Nampula (IKWELI) – Mahamudo Amurane, terceiro autarca democraticamente eleito para a cidade de Nampula, sonhava com uma urbe com elevados padrões de civilização, onde os seus moradores tivessem uma qualidade de vida elevada e urbana.
Dentre vários projectos de que se lhe conhecem, Amurane sonhava até com mercados modernos e de alta qualidade, onde nenhum serviço falta-se.
Das várias experiências que o malogrado autarca, assassinado no princípio da noite do dia 4 de Outubro de 2017, viveu fez com que concebesse projectos de grande gabarito para um espaço que se chame cidade.
No populoso bairro de Namicopo, Mahamudo Amurane projectou a construção do chamado “Shoping do Povo”, o qual, quiseram os seus algozes, a morte macabra tirou-lhe a oportunidade de vê-lo pronto.
Foi Américo da Costa Iemele, segundo autarca interino, que teve o prazer de inaugurar o espaço.
Com o assassinato de Amurane, Manuel Tocova, primeiro presidente interino da autarquia, decidiu deitar abaixo os esforços e acções desenvolvidas durante o reinado mais brilhante de um autarca na mais importante cidade do norte de Moçambique. O topo da história foi o regresso, por chamamento do Tocova, dos vendedores de rua.
Depois de uma vacatura, e consequente realização de eleição intercalar, Nampula elegeu o seu quarto edil, Paulo Vahanle.
Vahanle voltou a ser reeleito na eleição autárquica regular de Outubro de 2018. Os desafios e dificuldades encontrados na autarquia eram enormes, mas as promessas eleitorais era pôr cobro a todas elas.
Nas duas últimas semanas Vahanle anunciou que os vendedores de rua deviam sair dos passeios e avenidas da cidade que dirige. A medida foi acatada nos locais onde o autarca foi pessoalmente.
A avenida do Trabalho passou a ter uma nova vista. Vendedores de legumes, peixe, frutas e outros mantimentos abandonaram, voluntariamente, os passeios e dirigiram-se, na sua maioria, para o Shoping do Povo, onde neste momento desenvolvem as suas actividades.
A reportagem do Ikweli visitou a majestosa infra-estrutura onde funciona o Shoping do Povo, na manha desta terça-feira (18), e notou que amiúde os vendedores estão aceitando o lugar, caso para dizer que Mahamudo sorri do alto dos céus por ver um dos seus maiores projectos e desejos aceite pelos munícipes.
Vendedores entre a satisfação e a revolta
Os vendedores que, voluntariamente, aceitaram ir ocupar os espaços existentes no Shoping do Povo estão felizes com a qualidade dos serviços no local, incluindo as infra-estruturas de apoio, mas estão revoltados pelo facto de outros comerciantes não estarem de acordo em ocupar o centro comercial, e assim fazerem com que os clientes parem nas zonas próximas a cidade cimento.
A lamentação dos vendedores é no sentido de os gestores do concelho autárquico obrigarem os que não estão se predispondo a ir para o Shoping de Povo e garantir justiça e acesso aos clientes por parte de todos os comerciantes.
“Eu vendia na padaria Nampula. Mudei-me para aqui na semana passada. Aqui é muito melhor, porque esse mercado é grande em relação na padaria. Ali tínhamos medo de carros e ladrões. Como é na estrada há muitos ladroes”, disse Mariamo José, vendeira de legumes.
Eusébio Costa vende diversos bens no Shoping do Povo e reclama a falta de clientes. “Eu estava a vender no mercado da CETA, então mudei dali para aqui, mas não estou a ver nada aqui. Há uma semana que comecei a vender aqui, nem meu dinheiro não sai. Assim que estás a ver, comprei essas coisas aqui há uma semana, nem meu dinheiro não saiu”, reivindica Costa, para depois pedir a “todos os vendedores para virem aqui, porque se formos unidos e organizados todos vamos ganhar”.
“Se no posto [referindo-se aos vendedores localizados próximo ao posto administrativo urbano de Namicopo] mudarem nós vamos ter movimento”, disse Natália António, que afirma que “todos clientes costumam a estar no posto, então virem aqui mesmo no Shoping do Povo, mesmo os da Padaria Nampula virem. Aqui, também, é mercado, só que está no bairro. Vamos vender aqui e estou aqui desde a semana passada”.
“Eu vendia no posto e hoje estou a completar 15 dias desde que me mudei para este mercado bonito”, disse Amido Mussa, outro vendedor que, voluntariamente, decidiu mudar-se para aquele mercado.
No entender desta fonte, “a diferença é aqui parece mais seguro. Nós acatamos a recomendação do presidente Vahanle, mas o movimento não está a ajudar-nos”.
“Estamos a ser felizes”
O vereador do pelouro da Promoção Económica, Mercados e Feiras, Osvaldo Ossufo Momade, confirmou ao Ikweli que dos locais onde o seu presidente passou o resultado é positivo.
“Nas zonas onde passamos acredito que fomos 100% felizes e eficazes. As zonas onde interviemos eram mesmo urgentes, como é o caso de todo passeio das residências até na entrada dos CFM”, disse o vereador.
Osvaldo Momade reconhece que as reivindicações dos vendedores são honestas e fazem todo o sentido, mas a esperança é o regresso do autarca de Nampula para que o Shoping do Povo funcione devidamente.
A fonte fala de outros mercados que devem ser melhorados para que os comerciantes sejam retirados, por definitivo, das ruas e passeios da cidade. (Aunício da Silva)
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