As estatísticas ocultas
Depois da explicação da CNE e de outros "entendidos" na fiabilidade das estatísticas do STAE parece-me que uma coisa ainda ficou por explicar: como foi feita a projecção dos eleitores a recensear? Uma coisa é atingir 100% de uma meta previamente definida, outra é como estimamos essa meta.
Este é um problema normal de assimetria de informação quando lidamos com o desempenho: aquele que sabe o que pode alcançar pode criar uma meta facilmente alcançável. Por exemplo, se um pedreiro faz um contrato com um "boiss" para fazer duzentos blocos por dia e se ultrapassar esse número terá um prémio (um pagamento extra), ele pode fixar uma meta diária fácil de alcançar e assim receber o prémio pelo desempenho excepcional. Sei que é trivial explicar isto porque os argumentos esgrimidos para dizer que os dados do STAE são fiáveis enfermam da mais básica lógica, o que me sugere que não são inocentes e nem feitos por pessoas que não entendem ou vêem as inconsistências existentes. O problema não está no alcance das metas e na suposta superioridade do método de recenseamento do STAE em relação ao do INE, o de "ir ter" com os recenseadores, como alguém disse. Isso é pura falácia, a questão está no método de definição das metas de recenseamento.
Este é um problema normal de assimetria de informação quando lidamos com o desempenho: aquele que sabe o que pode alcançar pode criar uma meta facilmente alcançável. Por exemplo, se um pedreiro faz um contrato com um "boiss" para fazer duzentos blocos por dia e se ultrapassar esse número terá um prémio (um pagamento extra), ele pode fixar uma meta diária fácil de alcançar e assim receber o prémio pelo desempenho excepcional. Sei que é trivial explicar isto porque os argumentos esgrimidos para dizer que os dados do STAE são fiáveis enfermam da mais básica lógica, o que me sugere que não são inocentes e nem feitos por pessoas que não entendem ou vêem as inconsistências existentes. O problema não está no alcance das metas e na suposta superioridade do método de recenseamento do STAE em relação ao do INE, o de "ir ter" com os recenseadores, como alguém disse. Isso é pura falácia, a questão está no método de definição das metas de recenseamento.
O que quero dizer com isto é que, à semelhança das explicações anteriores sobre o tema, diga-se de passagem, apriorísticas, as explicações apresentadas até aqui não convencem. Que referências o STAE tem para fazer projecções das pessoas a recensear? O STAE agora pode funcionar à margem do sistema estatístico nacional e realizar projecções que deviam ser na base do censo populacional e que são questionadas pelo órgão director do sistema, o INE? O porta-voz da CNE alega que o recenseamento foi feito dentro da lei, mas isso inclui a legislação sobre as estatísticas nacionais que define competências claras sobre a realização de pesquisas estatísticas e censos e obriga ao seu registo/comunicação junto ao INE. Como então este não se reconhece nos dados populacionais usados pelo STAE e este argumenta que assim mesmo está certo? Com que base? Aqui ainda falo da fonte dos dados populacionais para as projecções, que ainda permanece obscura.
Depois das dívidas ocultas, parece-me que estamos a caminhar para as estatísticas ocultas. Assim como aquelas contribuíram para enfraquecer o Estado, as últimas serão mais uma estocada na nossa já frágil democracia. Mais ainda, torna-se espantoso que o Conselho Constitucional não se liberte do seu processualismo e veja o que é óbvio materialmente: que o direito constitucional de sufrágio universal, que implica na existência do direito de um voto de peso igual para toda(o) cidadã(o) está claramente em perigo, porque há províncias cujos cidadãos terão um voto com peso maior ou menor que o dos seus supostos concidadãos.
Se no passado se dizia que estamos sempre a subir, não há dúvidas de que nos últimos tempos, politicamente, estamos sempre a descer.
Se no passado se dizia que estamos sempre a subir, não há dúvidas de que nos últimos tempos, politicamente, estamos sempre a descer.
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