultado Antes de Impostos 12,968 (4,567)
60-602+61 Outras reservas e resultados transitados - -
65 Impostos Correntes 0 0
64 Resultado Transitado-Aguarda aprovacao BM -4,567 -4,567 74-86 Impostos Diferidos 0 0
-63 Resultado do Exercicio 12,968 640 Resultados após Impostos 12,968 (4,567)
(Dividendos antecipados) - - -72600-7280+8480+84400 Do qual: Resultado Liquido após Impostos de
Operacoes Descontinuadas
0 0
390,067 16,947 373,120 371,555 TOTAL DO PASSIVO 373,120 371,555 12,968 (4,567)
30-Jun-2019 Dec-18
TOTAL DO ACTIVO
(milhares de meticais)
Demonstracao de Resultados a 30 de Junho de 2019
T O T A L
Código de contas DEBITO 30 June 2019 31 December 2018
BALANÇO em 30 de JUNHO de 2019
(milhares de meticais)
Código de contas ACTIVO
30-Jun-2019
Dec-18 Código de contas PASSIVO
18 Savana 09-08-2019 OPINIÃO
Registado sob número 007/RRA/DNI/93
NUIT: 400109001
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Maputo-República de Moçambique
KOk NAM
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Fernando B. de Lima (presidente)
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Cartoon EDITORIAL
Não há como escamotear a medida, o Brasil deu um passo
medonho no estrangulamento
da liberdade de imprensa com
a publicação da Medida Provisória
(MP) 892, que acaba com a obrigação
de empresas de capital aberto de publicar os seus balanços em jornais. Foi
com “surpresa e estranhamento” que a
ANJ (Associação Nacional de Jornais)
acolheu a medida, lembrando que esta
“ia em contramão da transparência de
informações exigida pela sociedade”.
E tão lastimável é esta machadada directa a uma das fontes de receita que
suportam os jornais como a afirmação
de Jair Bolsonaro que revela as motivações para a medida, a qual é uma “retribuição” aos ataques que ele diz ter recebido da mídia: “[Fui eleito] Sem TV,
sem tempo de partido ou recursos, com
parte da mídia todo dia esculachando a
gente. Chamando de racista, homofóbico, fascista. No dia de ontem eu retribuí
parte daquilo que grande parte da mídia me atacou” [sic], afirmou Bolsonaro.
Ao arrepio deste laivo autoritário, lembro o comportamento do ex-ministro
Pinto Balsemão, em Portugal, que por
acaso era também o proprietário e fundador do semanário Expresso e que foi
por este derrubado do cargo, não tendo,
contudo, esboçado um gesto para silenciar no jornal o trabalho de investigação
que os seus jornalistas encetaram e que
resultou na queda do seu governo.
Os jornais impressos ainda são um
instrumento importante para garantir
a liberdade de imprensa, e se não admira que o actual presidente brasileiro
aja deste modo, face aos seus últimos
pronunciamentos e atitudes, dentre as
quais sobressai a de ter instituído uma
nova categoria, a da “auto-verdade”, não
deixa de ser assustador como sintoma.
Trump, que, como o imperador romano
Calígula, quer a lua, introduziu as “fake
news”, Bolsonaro inaugurou a auto-
-estrada da “auto-verdade”, propiciatória do mito, e decapitadora de qualquer
regulação exterior à sua execução do
poder. Doravante, não interessam as
provas, a aferição da realidade, o respeito pela lei, a armação lógica dos argumentos, as narrativas ficam despidas
de qualquer pertinência ou necessidade
que não sejam as do capricho arbitrário
de quem manda.
Demos um exemplo. Bolsonaro afirmou
estar “chateado” com o ministro Celso
de Mello, decano do STF (Supremo
Tribunal Federal), porque, na sua perspectiva, terá sido “esculachado” (por ele)
em crítica “muito para o lado pessoal”.
Que disse Celso de Mello? Que Bolsonaro “minimizava perigosamente” a
importância da Constituição Federal e
“degradava a autoridade do parlamento
brasileiro” ao ter reeditado uma medida
provisória sobre demarcação de terras
indígenas, duas vezes ao ano, o que não
só é vedado pela Constituição, como
foi a primeira vez que em décadas um
governo o tentou fazer contra as regras
do jogo.
Para Celso de Mello, o ministro há
mais tempo em actividade no STF, a
edição de duas medidas provisórias
com a tentativa de retirar as atribuições
da Funai demonstra “autoritarismo” e
“transgressão” à Constituição Federal.
“O comportamento do actual presidente revelado na actual edição de medida
provisória rejeitada pelo Congresso no
curso da mesma sessão legislativa traduz uma clara e inaceitável transgressão
à autoridade suprema da Constituição
Federal e uma inadmissível e perigosa
transgressão ao princípio fundamental
da separação de Poderes”, disse Celso.
“Parece ainda haver na intimidade do
poder hoje um resíduo de indisfarçável
autoritarismo”, afirmou o ministro.
O que é facto é que, ultrapassando a lei,
o governo tentou impor uma medida
anteriormente rejeitada, num quadro
de comportamento que transpira sinais
múltiplos de autoritarismo, e a resposta do ministro Celso de Mello não foi
pessoal mas processual, na tentativa de
repor a legitimidade de uma saudável
separação dos poderes. Ler na conduta do ministro “um ataque pessoal” é
claramente uma distorção, perigosa,
porque já se sabe que Bolsonaro gosta
de retribuir. É previsível que Celso de
Mello se veja sob pressão para se demitir, de modo a que a “medida provisória” dê entrada pela terceira vez este
ano, contra o que dita a Constituição
Federal.
Calígula ou Nero, não lembro exactamente de qual e estou fora de casa para
o confirmar, um dos dois quis eleger o
seu cavalo como senador. Os demais
senadores tentaram demovê-lo e demonstrar que ao astuto equídeo ainda
faltariam algumas propriedades para
ser humano e ter qualidades para o
discernimento, a argumentação e a deliberação, mas a tudo isto o imperador
contrapunha a sua “auto-verdade”. É
esta a lamentável paisagem política em
que nos movimentamos actualmente e
somos peões de um jogo cujas “regras”
convém deslindar.
De igual modo convém sublinhar que
existe uma funesta coincidência entre
a ascensão mundial de líderes políticos
que usam a mentira, a reversão de valores e a perversão como armas políticas
e o facto de serem confessadamente
apostólicos. Por que será?
Entretanto, há um neologismo chinês,
“Shanzhai”, que talvez nos seja útil.
Refere-se este à apropriação de uma
forma ou ideia, descartando o seu sentido original. Um shanzhai é uma farsa,
uma cópia pirata de algo, uma paródia. E hoje na China há arquitectura
shanzhai, comida shanzhai, deputados
shanzhai, estrelas de show shanzhai,
tudo banhado pelo pastiche e por um
sentido do espectáculo auto-replicador
que indicia uma sociedade do cansaço.
Leia-se sobre estes temas os livros do
filósofo coreano radicado na Alemanha
Byung- Chul Han, que podemos baixar
na net, e que diagnostica bem este estado de coisas em que a própria realidade
se apresenta como um efeito peculiar
do entretenimento.
C
om mais um aperto de mãos, mais uns calorosos abraços
e muito discurso pelo meio, Moçambique expôs-se, na
última terça-feira, de forma comprometedora perante
o mundo, para manifestar a sua inequívoca vontade de
viver em paz e harmonia, visando todos os esforços para o desenvolvimento do seu povo.
Pela magnitude da cerimónia realizada na aptamente designada Praça da Paz, perante todos aqueles dignitários, que incluiam
chefes de Estado e de Governo e altos representantes de organizações internacionais, diplomatas e outros, seria um exagero no
exercício do cinismo tentar implantar a ideia de que tudo aquilo
não teria sido mais do que uma encenação, num momento em
que o “politicamente correcto” pode ser a mensagem certa para a
obtenção de dividendos eleitorais.
Depois de duas tentativas fracassadas, para a maioria, o cinismo,
ou no mínimo o cepticismo, não é algo completamente injustificável. Especialmente quando dissonâncias no seio da outra parte
signatária do acordo são tão nítidas para que um optimismo resguardado não seja desaconselhável; uma paz desejada, mas que ao
mesmo tempo se apresenta minada.
Moçambique tem tudo para dar certo, repetiu o Presidente Filipe
Nyusi, ao que faltou acrescentar que também tem tudo para dar
errado, pois a paz não apenas se faz, como igualmente se constrói.
Ela constrói-se com políticas e atitudes correctas numa base permanente, como uma planta que precisa de água e de nutrientes
para se manter saudável.
Como tem sido dito, e de forma reiterada, a paz nunca deve ser
entendida simplesmente como a ausência de confrontações armadas. Ela deve ser vista a partir de uma abordagem positivista,
onde o contínuo exercício da democracia é um pilar fundamental.
