Bernardino Rafael, Comandante-Geral da Polícia, tem nova versão para os ataques armados em alguns distritos de Cabo Delgado. Um revês à conclusão de um internauta que coloca Armando Guebuza potencial financiador dos promotores do pânico na província.
Com recurso à rede social facebook, o referido internauta insinua que o antigo presidente financia os grupos armados que andam a aterrorizar as populações da província desde outubro de 2016. Esta versão é contrária à oficialmente contada semana passada pelo comandante-geral da Polícia, Bernardino Rafael, segundo a qual, os traficantes de pedras preciosas são os potenciais financiadores da actividade criminosa em Cabo Delgado.
Rafael recua no tempo, abril de 2016, altura que dezenas de garimpeiros ilegais foram expulsos das minas de rubi, em Montepuez, pela clandestinidade da actividade. As pedras preciosas que saíam destas minas, eram posteriormente transferidas clandestinamente para a costa e entregues aos chefes do cartel, que depois se perdiam no alto mar.
O comandante-geral da Polícia sustenta ainda que depois de serem escorraçados das minas de Montepuez, o garimpo ilegal deixou de existir e, automaticamente, negócio do tráfico em queda abrupta. Isso irritou os chefes do tráfico que decidiram investir em acções de retaliação, os ex-garimpeiros, para fazerem frente às autoridades moçambicanas. Por essas alturas – intervalo entre o término do garimpo ilegal em Montepuez e início dos ataques armados – circulou nas redes sociais, vídeo onde agentes da polícia humilham os garimpeiros ilegais que haviam invadido as minas da empresa de Rubi de Montepuez. Esta acção terá enfurecido ainda mais os garimpeiros que de ânimo leve terão aceite o desafio imposto de retaliação.
O resto é sabido. Na ressaca do Dia da Paz, pela madrugada, um grupo de indivíduos armados de catanas e de outros objectos contundentes, tomou de assalto a esqudra da vila municipal de Mocímboa da Praia, se apoderando de armas, seguidamente assumindo o controlo de toda a vila. Desde então, estávamos em outubro de 2016, nunca mais houve sossego em, pelo menos, quatro distritos de Cabo Delgado – Mocímboa da Praia, Palma, Nangade e Macomia – até aos nossos dias.
Rafael recua no tempo, abril de 2016, altura que dezenas de garimpeiros ilegais foram expulsos das minas de rubi, em Montepuez, pela clandestinidade da actividade. As pedras preciosas que saíam destas minas, eram posteriormente transferidas clandestinamente para a costa e entregues aos chefes do cartel, que depois se perdiam no alto mar.
O comandante-geral da Polícia sustenta ainda que depois de serem escorraçados das minas de Montepuez, o garimpo ilegal deixou de existir e, automaticamente, negócio do tráfico em queda abrupta. Isso irritou os chefes do tráfico que decidiram investir em acções de retaliação, os ex-garimpeiros, para fazerem frente às autoridades moçambicanas. Por essas alturas – intervalo entre o término do garimpo ilegal em Montepuez e início dos ataques armados – circulou nas redes sociais, vídeo onde agentes da polícia humilham os garimpeiros ilegais que haviam invadido as minas da empresa de Rubi de Montepuez. Esta acção terá enfurecido ainda mais os garimpeiros que de ânimo leve terão aceite o desafio imposto de retaliação.
O resto é sabido. Na ressaca do Dia da Paz, pela madrugada, um grupo de indivíduos armados de catanas e de outros objectos contundentes, tomou de assalto a esqudra da vila municipal de Mocímboa da Praia, se apoderando de armas, seguidamente assumindo o controlo de toda a vila. Desde então, estávamos em outubro de 2016, nunca mais houve sossego em, pelo menos, quatro distritos de Cabo Delgado – Mocímboa da Praia, Palma, Nangade e Macomia – até aos nossos dias.
