DEMISSÃO, JÁ
Espera-se que este artigo esteja atrasado e que, quando for publicado, Ricardo Viegas de Abreu e José Carvalho Rocha (este último na foto) já se tenham demitido. Se tal não aconteceu é sinal de que o presidente da República João Lourenço foi vencido e já não preside.
Ocupa o cargo, mas não tem poder, como se dizia do frágil e indeciso antigo primeiro-ministro britânico John Major, após a quarta-feira negra em que a libra saiu do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio.
Ricardo Viegas de Abreu é o ministro dos Transportes e foi o responsável pela montagem da operação de compra dos aviões para a TAAG que redundou num fiasco e acabou por ser cancelada a instâncias do FMI (Fundo Monetário Internacional) pelo presidente João Lourenço no passado dia 9 de Abril.
As informações entretanto obtidas pelo Maka Angola confirmam que foi Ricardo Viegas de Abreu quem planeou e executou o esquema de financiamento e compra dos aviões, contra a opinião de outros membros do governo. Sabemos que esta operação falhada, além de poder custar ao Estado mais de 60 milhões de dólares, desferiu um grave golpe na reputação do novo governo de Angola, que queria apresentar uma imagem de rigor fiscal e competência técnica, obrigando João Lourenço a “dar o dito por não dito” em três meses. Mais uma vez, como nos anteriores casos Cobalt e Garantia do BESA, da responsabilidade de José Eduardo dos Santos, Angola surge como um Estado que não honra os seus compromissos. Para as expectativas criadas por João Lourenço, trata-se de um revés demasiado negativo. E é a Ricardo Viegas de Abreu que cabem as responsabilidades nste processo.
Obviamente, os ministros têm de assumir a responsabilidade pelos seus erros grosseiros, caso contrário tornam o presidente da República o único réu da incompetência e inabilidade do governo de Angola.
Se não se demitiu ainda, Ricardo Viegas de Abreu tem de ser exonerado já.
José Carvalho Rocha é ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação desde 2008. Já em 2010, Rafael Marques denunciava a sua participação ilegal, através da empresa Lambda (com 6%), na privatização da Movicel.
Rocha beneficiou da privatização que supervisionara. Agora, possivelmente pela segunda vez, ia repetir o esquema, ou pelo menos deixar que um concurso público estatal sob a sua égide corresse debaixo de graves suspeitas. Rocha é também o responsável pela fabulosa desventura do satélite angolano, aquele que custou mais de 300 milhões de dólares e se perdeu no espaço sideral.
Entre estruturações corruptas e incompetência pura, Rocha tem-se revelado um embaraço para qualquer boa governação e não pode continuar no governo. Movicel, satélite, Telstar, são demasiadas nódoas.
Neste caso, nem três meses demorou até levar João Lourenço a “dar o dito por não dito”.
Se não se demitiu ainda, José Carvalho da Rocha tem de ser exonerado já.
Estes ministros com estas actuações repetidas colocam em causa João Lourenço enquanto titular do poder executivo.
A questão é simples: ou saem os ministros, ou sai o presidente. Mesmo não se demitindo, se o presidente não der “um murro na mesa” e assumir efectivamente a direcção dos negócios do país, deixará de ser O Presidente, tornando-se naquele boneco telecomandado que se esperava que fosse.
Todos tínhamos noção de que o combate à corrupção, à impunidade e à incompetência em que João Lourenço embarcou era uma tarefa hercúlea. A larga maioria do país está com o presidente. Todavia, ele tem de estar à altura das circunstâncias e rodear-se finalmente de uma equipa política e técnica adequada para levar em frente o seu projecto. Tem de fazer a ruptura. Não tomando medidas, torna-se ele próprio responsável por todas estas asneiras. Sem apelo, nem agravo.
O tempo é de decisão. Se João Lourenço quer ser poder, além de ter títulos, tem de agir e demitir o governo, criando uma equipa que seja dele, que responda por ele, em vez de o embaraçar.
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