A democracia não deve circunscrever-se apenas à capacidade de
realizar eleições em intervalos regulares, mesmo que tal exercício
seja feito de forma livre, justa e transparente. Democracia deve
significar um governo representativo e funcional, que presta contas ao povo e permite que os cidadãos assumam um papel activo
no processo de tomada de decisões.
Não pode haver paz onde as eleições são conduzidas de forma
intransparente e os resultados condicionados à vontade de alguns
dos concorrentes, onde a progressão dos funcionários públicos
na carreira não depende única e exclusivamente do mérito e do
esforço de cada um, onde o acesso aos recursos públicos condiciona-se à capacidade de se ser ou não parte de um determinado
grupo ideológico, étnico ou regional.
A justiça é outro pilar fundamental para que a democracia prospere e contribua para um ambiente de paz. Nunca pode haver
paz num país onde, de forma rotineira, cidadãos são presos ilegalmente com base em acusações sem fundamento, torturados e
obrigados a permanecer meses a fio sem que lhes seja deduzida
uma acusação formal, fundada nos termos da lei.
Em 44 anos de independência, Moçambique teve momentos
bons e maus. Todos eles contribuíram para a construção de uma
curva de aprendizagem. É na capacidade de isolar os maus momentos e capitalizar os bons que se constroem sociedades onde
o permanente conflito que é inerente à existência humana não
precisa necessariamente de conduzir à aniquilação mútua. É esse
tipo de sociedade que se deve desejar que Moçambique seja hoje,
amanhã e sempre.
Moçambique hoje,
amanhã e sempre
Tempos sombrios
QUEM FARIA
UMA COISA
DESSAS?
Savana 09-08-2019 19 OPINIÃO
644
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A
elite política dominante em Moçambique
não percebe que, do
ponto de vista ético, a
paz não é determinada, necessariamente, pela ausência da
guerra, mas sim pela ausência
do desejo de fazer a guerra ou
de recorrer à violência. Se aceitarmos este pressuposto, a nossa
percepção sobre os determinantes da paz e conflitos, bem
como a atitude e responsabilidade de cada um de nós, perante estes determinantes, mas
principalmente da elite política,
deve mudar, radicalmente. Essa
mudança pode fazer com que
os nossos esforços acabem na
transição de meros intervalos de
relativa tranquilidade – Kupatana: paz periódica e temporária
na famosa série animada “O Rei
leão” -, que às vezes se confundem com a paz duradoura, para
a conquista da paz, de facto. A
transição para esta mudança,
no entendimento sobre o conceito de paz, por parte da elite
política dominante moçambicana, chama atenção aos desafios
históricos, políticos, sociais e
económicos, essencialmente de
natureza estruturais, fortemente
interligados, que tem representado, consistentemente, verdadeiros empecilhos à paz efectiva
em Moçambique.
Esta terceira Kupatana, o acordo recém-assinado entre o governo e a Renamo, confirma,
para mim, vários aspectos pouco abonatórios, que tem caracterizado os infrutíferos esforços
de busca pela verdadeira paz
em Moçambique. Primeiro, o
carácter totalmente exclusivo e
bipartidário do debate sobre os
desafios estruturais do país e,
principalmente, sobre os determinantes da paz e de conflitos.
Desde as negociações sobre a
independência nacional, todas
as negociações de paz em Moçambique têm sido conduzidas,
essencialmente, por duas partes apenas, aqueles que detêm
o monopólio da violência, sem
a necessária inclusão de outras
forças vivas da sociedade. No
âmbito do processo de independência nacional, a Frelimo
impôs-se, com sucesso, como o
único e legítimo representante do povo moçambicano. Esta
imposição confundiu (e tem
confundido até hoje) o papel
da Frelimo e do Estado moçambicano e a sua relação com
os outros actores. No exercício
das suas funções, esta percepção
confusa da Frelimo sobre o seu
papel na sociedade limita, profundamente, a participação de
qualquer outro actor relevante na discussão sobre o futuro
político e sócio-económico do
país. Ficam de fora os sindicatos, individualidades consideradas não-alinhadas, os outros
partidos políticos e os cidadãos
comuns. O mesmo sucede-se
no período pós-independência.
Nesta fase, a unicidade e legitimidade exclusivas da Frelimo,
na representação dos interesses de todos os moçambicanos
acrescentam-se as da Renamo.
A Renamo assume-se como a
única e legítima representante das ambições democráticas
do povo moçambicano. É esta
combinação perigosa que continua a resultar na completa
exclusão de outros moçambicanos, no debate sobre os seus legítimos interesses. Aliás, mas do
que uma exclusão passiva, tanto a Frelimo como a Renamo,
cada um usando dos meios de
que dispõem, não simplesmente tem excluído, como também,
tem fortemente limitado e impossibilitado o envolvimento de
outros actores nacionais posicionados fora do binário FRENAMO. A grande consequência disso tem sido não apenas o
desconhecimento popular total
do conteúdo dos acordos de paz,
como também, e principalmente, a total ausência de sentido
de apropriação (ownership), em
relação a esses consensos, por
parte do povo moçambicano. É,
precisamente, por este motivo,
que qualquer dos actores pode
reclamar (e tem reclamado) violação dos consensos firmados,
por parte do outro, legitimamente ou não, sem nunca merecer qualquer suporte popular.
É necessário compreender que
consensos de paz exclusivamente bipartidário são, raramente,
passíveis de, quer representar,
quer de serem defendidos, amplamente, como se impõe na
preservação de qualquer paz
duradoura.
Segundo, esta terceira Kupatana, vem reafirmar o carácter marcadamente eleitoralista
dos consensos em volta da paz
em Moçambique. Este deve
ser sem dúvidas, o seu aspecto
mais amplamente perceptível.
Com a excepção dos acordos
de Roma de 1992, os consensos
subsequentes têm fortes traços
eleitoralistas, no sentido de terem sido produzidos e assinados em períodos imediatamente próximos às eleições gerais,
por forma a criar as necessárias
condições políticas para a realização das eleições. Primeiro, em
Setembro de 2014, o acordo assinado entre o antigo presidente
Armando Guebuza e o agora
falecido presidente da Renamo,
Afonso Dhlakama, que veio
criar condições para a realização
das eleições gerais do mesmo
ano, ganhas pela Frelimo e o seu
candidato; e agora, os consensos
e o subsequente acordo entre
os presidentes Filipe Nyusi e
Ossufo Momade. O carácter
eleitoralista destes consensos
não pode ser entendidos como
mera coincidência, mas sim,
como um exercício deliberado
das partes de criar condições
políticas determinantes para a
realização de eleições. Enquanto que a realização de eleições
é importante ao conferir legitimidade político-governativa e o
consequente acesso aos recursos
económicos aos actores políticos em causa, essa visão míope
sobre a paz torna todos os consensos alcançados em sua volta
apenas de natureza pontuais.
Ou seja, os consensos (a paz)
duram enquanto dura o interesse de obter essa legitimidade,
por via do voto popular. É, por
isso, que uma das consequências
que temos assistido, em Moçambique, tem sido o abandono desses consensos depois dos
períodos eleitorais, devolvendo
o país à zona de conflitos, regularmente.
Terceiro, e por último, mas aliado ao primeiro, há traços ou de
total abandono ou de completa
marginalização das questões estruturais. Aspectos como a exclusão política, social e económica, fortemente determinados
pela captura do estado, por parte
de interesses particulares e partidários, aparentam não assumir
a necessária relevância nessas
Kupatanas. No caso particular
desta terceira Kupatana, esta
situação pode ter resultado de
dois factores fundamentais. Primeiro, do conflito no interior da
Renamo. Este conflito pode ter
empurrado a Renamo a tentativa de obtenção de concessões da
Frelimo, apressadamente, isto
é, antes das eleições de 15 de
Outubro de 2019, pelo perigo
que ele e o seu prolongamento
representam para a legitimidade
da liderança actual da Renamo.
