O antigo director da Unidade Técnica de Investimento Privado (UTIP), Norberto Garcia, foi absolvido, nesta terça-feira, pelo Tribunal Supremo dos crimes de que era acusado no caso chamado de “Burla Tailandesa”. A angolana Celeste de Brito, outra implicada, foi condenada a dois anos de prisão, enquanto o réu tailandês, Raveeroj Ritchoteanan, mentor da trama, foi condenado a sete anos de prisão.
Norberto Garcia, antigo secretário para Informação do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, encontrava-se em prisão domiciliária desde Setembro de 2018, tendo na segunda-feira, dia 8, o Ministério Público e a defesa pedido a sua absolvição para os crimes de que vinha acusado – associação criminosa, tráfico de influência e promoção e auxílio à entrada ilegal.
Segundo o antigo director da UTIP, cargo que exerceu durante dois anos e quatro meses, quando chegou àquela instituição, nomeado pelo então Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, para acabar com os “elevados índices de corrupção, o Certificado de Registo de Investimento Privado (CRIP) era vendido entre os 250 e 500 mil dólares (220 a 440 mil euros).
“Quando eu fui chamado para ir para a UTIP, o Presidente fez-me um pedido especial e disse isso o que eu vou dizer aqui: ‘Eu já não sei em quem confiar. Tenho muito boa informação a teu respeito, embora sempre que eu o chame, não sei porquê, mas nunca me trazem aqui, o seu nome é sempre riscado da lista’”, contou.
Ao pedido do então Presidente, Norberto Garcia, de 52 anos, jurista, respondeu que preferia os cargos privados aos cargos da função pública, por estes serem “complicados”.
“Mas ele [José Eduardo dos Santos] insistiu e disse que eu tinha de eliminar uma coisa que estava a acontecer no investimento privado, que havia muita corrupção e que os investidores não vinham para Angola porque lamentavam os índices de corrupção e perguntou-me: ‘és capaz de resolver esse assunto?’”, contou Norberto Garcia.
“Se há coisa que eu detesto na minha vida é uma coisa que se chama corrupção, ‘gasosa’ (suborno) ou ‘micha’ (comissão). Eu não sou mesmo disso e se nesta sala tiver alguém, ainda hoje, que souber e que me diga: Norberto Garcia foi corrompido, por favor, peço que venha dizer, porque eu não tenho nada a ver com esse tipo de coisas, pelo contrário”, reforçou.
Norberto Garcia contou que quando entrou para a UTIP “a maior parte da muita gente que lá funcionava exigia fazer parte das sociedades”.
“Eu quando entrei para o investimento privado, um CRIP custava 250 mil a 500 mil dólares, vendia-se CRIP’s no país”, denunciou, descartando a sua participação em qualquer um dos 65 projectos que aprovou durante a sua vigência, num total de 24,4 mil milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros).
Para alterar o quadro que encontrou, o ex-director a UTIP disse que foi buscar a experiência de outros países, nomeadamente a Singapura, pagando bons salários aos funcionários, valorizando o capital humano e fazendo com que o funcionário se sentisse valorizado.
“Nos dois anos e quatro meses que Norberto Garcia ficou à frente da UTIP nunca houve um caso de corrupção”, afirmou, perante o tribunal.
“Sinto-me completamente inocente, sou uma pessoa dedicada à causa do país, não estou chateado com ninguém. Temos que ajudar o país a crescer e errar é humano. Se a minha prisão servir pelo menos para melhorarmos alguma coisa, então vamos melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, disse no final, aludindo ao lema eleitoral do seu partido.
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