Mais a sério ainda
A Assembleia da República recebeu orientações para aprovar uma lei que formaliza o acordo. Não sei se sou o único que acha isto estranho, talvez por não ser das leis. Não devia ter sido ao contrário? Discutir a lei e depois firmar o acordo? Que tal se a Assembleia for mal disposta à sessão de aprovação e chumbar o acordo? Adeus paz definitiva?
A versão que me chegou às mãos está cheia de gralhas. Numa das passagens fala-se de “chefe do Chefe do Estado Maior”... para além de vírgulas fora do lugar. Estão a ser sérios? O Ministério das finanças assinou um parecer no dia 9 de Agosto, portanto, após a assinatura do acordo, que proclama não haver encargos adicionais já que não serão recrutadas pessoas para o aparelho do Estado.
Bom, para além disto não ser verdade (os quadros da Renamo que ingressam nos órgãos de defesa já estavam lá?), há um problema lógico: se o Ministério tivesse constatado encargos adicionais, chumbava-se o acordo?
Há quem ache que estas interpelações sejam de quem não quer a paz. Mas não é isso. Uma paz séria alcança-se com um processo inclusivo de deliberação. A paz diz respeito a todos. O processo tem a ganhar quando estas questões são objecto de debate público. Não significa que o governo deva aceitar tudo o que a gente diz. Mas pode ser que as nossas reticências obriguem o governo, e a Renamo, a considerarem coisas que não tinham considerado. É normal, eles não podem saber tudo. O acordo ganha maior legitimidade com essa inclusão.
Vai ser difícil fazer com que o País dê certo enquanto houver tanto desprezo pela opinião da sociedade e enquanto as instituições democráticas forem usadas como veias de transmissão da vontade do soberano que se diz empregado do povo, mas não dá importância à opinião do seu patrão. É claro que vou torcer para que dê certo, mas aquele que confia apenas na fé juntou-se à esta Frelimo e à Renamo na hostilidade ao País.
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