E, segundo, como já me referi,
anteriormente, pelo carácter
não abrangente desses consensos que impendem que esses
temas de natureza mais estrutural sejam trazidos e colocados
a mesa dos debates, por outros
grupos de interesse, como as organizações progressistas da sociedade civil. Esses grupos agora excluídos podiam trazer de
volta temas como: as liberdades
de expressão e de pensamento,
a desfrelimização do Estado, a
grande corrupção, a fraude eleitoral, a separação efectiva dos
poderes, as disparidades regionais, o acesso a uma justiça justa, etc. Acredito que a abordagem de temas estruturais inclui,
igualmente, questionamentos
como sobre quais são os factores que tem estado a resultar na
exclusão política e socioeconómica de outros moçambicanos,
do processo de construção do
estado e da riqueza nacional e;
que medidas devem ser postas
em marcha para reverter a situação prevalecente? Aqui ir mais à
estrutura inclui questionar, livre
e abertamente, sobre os factores que determinam que alguns
cidadãos (ainda) optem ou se
sentem forçados ao recurso à
violência para se comunicarem
com o estado moçambicano;
sobre como estão estruturados
os nossos canais de expressão
dos nossos descontentamentos
em relação ao governo e até
que ponto estes canais favorecem comunicação efectiva; e
que respostas tem sido dadas
a essas frustrações levantadas
pelo povo moçambicano e pelos
seus representantes, incluindo
os que se localizam fora do binário FRENAMO. Não menos
importante, o debate sobre as
questões estruturais deve incluir
o questionamento sobre quais
são os mecanismos de premiação e de punição na sociedade
moçambicana e a sobre a justeza
desses mesmos mecanismos.
Enquanto não houver a necessária mudança na nossa percepção
sobre a paz, e antes das questões
estruturais serem devidamente
abordadas, infelizmente, o desejo de fazer a guerra continuará
prevalecente, em cada um dos
moçambicanos de dentro ou de
fora do binário FRENAMO.
Nas condições actuais, cada um
de nós continuará sendo um
verdadeiro combustível, aguardando a hora certa para acender
ou, como no caso dos homens
da Renamo, reacender. Mas, já
agora, para que isso não seja o
penoso apanágio da nossa sociedade, proponho a realização
urgente de um debate nacional,
amplo, livre e inclusivo, subordinado ao tema: “os determinantes estruturais da paz e conflitos em Moçambique: a busca
pela verdadeira paz.”.
Organicamente Por: Fredson Guilengue
Sobre a terceira Kupatana
Há sempre o problema de definir qualidade e ensino. Não
existe algo de naturalmente natural como a qualidade, pois
é produto de interacção social, de luta pela propriedade
das definições e das suas aplicações. Quanto ao ensino,
é bem mais do que - vou permitir-me citar a Wikipedia digital
- “(...) uma forma sistemática de transmissão de conhecimentos
utilizada por humanos para instruir e educar seus semelhantes,
geralmente em locais conhecidos como escolas”.
Com que variáveis podemos definir o termo qualidade? E com que
variáveis podemos definir o termo ensino?
Sejam quais forem as decisões que tomemos, qualidade e ensino não podem furtar-se ao facto de ambos serem termos sociais e,
portanto, liça de combates definitórios consoante os grupos que os
manuseiam. Por outras palavras, qualidade e ensino são bem mais
do que problemas técnicos tecnicamente tratáveis.
Qualidade e ensino
20 Savana 09-08-2019 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
F
oi a partir de Chitengo, em Gorongosa, que veio a primeira boa
nova: Nyusi e Momade assinavam
a 01 de Agosto do corrente ano
o Acordo de Cessação de Hostilidades
Militares. Era o passo necessário para o
cumprimento do desejado momento da
assinatura do Acordo Geral de Paz Definitiva (AGPD), na semana seguinte, a
06 de Agosto, em Maputo, na Praça da
Paz.
Tanto no Acordo Geral de Paz (AGP)
1 como 2, assumiu-se a irreversibilidade da paz como um dado adquirido, a
ser acarinhado, tendo como horizonte
de consenso a estabilidade política e,
deste modo, o desenvolvimento do país.
Porém, no intervalo entre as assinaturas
dos Acordos foi notório o dúbio nível
de importância e seriedade atribuído
aos mesmos, sobretudo por parte do
Governo do dia (assumindo que este,
Um Acordo que promete: AGPD
por razões óbvias, possui responsabilidades
acrescidas). O que está em causa nos dois
primeiros AGPs e que salta à vista é o falhanço dos mesmos. Nesta ordem de ideias o
que também preocupa é que o actual Acordo
não redunde em fracasso, tendo por base o
denominador “eleições de 15 de Outubro”.
De entre os vários motivos que podem ser
arrolados para justificar o referido falhanço
ou o actual receio, dois parecem-nos cruciais: i) as práticas, fortemente enraizadas,
que continuam a dar mostras de um Estado
capturado pelo partido no poder, fruto da
ideologia política seguida após a independência e dos resquícios de uma economia
centralizada, e ii) derivado e interligado a
este, o fortalecimento de métodos visando o
enfraquecimento da contraparte do Acordo
na base do “factor tempo”, gerindo incumprimentos, fomentando a cultura do medo
e governando com foco na “manutenção
a todo o custo” e em um desenvolvimento
encrustado grandemente em teorias e populismos.
O segundo motivo apresentado embasa a
ideia ainda generalizada, um dos receios, de
que o processo que levará ao fim da Renamo
terá como marco inicial a entrega total de
armas. Ou seja, se a força deste partido está
ou sempre esteve na pressão baseada no poder de fogo, uma vez destituído do mesmo
o partido perde a pujança que lhe é característica. Um dilema: é que num Estado que
se preze os partidos políticos não andam
armados e nem o Estado vive acorrentado
pelo partido no poder. As razões do referido pensamento generalizado remetem-nos
também ao primeiro motivo dos falhanços.
Ficamos diante de um ciclo que em algum
momento, em algum ponto, deve ser rompido, generalizando a ideia de que a actividade
partidária deve ser desenvolvida em fórum
próprio, isto é, fora das instituições do Estado. Estas, não só devem parecer como, acima
de tudo, devem ser credíveis.
A
Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo), na sua nova
versão, tem a honra de voltar a homenagear um dos mais talentosos
e nobres músicos moçambicanos, Gabriel
Ruben Chiau. Octogenário e cuja paixão
pela música se estende desde a longínqua
década de 50, na missão Suíça, pela mão
do pastor Daniel Clerc. Gabriel Chiau,
como carinhosamente o conhecemos, tem,
ao longo de décadas, personificado, com
mestria, os propósitos do homem e da sua
mente.
Por que uma Universidade homenagearia a vida e a arte de um músico? Muitas
pessoas poderão perguntar por que a UP
-Maputo não está a homenagear grandes
nomes da ciência de Moçambique e de
outros lugares do mundo. Sim, também já
homenageamos pessoas com esse perfil. E
ainda renderemos cumprimentos a muitas
outras, neste centenário de Eduardo Mondlane. Reconhecer as diferentes pessoas
que fazem do nosso país um lugar melhor
para viver e contribuem para a socialização
do conhecimento, nas suas mais variadas
expressões, científica, cultural, artística e
política, é uma tarefa da universidade pública.
Importa recordar que formamos novas gerações num mundo cada vez mais individualista e competitivo, no qual as disputas
são mais apelativas do que a solidariedade.
Por isso, somos responsáveis por apresentar a esta juventude os fundamentos essenciais da vida, cultura e fraternidade. A
ciência também é feita de beleza, de arte,
de amor e de companheirismo.
Reconhecer as pessoas mais queridas, ou
até anónimas, que contribuem para tornar
o nosso país e mundo melhores, que enchem os nossos corações com as mais belas
expressões artísticas e nos fazem compreender que é possível e necessário nunca
separar ciência, artes, sensibilidade e delicadeza, é também uma tarefa importante
da universidade.
Entendemos que escutar um músico como
Gabriel Chiau e se inspirar na melodia
do seu trompete, conhecer a sua história de vida, tomar conhecimento de um
grande músico tão premiado, que nunca
se esqueceu do lugar de onde veio, é uma
tarefa formadora para a juventude e para
os docentes da UP-Maputo. Revela-nos
as múltiplas maneiras possíveis de construir conhecimento. Reforça o lugar das
artes na formação das pessoas. Inspira-nos
a entender que a ciência não pode existir
dissociada do potencial humano do sentir,
amar, poetizar. Antes, é preciso entender
que, sem essas dimensões humanas e sociais, a produção científica se torna fria,
briel Chiau. Este percurso lhe confere o
estatuto de decano da música Moçambicana. Chiau é e será sempre um exímio
compositor, interprete e instrumentista.
O Bairro de Chamanculo, lugar que marca
a vida e trajetória de Gabriel Chiau, abriga
uma das mais brilhantes mentes de Moçambique, de uma competência e sensibilidade musicais impressionantes e de uma
sensibilidade humana inquestionável. A
opção de não deixar as suas raízes é uma
das características deste músico admirável
e, talvez, seja aquilo que mais o inspirou ao
longo de décadas.
A sua música nos sensibiliza porque nos
identificamos com ela e, certamente, essa
identidade tem a ver com o fato de ser
produzida no mesmo universo cultural,
social e musical que compartilhamos: a vivência cotidiana de Moçambique. A essa
dimensão local, Gabriel Chiau acrescentou outros conhecimentos e sensibilidades
musicais, técnicas e culturais aprendidos e
inspirados em outros lugares e artistas do
mundo.