Já sem o garimpo funcional, Bernardino Rafael conta que actualmente aqueles recebem os seus incentivos, pela participação em acções de terror na província, por via do sistema financeiro M-pesa. E vai daí sugerir os residentes de Montepuez a prestarem atenção às transacções financeiras realizadas, na vã tentativa de detectar suspeitos de recebimento desses valores monetários.
De volta ao internauta de dedos em riste contra Guebuza, entre o antigo presidente e os insurgentes (extremistas fica melhor) há uma figura ‘miúdo’ que funciona como intermediário nomeadamente na tramitação de bonus.
Andre Hannekon, sul- -africano acusado de financiar os extremistas, entretanto morto no leito hospitalar, era detentor de uma propriedade na costa. A viúva, Francis Hannekon, denunciou provável causa de perseguição ao empresário ter recusado transferir a propriedade familiar na costa marítima. Hannekon foi o único padrinho-suspeito em vias de ser presente à barra do tribunal, acabando perdendo a vida antes de se explicar.
Histórico garimpeiros
Na era-Chissano e Luísa Diogo, no interior da província do Niassa, a actividade garimpeira constituia o modo de vida das populações. Era uma espécie de machambas onde em vez de arroz, amendoim, milho ou alho, colectavam pedras preciosas, com destaque para o ouro. Eram zonas distantes da capital, Lichinga, e os acessos deficitários, sobretudo em período chuvoso.
Por essa razão, os empresários do ramo mineiro não desafiavam aqueles terrenos lamacentos. Aliás, um desses empresários chegou a tentar alocar equipamento no terreno rico em ouro, acabando por abandonar a ideia e deixar a máquina apodrecer nas matas.
As populações eram obrigadas a percorrer longas distâncias até Lichinga, onde periodicamente deviam desembarcar funcionários do Fundo de Fomento Mineiro (FFM), com o objectivo de comprar dos garimpeiros. Com o dinheiro da venda, após horas a fio defronte dos escritórios do FFM em Lichinga, as pessoas compravam produtos manufacturados, tais como açúcar, sal, sabão e óleo alimentar, antes de desafiar outros tantos quilómetros de regresso.
Um roteiro penoso que nem sempre tinha resposta à altura por parte das autoridades. O dinheiro podia acabar sem que os garimpeiros tivessem entregue todo o seu ouro. Noutros casos, os funcionários do FFM não desembarcavam do único voo semanal, e os garimpeiros penalizados por isso.
Traficantes a salvação
Até que os traficantes viraram a salvação para estas famílias garimpeiras. Atravez do Lago Niassa, os traficantes haviam montado acampamentos no interior da província, tendo em populações locais principais parceiros na extracção do ouro. A dado momento, chegou a ser aberta uma pista de aterragem onde regulamente avionetas se faziam, na boleia alimentos diversos para as populações, a troco de quantidades consideráveis de ouro.
Raramente as transacções envolviam valores monetários, uma vez que a ausência da rede comercial nesses lugares recônditos, inviabilizava que tivessem em mãos notas de dinheiro, salvo raras excepções.
O ouro era transportado aos países dos Grandes Lagos, vendido a preços de… ouro. Os potenciais clientes dos traficantes eram os bancos comerciais que, à custa do ouro moçambicano do Niassa, enriqueciam as suas reservas em ouro.
Por essas alturas, interessante episódio contado por uma governante moçambicana em privado. Ela dizia ter desistido de pressionar o governo de um país vizinho cujo banco central tinha nos seus cofres, ouro do Niassa. A ideia era desincentivar a aquisição do ouro moçambicano junto dos traficantes mas, em resposta, o referido governo endureceu o diálogo, ameaçando inclusive condicionar as históricas relações com Moçambique.
O assunto nunca mais voltou a ser abordado em encontros bilaterais.
No terreno, entretanto, o sistema de segurança foi melhorando acabando por afugentar, é o termo, os traficantes daquelas áreas recônditas do Niassa.
O caso do distrito de Montepuez, província de Cabo Delgado, é similar ao relatado nos parágrafos acima.
EXPRESSO – 29.05.2019
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