sábado, 20 de julho de 2019

As estatísticas ocultas

As estatísticas ocultas
Depois da explicação da CNE e de outros "entendidos" na fiabilidade das estatísticas do STAE parece-me que uma coisa ainda ficou por explicar: como foi feita a projecção dos eleitores a recensear? Uma coisa é atingir 100% de uma meta previamente definida, outra é como estimamos essa meta.
Este é um problema normal de assimetria de informação quando lidamos com o desempenho: aquele que sabe o que pode alcançar pode criar uma meta facilmente alcançável. Por exemplo, se um pedreiro faz um contrato com um "boiss" para fazer duzentos blocos por dia e se ultrapassar esse número terá um prémio (um pagamento extra), ele pode fixar uma meta diária fácil de alcançar e assim receber o prémio pelo desempenho excepcional. Sei que é trivial explicar isto porque os argumentos esgrimidos para dizer que os dados do STAE são fiáveis enfermam da mais básica lógica, o que me sugere que não são inocentes e nem feitos por pessoas que não entendem ou vêem as inconsistências existentes. O problema não está no alcance das metas e na suposta superioridade do método de recenseamento do STAE em relação ao do INE, o de "ir ter" com os recenseadores, como alguém disse. Isso é pura falácia, a questão está no método de definição das metas de recenseamento.
O que quero dizer com isto é que, à semelhança das explicações anteriores sobre o tema, diga-se de passagem, apriorísticas, as explicações apresentadas até aqui não convencem. Que referências o STAE tem para fazer projecções das pessoas a recensear? O STAE agora pode funcionar à margem do sistema estatístico nacional e realizar projecções que deviam ser na base do censo populacional e que são questionadas pelo órgão director do sistema, o INE? O porta-voz da CNE alega que o recenseamento foi feito dentro da lei, mas isso inclui a legislação sobre as estatísticas nacionais que define competências claras sobre a realização de pesquisas estatísticas e censos e obriga ao seu registo/comunicação junto ao INE. Como então este não se reconhece nos dados populacionais usados pelo STAE e este argumenta que assim mesmo está certo? Com que base? Aqui ainda falo da fonte dos dados populacionais para as projecções, que ainda permanece obscura.
Depois das dívidas ocultas, parece-me que estamos a caminhar para as estatísticas ocultas. Assim como aquelas contribuíram para enfraquecer o Estado, as últimas serão mais uma estocada na nossa já frágil democracia. Mais ainda, torna-se espantoso que o Conselho Constitucional não se liberte do seu processualismo e veja o que é óbvio materialmente: que o direito constitucional de sufrágio universal, que implica na existência do direito de um voto de peso igual para toda(o) cidadã(o) está claramente em perigo, porque há províncias cujos cidadãos terão um voto com peso maior ou menor que o dos seus supostos concidadãos.
Se no passado se dizia que estamos sempre a subir, não há dúvidas de que nos últimos tempos, politicamente, estamos sempre a descer.
Comentários
  • Luis Nhachote De ocultas e ocultas temo que as eleições também tenham resultados ocultos. Tipo com 32 milhões de votantes ....dizem me que o Carlos Cardoso costumava dizer que " aqui só falta chover de baixo para cima..."
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    • Pita Jasse Junior Luís Nhachote, o Carlos Cardoso era um homem inteligente. Quero acreditar que um dia iremos assistir isso de "chover de baixo para cima".
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  • Chibanga Victor Este pais está preste a passar das dividas ocultas para os resultados eleitorais ocultos.
  • Alexandre Shandytsinine Em progressiva e agressiva queda.
  • Beltamiro Patrício Eis as evidências que a CNE/STAE não querem ver
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    • Chibanga Victor isso 'e uma autentica burla, golpe ao processo democrático.
    • Aires Cafre Era disto que queria fazer menção. Professor Macuane, não precisava esgrimir tantos argumentos para o efeito. O Sr. Cuinica perdeu oportunidade de ficar calado. As provas estão à vista de todos.
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    • Chibanga Victor Pessoas que nao tinham idade para resenciar tiveram que alterar a data de nascimento para poder votar. isso 'e crime, a pessoa que fez esse documento devia ser instalado um processo crime.
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    • Beltamiro Patrício E andam aí pessoas a dizer que o recenseamento é biométrico e não há como falsificar. Só que esquecem que os dados são inseridos por alguém. Não percebo como é que esses árbitros insistem em querer jogar
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  • Jorge Carlos Jorge Dividas ocultas para estatísticas ocultas. O país se encontra numa incerteza total. Depois das eleições sera pior
  • Carlos Carvalho A credibilidade bateu no fundo.
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  • Mophrime Tolstoy Algumas inquietações em torno do "Ciclone Gaza":
    §1°: Que implicações a desestatística traz para Democracia em Moçambique?
    §2°: Por que é que Gaza tem sido palco de inconveniências em períodos eleitorais?

    §3°: Qual é o significado de Gaza para história política da Pérola do Índico?
    §4°: o que se espera de Gaza daqui a alguns anos?
    §5°: entre Deus e Diabo quem é que governa Gaza?

    Ps.: Reffiler Boy falava de Gaza e não de Moçambique, nas suas músicas com duração de cerca 10 horas de tempo, cada uma e, agora, já é político...
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  • Benício Da Cruz Baulo Com esta cruzada toda para descredibilizar uma instituição como INE, como será doravante feita a planificação para o desenvolvimento do país? Os manifestos de alguns Partidos Políticos como serão elaborados tendo em conta que os dados do INE não são fiáveis? São varias questões que poderiam ser colocada.
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    • Pita Jasse Junior Meu irmão, eu já coloquei essas questões e pedi para qualquer um pudesse me esclarecer, mas até então parece que ninguém consegue encontrar respostas.
    • Mario Albano Pergunta que não quer calar... Como?
  • Onoria Monjane Triste. Mas é essa democracia que queremos?
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  • Decas Drizzy Sumbane É muito Complicado.
  • Manuel Alves A nitidez dos dados de Gazaé tal que até forçou o Mazanga a pôr óculos escuros para resistir tamanho brilho e de seguida distanciar se...
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  • Paciente Da-Zona CNE e STAE quer ver a segunda guera AK em Moz
  • Buene Boaventura Paulo Nas restantes Províncias o STAE trabalhou com base nas projeções de INE, menos em Gaza, aonde a priori foi lá com uma meta baseada em NADA, mas seguro em atingi-la, caro José Jaime Macuane
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  • Maia Anussa Cassimo Abasse Gostei da terminologia designada " estatísticas ocultas"... Kakakakakak
  • Sergio Chisseve Esta mais que claro que o sistema esta totalmente adulterado.
  • Harildo Tivass Tivass Jorge Fernando Jairoce , parece que há respostas daquele assunto neste texto do José Jaime Macuane
  • Edson Mavie Está aí
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