Por tudo isso, reconhecemos Gabriel
Chiau como um músico admirável e o damos parabéns pela sua história, trajectória
e produção musical. E o agradecemos pelo
fato de que, em meio a tanto reconhecimento e fama, nunca deixou de ser um homem do povo.
Esse exemplo, a UP-Maputo espera que
seja compreendido e seguido pelas novas gerações que formamos e inspire os
docentes e discentes a compreenderem a
múltiplas possibilidades da construção do
conhecimento que vão além da sala de aula
e laboratórios.
*Texto lido na homenagem feita a Gabriel
Chiau, uma semana antes do seu falecimento.
impassível, pouco solidária como o sofrimento humano.
Por isso, ao rendermos essa homenagem
a Gabriel Chiau gostaríamos de afirmar o
quanto a sua história e a sua música educam a todos nós e ao nosso país. Ficamos
orgulhosos e felizes ao saber que Moçambique tem sido a fonte inspiradora de tão
bela poesia, musicalidade e sentimento.
Se homenagear Gabriel Chiau pela sua
competência, produção musical, carreira e
compromisso é algo inquestionável, acrescentamos que, além dessas reconhecidas
características, a sua música é também conhecimento.
Por isso, homenageá-lo em vida, além de
reconhecimento e agradecimento por toda
a sua dedicação à música, é um dever da
nossa universidade. Não existem dúvidas
sobre o talento e a grandiosidade de GaO sopro do decano - Gabriel Chiau
Ora, a entrega de armas por parte da
Renamo e a despartidarização do Estado por parte do partido no poder - a
Frelimo, por configurarem aspectos materializáveis em curto espaço de tempo,
são, em si, caminhos seguros não só para
espantar receios (diante de tanta alegria)
mas também para garantir o sucesso do
actual AGPD. Paz Definitiva é o que se
pretende!
Já que o processo eleitoral, o que inclui
os resultados finais, passou a ser percebido, pelas partes, como factor de conflitos
pós-eleitorais, em Moçambique, nada
impede que os resultados do recenseamento eleitoral, fortemente contestados,
sejam revistos em nome da garantia de
sucesso do AGPD. Mas não são só os
resultados, é todo o funcionamento da
máquina eleitoral. Oxalá o AGPD seja
de domínio público e caminho para a almejada Paz Definitiva.
Por Jorge Ferrão
Savana 09-08-2019 21 SOCIEDADE
D
epois de ter assegurado
garantias do Estado moçambicano para angariar
no mercado financeiro
2,3 mil milhões de dólares para
poder entrar na produção de gás
natural liquefeito (LNG, na sigla
inglesa), na Área 1 da bacia do
Rovuma, o presidente da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos
(ENH), Omar Mithá, acredita
que vai encontrar o financiamento mais favoráveis para a Área 4.
Omar Mithá manifestou optimismo em relação à ligeireza
das condições de financiamento
no consórcio liderado pela ENI,
quando falava aos jornalistas, à
margem de uma palestra sobre a
indústria de petróleo e gás, com
estudantes da UP de Maputo.
“Para a Área 4 [a ENH], vai recorrer ao mesmo procedimento
[empréstimo bancário], e está nos
acertos finais e vai garantir muito melhores condições do que a
Área 1 [concessionada a Andarko]”, afirmou.
O presidente da petrolífera moçambicana adiantou que o anúncio da Decisão Final de Investimento (FDI, na sigla inglesa)
na Área 4 está previsto para este
mês.
Omar Mithá reconheceu haver
uma demora na FDI, justificando
a situação com os “vários fluxos
de trabalho, que tem a ver com a
venda e financiamento”.
“Não significa que está parado, o
trabalho está a acontecer”, disse,
sem divulgar os valores envolvidos.
Omar Mithá disse ainda que o
Estado moçambicano já acautelou as questões de segurança na
bacia do Rovuma.
A região tem sido assolada por
ataques de grupos armados, desde Outubro de 2017, situação que
estará a aumentar os custos de algumas operações na região.
O consórcio liderado pela ENI
e Exxon Mobil está a construir
uma plataforma flutuante com
capacidade para produzir 3,37
milhões de toneladas de gás natural liquefeito também na Bacia
do Rovuma.
Em Julho, o consórcio da multinacional norte-americana Anadarko anunciou a FDI para a
Área 1 da bacia do Rovuma, num
investimento de 23 mil milhões
de dólares.
Para assegurar a sua entrada no
desenvolvimento da Área 1, a
ENH teve de recorrer a garantias
do Estado, no valor 2,3 mil milhões de dólares.
Porém, os mercados mostram
pouco entusiasmo em emprestar
dinheiro a investidores em Moçambique, mesmo com garantias
do Estado, uma situação que encontra explicação no escândalo
das chamadas dívidas ocultas, que
obrigou os parceiros de cooperação a cortarem apoios directos ao
Orçamento do Estado. As agências de notação financeira também colocaram Moçambique na
categoria de “lixo”, atribuindo o
nível de não recomendação de investimento às emissões de curto
prazo.
Omar Mithá sonha com
empréstimo mais favorável
Para a Área 4
E
m tempo de “caça ao voto”,
na luta pelo poder político,
que se aproxima do apogeu,
com a realização das eleições
gerais no próximo dia 15 de Outubro, o que não vai faltar são notícias falsas, as tão mediáticas “fake
news”, para manipular consciências
e condicionar o sentido de voto.
Nesse prisma, a sub-procuradora-
-chefe da província de Maputo,
Olinda Cossa, considera que é preciso redobrar a atenção na absorção
de informação que está a ser veiculada.
Para a magistrada, os partidos políticos, membros e simpatizantes
usarão todos os meios em seu poder
para alcançar o objectivo.
Nessa luta, a propagação de informações falsas, desinformação, desestabilização e especulações poderá
ser um “lugar comum”.
Olinda Cossa, que falava durante a
“Conferência Internacional Medias
Sociais, Fake News”, que teve lugar
nesta segunda-feira, 05, em Maputo, referiu que, na busca de espaço e
visibilidade, os actores políticos não
olharão a meios.
Para não caírem na esparela, os cidadãos precisam de estar bem informados, observou.
Debruçando-se sob o tema: “Algumas Propostas de Respostas as Fake
News e Desinformação? Experiências, Directrizes e Reflexões no
Quadro das Eleições de 2019 em
Moçambique”, Olinda Cossa sublinhou que os meios de comunicação social desempenham um papel
fundamental na organização social,
porque estabelecem uma relação
ideal entre os cidadãos mediante a
troca de informações.
Diferentemente de outros meios
de comunicação, prosseguiu, as redes sociais, que são de baixo custo,
aproximam as massas com grande
efectividade, mas não seguem os
mesmos padrões exigidos pelos media tradicionais.
Referiu que os órgãos de comunicação social locais, no exercício das
suas funções, seguem padrões legislativos enunciados na Constituição
da República, Lei de Imprensa, Lei
do Direito à Informação e o respectivo regulamento.
O mesmo já não acontece com algumas das informações veiculadas
nas redes sociais.
Isso faz com que, em alguns momentos, se registem situações de
desvios que podem culminar com
a divulgação de informações pouco
fiáveis, as ditas “fake news”, criando
um desequilíbrio na difusão de informação.
Sublinha que as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC)
vieram proporcionar à sociedade
uma verdadeira aldeia virtual o que,
até certo ponto, pode-se tornar uma
ameaça.
Explica que, para além dos medias tradicionais, hoje, usa-se, com
maior frequência, os media sociais,
que podem atingir as massas em
tempo real na divulgação de informação verdadeira ou falsa e, neste
período eleitoral, a propagação de
notícias falsas, pode culminar com
desinformação, intolerância e conflitos.
Pode ainda, prosseguiu, vedar ao cidadão a possibilidade de formular o
seu juízo de decisão.
De acordo com a procuradora, perante os riscos de “fake news”, a Lei
de Direito à Informação reconhece
o direito ao bom nome, reputação e
boa imagem pública.
Falando do papel do Ministério
Público (MP) na incriminação aos
“fake news”, Olinda Cossa explicou
que, em Moçambique, não há uma
legislação concreta sobre a matéria,
contudo, na base de crimes que possam resultar da propagação de notícias falsas, como calúnia, difamação,
honra entre outros crimes, pode haver responsabilização.
“As notícias falsas abrem espaço
para desinformação, o que pode
resultar em conflitos, em ilícitos
administrativos e eleitorais. Aí o
MP na qualidade de dona da acção
penal e os tribunais em sede de julgamento de recursos contenciosos
e dos ilícitos eleitorais entram em
acção”, explicou.
Os media e todos os segmentos da
sociedade desempenham um papel
fundamental na prevenção e combate às “fake news” e a desinformação.
