quinta-feira, 25 de julho de 2019

A nova era é nossa, não do Bolsonaro

A nova era é nossa, não do Bolsonaro
"Nossas leitoras não querem saber disso." Essa foi a mensagem que, em 2015, uma ex-repórter de revistas femininas contou receber de seus editores sempre que sugeria uma pauta sobre assédio, violência doméstica ou qualquer coisa que fugisse de dicas de sexo, moda ou beleza. A mensagem é direta: os problemas das mulheres não interessam a ninguém – nem mesmo às próprias mulheres.

Quando me tornei repórter do Intercept Brasil, confirmei algo que já sabia: esses editores são estúpidos. Desde que cheguei aqui, meu foco tem sido as questões que atingem as mulheres e, acreditem, isso interessa demais aos leitores. O que o TIB me mostrou é que é possível fazer jornalismo com liberdade para pautar temas femininos com convicção, sem me omitir ou usar meias palavras.

Em pouco menos de um ano, escrevi sobre diversas formas de violência a que estamos sujeitas, a (falta de) autonomia sobre nossos corpos e a busca por libertação em uma sociedade tão machista quanto a que vivemos. Recentemente fiz um levantamento exclusivo e inédito sobre casos de estupro e abusos em hospitais. Em apenas dez estados brasileiros foi possível mapear mais de 3 mil casos.

Escrevo aqui do jeito que eu quero, usando a linguagem que eu quero. E, olha só, todos os textos foram muito lidos. Porque o tema é relevante e existem poucos lugares que estão dispostos a cobri-lo.

Por isso, estamos pedindo que nossos leitores façam parte do TIB e garantam que esse tipo de cobertura continue existindo e se fortalecendo.
FAÇA PARTE DO TIB →

Aqui não só fui sempre incentivada a correr atrás das pautas feministas que tanto me interessam, como a apontar questões problemáticas em premissas, títulos ou textos de colegas e a expressar qualquer discordância, mesmo publicamente. Foi o que fiz em meu texto sobre feminismo de mercado, uma resposta ao artigo sobre feminejo das colegas Amanda Audi e Nayara Felizardo. Aqui a treta é livre!
Combatividade e sensibilidade são duas máximas que guiam nossa redação e todo meu processo de apuração. Outra premissa é procurar usar dados sempre que possível para mostrar a dimensão do problema em questão. Os números guiaram minha reportagem sobre o aumento misterioso das laqueaduras de urgência no SUS e foram o ponto de partida para investigarmos os estupros em transportes por aplicativo.

Mas não é o amplo espaço que tenho no Intercept para desbravar os problemas das mulheres que mostra que os editores daquela ex-repórter estavam enganados. É o fato de que leitoras e leitores querem sim conhecer essas realidades. Minha reportagem sobre médicos que cortam e costuram vaginas no parto para deixar as mulheres "apertadinhas" para seus maridos foi um tremendo sucesso. O que a princípio parecia uma reportagem de nicho se tornou um dos textos mais lidos da história do Intercept Brasil e abriu a porta para que dezenas de mulheres compartilhem suas histórias de violência obstétrica nas redes sociais sempre que o texto vem à tona. É para isso que fazemos jornalismo.

Essa história das mutilações após o parto é um bom exemplo de como somos estimulados a fazer um jornalismo convicto e apaixonado no TIB. As mulheres sobre quem escrevo são seres completos, donas de suas histórias, e são apresentadas dessa forma. Meus editores não me cobram pressionar nenhuma delas se percebo que não estão prontas para falar. Nós sabemos que, para algumas mulheres, dar seu relato é um ato de libertação, para outras, é uma revitimização. E uma reportagem que pretende defender as causas das mulheres nunca deve contribuir para o sofrimento das sobreviventes.

Poder escrever e discutir temas tão caros às mulheres cercada por profissionais que entendem de verdade sua importância e com tempo para mergulhar em cada assunto é um privilégio. Em muitas redações Brasil afora, a realidade é bem diferente disso. E eu tenho ciência de que o Intercept só consegue fazer assim porque foi criado para funcionar de maneira absolutamente independente. O nosso compromisso aqui é direto com nosso leitores, sem intermediários, sem filtros e sem medo.
Se você acredita nesses valores, por favor, junte-se a nós e faça parte do Intercept. Nossa missão e independência dependem de você.

Bruna de Lara
Repórter

Licença para estuprar

Bruna de Lara
Três mil estupros em serviços de saúde: nem em centros cirúrgicos e UTIs mulheres estão a salvo.

Ponto do marido
'Deixei virgenzinha pra você'

Bruna de Lara
Médicos cortam e costuram vaginas no parto e estragam a vida sexual das mulheres – uma mutilação genital, segundo especialistas

Descobrimos 46 registros de estupros em Uber, táxis e 99 – e números denunciados à polícia podem ser bem maiores

Bruna de Lara
Pedimos dados aos 27 estados, mas apenas seis responderam com informações completas dos últimos dois anos.

Jovens não sabem diferenciar sexo de estupro – e o Escola sem Partido quer impedir que aprendam

Bruna de Lara
Educação sexual é única saída para evitar que jovens só aprendam o que é estupro na pele, mas assunto pode ser proibido nas escolas
Recebeu este e-mail encaminhado por alguém? Assine! É grátis.

Obrigado por nos ler! Que tal nos dizer o que achou?
Siga-nos em nossas redes sociais:

Sem comentários:

Enviar um comentário

MTQ