O político angolano Abel Chivukuvuku disse hoje, em Luanda, que vai criar um novo partido, cujo nome será divulgado até 15 de Agosto, e que já vai concorrer às eleições autárquicas angolanas previstas para 2020.

Abel Chivukuvuku, que foi presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE), segunda força da oposição que o MPLA (ainda) permite que exista (sobretudo porque tem total controlo sobre a sua actual direcção), até Fevereiro deste ano, disse ter-se reunido com cidadãos das províncias de Luanda e Bengo para recolher sugestões e propostas relativamente à sigla, bandeira, princípios, valores, ideologia, órgãos de direcção, normas de funcionamento e de disciplina, tarefas imediatas e fontes de receitas, para a criação da nova organização política.
O novo partido, disse, terá como primeiro desafio a participação nas eleições autárquicas angolanas, as primeiras do país, previstas (tudo depende do que o MPLA quiser) para 2020.
Em declarações à imprensa, Abel Chivukuvuku, que foi apunhalado pelas costas pelos seus colegas de partido e destituído da liderança da CASA-CE por alegada “quebra de confiança”, disse que, desta vez, optou por realizar “um exercício de comparticipação de todos os cidadãos”, o que é, no seu entender, “o indicador de que as modalidades são diferentes”.
“Estamos a fazer de forma diferente, porque a experiência já nos indicou que nem todos os actores têm o mesmo propósito. Temos de construir o mesmo propósito, a mesma vontade, a mesma agenda e assim sermos úteis ao país”, disse Abel Chivukuvuku, que foi substituído na liderança da CASA-CE por André Mendes de Carvalho “Miau”, antigo vice-presidente da coligação e um velho e experiente manobrador formatado pela escola do MPLA.
Segundo Abel Chivukuvuku, o novo projecto político está na fase de concepção, que, “diferentemente do passado”, vai começar com todos os cidadãos que querem fazer parte no processo.
Nesse sentido, o político, que recentemente chegou a estar internado e foi transportado para o exterior do país depois de diagnosticado com malária e insuficiência renal, disse que vai andar “de província em província”, a começar pelo Huambo.
Instado a revelar pelo menos o nome do novo partido, Abel Chivukuvuku referiu que “será conhecido no momento próprio”.
“Todos os cidadãos estão a participar, das províncias, do exterior. É um exercício conjunto que vai permitir que a nova força política represente nas suas características a vontade da maioria dos cidadãos”, reforçou.
Num olhar sobre o país actual, Abel Chivukuvuku defendeu a realização de quatro grandes reformas, com a primeira a passar pela “mudança de mentalidades e da predisposição psico-emocional”, para que os angolanos entendam que são eles que têm de construir Angola.
“Temos de fazer a segunda reforma, que é a constitucional. Enquanto não a fizermos, não haverá reforma do Estado. Temos de fazer a terceira reforma, que é o nosso conceito de serviço público. Hoje não existe serviço público, os governantes estão tecnicamente a olhar para si próprios e não para o país”, avançou.
“E também temos de fazer a reforma sobre qual é a nossa percepção do papel do mundo nas nossas vidas. Enquanto não fizermos essas quatro reformas não poderemos construir um país sólido e, do meu ponto de vista, o partido no poder não está à altura de as fazer”, acrescentou.
De acordo com Abel Chivukuvuku, a nova organização política, que tem como segundo desafio a participação nas eleições gerais de 2022, vai ser criada com recursos próprios, como já fez no passado, com a criação da CASA-CE, em 2012.
“Fizemos isso no passado, financiamos o surgimento da CASA. O mais importante não são os recursos, mas sim a disponibilidade, a vontade e a capacidade de protagonizarmos uma ideia nova, um projecto novo, um conceito novo, para Angola e para os angolanos. Isso é que é mais importante, os recursos surgem sempre”, frisou.