Por seu turno, Elisa Samuel, directora do Centro de Formação Jurídica e Judiciária (CFJJ), entende que
a questão das “fake news” constitui
um desafio para a investigação policial.
Para tal, podem usar das possibilidades de cooperação internacional,
porque estes crimes acontecem em
plataformas que não estão sedeadas
em Moçambique.
“Através da cooperação internacional, parte destes crimes pode ser superada, mas, infelizmente, os nossos
investigadores não estão em condições de perseguir o rasto”, disse.
De acordo com a juíza, existe uma
lei de cooperação judiciária em matéria penal, que é um instrumento
processual que pode permitir investigar este tipo de crimes e chegar ao
autor de tal facto.
“A nós, como actores penais, é seguro ter uma lei que actua sobre esse
tipo de crimes. Não se criminaliza,
não se julga nem se condena alguém
por analogia”, frisou.
A questão das “fake news”, prosseguiu, tem de ser enquadrada no ordenamento jurídico moçambicano.
Organizada pelo Instituto Eleitoral
para a Democracia Sustentável em
África (EISA) e Misa Moçambique, a “Conferência Internacional
Media Sociais, Fake News” abordou
outros temas como “ participação
política dos cidadãos/Propagação
das Fake News e Desinformação
numa perspectiva africana”; “As
Fake News e a qualidade de informação eleitoral”; “Cibersegurança e
Protecção de Dados em Moçambique” e “Fake News como ferramenta Política em Moçambique”.
Falando na ocasião, Olufunto
Akinduro, chefe do Departamento
de Eleições e Processos Políticos
em África do EISA, disse que o
problema das “fake news” tem sido
uma preocupação global, tendo até
contribuído para eleição de candidatos e feito cair outros.
Por seu turno, o ministro da Justiça,
Assuntos Constitucionais e Religiosos, Joaquim Veríssimo, referiu
que o governo está preocupado
pelo aumento de notícias falsas, sobretudo, as veiculadas nas plataformas de media social.
Infelizmente, prosseguiu, alguns
órgãos tradicionais tendem a entrar
na onda das “fake news”, permitindo a explosão deste fenómeno, em
prejuízo da verificação dos critérios
básicos de produção jornalística e
veiculação de notícias.
O governante disse que o executivo
vem defendendo a necessidade de
se intensificar acções de educação
aos cidadãos, à luz da Lei de Regulação das Comunicações em vigor
em Moçambique, como forma de
combater o uso das TIC’s para a divulgação de informações falsas.
“O governo tem estado a apostar
na promoção do uso de TIC’s em
diversas áreas do saber, instalando
e massificando o uso dos chamados
multimédia em todo território nacional”, disse.
Contudo, disse, prolifera o uso das
TIC’s para a promoção de informações falsas, colocando em causa,
muitas vezes, a reputação e bom
nome das pessoas, o que incorre na
violação da lei que rege a actividade
da comunicação social.
Para Veríssimo, a situação torna-
-se mais alarmante quando até “os
medias convencionais ou tradicionais, às vezes, se deixam levar com
mensagens falsas, divulgando sem
que finalizem o processo de investigação da informação divulgada,
e para que se pare é necessário um
conjunto de esforços, mas sem restringir cidadãos”.
O encontro contou ainda com a
participação da embaixadora da
Suécia em Moçambique, Marie de
Frutos, e de Tujilane Chizumila,
juíza do Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos, William Brid, do Media Monitoring
Centre, da África do Sul, e Sungare
Pathel, juíza-conselheira do Tribunal Eleitoral da África do Sul.
Em períodos eleitorais
Fake newsSRGHPSURYRFDUFRQÁLWRV
Por Raul Senda
Em tempo de “caça ao voto”, os jornalistas devem ser bastante prudentes na
selecção de informações sobre o risco de divulgar noticias falsas
22 Savana 09-08-2019
DESPORTO
O
afastamento precoce dos
Mambas do CHAN2020, pela selecção Malgaxe, no último domingo,
numa partida anedótica que pôs
a nu as fragilidades da nossa defensiva, está a criar burburinho no
seio dos moçambicanos, não fosse
o futebol ópio do povo.
De viva voz, muitos adeptos, incluindo comentadores desportivos
acusam Alberto Simango Júnior e
seu elenco federativo de serem os
culpados pelo desaire da selecção
e, por isso, pedem a sua demissão
em bloco por incumprimento dos
planos anteriormente traçados.
Simango Júnior sacode o capote
e explica que a FMF criou todas
as condições logísticas e materiais
para que a eliminatória fosse ganha, tal como se viu, na primeira
parte, quando os Mambas saíram
a vencer por três tentos sem resposta. Salientar que a selecção visitante até veio a Maputo de retalhos, sinal de grande amadorismo.
Simango estranha a apatia dos
Mambas no segundo tempo, depois de terem nos habituado a
consentirem golos, também estranhos nos derradeiros minutos das
partidas em que realizam.
E a alinhar no mesmo diapasão, e
como que a sair do sono profundo, Nyelete Mondlane, ministra
da Juventude e Desportos, apelou
à necessidade de se ter uma visão
holística do problema, tal como
vem sendo apregoado por vários
entendidos na matéria.
Mas há motivos para tanta frustração dos adeptos porque em Agosto deste mês termina o mandato
(inglório) de Alberto Simango Júnior, na Federação Moçambicana
de Futebol e o rescaldo é negativo:
dois CAN e um mundial falhados,
e quatro edições na Cosafa sem
grandes novidades.
É um facto inegável que noutros
Alberto Simango Júnior em maus lençóis
Afastamento dos Mambas provoca fúria popular
planos, como no infraestrutural e
organizacional, Simango e o seu
elenco deram ar da sua graça, através de acções concretas como o
arranque da construção do campo
na Maxixe e a disponibilização de
combustível aos clubes que participam no campeonato da divisão
de honra.
Igualmente, e decorrente dos problemas alegadamente criados pelo
outro elenco, a FMF chegou a ficar sem apoios da FIFA, mas com
a auditoria que se seguiu, criou-se
um ambiente de confiança o que
deu azo à retoma dos apoios.
Aliás, é esta a questão que está
no cerne das diferenças, aparentemente insanáveis, entre Alberto
Simango Júnior e Feizal Sidat.
Este já foi convidado a justificar as contas, mas alguns círculos entendem tratar-se de uma
estratégia para o desencorajar a
candidatar-se para a presidência
da FMF, onde chegou a cumprir
dois mandatos.
Encomendas?
Ao longo dos aproximadamente
quatro anos que está a frente da
federação, Simango Júnior nunca
escondeu a sua intranquilidade
com algumas coisas estranhas que
contribuem, na sua óptica, para o
mau desempenho dos Mambas.
Em entrevista a este jornal, explicou conhecer algumas pessoas
que, desde à primeira hora estariam empenhadas numa campanha para desacreditar a sua pessoa
e o seu elenco , incluindo todas as
actividades que são realizadas, mas
à moda Artur Semedo declinou
apresentar os seus verdadeiros nomes.
Entretanto, no recente torneio
da COSAFA, Simango convidou
os jogadores a uma prelecção, na
qual contou com o presidente da
Federação Angolana de Futebol.
No encontro, Simango não escondeu a sua insatisfação pela falta
de profissionalismo dos Mambas,
incluindo os que militam no estrangeiro.
Mas desculpas à parte, o certo é
que Simango corre o risco de enfrentar muitas dificuldades para a
sua reeleição .
E se antes era acusado de manter
Abel Xavier como seleccionador
nacional, presentemente é acusado de o ter afastado e, pior ainda,
ter indicado, interinamente para o
mesmo cargo, Victor Matine, um
técnico sem obra conhecida.
E isto acontece numa altura em
que dentro de meses a FMF vai a
votos, e, certamente, os resultados
dos Mambas e outras fragilidades
poderão ser utilizados como arma
de arremesso pelo outro candidato, que, ao que tudo indica, poderá
ser Feizal Sidat.
Alberto Simango Jr.
Savana 09-08-2019 23
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A Reitoria da Universidade Católica de Moçambique (UCM), com sede na cidade da Beira, na Rua Comandante
Gaivão, n.º 688, Bairro da Ponta gêa, pretende contratar para a sua Delegação da UCM em Maputo, candidatos para
a área de docência. Com efeito, convida a todos interessados a concorrerem para as vagas existentes de acordo com
a tabela abaixo:
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Reitoria
ANÚNCIO DE VAGA PARA DOCÊNCIA
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24 Savana 09-08-2019
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Savana 09-08-2019 25
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1. Requisitos para Docência – Cursos de Doutoramento:
a) Nível de Doutoramento na área;
b) Pelo menos 3 anos de experiência na área de docência e na utilização de plataformas e-Learning;
c) Com 4 publicações na área de especialidade, nos últimos 3 anos;
d) Ter formação psicopedagógica com Certificado Profissional C, correspondente a uma acumulação mínima de
30 créditos, constitui uma vantagem;
e) Disponibilidade imediata.
2. Requisitos para Docência – Cursos de Mestrado:
a) Nível de Doutoramento (2 anos de experiência na área de docência e/ou em áreas afins) ou Mestrado (7 anos
de experiência na área de docência nos mestrados);
b) Pelo menos duas (2) publicações na área de especialidade, nos últimos 3 anos;
c) Experiência de Ensino em plataformas e-Learning;
d) Ter formação psicopedagógica com Certificado Profissional C, correspondente a uma acumulação mínima de
30 créditos, constitui uma vantagem;
e) Disponibilidade imediata.
3. Requisitos para Docência – Cursos de Licenciatura:
a) Nível de Doutoramento (1 ano de experiência na área e/ou em áreas afins) ou Mestrado (5 anos de experiência
na área de docência);
b) Conhecimentos de pacotes de Informática na óptica de utilizador;
c) Pelo menos duas (2) publicações na área de especialidade, nos últimos 3 anos;
d) Experiência de Ensino em plataformas e-Learning;
e) Ter formação psicopedagógica com Certificado Profissional C, correspondente a uma acumulação mínima de
30 créditos, constitui uma vantagem;
f ) Disponibilidade imediata.
4. Documentos necessários para a candidatura:
a) Carta de candidatura dirigida ao Magnífico Reitor da UCM;
b) Curriculum Vitae;
c) Fotocópia autenticada do documento de identificação (B.I/Passaporte/DIRE);
d) Fotocópia autenticada do certificado de habilitações literárias e diploma;
e) Certificado de equivalência, no caso de qualificações obtidas no estrangeiro;
f ) Duas fotos tipo passe (após admissão);
g) Outros documentos que o candidato considerar ser relevante para a sua candidatura.
5. Local e prazo de submissão das candidaturas:
As candidaturas devem ser submetidas em envelope selado até ao dia 16 de Agosto de 2019, pelas 16:30 horas, nas
Instalações da Delegação da UCM em Maputo (antigo lar da Munhuana, em frente do Mercado Estrela), sita na
Av. Romão Fernandes Farinha, No 1499, Bairro Alto Maé.
Para informação adicional ou algum esclarecimento sobre as candidaturas, contacte a Delegação da UCM em
Maputo pelos números (+258) 84 840 2694 ou (+258) 84 322 1671.
NB: Apenas os candidatos pré-selecionados serão contactados
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1335 9 DE AGOSTO DE 2019
DESVENDADA, FINALMENTE,
A ORIGEM DO QUEIJO A
VACA QUE RI.
Savana 09-08-2019 27 OPINIÃO Venâncio Calisto (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) O
dia 06 de Agosto acaba de entrar para o leque das datas históricas do país. Esta semana terá para sempre um
gosto especial na vida de todos moçambicanos, pois na
passada terça-feira foi assinado o “Acordo de Paz Definitiva”. O Governo e a Renamo, nas pessoas do Presidente da
República Felipe Jacinto Nyusi e Momande Ossufo, líder do
maior partido da oposição, selaram o fim das hostilidades militares e acto foi testemunhado por centenas de cidadãos nacionais e
convidados internacionais com destaque para Hagi Gengob, presidente da Namíbia e da SADC, Cyril Ramaphosa, presidente da
África do Sul e o vice-presidente do Zimbabwe Kembo Muhadi.
A praça da Paz, em Maputo, foi o local escolhido para ser palco
deste importante e marcante momento para o país. Este acordo
veio resgatar a unidade nacional há muito degradada pela guerra
e pela discórdia. E mais ainda, foi uma ocasião para provar que é
“conversando que a gente se entende”. Pelo visto não foram em
vão os deslocamentos de Nyusi à serra da Gorongosa, desde o
início do seu mandato, e o seu comprometimento no alcance de
uma paz duradoura, para o bem-estar dos moçambicanos. Sendo
a paz, um bem precioso e inalienável, um direito de todos nós,
torna-se um exercício deveras complicado descrever a satisfação
do povo. São milhões de corações em festa, um povo inteiro unido pelo laço da fraternidade e da reconciliação nacional.
Fora o aparato da cerimónia e o deslumbrante momento cultural
proporcionado por grandes nomes das artes moçambicanas há
que destacar o espectáculo protagonizado pela audiência. Centenas de populares se dirigiram àquele local para testemunhar a
concretização do sonho há muito almejado, a paz. É sobre essa
gente, sobre o povo moçambicano que dedicamos a edição de
hoje. E porque a festa foi a grande, ninguém se fez de rogado.
Nas fotografias vemos alunos de todas idades de bandeiras e sorrisos içados, homens e mulheres na bicha das camisetas que simbolizam este importante acordo. E porque camarão que dorme
a onda leva, os vendedores ambulantes, a aproveitaram a ocasião
para ganhar a vida. Enfim, a paz definitiva chegou e a expectativa de todos, tal como se diz na gíria popular, que dessa vez seja
“divez”.
Que desta vez a
Paz seja “divez”
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF "HPTUP EF t "/0 997* t /o
1335 Diz-se... Diz-se
IMAGEM DA SEMANA
www.savana.co.mz
N
o início do terceiro trimestre deste ano assistiu
-se à aceleração do crescimento da produção
das empresas moçambicanas,
impulsionada pelo aumento mais
acentuado de novas encomendas
desde 2017, refere o Purchasing
Managers Index (PMI) do Standard Bank.
0 1.* BTTJOBMB RVF
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Produção empresarial com
crescimento alto em Julho
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Chegada de Ossufo Momade a Chitengo (Parque Nacional de Gorongosa) para a
ĂƐƐŝŶĂƚƵƌĂĚŽĂĐŽƌĚŽĚĞĐĞƐƐĂĕĆŽĚĂƐŚŽƐƟůŝĚĂĚĞƐŵŝůŝƚĂƌĞƐ
Savana 09-08-2019 EVENTOS 1
0DSXWR GH$JRVWRGH $12;;9,1o 1335
EVENTOS
D
ecorreu, na semana
passada, no Centro de
Reassentamento de
Kura, no distrito de
Nhamatanda, província de Sofala, a primeira acção de Voluntariado Empresarial associada
à campanha “Millennium bim
Solidário”. Desde as primeiras
horas, o projecto daquela instituição bancária juntou várias
pessoas numa abrangente campanha de angariação de fundos
para ajudar no apoio às populações afectadas pelas cheias e
pelo ciclone Idai.
Na ocasião, os colaboradores do
Millennium bim e da Ímpar entregaram bens alimentares, vestuários, entre outros materiais
“Millennium bim Solidário”
chega à Nhamatanda
de primeira necessidade, às 163
famílias de um total de 778 pessoas afectadas.
Estas actividades decorreram
com a supervisão do Conselho
Cristão de Moçambique, Conselho Municipal do Distrito
de Nhamatanda, entre outras
instituições intervenientes no
processo.
Recordar que esta intempérie
atingiu toda a zona centro de
Moçambique, provocando um
número significativo de vítimas
e prejuízos materiais avultados,
e o distrito de Nhamatanda foi
um dos locais mais fustigados
pelas cheias e ciclone, que deixaram para trás um rasto de
destruição.
O
Standard Bank lançou, nesta segunda-
-feira, na Escola
Primária Completa
(EPC) de Guaxene, no distrito
autárquico da KaTembe, em
Maputo, a segunda edição do
projecto “Massificação de Ténis”, que vai abranger três mil
crianças de 12 escolas primárias da província e cidade de
Maputo.
Esta edição, segundo Alfredo
Mucavela, director de Marketing e Comunicação do
Standard Bank, representa o
alargamento da base de descoberta de talentos, bem como a
continuidade do projecto, pois
as seis escolas da primeira edição vão, igualmente, participar
na prova.
“A nossa filosofia de trabalho
não muda. Através da Federação Moçambicana de Ténis,
continuaremos a providenciar
todas as condições logísticas para o sucesso do projecto. Para nós, Standard Bank,
massificação significa tirar o
ténis dos espaços tradicionais,
levando para onde as pessoas
estão. Este movimento é para
ensinar as crianças a praticarem o ténis de forma massiva”,
Standard Bank leva três mil ao ténis
referiu o director de Marketing e
Comunicação.
Por sua vez, Jonas Alberto, vice-
-presidente da Federação Moçambicana de Ténis (FMT), agradeceu
o esforço notável do Standard Bank
ao promover a massificação da modalidade, cujos frutos já se fazem
sentir.