Da CASA de Abel à casa da mãe Joana

A coligação CASA-CE foi formada antes das eleições gerais de 2012, pelos partidos PADDA-AP, PPA, PALMA e PNSA. Entretanto, em Maio de 2017, aderiram o Bloco Democrático e o Partido Democrático para o Progresso e Aliança Nacional de Angola (PDP-ANA), tendo a coligação duplicado, para 16, o número de deputados eleitos à Assembleia Nacional.
“A CASA-CE foi criada durante um mês, nas minhas instalações em Luanda a custo zero. Seis anos volvidos desde então, a CASA-CE ainda não concluiu a devolução do empréstimo. Quem tem dívida é a CASA-CE, e não é pequena coisa. Neste momento todos os materiais de propaganda e publicidade da CASA-CE, estão armazenadas nas minhas instalações e os meios rolantes estacionados nas mesmas. Tudo grátis”, apontou em tempos Abel Chivukuvuku..
Acrescentou que “ao longo dos anos, sempre que a CASA-CE ficou sem recursos”, foi ele próprio a avançar com “empréstimos pontuais”, mas garante que nunca foi gestor da coligação.
“O meu nome não consta de nenhuma conta bancária da CASA-CE. Nunca movimentei dinheiros da CASA-CE. Nunca recebi salário ou subsídio da CASA-CE”, disse ainda.
“É lamentável, que numa organização que representa a esperança de milhares de angolanos, haja colegas ingratos e cuja postura é caracterizada pela mentira a calúnia e a maldade”, criticou ainda.
Pergunte-se aos angolanos com direito de voto se sabem o que são o PPA, PNSA, PADDA-AP, PALMA, BD e PDP-ANA. Residualmente alguns saberão, embora poucos tenham ouvido falar. Todos saberão, contudo, o que é a CASA-CE e mais serão os que sabem quem é Abel Chivukuvuku. Aliás, falar da CASA-CE era falar essencialmente de Abel Chivukuvuku.
Quem são Felé António, Sikonda Lulendo Alexandre, Alexandre Sebastião André, Manuel Fernandes, Justino Pinto de Andrade, Simão Macasso? Ninguém sabe. São, contudo, dirigentes dos tais partidos, ou agremiações pouco mais do que familiares, que reivindicam ser a alma, o coração, o cérebro da CASA-CE. Esquecem-se que, de facto (de jure deram as assinaturas para a constituição formal da Coligação) a CASA-CE era Abel Chivukuvuku e mais meia dúzia de personalidades independentes que, esses sim, são conhecidos em todos os cantos e esquinas do país.
Mais interessados em dinheiro do que em política, mais (ou só) virados para se servirem do que para servirem, preparam a declaração de falência e consequente encerramento da Coligação, fazendo contas ao dinheiro que poderão receber, assumindo-se como accionistas e credores.
Os líderes destes partidos, ou gestores de projectos falidos que enxertaram na CASA-CE, tiveram o desplante de num Memorando assinado por todos, propor:
“- A divisão igual, da verba destinada aos Partidos políticos oriundos da Assembleia Nacional, a ser atribuída directamente pela entidade bancária (BCI).
– A verba originária do OGE, deve ser repartida da seguinte forma: 30% a ser repartida em igual montante pelos Partidos constituintes; 70% para o funcionamento normal da Coligação e para pagamento de dívidas eleitorais e outras contraídas.”
Assumindo o papel de “virgens ofendidas”, mau grado todos sabermos os “bordéis” em que se diplomaram, os líderes destas agremiações familiares, às quais chamam partidos, tiveram o desplante de dizer, por exemplo, “que a presente realidade está longe do espírito que nos moveu a todos, quando decidimos criar e aderir a este grande projecto, fundamentalmente quanto aos princípios, baseados na unidade de acção, na coesão interna, no entrosamento de facto das várias matrizes que corporizam esta força política, no espírito de equipa e de camaradagem.”
E está longe por culpa de quem? De todos, menos deles. Se calhar a culpa é mesmo de Abel Chivukuvuku por ter acreditado e dado oportunidade a quem o viria, como se vê, a apunhalar… pelas costas.
“A má gestão dos resultados eleitorais, abaixo da fasquia objectivada, está a levar-nos a uma realidade bastante confrangedora, uns atiram-se contra os outros, por não verem os seus objectivos pessoais a concretizarem-se conforme o figurino presente da CASA-CE, a forma mecânica com que está a ser abordada a fusão/transformação e as consequências da sua não efectivação, a mensagem desprezível à honra, à consideração e ao bom nome dos Partidos Políticos da CASA-CE, a tendência desagregadora e o desejo de fazer da CASA-CE, viveiro para a proliferação de novos partidos no seu seio; tudo isto remete-nos a uma profunda divisão interna, jamais vista!”, dizem os subscritores do Memorando, certamente ofendidos por os militantes independentes (a grande força motriz da Coligação) se atreverem a chamar incompetentes aos que são… incompetentes.
Acrescentam os chefes de posto ofendidos que, “nesta conformidade e no interesse de buscar soluções positivas para esta realidade que em nada abona o bom nome e os objectivos que nortearam a criação da CASA-CE, os Presidentes dos Partidos Políticos membros, imbuídos de boa fé”, advogam, por exemplo, que “a fusão deve ser entendida como o culminar de um processo de conciliação de ideias políticas, entre as várias matrizes que constituem a CASA-CE, de consolidação de unidade, na efectivação do entrosamento de facto e a todos os níveis, baseados no respeito mútuo, observando o princípio de vantagens recíprocas e sem a subalternização de uns por outros”.
Ou seja, explicam do alto da sua cátedra, “olhando para as circunstâncias presentes, todos os elementos que foram enumerados estão longe de serem concretizados. Assim sendo, a fusão continuará a ser um objectivo a ser concretizado futuramente, sendo certo não ser possível nesse momento ou a curto prazo, a efectivação da mesma”.
E não sendo possível, como dizem, a fusão, avançam com a tese de a Coligação deve manter-se desde que “a Direcção dos Órgãos Centrais, Intermédios, Locais e de Base, obedeça ao princípio da igualdade, sobretudo ao nível dos órgãos executivos (Secretariado Nacional, Secretariados Provinciais e Municipais).”
É claro que estes partidos estão a pôr as garras de fora, querendo dar a entender que são garras de onça mas, afinal, são de gato esquelético e faminto. Fazem-no, contudo, pelo facto de Abel Chivukuvuku ter atirado a toalha a chão, escorraçando os independentes que, como ele, foram o motor da CASA-CE.
Quando, no dia 13 de Janeiro de 2018, o Presidente da CASA-CE discursou na sede do Secretariado Executivo Provincial de Luanda, no Distrito Urbano do Rangel, deu carta-branca aos dirigentes destes partidos para o apunhalarem… pelas costas. Ao dizer, em relação aos designados “independentes”, que estes vão desaparecer e ficarão os partidos que compõe a CASA-CE, Abel Chivukuvuku assinou a capitulação. Não admira, por isso, que os dirigentes desses partidos estejam agora a fazer contas para repartir o espólio.
O que é feito do Abel Chivukuvuku que defendia que a CASA-CE devia pautar a sua actividade por uma clara “participação qualitativa”, ao “serviço do cidadão”, sendo que este “está directamente ligado à qualidade da nossa participação”?
Folha 8 com Lusa
Partilhe este artigo