“Cada vez mais atletas têm visitado
o Clube de Ténis de Maputo por
causa da mediatização do Standard
Bank e gostávamos que continuassem a apostar em nós. Estamos
motivados e empenhados para que
o projecto seja um sucesso”, considerou Jonas Alberto.
José Seiuane Júnior, secretário permanente do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano
(MEDH), disse que a iniciativa do
banco é louvável, porque desdramatiza a elitização da modalidade
e incentiva aos alunos da EPC de
Guaxene a praticarem o ténis, porque o Standard Bank já criou todas as condições para o efeito, que
mostra o cometimento e o desiderato na massificação do ténis, nas
escolas.
“O sector de educação louva este
gesto do Standard Bank, porque o
projecto vai incentivar aos alunos
a ter o gosto pelo desporto”,
frisou José Seiuane.
Gizelda Valeriano, aluna beneficiária do projecto, mostrou-se feliz com a iniciativa
do Standard Bank, ao abranger a sua escola, tendo, na
ocasião, apelado aos gestores
do banco, para a necessidade
de envolver mais escolas do
seu distrito autárquico.
Importa referir que, na primeira edição, o projecto de
massificação de ténis abrangeu 6 escolas e 800 alunos,
dos 6 aos 14 anos de idade,
que foram apoiados por professores de educação física e
monitores da FMT, tendo os
melhores alunos sido apurados para participar no Standard Bank Open.
A presente edição do projecto de massificação de ténis
conta com a participação das
escolas EPC 4 de Outubro,
EPC Tunduro, Christian
Academy in Mozambique,
EPC Guaxene, EPC Acordos de Roma, EPC Guava,
EPC Lhanguene Centro,
EPC Lhanguene Piloto,
EPC Minkadjuine, EPC Bagamoyo, Escola Primária
Amilcar Cabral e EPC Wiryamu.
Savana 09-08-2019 EVENTOS
2
ARONE JOAQUIM CHIZIANE
(Faleceu)
O Conselho de Administração e
os trabalhadores da mediacoop
SA. comunicam o falecimento do
sr. Arone Joaquim Chiziane, pai
de Alírio Joel Chiziane, membro
fundador da mediacoop (já
falecido), ocorrido no dia 6/8/2019
no Hospital Provincial de Xai-Xai,
cujo funeral se realiza hoje, sextafeira, dia 9/8/19 às 14 horas,
em Manjacaze (Chibondzane) ,
antecedido de velório às 7:30h
na Igreja Presbiteriana de Betel (
Xai-Xai). Neste momento de dor,
endereçamos à família enlutada as
mais sentidas condolências.
A
Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) anunciou, nesta quarta-feira,
que a procura pelas acções
emitidas no âmbito da oferta pública
de subscrição, lançada pela empresa
Cervejas de Moçambique (CDM),
superou as expectativas, tendo atingido os 124,5 %.
Foram, no total, emitidas 36.762.972
acções, mas a procura ascendeu a
45.771.294 novas acções, revelando,
assim, a apetência dos accionistas em
investir na empresa, com recurso a
instrumentos da bolsa.
O período de subscrição das acções,
que representam, aproximadamente, 30,190 % do actual capital social
da CDM e cuja oferta era dirigida
exclusivamente aos accionistas da
Acções da CDM registam grande procura
empresa, decorreu, entre os dias 22
de Julho e 5 de Agosto, com o valor
nominal unitário de 2,00 MZN (dois
meticais).
Para a BVM, esta oferta pública de
subscrição, que constitui o segundo
aumento de capital social através da
emissão de novas acções efectuado
pela CDM e a segunda maior operação de financiamento no país, vem
reforçar o papel do mercado de capitais na economia moçambicana.
“Muitos cidadãos, incluindo empresários e investidores, não entendem o
papel de uma bolsa de valores numa
economia de mercado florescente, assim como no aprimoramento do clima de negócios e investimentos, no
financiamento às empresas em condições mais vantajosas, na dispersão
do risco de investimento, na diversificação da aplicação das poupanças e
na viabilização de projectos exigentes
em termos de capital”, sublinhou Salim Valá, PCA da BVM.
Na ocasião, o director-geral da Cervejas de Moçambique, Pedro Cruz,
explicou que a empresa recorreu ao
mercado de valores mobiliários para
materializar o projecto de construção da sua quarta fábrica, localizada
na província de Maputo, distrito de
Marracuene, localidade de Matalane.
Para Pedro Cruz, “esta operação simboliza a confiança e a aposta no desenvolvimento do mercado de valores
mobiliários no país, bem como a vontade de partilhar os seus benefícios
económicos com todos que intervêm
na sua cadeia de valor, tais como os
agricultores de milho e mandioca, os
armazenistas e retalhistas, entre outros”.
A decisão, acrescentou o director-geral da CDM, baseou-se na contínua
trajectória de crescimento da empresa, na estabilidade fiscal do país,
assim como no quadro fiscal, que é
propício ao investimento.
Esta operação foi estruturada e liderada pelo Standard Bank, que colocou o seu conhecimento e experiência
ao serviço do mercado de valores mobiliários, em particular, e da economia
nacional, no geral.
Segundo Chuma Nwokocha, administrador delegado do Standard
Bank, mais do que estruturar e liderar
acções deste género, o banco tem desenvolvido acções com vista à promoção da Bolsa de Valores de Moçambique como uma fonte alternativa
de financiamento e de diversificação
de fontes de rendimento para particulares e empresas, respectivamente,
como é o caso do workshop promovido em Maio último.
“Ao longo destes 125 anos de operações em Moçambique, o Standard
Bank já estruturou várias operações
na área de mercado de capitais, tendo
sido pioneiro na estruturação do papel comercial, um outro instrumento
bolsista ainda pouco usado pelas empresas”, disse Chuma Nwokocha.
Importa realçar que a CDM é, actualmente, a empresa com maior peso
na capitalização bolsista, com 23.2 %,
a que detém o título mais negociado
no mercado da bolsa.
O
Centro Cultural Português
em Maputo vai acolher, por
cerca de um mês, a exposição
“World Press Cartoon 2018,
os melhores Cartoons do Ano”.
Inaugurada recentemente, a exibição
conta com um conjunto de 80 cartoons de autores de mais de 30 países dos diferentes continentes que
poderão ser visitados até ao dia 23
de Agosto, numa iniciativa que conta
com o apoio do Millennium bim.
As publicações foram seleccionadas
por um júri internacional que escolhe
os melhores cartoons entre centenas
de obras apresentadas a concurso no
World Press Cartoon, os desenhos
compõem um olhar sarcástico e humorado do mundo, debruçando-se
sobre temas e protagonistas da actualidade.
O cartoon “Liberdade de Expressão”,
da autora italiana Marilena Nardi, que
em 2018 foi distinguido com o Grand
Prix, primeiro prémio na categoria
Cartoon Editorial, vai integrar esta
exposição em Moçambique. Nardi
foi a primeira mulher a receber um
Grand Prix do World Press Cartoon.
João Pignatelli, Director do Centro
Cultural Português, que acolhe esta
edição do World Press Cartoon refere “estamos muitos satisfeitos por
ter conseguido trazer esta importante
Maputo acolhe World
Press Cartoon
exposição a Moçambique, que tanto
sucesso tem feito em outros países” e
acrescenta sobre esta iniciativa “nesta
mostra que aqui acolhemos estarão
representadas caricaturas, cartoons e
desenhos que fizeram parte da história
de um ano, são olhares de diferentes
culturas em que os cartoonistas retrataram com humor a realidade do dia-
-a-dia do Mundo”.
De acordo com Rui Fonseca, PCA
do Millennium bim, “a arte não tem
fronteira, a cultura não tem fronteiras
e por isso é um privilégio ter o mundo
inteiro exposto aqui. É um privilégio
do Millennium bim poder apoiar o
World Press Cartoon e ter abraçado
esta iniciativa”.
Rui Paulo da Cruz, Director e responsável pela comunicação e relações internacionais do World Press Cartoon,
considera que “é uma oportunidade
para observar em detalhe obras de
elevada qualidade gráfica, através das
quais autores de diversas culturas observam e criticam os temas e os protagonistas da actualidade, com caricaturas para todos os gostos”.
A exposição “World Press Cartoon
2018. Os Melhores Cartoons do
Ano”, que conta também com o apoio
do Meliã Maputo Sky, ficará patente
até dia 23 de Agosto, de segunda a
sexta-feira, entre as 11h00 e as 18h00,
e terá entrada livre.
Savana 09-08-2019 EVENTOS 3
E
streia hoje, sexta-feira, o espectáculo de teatro “Incêndios” às 19 horas, no Centro
cultural Franco Moçambicano, em Maputo. Há mais de um
mês que, em regime de residência
artística, decorreu a criação da versão moçambicana de um dos mais
fascinantes e perturbadores textos
do teatro contemporâneo. “Incêndios” é um texto de Wajdi Mouawad,
autor canadiano de origem libanesa,
encenado por Victor de Oliveira, um
filho que regressa à casa e marca o seu
regresso com a criação de um espectáculo com artistas do seu país.
E para tornar este acontecimento
ainda mais marcante, o actor e encenador, Victor de Oliveira que deixou
o país aos 10 anos de idade, para ir viver para Portugal, onde passou parte
da sua juventude e há mais de 20 anos
radicou-se em Paris, na França, junta
nesta grande produção três gerações
de actores moçambicanos. Nela revisitamos o passado, e pensamos o
presente, mais confiantes do futuro.
O elenco deste espectáculo é composto por alguns dos grandes nomes
do teatro nacional, uns já consagrados
e outros a caminho da consagração.
O destaque vai para a participação
de Ana Magaia e Alberto Magassela,
este último radicado em Portugal há
mais de vinte anos.
“Incêndios” já foi adaptado para o
cinema em 2010, com a direcção do
realizador canadiano Denis Villeneu-
“Incêndios” de Wajdi Mouawad no Franco
Por Venâncio Calisto
Mauro Vombe
civil moçambicana”.
Encenação de “Incêndios”
O texto está cheio de momentos aterradores
e chocantes, em que se retrata o extremo da
maldade humana, as feridas indeléveis causadas pela guerra e pela miséria, numa linguagem cuidada e poética, como um quadro que
vive da beleza e da dor. E para sublinhar a
profundidade dramática que Wajdi Mouawad
imprime no texto, Victor de Oliveira opta por
uma encenação centrada no jogo dos actores,
onde a palavra e o gesto têm uma força tal, ao
ponto de arrebatar o espectador, pintar na sua
cabeça cada imagem evocada pelo texto e fazê-
-lo sentir cada emoção vivida pelas personagens. Para tal o encenador nos apresenta uma
caixa preta, um espaço vazio preenchido apenas pela presença dos actores e por imagens e
sons a serem projectadas durante a actuação.
O regresso à casa
Victor de Oliveira conta que este espectáculo “é uma maneira de regressar à casa, de ver
como as coisas que aprendi, a minha experiência na europa, podem dialogar com as experiencias dos incríveis artistas moçambicanos,
com que trabalho neste espectáculo.” Ao fazer este espectáculo, Victor de Oliveira busca
também se reconciliar com a sua infância, pois
aos 10 anos teve de deixar a sua terra natal e
ir ao exílio com a família. A propósito disso
comenta “todos os dias quando estou na rua e
vejo as crianças que têm a idade que eu tinha
quando parti, 8 ou 10 anos, eu vejo neles o que
eu era, a criança que eu fui. E tento imaginar
como teria sido se os meus pais não tivessem
partido, se eu tivesse ficado cá!? O engraçado é
que isso só me ocorre quando vejo as crianças,
porque foi nessa idade em que se deu o choque, em que se deu o exílio.”
E a história do encenador dialoga, de certa
forma com o enredo de “Incêndios”,
pois segundo nos conta “uma mãe
parte do país em que ela nasceu. Depois da guerra vai-se embora para um
outro país, com os seus dois filhos.
Depois da morte da mãe, todo esse
caminho que os dois filhos têm de fazer ao voltar para o país da sua mãe,
para tentar descobrir qual é a história
deles, qual é a história da mãe, tem a
ver, também, com a minha história, a
de voltar cá e tentar, através da minha
arte, do teatro, ver como eu me sinto,
na relação com as pessoas que têm
a minha idade, com as que trabalho
e que são meus amigos, como é que
ligo tudo isso e me sinto mais em casa
e menos estrangeiro.”
Perfil
Victor de Oliveira nasceu em Moçambique em 1971. Formou-se em
Lisboa no Curso de actores do Instituto Francês e mais tarde em Paris
no Conservatoire National Supérieur
d’Arte Dramatique. Vive em Paris
desde 1994. Tem trabalhado como
actor, sobretudo em França, com alguns dos encenadores mais conceituados tal como Wajdi Mouawad ou
Stanislas Nordey, mas também em
Portugal, Suíça, Bélgica, Inglaterra e
Luxemburgo. “incêndios” é sua quarta encenação. Em paralelo desenvolve um trabalho de formação junto
de jovens actores. Intervém frequentemente na École Supérieur d’Art
Dramatique de Paris e é professor de
teatro no Institut d’Etudes Théatrales
da Universidade Sorbone-Nouvelle,
Paris 3.
ve, tendo sido indicado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro,
entre vários outros prémios. Encenado em quase todos continentes, é
uma história sobre os horrores da guerra e do milagre do amor. Um
autêntico retrato do mundo em que vivemos e da humanidade que
somos. Para Victor de Oliveira a escolha desse texto deve-se ao facto
de poder “adaptar-se à realidade moçambicana, a história da guerra
Savana 09-08-2019 EVENTOS
4
P
aulo Zucula, sob a faceta
Butsu Makhanda, estreia-
-se em livro. Intitulada “O
Ministro e o Mukhulhwani”, a obra - chancelada pela
Alcance editores – é uma autobiografia e está disponível nas livrarias, em Moçambique e Portugal,
desde 01 de Agosto.
O livro versa sobre os paralelismos e os conflitos de identidade,
sociais, culturais e políticos que
tem marcado a vida do autor, mas
também da sociedade moçambiO outro lado de Paulo Zucula revelado em livro
Por Venâncio Calisto
e termina com Paulo Zucula; por
outro lado, não queria inventar coisas que moram no imaginário para
ilustrar o difícil caminho de harmonização de identidades. A escolha foi deixar Butsu Makhanda
narrar, expor e questionar os conflitos entre ele e o Paulo Zucula. Butsu Makhanda aparece no mundo
da pastorícia e dos Mukhulhwanis,
percorrendo uma vida que, nalgum
momento, desemboca no mundo
político dos ministros. Neste percurso, os conflitos vão-se manifestando e influenciando quer Butsu
partilha as suas vivências e sua visão do mundo. Desejando que os
que lerem o livro, “não se envolvam
nas confusões e desorientação dos
dois. Cada um que procure abrir
a sua alma, espírito e inteligência
para ver o mundo dos seus próprios conflitos, que em muito podem não ser similares aos de Butsu
e do Paulo. Muitos de nós temos
conflitos adormecidos. Melhor
acordá-los.”
cana. Conta-nos como um pastor
de gado chegou à membro de governo, sem que isso tivesse existido
nos seus sonhos de menino.
Para que não haja dúvidas sobre
o nome desta nova voz das letras
moçambicanas, o autor explica que
Butsu Makhanda não é pseudónimo. “É o nome verdadeiro que
a tradição de família, através dos
espíritos, me deu logo após o meu
nascimento, antes do registo oficial
da minha existência. Nas minhas
origens, e penso que nas origens
de muitos moçambicanos, o registo da existência de um ser humano
acontece primeiro na família.”
Paulo Zucula, antigo ministro dos
Transportes e Comunicações na
administração Guebuza, assina
nesta obra com o seu nome tradicional como forma de reivindicar
a sua identidade e, de certa forma,
recusar as imposições da aculturação ocidental.
E sobre o livro, através do comunicado de imprensa enviado pela
Alcance editores, conta-nos: “a
existência desta publicação ‘O Ministro e Mukhulhwani’ nasceu dessa busca de harmonia entre uma e
outra identidade. Na criação desta
publicação houve muitos desafios
e muitos problemas. Por um lado,
não queria fazer uma autobiografia
que nasce com Butsu Makhanda
Makhanda, quer Paulo Zucula. Os
conflitos dos valores democráticos
de Paulo Zucula e os processos de
autoridade e tomada de decisão na
família tradicional. Os conflitos
entre os valores e a respeitabilidade
dos madodas e a credibilidade ou
descredito dos deputados. Os conflitos entre os valores e a autoridade dos anciões e a relação entre o
velho e o novo, o local e o importado. Os conflitos entre o valor material da vida e o seu valor moral e
espiritual. Os conflitos entre preço
e valor. Como viver num sistema
de democracia moderna que não
toma em conta a proto-democracia da família, família alargada e
aldeia? Como olhar para o tal de
desenvolvimento onde a maioria
das pessoas confia mais na família do que nas regras de economia
de mercado? Como fazer planos
de médio e longo termo, onde a
maioria das pessoas está preocupada com a próxima refeição, porque
não sabe quando será? Como estabelecer uma sociedade que canta
a glória de competição numa sociedade que advoga e moraliza a
solidariedade?”, são estas questões,
estes dilemas, que animam a obra.
Revestido de modéstia Butsu
Makhanda ou Paulo Zucula antecipa que não se trata duma obra
de um escritor, mas de alguém que
Paulo Zucula
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